Beauty Queen escrita por Rocker


Capítulo 9
Capítulo 8




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/457777/chapter/9

Capítulo 8

Quando todos já dormiam, Selene se levantou lenta e silenciosamente. Afastou-se do acampamento improvisado apenas o suficiente para não acordar nenhum deles. Afastou-se um pouco por entre as árvores e se escondeu atrás de um arbusto. Espelhou seu vestido branco ao seu redor, camuflando-o o a neve no chão, e suspirou. Pretendia fazer isso desde que entregara a outra parte do vidro para Edmundo, mas ela não saberia como reagir às possíveis perguntas que ele faria. Dizer que era irmã de Jadis, dizer que era a Feiticeira da Neve. Uma coisa era abrir o jogo com os outros, outra completamente diferente era com Edmundo. E ela nem ao menos sabia decernir porquê.

Selene pegou seu próprio pedaço de vidro por entre o tecido branco, e o observou atentamente. A superfície fria, azul e irregular como o gelo, permitindo-lhe usar feitiços. Ambos os pedaços foram pegos do espelho de gelo que ela tinha em seu quarto no palácio. Ela aproximou o vidro de seus lábios e sussurrou o feitiço de reflexo. Apareceu então a tão conhecida imagem das masmorras do castelo de gelo. Em uma das celas estava Edmundo, com os cabelos desgrenhados e o rosto arranhado. Estava encolhido no canto, com uma corrente envolvendo seu tornozelo. Selene sentiu seu coração se apertando, mas fez de tudo para afastar esse sentimento. Ao menos por enquanto. Ela então sussurrou um feitiço de comunicação e a imagem se tornou escura. Com o feitiço ativo, ela via apenas o reflexo literal do espelho - que, no momento, era a o bolso do moletom de Edmundo.

– Edmundo! - ela chamou. - Edmundo!

Edmundo se remexeu. Ele ouvia claramente uma voz próxima a si. Ele realmente ouvia a voz de Selene ou aquela masmorra o estava deixando insano?! Talvez nem uma opção nem outra, talvez apenas a saudade e o arrependimento estivessem criando ilusões em sua mente. Mas então ele ouviu seu nome uma segunda vez. Franziu o cenho, desconfiado. Até que finalmente percebeu de onde vinha o som daquela voz melodiosa. Do seu bolso?!

– Finalmente! - exclamou Selene ao ver o rosto do menino aparecendo no reflexo.

– Selene?! O que é isso?! - perguntou Edmundo, agarrando firmemente o pedaço de vidro onde via o reflexo de Selene na escuridão de uma floresta. Isso tudo era um sonho?

– Um feitiço de reflexo e comunicação. - ela disse apressadamente. - O pedaço de vidro que lhe dei vem do mesmo que eu tenho. Foram tirados do meu espelho de gelo no meu quarto no palácio.

– Feitiço?! Reflexo?! Palácio?! Selene, o que está acontecendo?! - Edmundo perguntou, assustado. O que era aquilo afinal? Quem era realmente aquela garota misteriosa?

– Não tenho tempo de explicar agora, Eddie. - ela disse, tentando escapar. Selene não queria dizer a ele quem era. Sabia que teria que fazê-lo, apenas tentava adiar ao máximo que pudesse. - Só aguente firme que vamos atrás de Aslam.

– Aslam poderá mesmo ajudar com tudo isso? - Edmundo perguntou de modo melancólico.

Selene assentiu firmemente. - Aslam é nossa esperança. Posso não ser uma pessoa digna de ser fiel a ele, mas farei de tudo pelo povo narniano. E vou te buscar das mãos daquela cobra venenosa que insiste em me caçar!

Selene falara de modo tão firme e autoritário, que Edmundo inconscientemente a comparou com uma rainha - mesmo que não soubesse mais do que seu nome. Ela era firme, confiante e impotente. Mas então ele finalmente percebeu suas palavras. Ela falara com tanto ódio e amargura, que ele quase pode ter certeza de que algo bem mais pessoal.

– Você a conhece? - ele perguntou, e teve certeza quando ela desviou o olhar.

– Esse não é caso. - Selene disse firmemente, rezando para que não tivesse deixado muito claro em seu olhar. - Você deve tentar se alimentar e se manter forte. E, por favor, tente não dizer muita coisa a ela. Dê apenas informações básicas para que ela poupe sua vida, mas nada mais que o necessário. Assim que ela decidir que você é descartável, não terá mais chance alguma.

– Como sabe tudo isso? - Edmundo perguntou, arqueando a sobrancelha. Ele sabia que tinha muito mais naquela garota do que ela deixava escapar.

– Só confie em mim, Eddie, por favor. - Selene disse quase implorante e sorriu quando ele assentiu. - Agora tente comer alguma coisa para poupar as energias.

Edmundo queria saber porque ela tinha tanta preocupação com sua saúde. Ela parecia quase desesperada, e ele notou que seria-lhe um comportamento atípico. Olhou ao redor da sua cela congelada, e encontrou uma bandeja. Pegou o pão duro que estava na bandeja e deu uma mordida. Ele se esfarelou sobre sua boca, mas era melhor do que nada. Estava com muita fome. Engasgou-se com o pão e começou a tossir.

Selene começou a se desesperar realmente quando viu aquilo apenas pelo reflexo. Queria poder estar ali para ajudá-lo, mas se ela fosse, seria pega, com certeza.

– Veja se a água ainda não está congelada! - aconselhou, procurando manter-se calma.

Pegou a caneca da bandeja e viu que o líquido ali estava congelado. Não havia nada nem para matar a sede.

– Se... – ele ouviu um barulho ao seu lado. Vinha da cela ao lado da sua. Olhou e se deparou com um fauno cansado e machucado. – Se não vai comer mais...

Edmundo então pegou o pão que deixara de lado e foi se arrastando até o buraco que havia entre as celas.

– Eu levantaria, mas... – disse o fauno, também se arrastando pela cela para se aproximar. – Minhas pernas...

O fauno chegou mais perto e pegou o pão.

– Sr... Tumnus? – perguntou Edmundo.

– O que sobrou dele. – respondeu o fauno, saboreando o pão, na medida do possível.

– TUMNUS! - exclamou Selene, ao ver um rosto amigo.

O fauno procurou em volta, à procura da voz repentina, e Edmundo estendeu-lhe o vidro de gelo. E ficou espantado ao ver que o fauno não ficara nem ao menos surpreso com toda aquela... Bizarrice.

– Oh, Selene! - exclamou o fauno, com a expressão cansada tornando-se um pouco mais alegre. - Sempre com artimanhas!

– Eu precisava de um jeito para me comunicar com Edmundo e descobrir o que minha ir... O que Jadis pretende! - Selene corrigiu-se rapidamente quando percebera que quase deixara escapar seu parentesco na frente de Edmundo. Rezava apenas para que ele não tivesse percebido. - Ah, eu ainda não me esqueci de você me trancando com aquela cadeira!

– Parece que nem o gelo foi capaz de soltar aquilo. - disse o fauno, divertindo-se com a situação. Mas Edmundo apenas ficava mais confuso. - Aliás, como conseguiu sair de lá?

Selene abriu um sorriso sarcástico. - Seu companheiro de cela vez a gentileza de me tirar de lá junto com os irmãos dele.

– Irmãos? - perguntou Tumnus, um pouco confuso, devolvendo o vidro para Edmundo. O fauno o analisou bem e viu algumas semelhanças físicas com alguém que conhecia. - Você é irmão de Lúcia Pevensie. – afirmou.

– Meu nome é Edmundo.

– Sim... – disse o fauno. – Vocês têm o mesmo nariz.

– Edmundo... - Selene estava prestes a dizer quando um barulho fez-se ouvir do outro lado. Ela praticamente sabia o que era. - Coloque esse vidro fora da vista deles!

Ela então desfez o feitiço de comunicação, enquanto o vidro do menino era guardado novamente no bolso. E a visão tornou-se novamente externa, como se visse por uma janela.

Ouviram um barulho do lado de fora das celas, como alguém descendo para as masmorras. Viram a Feiticeira abrindo as portas da cela de Edmundo e o fauno se virou de costas, enquanto Edmundo se arrastava novamente para perto da bandeja.

– Então... – disse a Feiticeira. – Minha polícia estraçalhou o dique, sabia?! Sua familiazinha não foi encontrada.

Edmundo sentiu-se feliz com isso, mas não podia deixar transparecer. A Feiticeira então o pegou pela gola da blusa, levantando-o sobre os pés; Edmundo não imaginara que ela tinha toda essa força.

– Pra onde foram? – perguntou ela.

– Eu... Eu não sei. – disse Edmundo, com dificuldade de respirar.

– Então você não serve mais. – grunhiu a Feiticeira, jogando-o novamente ao chão.

Ela levantou seu cajado.

– Espera! – disse Edmundo, lembrando-se das palavras de Selene.– O castor disse alguma coisa sobre Aslam!

A Feiticeira abaixou o cajado, boquiaberta.

– Aslam? – perguntou. – Onde?

– Eu...

– Ele não é daqui, Majestade. – intrometeu-se o fauno rapidamente. – Ele não pode saber de nada.

Levou um pontapé do anão que acompanha a Feiticeira.

– Eu perguntei... – disse a Feiticeira, virando-se para Edmundo novamente. – Onde está Aslam?

O fauno olhou suplicante para o menino e este finalmente se deu conta se deu conta de que não poderia dar a informação que tinha. Seria o fim de Nárnia, o fim de Aslam e pior: o fim de sua família e de Selene.

– Eu não sei. – respondeu por fim, preferindo mentir. – Saí antes que dissessem.

A Feiticeira olhou para o fauno, que abaixou a cabeça, agradecido.

– Queria muito ver você! – disse Edmundo, tentando limpar a sua barra e a do fauno.

– Guarda! – gritou a Feiticeira.

– Sim, Majestade. – disse uma voz rouca e grave. Logo depois, Edmundo pode ver um orc horrendo entrando na cela.

– Liberte o fauno! – ordenou a Feiticeira.

O orc arrebentou as correntes que prendiam os cascos do Sr. Tumnus com um machado, enquanto este se lamentava e era arrastado para os pés da Feiticeira.

Ela virou-se para ele.

– Sabe por que está aqui, fauno?

– Porque eu acredito numa Nárnia livre. – respondeu ele com dificuldade, pois as bochechas inchadas eram um problema.

– Está aqui... – disse e apontou o cajado para Edmundo – porque ele entregou você. Por docinhos.

O fauno olhou espantado para Edmundo, que abaixou a cabeça, envergonhado. A Feiticeira abaixou o cajado e ordenou ao orc.

– Levem-no para cima. – enquanto o fauno era arrastado para fora, virou-se para o anão. – Prepare minhas renas. Edmundo sente fauna da família.

Virou-se e saiu da cela, deixando-o ali trancado e sozinho. Ou era o que eles pensavam. Assim que ele viu-se sozinho ali, pegou rapidamente o pedaço de vidro, vendo ali a menina com uma expressão tristonha e quase em lágrimas.

– Selene, o que eu faço?! - ele perguntou, quase desesperado.

Selena estivera pensando nisso desde que vira ele saindo do dique dos castores. Teria tentado, sem sombras de dúvidas, se não soubesse que esse o destino, que não poderia mudar a profecia antiga. Mas agora, nada podia impedí-la de tentar.

– Agora? Você espera. - ela disse numa voz decidida, enquanto se levantava com o vidro ainda em mãos.

– Esperar? - Edmundo perguntou, confuso. - Esperar para morrer?

Selene abriu um sorriso quase sádico. - Esperar por mim. Eu já estou indo.

E então ela desfez os feitiços e foi até o acampamento, para pegar a sua espada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Beauty Queen" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.