Tronos de Fúria escrita por Phoenix M Marques W MWU 27


Capítulo 3
Capítulo 3




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Os cinco imperadores, junto com suas esposas, dirigiram-se para a amurada do palácio do Kremlin. Uma multidão já os aguardava, como costumava ocorrer quando um dos imperadores aliados visitava a Rússia, embora fosse a primeira vez que os cinco imperadores estavam reunidos no palácio de um deles.

Daniel e Marjorie acenaram para os russos primeiro. Ele arriscou até dizer algumas saudações em russo para a multidão, e foi longamente aplaudido.

Antes de se juntar ao primo, Matt puxou Thaila para um lado.

— Olhe, querida, me desculpe por hoje cedo – disse ele. – Mas você foi um pouco dramática.

— Que história é essa?

— Não precisa agir como se uma guerra fosse começar amanhã. No que depender de Daniel e de todos nós, não haverá guerra nenhuma.

— Mas...

— Além disso, você não será princesa para sempre. O povo te adora. Você será uma excelente rainha.

Os olhos de Thaila brilharam de felicidade. Ela mal conseguia juntar as palavras.

— Você... Você quer dizer... Você vai...

— Farei o possível e o impossível – afirmou Matt. – Vou começar as conversas com o Parlamento amanhã mesmo. E tenho certeza que o povo vai apoiá-la. Veja.

E ele a guiou pela mão para junto de Daniel e Marjorie, e acenaram para a população. Ao verem o imperador e a princesa, os russos ovacionaram-nos e aplaudiram com mais intensidade.

Gustavo e Maílla juntaram-se a eles e acenaram, mas as atenções dos cidadãos estavam tomadas pelo casal real da Rússia. A multidão gritava seus nomes e ensaiava um grito de guerra:

— Vida longa ao nosso Rei! Vida longa à nossa Rainha!

Thaila ficou maravilhada. Parecia à beira das lágrimas ao ouvir a Rússia chamá-la de rainha. Abraçou desajeitadamente o marido e acenou de volta para os súditos.

Quando Heriberto, Lisa, Thiago e Milene apareceram junto à amurada dirigindo cumprimentos aos russos pela hospitalidade, o imperador Matt ergueu a mão pedindo silêncio. Enquanto a população de Moscou cessava de gritar e aplaudir, um mordomo trouxe um microfone para Matt. Ele deu duas tapinhas no objeto para testar o som, e começou a discursar.

— Cidadãos da nossa grande e adorada Rússia! Pela primeira vez, nossos quatro aliados reuniram-se aqui para uma visita diplomática. Eles estão satisfeitos e encantados com a cordialidade e a hospitalidade do nosso povo. Quero lembrar-lhes que cada um de nossos países são nações irmãs, que irão se defender e se auxiliar mutuamente. Lembrem-se disso, sempre que encontrarem um filho alemão, espanhol, sueco, português e de qualquer território onde nossas bandeiras estejam fincadas. Podemos estar passando por um momento de apreensão, porque alguns impérios vizinhos estão se mostrando relativamente hostis para conosco. Iremos à Paris para uma reunião extraordinária das Nações Unidas, e espero sinceramente, e creio que meus amigos imperadores concordam comigo, que possamos voltar de lá com a paz assegurada para nossos povos.

Os russos aplaudiram euforicamente as palavras do imperador, e entoaram os nomes dos cinco imperadores, dizendo “Vida longa ao imperador!”

Matt dispensou a multidão, e ele e Thaila, junto com os demais, voltaram para o palácio. Havia um jantar especial para homenagear os convidados. As esposas foram à frente, e os imperadores ficaram na ante-sala. Daniel se aproximou de Matt.

— Você pareceu muito seguro ao dizer que quer evitar uma guerra a todo custo – disse o alemão.

— E não devia ter parecido? – questionou Matt.

— Não, não – disse Daniel. – Eu teria feito o mesmo. Por melhor preparados que estejamos para ela, uma eventual guerra não seria a melhor solução para os nossos problemas.

— Concordo abertamente – afirmou o russo. – Tudo o que conquistamos para nossos impérios veio honestamente. Uma guerra nunca é um meio honesto.

Daniel inspirou profundamente.

— Tenho a sensação de que todas as nossas dúvidas sobre as intenções dos outros impérios serão esclarecidas nessa reunião.

Matt olhou profundamente para Gustavo, Thiago e Heriberto. Todos estavam igualmente apreensivos.

— Só saberemos quando formos, não é? – disse Gustavo.

— De fato. – Daniel olhou para o horizonte. – Teremos de ficar atentos para o que eles realmente planejam.

...

...

...

...

Dois dias depois, o palácio de Versalhes estava completamente decorado para a reunião das Nações Unidas, de modo a impressionar os imperadores visitantes. A rainha havia declarado aos responsáveis pela decoração do palácio que aquela seria a recepção de boas vindas ideal para que os imperadores, em especial os dos Impérios da Espada, não esquecessem que se encontravam na casa da monarca francesa.

O imperador Filipe da Inglaterra foi o primeiro a chegar. Rina estava esperando pessoalmente os imperadores, do lado de fora do palácio, no topo da escadaria que conduzia ao seu interior. A imprensa estava rodeando o local, separada por cordões, para possibilitar a passagem dos soberanos. Jornalistas do mundo inteiro estavam presentes, em parte pelo clima de tensão que parecia reinar entre os impérios europeus.

De qualquer forma, o imperador britânico e sua esposa subiram as escadas do palácio, e foram recepcionados pela rainha da França. Rina cumprimentou o irmão com um suave beijo no rosto.

— Meu belo irmão. – Ela o abraçou tranquilamente. – Você está em excelente forma.

— Você está linda – retribuiu Filipe, indicando o vestido bege-dourado rendado da irmã. – Pronta para uma vitória, eu diria. Como estou?

Ele abriu os braços, exibindo seu melhor terno negro. A rainha sorriu.

— Está como um poderoso rei.

Então o olhar de Rina encontrou o da rainha Amira. Tentando disfarçar o nervosismo, a esposa de Filipe sorriu.

— Bem-vinda, minha querida – saudou Rina, com a expressão fechada.

— Obrigada por nos receber, Majestade – agradeceu Amira, um pouco tensa. Ela sabia que a rainha da França não aprovava seu casamento com Filipe.

Rina estudou-a da cabeça aos pés, como sempre fazia ao encontrá-la. Amira usava um lindo vestido lilás.

— Por que não entram enquanto eu espero os demais imperadores? – sugeriu a rainha francesa. – Estamos em uma época fria do ano.

O casal real inglês assentiu, e se curvou perante a rainha. Filipe começou a se afastar com Amira, mas Rina murmurou apenas para o irmão ouvir:

— Depois de hoje, irmão, nós teremos o mundo aos nossos pés. Sua esposa pode não ser muito útil para isso.

Filipe se esforçou para reunir toda a paciência e manter o tom de voz.

— Com sua licença, Majestade. – Ofereceu o braço a Amira e subiu para o interior do palácio.

Rina voltou-se para frente do palácio, esperando os imperadores. A atitude teimosa do irmão ainda a incomodava. Filipe merecia uma esposa à altura de um rei, e para Rina, Amira estava muito abaixo de tal definição. Talvez, depois da reunião, ela pudesse pensar em um plano para separá-la do irmão. Talvez, uma de suas amigas condessas encantasse o chefe de estado britânico enquanto ele estivesse em Paris.

Envolta em seus pensamentos, Rina não notou quando outra limusine parou em frente ao palácio. A imprensa começou a se agitar e tirar fotos com flash, e Rina voltou à tona avistando a imperatriz do Japão, Marilia, subindo os degraus do palácio em sua direção.

Marilia prendera seu cabelo com um rabo-de-cavalo curto, decorado com um bracelete prateado, e usava um vestido de cor de creme. Ao se aproximar da rainha, abriu um sorriso brilhante.

— Bem-vinda, Majestade – saudou Rina, beijando a japonesa no rosto. – Sua presença em muito alegra a casa real francesa.

— Eu agradeço a sua hospitalidade, Rainha, em nome da casa imperial japonesa – retrucou Marilia, beijando a soberana francesa na face. Então, ela segurou as mãos de Rina e baixou a voz: - Espero que tudo que me contou nas cartas seja verdade.

— Fique tranqüila, minha cara – disse Rina. – Estou segura de que temos tudo a nosso favor para esta reunião. Os Impérios da Espada estarão em nossas mãos.

Marilia deu-se por satisfeita e seguiu para o palácio.

A próxima limusine trazia o imperador da Índia, Paulo, acompanhado da esposa, Nísia. Paulo vestia um terno dourado, e Nísia usava um vestido prateado com um pequeno decote nas costas. O imperador beijou a mão da rainha francesa e dirigiu-lhe um aceno encorajador com a cabeça, como se dissesse Continue com o plano.

Depois de Paulo veio o imperador da Itália, Luke. Outrora a península da Itália tinha sido ocupada pelos franceses, até que a família da rainha da França decidiu entregar a soberania daquela região aos Rossi, uma das últimas famílias nobres sobreviventes na Itália, e a mais leal à coroa francesa. Os Rossi assumiram o trono com a condição de se manterem aliados à França. Até então, Luke seguia a promessa religiosamente. Seu império abrangia o pequeno principado de San Marino, um enclave na península Itálica, e o território da Albânia, do outro lado do Mar Adriático. Os navios e aviões italianos podiam aportar em qualquer um dos portos franceses do Mediterrâneo, fazendo com que a Itália fosse a principal importadora dos produtos franceses. Rina e seus principais aliados acreditavam que tal situação garantisse o Império Italiano como mais uma força para resistir aos Impérios da Espada.

Luke era um homem alto, de cabelos louros curtos e olhos azuis. Usava um terno de seda preto, e dirigiu um cumprimento formal à rainha ao subir as escadas para o palácio.

Após o imperador da Itália, chegou ao palácio a Rainha da Etiópia, Beatrice, uma soberana que não admitia lealdade nem aos Impérios da Espada nem aos seus opositores. Seu império abrangia os territórios vizinhos da Eritréia, da Somália, do Quênia e de Djibuti, além da ilha de Socotra, no Oceano Índico, e o território do Iêmen, na península da Arábia. Morena, de cabelo cacheado e olhos castanhos, Beatrice compareceu à reunião com um vestido marrom árabe. Cumprimentou a rainha anfitriã com cordialidade e seguiu em direção ao palácio. O simples fato de Beatrice ter comparecido ao encontro satisfez Rina, já que ela e seus aliados já consideravam engrossar o número de opositores aos Impérios da Espada, para um eventual conflito armado.

A próxima a chegar foi Isabella, da Suíça, que saudou Rina com mais entusiasmo do que os anteriores. As duas se conheciam desde pequenas, quando eram tratadas para assumirem os tronos de seus países no futuro. Isabella usava um vestido branco que a fazia parecer uma princesa de conto de fadas. Abraçou Rina como uma irmã que há muito não via, mas assumiu, quase ao mesmo tempo, uma expressão severa.

— Espero de bom grado que suas intenções para esta reunião sejam as melhores, minha irmã.

— Querida rainha, eu jamais pensaria em reunir os imperadores do mundo em um único lugar se não tivesse boas intenções – garantiu Rina.

Isabella soltou os braços da rainha francesa e fitou-a.

— Mesmo assim, eu a aconselho, irmã: tome cuidado. Você sempre aspirou ao poder. Você é sábia, mas sempre gostou de ter todos ao seu redor em suas mãos. Os Impérios da Espada podem estar reprimindo sua autoridade, mas você não deve desafiar a autoridade deles.

Rina ergueu o rosto e baixou a voz, mas continuou com seu tom severo.

— Isabella, você é essencial para nossa aliança. Não vou esperar nada de você que não seja o apoio à minha decisão de confrontar os Impérios de Espada no campo político.

A outra rainha estreitou os olhos.

— Eu espero que saiba o que está fazendo, minha irmã. Porque eu vim disposta a fazer de tudo para evitar uma guerra. Não estou muito certa se você quer o mesmo.

Ela, de repente, pareceu notar os repórteres registrando a conversa das duas, e começou discretamente a se afastar para dentro do palácio, dirigindo um rápido e forçado sorriso a Rina para não levantar suspeitas.

A seguir veio Aline, Rainha da Holanda e da Bélgica, cujo império também abrangia o pequeno principado de Luxemburgo. Isso apenas em terras européias, uma vez que Aline era a soberana não-ligada aos Impérios da Espada que possuía mais territórios ao redor do mundo sob sua coroa. No continente americano, controlava a região da Costa Leste norte-americana que se estendia de Boston, ao norte, até Washington, ao sul, região essa que recebera o nome de “Nova Holanda”; também controlava o Suriname e ilhas da região das Pequenas Antilhas, como São Martinho e Santo Eustáquio, e da costa da Venezuela, como Aruba e Curaçao, que outrora eram chamadas de “Antilhas Neerlandesas”. No coração da África, possuía o imenso território do Zaire, antigamente conhecido como “Congo”, e no sudeste da Ásia, estava a porção mais extensa de seus domínios: a Malásia, o porto de Cingapura, o estuário de Brunei e os arquipélagos da Indonésia e das Filipinas. Ainda dominava, na Oceania, a Nova Zelândia, a Austrália, a Papua Nova Guiné, as ilhas Campbell, Norfolk e Niue, e os arquipélagos de Kermadec, de Cook e de Tokelau.

O fato de Aline estar presente ao encontro dos imperadores só podia ser um ponto favorável a Rina e seus aliados. Se Aline fosse convencida, no decorrer da reunião, de que os Impérios da Espada precisavam acarretar as exigências dos demais impérios, provavelmente mais uma aliada influente se juntaria à causa contra a Alemanha e seus aliados.

A Rainha da Holanda usava um vestido discreto de cor verde e saudou a anfitriã dizendo simplesmente “Boa noite, Majestade”, e entrou no palácio.

Então, cinco limusines chegaram quase ao mesmo tempo, e Rina inspirou profundamente. São eles.

Um a um, os senhores dos Impérios da Espada desceram de suas viaturas.

Heriberto, da Espanha, foi o primeiro a subir a escadaria, acompanhado da esposa Lisa. Nenhum dos imperadores sabia o que esperar da Rainha da França para uma recepção àquela reunião, portanto exibiam semblantes sérios e formais. Foi uma surpresa para todos ver a Rainha postar-se no meio da escadaria, de modo que os imperadores não poderiam passar sem se dirigirem a ela.

Rina abriu um largo sorriso, como que para incentivar os imperadores a avançar. Não parecia nem um pouco ameaçadora. Afinal, ela estava sozinha na escadaria, diante dos cinco imperadores e de suas esposas.

Heriberto subiu as escadas, a princípio hesitante, mas ficou menos preocupado ao se aproximar da rainha e vê-la dirigir-lhe um pequeno sorriso. Rina estendeu a mão, como que para o imperador a beijasse, e disse:

— Seja bem-vindo, Majestade.

O imperador espanhol assentiu levemente, e beijou a mão estendida da rainha. Ela fez sinal para que o imperador e sua esposa seguissem em frente. Heriberto seguiu hesitante nos primeiros passos, mas pareceu concluir não havia nada de suspeito na atitude de Rina, e seguiu confiante até o topo da escadaria.

Os outros imperadores ficaram relativamente sossegados com a recepção de Rina. Thiago, de Portugal, subiu com a rainha Milene, foi cumprimentado por Rina e beijou-lhe a mão.

Em seguida, Matt da Rússia, subindo com a princesa Thaila, foi igualmente saudado pela rainha anfitriã e repetiu o gesto. Daniel, da Alemanha, e sua rainha, Marjorie, também foram parados por Rina, e o imperador também lhe beijou a mão.

Por fim, Gustavo, da Suécia, e a rainha Maílla subiram as escadarias, mas Rina não estendeu a mão. O sueco franziu o cenho.

— Boa noite, Majestade – disse a rainha da França friamente. – Receio que o senhor não possa contar com a mesma receptividade dos outros imperadores.

Com um aceno, ela o dispensou, indicando que seguisse em frente. A rainha Maílla fuzilou-a com o olhar, mas Gustavo limitou-se a seguir em frente, acompanhando os outros imperadores, para manter sua dignidade.

A frieza da Rainha da França com o Imperador da Suécia era facilmente justificada. A França ambicionava uma participação maior nas explorações das zonas polares, em especial na região do Oceano Ártico. Porém, a Suécia e a Rússia detinham o monopólio das navegações marítimas e aéreas sobre a calota polar ártica. Quando navios e aviões franceses partiam rumo ao Canadá, levando provisões e equipamentos destinados à exploração polar, eram sempre barrados por navios e aviões suecos, que atravessavam o Atlântico Norte secretamente, forçando os franceses a fazerem longos desvios, que por vezes atravessavam territórios da jurisdição sueca. Assim, os franceses eram obrigados a pagar altas tarifas para permanecerem nos territórios suecos por tempo suficiente para se abastecerem e seguir viagem. Rina há muito se sentia humilhada pelos Impérios da Espada, mas os abusos cometidos pelos suecos na questão do Ártico faziam com que a soberana de Paris nutrisse uma inimizade maior pelo Imperador Gustavo.

Porém, naquela mesma noite, durante a reunião, os Impérios da Espada veriam que a tensão entre França e Suécia iria ganhar motivações maiores, do mesmo tamanho que as preocupações que os imperadores passariam a ter.


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Notas finais do capítulo

E aí pessoal! De volta com a história, o que acharam? xD

Obrigado por ler!!