Red [Hiatus Permanente] escrita por Tereza Magda


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Nada pra falar, só que espero que gostem *-*

Enjoy!



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State Of Grace Estado de Graça

Estou andando rápido pelos semáforos

Ruas cheias e vidas ocupadas

Tudo o que conhecemos é chegar e sair

Sozinhos com os nossos pensamentos que mudam

Nos apaixonamos até que doa ou sangre ou desapareça com o tempo

E eu nunca previ que você chegaria

E nunca serei a mesma

Você aparece e minha guarda caí

Passa pelo salão como uma bala de canhão

Agora tudo o que sabemos, é não desistir

Estamos sozinhos, só você e eu

No seu quarto e nosso passado está limpo

Dois signos de fogo, quatro olhos azuis

Então você nunca foi um santo

E eu amo que os tons não estão certos

Aprendemos a conviver com a dor

Maioria de corações quebrados

Mas esse amor é violento e louco

E eu nunca previ que você chegaria

E nunca serei a mesma

Esse é um estado de graça

É uma luta que vale a pena

O amor é um jogo impiedoso

Ao menos que você jogue certo e limpo

Essas são as mãos do destino

Você é o meu calcanhar de Aquiles

Esses são os anos dourados de alguma coisa boa

Certa e real

E eu nunca previ que você chegaria

E nunca serei a mesma

Apertei mais o sobretudo ao meu redor. Enfiei as mãos nos bolsos e tentei aquecê-las com o calor ali presente. Não estava dando muito certo. Eu devia ter calçado luvas.

Bom, agora era tarde demais para se lamentar. Puxei o gorro para cobrir minhas orelhas, mas logo voltei a colocá-las nos bolsos.

A neve estava forte.

Quando o sinal ficou vermelho para os carros que transitavam na véspera de Natal, eu passei a rua rapidamente.

Era estranho. Tudo que eu conhecia desde criança, era uma véspera de Natal com uma mesa repleta de doces e um peru recheado. Meus primos brincavam em todos os cantos da casa, enquanto os adultos ou colocavam a mesa, ou conversavam na sala de estar. Mas não aqui, não nesta cidade.

A rua estava cheia de vida, mas mesmo assim parecia extremamente morta.

Assim como eu, aquelas pessoas que andavam também tentando se proteger do frio cortante tinham ombros caídos.

Eu não poderia expressar em palavras o quanto eu gostaria de ter voltado para casa para passar o Natal com a minha família. Onde haveria sempre um abraço e as palavras sábias de mamãe.

Ela não ficara nada feliz quando eu lhe avisei que passaria o Natal longe de todos. Mas compreendera. Eu dependia daquela bolsa para continuar na universidade e tinha uma prova logo que o recesso acabasse.

— Mas, Katniss... Eu estava contando com a sua presença — mamãe reclamou pela milésima vez seguida quando nos falamos pelo telefone na manhã de ontem. Ela falava como se fosse possível realizar a viagem de vinte e seis horas Texas à Nova Iorque de carro em duas horas. Isso considerando, é claro, que eu tivesse um carro. Mas eu não tinha. O que acarretaria em custos extras de uma viagem de avião. E meu trabalho de meio período na lanchonete da faculdade mal era o bastante para sustentar as minhas necessidades mais básicas. Ela até que tentavam me ajudar, mas eu recusava terminantemente o dinheiro que me oferecia.

Eu era uma adulta, sabia que a hora de começar a cuidar de meu próprio nariz havia chegado. Além do mais, ela própria não tinha dinheiro sobrando para esbanjar. Quando aceitei que me pusesse naquele vôo com destino a Nova Iorque, eu prometi a mim mesma que não lhe daria mais despesas. Ter uma filha na Universidade de Nova Iorque já era algo além de sua possibilidade, mas ela estava fazendo pelo meu sonho, cursar Letras. Aceitei que pagasse um aluguel inicial, mas logo consegui uma vaga na fraternidade. E então pagara algumas contas até que eu consegui esse emprego e passei a enviar de volta cada centavo que me mandava.

Olhei ao redor para os olhos mortos e as ruas cheias de pessoas estranhas. Um calafrio percorreu toda a minha espinha. Será que ninguém ali tinha uma família para comemorar o Natal?

Todos pareciam tão ocupados em seus próprios afazeres... Era tarde da noite e mesmo assim, quando eu passei em frente a uma cafeteria vi através do vidro, um homem de óculos na ponta do nariz enquanto digitava furiosamente em seu laptop. Mais um que, como eu, sonhava em se transformar em um novo Nicholas Sparks.

Cheguei, enfim, à pior parte do caminho de volta. Nem sei o que deu em mim para decidir alugar um dvd à essas horas. Estava consideravelmente tarde, e andar por aquele beco sozinha se tornava mais perigoso confirme ia se adentrando na noite.

Tudo bem, logo logo eu chego à fraternidade, entro nas minhas cobertas quentinhas, e assisto a meu filminho enquanto como biscoitos e... A quem eu estou querendo enganar? Estou furiosa por aqueles pirralhos endiabrados poderem se esbaldar daquele que deveria ser o meu peru de Natal enquanto eu como biscoitos de padaria.

Respirei fundo. Eu só estava chateada por ser o primeiro Natal que eu passava longe de casa.

Uma rajada inesperada de vento frio jogou meu cachecol para trás e eu retornei frustrada para apanhá-lo.

— E aí, gracinha... — ouvi uma voz quando me abaixei para pegar o cachecol e congelei.

Peguei a echarpe, voltei a enrolá-la no pescoço e segui caminho ignorando a voz. Eu não sabia de onde ela tinha vindo. Eu não sabia se era seguro. Eu não sabia se era comigo. Eu não sabia sequer se era real.

— Ei, você! — ok. Isso definitivamente foi real.

Parei a poucos metros da saída do beco. Eu ainda não podia ver quem pronunciava as palavras.

Eu só espero que ele queira apenas me assaltar.

Logo um rapaz alto de cabelos loiros e olhos verdes saiu de uma sombra ao lado de uma grande lata de lixo. Não tinha qualquer chance de erro, nenhum engano. Ele olhava diretamente para mim. Alto, magro. O tipo de cara que talvez eu considerasse atraente se não estivesse me sentindo tão intimidada com a situação. Eu estava em uma rua perigosa e escura, com um completo estranho que agora me olhava de cima a baixo.

Respirei fundo outra vez. Talvez, se eu fingisse que não estava com medo, ele me deixasse ir.

Continuei meu caminho se o cara alto fosse invisível. Por favor, me deixe ir.

— Ei! — ele repetiu dessa vez gritando.

Tenho problemas.

Minhas pernas ainda estavam meio lentas e paralisadas pelo frio e pelo medo, mas eu as forcei a correr. Mas sabe o que dizem sobre feras: quando se demonstra o medo, elas têm ainda mais poder.

Com um puxão no meu braço, o cara me derrubou no chão fazendo pequenos arranhões se abrirem nas palmas de minhas mãos, que usei para amortecer o empurrão e a queda contra o asfalto.

As lágrimas de medo logo surgiram em meus olhos e eu as forcei a voltar.

Minha bolsa, com a queda, tinha ia parar a alguma distância de mim, mas ele não parecia interessado em nada lá dentro. Ainda olhava para mim, e eu estava totalmente a sua mercê.

Merda. Se algo acontecer comigo e eu conseguir escapar, mamãe vai tratar de terminar o serviço e me matar!

— Marvel! — tanto eu quanto o garoto olhamos para o lado e quando dei de cara com outro garoto loiro, esse mais baixo e mais musculoso — outro da gangue, provavelmente —, calculei minhas chances de chutar as bolas do tal Marvel e sair correndo, gritando por ajuda.

Poucas, muito poucas. Mas qualquer coisa é melhor do que o quase certo estupro seguido de morte, que se seguirá, se eu não fizer nada.

— Marvel — o comparsa repetiu. — O que você tá fazendo?

— Não é linda? — Marvel segurou meu braço e me levantou. — Encontrei-a por aí. A mocinha devia saber que é perigoso andar por aí sozinha essas horas. Têm muitos caras maus por aí à noite.

Já que eu vou morrer, morro pelo menos com um pouco de orgulho: — Tipo você? — debochei.

Nem tive tempo para pensar. Logo que minhas palavras foram pronunciadas, a mão de Marvel chocou-se contra meu rosto e eu caí novamente no chão.

— Seu imbecil! — o outro loiro socou o rosto de Marvel fazendo-o cair no chão próximo a mim.

— Qual é, Peeta — ele gritou. — Ficou maluco?

Peeta coçou a testa parecendo zangado.

— Vai embora, Marvel. Agora — ele disse saindo da frente. — Se fizer isso rápido, eu tento não te quebrar.

Marvel levantou-se e parou de frente a mim, de punhos fechados.

— Espero que nos encontremos novamente — ele disse furioso.

— Vai! — Peeta gritou e Marvel por fim obedeceu.

Eu ainda não conseguia sequer me levantar do chão onde eu tinha caído depois do tapa. Peeta pegou minha bolsa do chão e me devolveu.

— Foi mal — ele disse e me ajudou a levantar. Eu estremeci quando sua mão tocou meu braço. — Dói aí? — neguei com um aceno de cabeça. — Quer ir ao hospital? — neguei novamente. — Seu rosto está machucado — ele tocou de leve a minha bochecha. — Tem certeza que não quer ir fazer um curativo no pronto-socorro? — assenti. — Então vem comigo.

Peeta colocou as mãos na jaqueta e eu me afastei dele, me abraçando por cima do sobretudo. Comecei a andar na direção contrária a que ele ia.

— Aonde você vai, garota?

— Pra casa — respondi sem parar de andar e nem olhar para trás.

— Sozinha? E arrumar outra confusão como essa?

— Eu sei me cuidar — retruquei.

— Eu vi — ele riu. — Vem logo, só vou te dar um pouco de álcool pra limpar esse ferimento e um band-aid — bufei e continuei a andar. Peeta correu até o meu lado e segurou minha mão. — É perigoso ir sozinha agora. Eu te levo, tá legal? Só que seus pais iriam ficar meio assustados se te vissem chegar em casa em pleno Natal com o rosto inchado. Não acha?

— Tá — resmunguei. Embora eu não morasse mais com meus pais, Rue, minha colega de quarto era meio boba com esse tipo de excesso de preocupação.

Deixei-me ser guiada por Peeta, ficando sempre um pouco atrás, até que ele parou em frente a um conjunto de apartamento caindo aos pedaços.

— Você mora ? — perguntei sem conseguir conter uma careta.

— Hei — ele gargalhou. — Sem julgamentos precipitados. Eu gosto do meu cafofo.

— É como dizem: tem gosto e mal-gosto pra tudo.

— Você é mesmo muito petulante — falou com uma risadinha. — Acabei de salvar a sua vida.

— Não me lembro de ter pedido nada — repliquei.

Peeta só continuou a rir com uma sobrancelha arqueada e abriu o portão enferrujado para mim.

Nós subimos alguns lances de escada — elevador? Claro que não — e enfim chegamos ao andar de Peeta.

Ele destrancou a porta que fez barulho ao abrir.

— Bem-vinda aos meus humildes aposentos — ele disse em tom de deboche.

— Não garanto nada — falei fazendo careta para as peças de roupas espalhadas por todo o quarto e a cama ainda por fazer.

— Senta. Se encontrar algum lugar, é claro.

— Suas piadinhas estão me encantando — falei.

Peeta entrou no — que eu imagino ser — o banheiro e de onde eu estava podia ver um espelho rachado e a cortina da banheira caída ao redor.

Vi uma cadeira, debaixo de mais um monte de roupas amassadas e sacudi-a, fazendo as peças voarem. Sentei.

Peeta voltou com uma maleta verde de primeiros-socorros e a abriu de frente a mim.

— Se você virar o rosto... — ele pediu e eu obedeci. Peeta molhou o algodão em uma substância de cheiro forte e parou a poucos centímetros do meu rosto. — Isso pode doer — ele tocou meu rosto com o tufo molhado de algodão e eu senti um dorzinha forte. — Qual é o seu nome?

— Ai! — reclamei e Peeta riu.

— Não seja chorona — disse. — Vamos lá, nem doeu tanto.

— Ah, claro — fiz careta. — Porque não foi no seu rosto que seu amiguinho deu porrada.

Vi uma expressão culpada em seu rosto, mas Peeta apenas pegou o curativo e colocou com cuidado sobre o meu rosto. Encarei pela primeira vez seu rosto e observei seus olhos enquanto ele encaixava o band-aid sobre o machucado. Azuis profundos. Como o mar em um dia de sol forte. Que você mergulha e sente o maior alívio do mundo porque é a única escapatória para o calor.

Peeta me desviou os olhos para os meus e eu me senti estranha, como se pega espionando-o. Mas ele não pareceu perceber minhas fantasias sobre analogias para a cor de seus olhos — Prontinho.

— Katniss Everdeen — sorri. — Obrigada. Diga-me, Peeta, o que você faz? Como conhecia aquele cara?

— Conheço muita gente. E isso foi bom pra você. É tudo o que precisa ter conhecimento.

— Eu posso estar na casa de um Serial Killer, não vai nem me dizer que tipo de perigo estou correndo?

— Não sou assassino, se quer saber. Mas tampouco sou bem visto aos olhos da sociedade. Não se preocupe, você não corre perigos comigo. Pode ir pra casa, Katniss. Aposto que seus pais já estão ficando preocupados. Vamos, eu vou com você.

— Minha mãe não está me esperando. Ela mora no Texas — falei. — Eu estou aqui por causa da universidade.

— Hmmm. Então onde eu devo deixar você?

— Você não quer.. passar o Natal comigo?

Peeta sorriu — Eu precisaria checar na minha agenda. O presidente marcou um jantar na casa dele e... Claro que sim.

Ele falou da uma lanchonete que planejava passar o Natal. Ficaria aberta a noite inteira — embora eu não entendesse que tipo de pessoa aceitasse trabalhar em plena noite de Natal — e nós poderíamos ficar por lá.

Peeta me disse que seu carro estava no conserto — falta de pneus para neve e um pequeno acidente, nada de grave — então fomos a pé, não ficava longe. Ele abriu a porta de vidro enfeitada com um pequeno sinal natalino para mim e eu entrei agradecendo com um aceno de cabeça e um sorriso.

Uma garçonete mal-educada escreveu nossos pedidos e logo estava de volta com nossa pequena ceia pessoal. Pedimos waffles que logo foram trazidos cobertos de mel.

— Por que pediu isso? — ri. — Não estamos na hora do café da manhã.

— Gosto de waffles — deu de ombros. — Estava com vontade de comer. Às vezes é bom fazer o que se tem vontade na hora que se tem vontade.

— Ótimo. Então também vou comer. Também gosto de waffles.

Peeta puxou minha cadeira para o seu lado e me ofereceu um pedaço espetado em seu garfo. Eu abri a boca e ele comeu o pedaço.

— Seu egoísta! — exclamei e puxei o garfo de suas mãos, o que só fez espirrar mel sobre o meu cabelo. — Você fez de propósito!

— Eu não fiz nada — ele riu. — Foi você — mas eu peguei o tubo de catchup e espirrei sobre sua jaqueta térmica. — Ei! — ele pegou uma colherada de melado e jogou no meu sobretudo. — Isso é pra você aprender a não ser tão... — mas ele não concluiu porque eu me vinguei colocando dois dedos na calda dos waffles e passando no nariz dele.

Peeta abriu a boca, incrédulo. Eu me levantei e corri na direção da porta rindo. Vi-o jogando alguns dólares sobre a mesa e correndo atrás de mim, com o rosto pingando melado, mas eu já tinha uma boa margem de distância.

Mas Peeta logo me alcançou.

— Você é maluca, sabia?! — ele exclamou ofegante, me segurando pela cintura. Dei de ombros. — Quer ir a algum lugar?

— Não sei. Eu estou na cidade há pouco tempo, não conheço muitos lugares. E de qualquer forma, os lugares que freqüento, definitivamente, não fazem o seu tipo.

— Vou te levar a um lugar — Peeta disse. — Aposto que nunca foi à noite. Fica mais bonito agora do que de dia. E nesta época do ano, com todas as luzes da cidade...

— Você não tá doidão, tá?

— Qual é — ele gargalhou. — Estou falando do Central Park. Estou realmente tão mal aos seus olhos?

— Pior — falei. — Mas vamos logo, antes que eu desista. Não tenho nada melhor pra fazer mesmo.

Nós pegamos um ônibus quase vazio e cantamos músicas natalinas até o destino final.

Peeta segurou minha mão quando descíamos do ônibus.

Ele tinha razão. Eu visitara o Central Park algumas vezes pelo dia, mas nunca o vira tão brilhante. A neve refletia as luzes da cidade e tornava tudo tão... mágico. Olhei para Peeta.

— Vamos, Peeta, diga-me: quem é você?

— Eu sou eu — ele deu de ombros. — Sou você. Sou ele — apontou para um homem sentado em um banco sozinho. — Sou qualquer um. Sou quem você quiser.

— Quero que seja você mesmo — sussurrei.

— Eu, senhorita Everdeen, sou um coitado. Sou Peeta Mellark. Sem passado, sem família. Estou aqui, estou lá. Não sou a melhor pessoa do mundo, nunca fui um santo — ele disse no mesmo tom de sussurro. — Coração quebrado, gosto dos tons errados. Sou um louco apaixonado, Katniss Everdeen. E você, quem é?

— Eu? Ninguém — dei de ombros. — Você não joga limpo. Eu estou em estado de graça. E no momento, Peeta Mellark, você é meu calcanhar de Aquiles. Certo e real.


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Notas finais do capítulo

E então gostaram? Espero que sim!
Aguardo comentários!

xoxo