POV – Ponto de Vista: Oliver.

– Oh meu Deus, Oliver! – abri meus olhos em um momento de susto para observar uma Felicity perplexa ainda acomodada ao meu lado, porém sua cabeça não estava mais em meu ombro, e sim, levantada o suficiente para me encarar incrédula.

– Nós dormimos juntos no sofá e eu estava em cima de você... Quer dizer eu estava ao seu lado, minha cabeça que estava em cima de você, talvez até a minha perna... - disse ela confusa e constrangida. - Ain! Por que eu sempre falo as coisas da pior maneira? – enquanto ela tagarelava, eu não pude impedir que um sorriso torto aparecesse em meus lábios.

– Felicity, não tem...

– Me desculpe Oliver! Eu nem me lembro de ter caído no sono... Meu Deus, eu não dormi em cima do seu ombro machucado né?

– Não, Felicity, não dormiu. – tranquilizei-a percebendo que as mãos dela ainda estavam sobre meu abdômen. – Eu estava bem confortável para falar a verdade.

– Ah, eu também. – disse ela esboçando um sorriso largo antes de arquear as sobrancelhas e parecer assustada. – Quer dizer, eu não me incomodei e... – ela balançava a cabeça como se estivesse dando um sermão para si mesma. – Hmm, acho melhor eu ir me vestir. Nolan já deve estar me esperando.

Sentei-me no sofá para deixa-la sair. Ela cambaleou para fora e andou pelo corredor de maneira desastrosa, quase caindo com seus próprios passos. Depois disso, entrou em uma das portas e a fechou com força em seguida.

Deitei-me novamente no sofá, mas não consegui achar uma posição tão confortável novamente, algo me dizia que era porque Felicity não estava ali. “O que estava acontecendo comigo?”. Levantei-me e andei em círculos pela sala pelo que pareceu ser muito tempo.

– Estou pronta! – anuncia Felicity assim que ouço o barulho de seus saltos pelo corredor. - Vamos? – percebi que ela estava com um dos meus vestidos favoritos. É claro que eu nunca havia dito aquilo em voz alta.

Ela apanhou o molho de chaves no balcão e abriu a porta, alguns segundos antes de dar uma caminhada sequer para fora, algo a impediu.

– Nolan! – exclamou ela totalmente surpresa.

O “amiguinho” de Felicity não esperou um convite para entrar, apenas deu dois passos para abraça-la. Tudo o que eu conseguia ver era Felicity e os braços de Nolan ao redor dela. O restando estava escondido do meu ponto de vista através da porta aberta à minha frente.

– Eu fiquei tão preocupado com você! – disse ele ainda sem soltá-la. Aproveitei a minha presença camuflada para revirar os olhos, afinal, algo dentro de mim se contorcia, e eu estava sendo obrigado a me controlar.

Mas a sensação ruim foi embora assim que Nolan deu mais um passo para frente e notou minha presença. Basicamente, ele ainda não estava totalmente dentro do apartamento.

– Bom dia Mr. Queen. Não imaginei encontra-lo aqui.

– Essa também não era minha intenção Mr. Bolt. – não, eu não iria retribuir seu cumprimento, pois, eu garantiria pessoalmente que Nolan não teria um bom dia.

– Oliver e eu estávamos de saída. – disse Felicity. – Nós estávamos indo para a cafeteria que você disse...

– Oliver? – disse Nolan com desprezo. – Lembro-me de ter ouvido você chama-lo assim ontem. Desde quando você trata seu chefe com tamanha intimidade?

– Ele também é meu amigo. –Felicity manteve seu olhar sobre mim por três segundos depois de dizer a palavra “amigo”.

– Vejo claramente por que você não quis minha companhia ontem à noite. – ele disse olhando para mim com... Raiva? Ah, por favor.

– Não é o que você está pensando. – ela parecia estar ficando impaciente. – Quer saber? Eu não preciso explicar nada. Ao contrário de você, que explicou muito bem algumas coisas na noite passada.

Observei aquele atrito de olhares de forma curiosa. Ao que parece, ser capturada não foi a única decepção de Felicity na noite passada.

– Eu fui à cafeteria, mas você começou a demorar. Então resolvi ver vir aqui para ver se está tudo bem.

– Nolan. Eu estou bem obrigada. – falou ela voltando com sua expressão doce. – Agora, se quiser conversar, entre.

– Com ele aqui? – perguntou Nolan referindo-se a mim.

– Eu não vou deixa-la sozinha com você.- disse eu cruzando os braços de maneira intimidadora. – Especialmente depois de ontem.

Nolan não gostou daquela ideia.

– Oliver é de confiança. – insistiu Felicity.

Depois de alguns segundos de incerteza, ele finalmente caminhou para frente e permitiu que Felicity fechasse a porta.

– Pode se sentar, se quiser. – disse ela ao perceber o nervosismo de Nolan devido à tremedeira de suas pernas. Ele se sentou no mesmo sofá que eu e Felicity havíamos dormido. – Pode começar a falar.

– Er-Eu... E-e-eu...Err. – foi tudo o que saiu da boca dele depois de muito tempo.

– Vou facilitar as coisas para você. – murmurou Felicity andando de um lado para outro na sala. – Quem eram aqueles caras? O que é isso que eles queriam? O tal muuntaja? Apesar de eu já ter uma boa teoria sobre o que se trata. Quem é seu sócio? O que vocês estão pensando? E por que diabos ele não fez a tal entrega?

– Achei que você fosse facilitar as coisas. – disse Nolan baixinho.

– Não sei se você merece que eu facilite.

– Olha, eu sei por que que você está brava! Quantas vezes eu vou ter que pedir desculpas?

– Muitas.

– Sobre o que vocês estão falando afinal? – perguntei confuso. Alguma coisa realmente acontecera entre eles antes do sequestro.

– Não é da sua conta playboy! – gritou Nolan.

Dei alguns passos em direção aquele sujeito desprezível quando o toque dela em meu peito fez-me recuar.

– Nolan! – dessa vez foi Felicity que usara alguns tons a mais em sua voz. – Se você quiser conversar comigo, terá que confiar nele!

Ele respirou fundo várias vezes antes de continuar:

– Colin Southeren era meu sócio.

– Era?

– Ele fugiu. – respondeu Nolan com desdém ao curvar seu corpo para frente e esconde-lo em suas mãos. – Ele fugiu e me deixou sozinho com todos os problemas.

– Quais problemas exatamente? – o coração de Felicity pareceu amolecer ao ouvir a emoção que as palavras de Nolan carregavam. Ela era boazinha demais para desconfiar dele.

– Ele é um farmacêutico, e nós tínhamos um projeto juntos. Com minhas habilidades em TI e as dele, conseguimos elaborar um plano incrível. Queríamos algo que diminuísse a dor, algo que ajudasse as pessoas a superarem tragédias. – ele lançou-me um olhar repreensivo ao dizer a última palavra. - Esse é o muuntaja, nosso projeto. O problema é que Colin achou que a fórmula estava pronta antes de testarmos o tanto de vezes que eu gostaria, e o muuntaja não funcionou direito.

– Como era para funcionar? – perguntou Felicity acariciando o braço de Nolan.

– Aliviaria a dor emocional, o sofrimento. Eu queria que as tragédias e perdas não fossem tão devastadoras, que não tivessem o poder de nos destruir completamente. Mas então, Colin achou que estava pronto e vendeu as pílulas sem me consultar. Quando ele soube que o muuntaja não tinha funcionado, quando ele soube dos efeitos colaterais... Ele ficou arrasado. – Nolan estava falando com mais pausas para suspiros do que eu gostaria. – Depois disso ele se concentrou em estudar para achar uma forma de concertar seu erro.

– E quais são os efeitos colaterais? – perguntei com mais autoridade em minha voz do que eu pretendia.

Nolan bufou ferozmente e olhou para Felicity, que ainda acariciava o braço dele gentilmente.

– Quais são os efeitos colaterais? – repeti irritado.

– Quer saber? – explodiu Nolan. – Eu não confio em você, eu não gosto de você e eu não vou continuar essa conversa com você aqui!

Felicity ficou surpresa com a irritação dele.

– Nolan, ele está aqui porque eu pedi.

Não sei como ela acreditou que aquilo fosse acalma-lo. Mas assim que Felicity terminou de falar, Nolan se levantou num pulo, agarrou o casaco sobre a mesa de centro, abriu a porta violentamente e saiu com passos furiosos e apressados pelo corredor.

– Nolan! Espere! – gritou Felicity agarrando sua bolsa pronta para segui-lo.

Coloquei-me a frente dela e impedi que ela passasse.

– Oliver! Eu preciso ir atrás dele!

–Não. Precisa. Não. – respondi.

– Oliver, você não entende! Eu preciso ajuda-lo! – a voz dela parecia desesperada. – Ele não estava usando metáforas quando disse que o objetivo da pílula, ou muuntaja tanto faz, era aliviar a dor das pessoas. Enquanto ele contava sobre tudo isso, eu lembrei que Nolan tem origem finlandesa, essa palavra significa transformador, ele realmente estava atrás de algo revolucionário. E toda dor, na verdade, são impulsos nervosos que são enviados para o nosso cérebro, onde os receptores cerebrais fazer o seu trabalho. Agora pense nisso em uma proporção maior. As emoções são uma coisa muito forte, há muitas teorias e estudos sobre isso, ninguém consegue explicar o motivo de uma dor emocional ser tão forte, não com precisão pelo menos... Qualquer que sejam esses efeitos colaterais, estão afetando o cérebro das pessoas. E essas pessoas em particular, pra qual o muuntaja foi vendido, são bandidos. Eles não são pessoas legais naturalmente, imagine com esses efeitos colaterais!

Tinha que admitir que minha admiração por Felicity nunca parava de crescer.

– Então me deixe ir com você. – pedi gentilmente.

– Oliver, ele deixou bem claro que não falaria com você. Além disso, os bandidos vão querer que Nolan faça a entrega que o sócio não fez, prometo que vou descobrir mais sobre isso, mas não podemos deixar que isso aconteça. Precisaremos do herói de Starling City.

Seus olhos azuis encaravam os meus com ternura. Eu não a estava impedindo mais de passar pela porta, mas era como se ela estivesse esperando pela minha aprovação.

– Pelo menos use isso.

Apanhei minha jaqueta no cabineiro e abri o bolso interior. Dentro dele havia um bracelete que eu pretendia dar à Thea. Abri o feixe e segurei o pulso de Felicity delicadamente, encaixando a pulseira ali.

– O que é isso? – perguntou ela.

– Tem um rastreador escondido ai. Não pense que não saberei onde você estará se algo acontecer.

Felicity sorriu agradecida e caminhou para a porta. Juntei-me a ela, afinal, eu não poderia segui-la, mas também não poderia ficar em um apartamento que não era meu. Eu precisava ir para a Queen Consolidated antes de me dirigir até a “caverna”.

– Obrigada Oliver. – disse ela ao fechar a porta e caminharmos pelo corredor. – Não só pelo bracelete, que é lindo, mas por tudo.

– É para isso que servem os amigos.

* * *

POV – Ponto de Vista: Felicity.

Quando cheguei à cafeteria, encontrei Nolan sentado à última mesa.

– Eu sabia que você viria. – ele me falou lançando um sorriso grande.

Eu estava realmente preocupada com ele, mas não consegui sorrir de forma tão agradável.

– Você não precisava sair daquele jeito. – murmurei acomodando-me ao lado dele.

– Desculpe, eu sei que Oliver é seu amigo mas...

Não ouvi uma palavra depois disso. Tudo o que eu pensava era em Oliver deitado no meu sofá dormindo tranquilamente, e a melhor parte? Eu estava ao lado dele. Fiquei imaginando diversas possibilidades para um desfecho bem melhor do que o que nós tivemos.

– Felicity? – perguntou Nolan tirando as fantasias sexuais de meus pensamentos.

– Desculpe, eu estava pensando em... Pensando... Pensando em bons argumentos para que você fuja da cidade como o seu sócio fez e não faça a entrega do muuntaja.

– Parece que você não prestou atenção em uma palavra do que eu disse nos últimos cinco minutos.

Na verdade eu havia prestado atenção até de mais em exatamente uma palavra que ele dissera.

– Devo me desculpar pelos acontecimentos recentes que estão me distraindo? Estou preocupada Nolan! – menti sendo mais dramática que o normal.

– Desculpe, desculpe. Eu estava dizendo que depois que meu sócio começou a se dedicar inteiramente a missão de fazer o muuntaja funcionar, ele não falava mais comigo. Não sei se ele estava bravo porque eu tinha razão sobre os testes, ou alguma outra coisa. Mas o fato é que ele não pediu mais a minha ajuda, ele queria terminar tudo sozinho.

– E foi o que ele fez.- deduzi

– Sim, foi exatamente o que ele fez. Ele estava tão certo de que as pílulas funcionariam que ele mesmo as tomou.

– E o que aconteceu?

– Ele ficou irreconhecível. – pude jurar ver lágrimas nos olhos de Nolan. – Era como se ele não ligasse mais para nada, não sentisse nada. Era como se a parte do cérebro dele, responsável por todas as emoções tivessem simplesmente parado de funcionar. E foi ai que ele fugiu.

Fiquei perplexa por alguns instantes, aquilo parecia ser impossível. Mas recentemente, eu aprendera que o impossível era apenas uma porta esperando para ser aberta pelas possibilidades.

– Quer dizer que aqueles caras, os bandidos que nos pegaram, tomaram essas pílulas?

– Eles tomaram a primeira pílula, os efeitos colaterais são parecidos, mas não são tão violentos como os da segunda. Outro problema: Não existe mais “primeira” pílula. Todo, o estoque que eu tenho, faz parte da segunda produção de Colin.

– Você não pode entregar essas pílulas! – eu estava quase gritando. As primeiras pílulas já faziam com que os pelos do meu braço se arrepiassem, imaginar a segunda nas mãos daqueles bandidos, e pensar no caos que tudo isso causaria, fazia meu corpo inteiro tremer.

– Você acha que eu não sei? – Apesar de parecer tranquilo, eu podia enxergar o desespero de Nolan. – Mas eles deixaram bem claro que se eu não entregar, eles irão atrás de você.

– Você não tem que se preocupar comigo agora Nolan! Pense em todas as pessoas do Glades, até mesmo as de toda Starling City! Ninguém estará a salvo!

– Felicity... Eu não sei o que eu faço.

Várias alternativas malucas inundavam minha imaginação. Como solucionaríamos aquele problema? A única coisa que eu sabia, era que eu e Nolan não tínhamos chances sem a ajuda do meu mais recente amigo e colega de sofá.

“Oliver, temos um problema. Preciso de você” foi tudo o que eu consegui digitar em meu celular com meus dedos trêmulos.