Tronos de Fúria escrita por Phoenix M Marques W MWU 27


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Revisão em 28.07.2024



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O imperador Paulo era um soberano pomposo. Suas roupas extravagantes eram muito comentadas no Ocidente, mas o monarca não fazia caso disso. Desempenhava suas funções de Chefe de Estado indiano com rigor e determinação.

Era um homem forte, de estatura mediana, moreno, de olhos escuros e penetrantes. Outrora rei de Délhi, foi acumulando influência e poder até formar um império de dimensões respeitosas, englobando, a partir da Índia, os territórios do Paquistão, da Caxemira, do Nepal, de Butão, de Bangladesh e da Tailândia. Era o senhor do sul da Ásia.

Sua esposa, a rainha Nísia, considerava-o capaz de submeter qualquer um à sua vontade com apenas um olhar. Era uma bela mulher, negra, de olhos claros e cabelo cacheado. Por exigência do marido e por vaidade, sempre estava vestida de modo a acompanhar o luxo do imperador. Havia quem dissesse que a única utilidade da rainha era ceder aos impulsos sexuais do esposo à noite.

Paulo sempre direcionava críticas ao que chamava de “arrogância ocidental”. Culpava os imperadores do norte pela desigualdade que acometia os países do sul. O menor gesto de desconsideração dos europeus era rebatido por ele com voracidade. Seus ideais eram similares aos dos monarcas da França, da Inglaterra e do Japão. Nesse momento, em seu palácio em Nova Délhi, ele lia atentamente a carta da Rainha francesa, convidando à reunião das Nações Unidas.

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Em Buckingham, o imperador Filipe contemplava a cidade de Londres no meio da tarde, da janela de seu quarto. No envelope contendo o convite oficial de sua irmã, a rainha Rina, ele percebia a oportunidade de fazer seu nome e seu país serem ouvidos com respeito.

A família Philchris há muito reinava sobre a França e a Inglaterra, e atualmente os irmãos mais jovens, Filipe e Rina, eram os soberanos. Eles, no entanto, eram desprezados pela maioria dos soberanos de outros países europeus, por serem considerados excêntricos.

O imperador tinha cabelo curto, olhos claros, pele alva e estatura mediana; era considerado um dos homens mais bonitos da Europa Ocidental. Não menos era sua esposa, a rainha Amira, de silhuetas graciosas e olhos verdes como pérolas. Amira e Filipe se conheciam desde a juventude, e haviam estudado juntos em Oxford, sendo ele formado em história da arte e ela em direito. A rainha da França e irmã do imperador, Rina Philchris, achava a moça “inadequada” à classe do soberano britânico. Havia sugerido abertamente a Filipe várias vezes que se separasse da rainha. Mas o imperador nunca se deixava intimidar pela irmã, e era o marido mais fiel possível para Amira.

Problemas familiares à parte, Filipe era um bom estadista. A Inglaterra era o país dos intelectuais, dos escritores, dos músicos, dos artistas em geral. Suas universidades eram frequentadas por pessoas de todo o mundo. A reputação do sistema educacional britânico era indiscutível. O imperador sabia que uma educação de qualidade fortaleceria as bases do país com mais intensidade do que qualquer outra nação.

A Inglaterra tinha fome de poder. Não tardou a se lançar na busca por territórios; porém, os países dos Impérios da Espada tentavam evitar que os ingleses ocupassem territórios em demasia nas regiões dominadas por Suécia, Portugal, Espanha, Rússia ou Alemanha. Os britânicos enfrentavam um forte cerco de tais nações, o que impossibilitava a economia do país de acompanhar os avanços dos “Espadas” ou de possuir influência geopolítica para com aqueles países.

Antes de Filipe assumir o controle sobre a Grã-Bretanha, países como Suécia e Rússia possuíam interesse na ocupação da região. A ilha da Irlanda, apesar das diferenças culturais entre o norte e o sul, aceitou receber Filipe como monarca. O jovem imperador também assumiu o controle sobre a Ilha de Man, as ilhas Shetland e as ilhas Órcadas. Inicialmente, as ilhas tinham o propósito de tornar o Império mais próximo das Américas, mas os navios britânicos eram constantemente bloqueados por embarcações suecas, alemãs ou russas ao tentarem atravessar o Atlântico Norte.

Territórios como Malta, Gibraltar, Sealand e as ilhas do Canal já reconheciam a soberania britânica antes da ascensão de Filipe. Ocupar Sealand e o Canal fazia com que a Inglaterra dominasse, em conjunto com a França, o Canal da Mancha, facilitando a comunicação entre os dois países. A posse do estuário de Gibraltar alimentava a inimizade com Espanha e Portugal por razão de antigas disputas históricas. A soberania sobre Malta era perigosa. O mar Mediterrâneo era uma região muito hostil aos ingleses. O litoral a noroeste era espanhol. O mar Adriático era dividido entre Itália e Rússia, duas nações que nunca haviam sido aliadas do imperador britânico. (A Itália tinha vínculos históricos com a França, principal aliada da Inglaterra, mas isso é assunto para outra conversa.) O nordeste e o sudeste integravam o vasto Império Russo. Apenas o norte, onde ficava o litoral francês, e o litoral do norte da África, dominado pela França, eram pacíficos para os ingleses. A Inglaterra era, sem dúvida, o país europeu mais prejudicado pela nova partilha do mundo.

As demais possessões inglesas eram: Bermuda, no Atlântico Norte; Bahamas, Santa Lúcia, Ilhas Virgens, São Vicente e Granadinas, São Cristóvão e Névis, Granada, Trinidad e Tobago, no Caribe; a Guiana Inglesa, Belize e o estratégico Panamá; as ilhas Geórgia do Sul e Malvinas, visadas por espanhóis e portugueses; Sudão, Nigéria, Camarões, Libéria, Zâmbia, Zimbábue, Botsuana e o Sudão do Sul, na África; as ilhas da Ascensão e de Santa Helena, no Atlântico Sul; a solitária Hong Kong, no Oriente; Vanuatu, Fiji, Tonga, Samoa e os arquipélagos de Pitcairn, Palmyra e Midway, no Pacífico. O Reino Unido possuía bases estratégicas nos quatro cantos de mundo, fazendo inveja até mesmo aos poderosos Impérios do norte; porém, tais bases eram muito distantes umas das outras, dificultando a comunicação entre elas.

Filipe dobrou a carta de Rina e guardou-a na escrivaninha. Não poderia haver época mais propícia para aquela reunião.

— Cedrick – chamou o imperador.

O secretário real entrou no gabinete do monarca.

— Majestade, em que posso ser útil? – perguntou.

— Redija uma resposta à França. Ditarei as palavras.

Cedrick Saust foi buscar papel e caneta. O imperador voltou a contemplar sua capital, quase saboreando a oportunidade que estava agarrando.

Olhou para o calendário – a reunião estava marcada para daqui a dois dias. Filipe memorizou cuidadosamente a data.

Seria a data do renascimento da Inglaterra.

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A imperatriz do Japão, Marilia Noke, era uma mulher de aparência simples. Seus vestidos tinham bordados comuns. Seu palácio não era majestoso. Raramente a imperatriz se produzia para algum evento, apesar de ser muito requisitada. Por dentro, porém, tinha uma ambição enorme.

Marilia era uma moça jovem, tendo herdado o trono japonês muito cedo. Seus olhos orientais eram do tom mais profundo de castanho escuro. Seu cabelo negro era cuidadosamente bem cuidado e tinha um brilho natural. Era como se os fios da nuca da monarca refletissem todo o tipo de luz – da luz do luar até a luz do sol. Tinha a reputação sólida de ser uma mulher fina, séria e virgem.

Seu império compreendia o arquipélago japonês, a península da Coréia e a região do nordeste da China, conhecida como Manchúria. Também possuía as ilhas Ogasawara, a leste do arquipélago, no Pacífico Norte. O Japão influenciava toda a movimentação política e econômica no Extremo Oriente: a China era sua principal freguesa, fornecendo matéria-prima e alimentos ao país do Sol Nascente enquanto conseguia, com muito esforço, ter acesso aos avanços tecnológicos japoneses meses depois do restante do mundo. A Indochina francesa era cercada de bases estratégicas do Japão, devido à aliança estabelecida entre Marilia e a rainha da França. Havia ainda o império da Índia, outro importante aliado naquela região. Mesmo a Malásia e a Indonésia, pertencentes à neutra Holanda, abriam seus portos de maneira amigável aos japoneses, em respeito à sua cultura milenar e ao poderio tecnológico.

Mas o Japão tinha limites perante o mundo ocidental. Nenhum navio japonês podia navegar para o norte do Oceano Pacífico, onde a Rússia possuía várias bases. O Império Russo dominava praticamente todo o Pacífico Norte, com exceção do Canadá e do próprio Japão, e impedia que o Japão se comunicasse com aliados naquela região. Isso instigava a rivalidade entre os dois impérios vizinhos. A Suécia, a Holanda e a Espanha também eram hostis aos japoneses em suas áreas do Pacífico.

Distante dos aliados e cercada por inimigos, sem espaço para que a influência de seu império aumentasse, a imperatriz sabia que a reunião das Nações Unidas em Paris era a oportunidade ideal para fazer seu império ser finalmente respeitado.

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Isabella, a rainha da Suíça, comandava um dos menores reinos do Ocidente. A Suíça outrora era um território francês. Os Richell, nobres suíços de ascendência francesa, haviam comandado um pequeno movimento em favor da independência do país junto ao clã Philchris, regente da França. A família real cedeu, e os Richell tornaram-se a família real da Suíça, com a condição de serem aliados da França em qualquer batalha. Isabella era a atual soberana.

A jovem rainha era loura, de olhos castanho-esverdeados e uma pele branca como a neve; era uma das mulheres mais belas da Europa. Alguns chegavam a compará-la em beleza com a rainha Milene de Portugal. Isabella, contudo, era extremamente sábia. Como um país pequeno, a Suíça era vista como um país calmo e que não representava nenhuma ameaça aos vizinhos – países como a Alemanha e a Rússia usavam essa descrição com freqüência para se referir ao país dos lagos e dos Alpes. Contudo, os cidadãos suíços tinham o direito de receber uma arma aos 18 anos. A taxa de criminalidade da nação era a menor da Europa. E os melhores oficiais do Exército eram designados para o Vaticano para integrar a famosa Guarda Suíça. Isabella tinha em suas mãos um país com uma das melhores preparações militares do mundo. E, ao contrário de Suécia, Alemanha ou Rússia, a Suíça tinha um território pequeno, o que facilitava sua defesa, ao contrário dos Impérios da Espada, que controlavam grandes e extensos territórios ao redor do mundo. Os Richell haviam-na ensinado a resolver todas as questões relativas ao país por meio da diplomacia, que consideravam a forma mais sábia e pacífica de resolver um conflito. O próprio lema da família real era: a força sempre tem de se curvar à sabedoria.

Ao receber o convite da rainha da França para a reunião das Nações Unidas, Isabella refletiu que a intenção de seus aliados era muito clara: encostar os Impérios da Espada contra a parede, exigir que seus países tivessem a mesma influência política e econômica perante o mundo e, caso os Impérios da Espada não aceitassem suas condições, declarar guerra.

Isabella decidiu ir, mesmo sabendo que seus aliados provavelmente a repreenderiam por sua posição. Ela estava disposta a impedir uma guerra de proporções mundiais.

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  A França era o país da comida fina e sofisticada, das belas universidades, de renomados cientistas e poetas, do futebol tratado como arte, dos museus lendários e da rainha Rina.
  Era o orgulho da família real anglo-francesa. Se Filipe havia herdado a beleza da família, sua irmã arcou com a inteligência. O primeiro-ministro, Louis Clair, visitava freqüentemente a rainha, para consultá-la, a fim de compartilhar questões do governo. Rina sempre tinha respostas. O primeiro-ministro era um belo homem, de modo que muitos já apontavam que era possível que ele acumulasse, mais cedo ou mais tarde, um título de nobreza e um trono ao lado da rainha em seu palácio, se continuasse a visitá-la todas as semanas.
  A própria Rina não ficava muito atrás. Tinha olhos negros cheios de vida, que notavam todos os detalhes à sua volta. Captava qualquer ponto importante em uma conversa, uma reunião, um debate ou uma assembléia. Seus cabelos castanhos trançados iam até a cintura. Suas cores favoritas eram roxo e preto, de modo que sempre utilizava vestidos dessas cores, que contrastavam com sua pele clara.
   Por trás de seu lindo rosto, a rainha irradiava poder e autoridade. Sua determinação fez da França um grande império, de dar inveja até ao lendário Napoleão. Mesmo cedendo a Suíça e a Itália para alguns de seus ex-súditos, ainda havia territórios consideráveis sobre a bandeira da França pelo mundo.
Suas possessões incluíam o enclave de Mônaco e a ilha da Córsega, na Europa. Nas Américas, o Canadá e seu arquipélago ártico, a Louisiana, o Haiti, as ilhas de Dominica, Martinica e Guadalupe, e a Guiana Oriental Francesa. No Extremo Oriente, a Indochina: Laos, Camboja e Vietnã. Os territórios da África: Argélia, Tunísia, Líbia, Mauritânia, Mali, Níger, Chade, Senegal, Gâmbia, Guiné, Serra Leoa, Costa do Marfim, Togo, Benim, Congo, Gabão, Madagascar, Comores, Seychelles, Reunião, Maurício e a Província Centro-Africana, também conhecida como África Central Francesa; esses territórios, cheios de poços de petróleo, garantiam a França como líder mundial na produção do combustível, embora o império sofresse o boicote dos Impérios da Espada, que consumiam preferencialmente o petróleo dos territórios suecos no Oriente. Na Oceania, possuíam os arquipélagos da Nova Caledônia, de Wallis e Futuna, das Marquises, de Tuamotv, da Sociedade, de Tubuai, de Gambier e Bora Bora.
  Dos impérios que faziam oposição aos Impérios da Espada, a França era aquele que tinha mais bases estratégicas ao redor do mundo. Bases essas que seriam muito úteis num eventual conflito global.
  Quando havia enviado os convites aos imperadores de todo o mundo para a reunião das Nações Unidas, Rina não esperava provocar, de imediato, uma guerra. Mas era ótima a sensação de pressionar os Impérios da Espada e deixá-los com poucas opções.


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Notas finais do capítulo

E aí pessoal! De volta com a história, o que acharam? xD

Obrigado por ler!!