Química escrita por Paulinha Almeida


Capítulo 2
Parte II


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que estão acompanhando, e principalmente aos reviews, que são o combustível natural de quem escreve.
Enjoy!



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—Você prefere disfarçar e nos encontramos lá? - Perguntei assim que pisamos na calçada, sem saber bem o que dizer nesse momento.

—Só se você tiver algo a esconder. - Respondeu em tom de brincadeira.

Eu não tinha, é claro, então caminhamos calmamente, um ao lado do outro, até minha casa e no percurso conversamos banalidades que vez ou outra nos fazia rir. Enquanto esperávamos o elevador ela digitou rapidamente alguma coisa no celular e, assim que a mensagem foi enviada, silenciou o aparelho.

Gina era sempre muito discreta em publico, e eu estava morrendo de curiosidade de saber como seria quando estivéssemos a sós e com a certeza absoluta que ninguém chegaria. Deixei que ela entrasse na minha frente, e logo depois de entrar também tranquei a porta que nos separaria do resto do mundo.

Observei quando ela parou alguns passos adentro da sala, observando atentamente tudo em volta, já sem as atitudes comedidas que tinha na frente dos outros. Me aproximei de suas costas e encostei meu corpo no dela tempo suficiente para dar-lhe um beijo na pele a mostra do ombro e tirar o caderno, os livros e a bolsa de suas mãos.

Me afastei novamente com os objetos e os deixei, junto com a minha mochila, sobre o aparador que havia na sala de jantar. De onde eu estava consegui vê-la andando lentamente até a estante e pegar o porta-retratos que mostrava eu e meus pais esquiando, dois invernos atrás. Havia sido minha viagem de presente por ter passado na Universidade Federal.

—Seu pai é um gato! - Elogiou quando eu me aproximei e parei atrás dela novamente, ambas as mãos apoiadas na sua cintura.

—É, mas ele já é casado. - Brinquei e ela riu.

—Não tem problema, você é a cara dele, então acho que dá para o gasto. - Deu de ombros e riu enquanto se inclinava para voltar o objeto ao seu lugar de origem.

Eu olhei descaradamente para sua bunda enquanto ela se abaixava na minha frente e me peguei novamente imaginando o quão proveitoso esse movimento seria sem aquela roupa toda. Apesar de a ideia ter me animado, não era essa a minha única preocupação agora.

Se, há quase cinco meses, me perguntassem o que eu mais queria naquele momento, a resposta certamente seria algo relacionado à Gina Weasley e uma cama, ou qualquer outro lugar, para que eu a usasse inteira. Agora que ela estava aqui, no entanto, eu não tinha nenhuma pressa.

Havia três razões básicas para isso:

1 – Eu gostava muito da presença dela, então eu queria aproveitar isso também.

2 – Tudo estava tão bom até agora como estávamos levando, que eu não queria perder esse clima de provocação. Até mesmo porque a expectativa tornava as coisas espetaculares no final.

3 – Mais cedo ou mais tarde ela acabaria na minha cama, ou em qualquer outro lugar, comigo. E isso era fato inegável!

—Está com fome? - Perguntei abraçando sua cintura assim que ela se levantou.

—Um pouco. - Apoiou as mãos sobre as minhas e fez um carinho suave com a ponta das unhas compridas.

—Pode ficar a vontade. - Ofereci dando um beijo em seu rosto e me afastando para buscar o celular na mochila. Quando voltei, me sentei no sofá enquanto ela ainda observava os poucos objetos de decoração que eu tinha. - Normalmente eu como pizza na sexta à noite, o que você quer comer?

—Pode ser, eu adoro pizza. - Informou sentando-se no mesmo sofá que eu, mas não exatamente ao meu lado.

—De que sabor você prefere? - Perguntei já discando o numero da minha pizzaria preferida e levando o telefone ao ouvido.

—Qualquer coisa com queijo e sem atum. - Respondeu encostando-se e aguardando.

Fiz o pedido assim que fui atendido, informei meu endereço e forma de pagamento, como de praxe, e quando desliguei o telefone notei que ela estava me olhando. Ela sorriu quando eu encontrei seu olhar, e eu sorri de volta, quase involuntariamente.

“É linda demais!”. Pensei observando os traços suaves do seu rosto.

Joguei o celular em cima do sofá e me levantei, ela acompanhou meu movimento com os olhos, mas continuou sentada até que eu segurei sua mão e a levantei também.

—Vem, vou te apresentar o resto da minha casa. - Convidei e ela deu alguns passos atrás de mim, até que eu a coloquei à minha frente e guiei o caminho com ambas as mãos apoiadas em seu quadril.

Começamos pela cozinha, e ela riu quando eu fiquei sem graça ao constatar que havia bastante louça suja na pia. Passamos novamente pela sala de estar, em seguida entramos na sala de jantar, onde eu havia deixado nossas coisas, e ela olhava tudo atentamente, sempre fazendo um elogio ou outro.

Até agora seus comentários não tinham nada demais, mas o tom falsamente despretensioso que ela usou ao passarmos entre a mesa e o aparador me animou um pouco.

—Gostei do espelho.

A frase em si seria bem comum, se ela não tivesse piscado sugestivamente pra mim quando eu a olhei pelo reflexo que exibia o meu corpo grudado às suas costas e toda a minha mesa de jantar atrás de nós.

—Eu gosto mais do que ele reflete. - Respondi no mesmo tom e apertei mais sem corpo contra mim.

Ela riu e correspondeu à proximidade apoiando as duas mãos nas minhas coxas e apertando levemente, mas sem nunca deixar de caminhar em direção ao corredor para o qual eu a guiava.

Na primeira porta à direita ficava um banheiro que só era usado raramente, porque eu usava o do meu quarto e não recebia muitas visitas, e por isso talvez fosse o lugar mais organizado da casa inteira. Não que o resto fosse uma completa bagunça, mas sempre havia um ou outro livro deixados em lugares inapropriados.

A porta ao fundo do corredor era a do meu quarto, e embora fosse muito sugestivo levar uma mulher gostosa para conhecer seu quarto, meu gesto estava repleto de duplo sentido, mas não de segundas intenções. Eu queria mostrar um pouco mais de mim pra ela, sem necessariamente querer conhecê-la por inteiro. Não hoje.

O que nos guiava desde o inicio, e acredito que continuaria fazendo-o, era o clima e a nossa empolgação. E embora hoje o clima estivesse quente, ainda não era suficiente para que eu tirasse toda a sua roupa com os dentes, como ainda gostaria de fazer.

Não literalmente falando, é claro!

—Meu quarto. - Eu falei abrindo a porta.

Ela se soltou de mim para entrar e eu me encostei ao batente para vê-la se movimentar livremente. Ela olhou para o guarda roupa de madeira que tomava toda a extensão da parede à direta de nós, para a TV que ocupava a mesma parede que a porta de entrada e a porta do meu banheiro, do outro lado, a janela na parede oposta ao meu armário e por ultimo seu olhar se deteve mais demoradamente sobre a minha cama, encostada na parede ao fundo, ainda bagunçada com um edredom azul marinho.

Ela tinha dado apenas poucos passos para dentro do cômodo, e observou tudo olhando ao redor com as duas mãos no bolso frontal da calça jeans clara que estava usando. Quando desviou o olhar da minha cama, ela virou-se e caminhou até mim com o lábio inferior preso entre os dentes, jogando os braços em volta do meu pescoço quando seu corpo encostou-se ao meu. Eu continuei com a mão esquerda no bolso, e apoiei a outra na base de suas costas.

—Pode mexer, não precisa ficar com essa cara de curiosa. - Ofereci segurando o riso diante da sua expressão e ela riu alto, jogando a cabeça um pouco para trás.

—Hoje não. - Recusou e beijou meu queixo.

—Então deixa eu te mostrar agora o meu lugar preferido. - Convidei dando um selinho em seus lábios e puxando-a até o cômodo que havia em frente ao banheiro, onde deveria ser um quarto de hóspedes.

Quando empurrei a porta, já entreaberta, e dei passagem a ela, sua primeira reação foi um pouco diferente da que eu esperava. Ela riu!

—Não acredito! - Exclamou andando em direção à minha mesa de sinuca e se apoiando ali, ainda rindo. - Você e o Ron poderiam morar juntos!

Eu permaneci encostado na entrada do quarto - ou da minha sala de jogos, como eu chamava - e ri da sua comparação. Não era a primeira vez que ela falava do irmão e eu já havia percebido que eles se davam muito bem, principalmente porque diversas vezes nossas aulas particulares haviam sido interrompidas pelas ligações dele, mas nunca havíamos nos aprofundado no assunto, então eu não entendi bem o que ela quis dizer com aquilo.

—Acredita que ele vive me falando que eu preciso me mudar logo porque ele quer fazer exatamente isso aqui com meu quarto? - Comentou apontando ao redor, e eu ri com ela.

—Você mora com ele? - Perguntei ainda parado onde estava.

—Sim, mas só até eu entrar na faculdade. Papai vai me dar o meu apartamento de presente quando eu passar em medicina. Igual fez com Ron. - Informou enquanto desenhava com a ponta dos dedos os contornos do tecido verde.

—Então é por isso que você quer tanto passar? - Perguntei interessado.

—Não, eu quero passar porque eu sou apaixonada por medicina desde criança. Eu amava as roupas brancas do meu pai.

—O Ron fez medicina também? - Quis saber.

—Fez. Ele se formou no ano passado.

—E o seu pai também é médico? - Fiz outra pergunta.

—Sim. - Respondeu e virou o rosto para me olhar.

Sua expressão era quase de duvida, acredito que por causa da quantidade de perguntas, e eu ri e baguncei os cabelos olhando para baixo, meio constrangido. Ela sorriu com o gesto e arqueou a sobrancelha, como sempre fazia quando eu o repetia.

—Lembra que você me perguntou se era só Química que eu precisava aprender? - Quebrou o silêncio alguns segundos depois, e eu a olhei imediatamente, prevendo que o assunto se tornaria mais interessante agora. Eu assenti com um sorriso de canto e ela continuou. - Então, você poderia me ensinar a jogar isso aqui também, porque eu não sei. - Finalizou e me olhou de canto, ainda encostada de frente para o meu brinquedo preferido.

Preferido por enquanto, pelo menos.

Eu caminhei até Gina, antes de responder, e encostei meu corpo em suas costas, tomando cuidado para que sua bunda ficasse devidamente posicionada sobre meu quadril, e apoiei minhas mãos sobre as dela, em cima do tecido verde da mesa, prendendo-a ali.

—Eu até ensino... - Comecei e abaixei meu rosto até seu pescoço, aspirando o cheiro bom dos cabelos dela, que estavam soltos. - Mas vamos ter que pensar numa roupa mais legal que essa calça jeans. - Falei em seu ouvido enquanto subia minha mão esquerda pela parte de trás das suas pernas, desde a metade da coxa até finalizar com uma apertada suave em sua bunda, para depois voltá-la para cima de sua mão, como estava antes.

Inicialmente ela riu com a minha resposta, mas um gemido baixo escapou de sua boca quando eu alisei seu corpo. E eu adorei sua reação.

—E o que você sugere? - Perguntou mantendo o tom sempre provocante das nossas conversas.

—Pensei em algo como aqueles uniformes de jogadoras de tênis. Eles devem ser muito confortáveis. - Falei fingindo estar pensativo, e ela gargalhou enquanto mudava muito lentamente o apoio do próprio corpo de uma perna para outra, propositalmente esfregando-se em mim.

—Aquela saia minúscula, você quer dizer? - Perguntou ainda rindo.

—Exato! - Confirmei forçando um pouco mais meu corpo contra o dela, inclinando-a sobre a mesa à nossa frente.

—E supondo que eu aceite, o que eu deveria vestir além daquilo? - Perguntou inclinando-se ainda mais para frente, agora com o cotovelo apoiado sobre o tecido verde e macio à nossa frente, e eu levei minhas mãos para o seu quadril, apertando levemente sua pele sobre a calça.

—Se você quiser vestir algo... - Comecei em tom de brincadeira, e pronto para me desculpar a qualquer momento caso ela não gostasse do comentário. - Pode vestir algo vermelho, eu gosto dessa cor.

Meu corpo estava completamente inclinado sobre o dela, toda a extensão das suas costas perfeitamente moldada a mim, seu pescoço ao alcance da minha boca, e eu o beijava durante todos os momentos em que ela estava falando. A única coisa que meu cérebro processou, alem da bunda dela colada em uma parte do meu corpo que demonstrava perfeitamente o tamanho do meu desejo, é que eu com certeza a traria aqui mais vezes.

—Boa escolha, eu também gosto dessa cor. - Afirmou já sem nenhum humor, a voz mais rouca do que o normal, a cabeça inclinada para trás, e eu poderia jurar que ela mordeu o lábio quando eu lambi a pele exporta do seu pescoço, logo atrás da orelha.

Passei minhas mãos por suas pernas até apoiá-las na parte frontal da sua coxa, os dedos próximos à virilha, mas antes que eu a apertasse mais em meu corpo, Gina esfregou-se lentamente em mim de novo, como havia feito minutos atrás, mas dessa vez eu a ajudei, movendo meu corpo em sincronia com o seu. Continuei beijando seu pescoço enquanto subia as mãos para apertar novamente seus seios, como havia feito mais cedo, e, pela primeira vez, ela gemeu alto.

Todo esse conjunto de reações foi mais do que suficiente para que eu decidisse que a hora perfeita para se livrar de toda aquela roupa poderia ser agora. E nem seria com os dentes, como eu intencionava, para que não demorasse tanto!

Me afastei dela o suficiente para virá-la de frente e, segurando firmemente sua cintura, arrastá-la até que suas costas se chocassem contra a parede que até então estava atrás de mim. Apoiei uma das minhas mãos antes para que ela não sentisse todo o impacto, e foi ela que desceu as duas mãos até minha bunda, dessa vez, e me puxou mais para perto. Quando ela subiu as mãos por minhas costas, levando minha camiseta junto, foi minha vez de descer firmemente meu toque por seu corpo até parar entre suas pernas e levantá-la, mantendo-a presa entre mim e a parede, às suas costas.

Com o movimento ela cruzou as pernas ao redor do meu corpo, me mantendo encostado enquanto eu me esfregava nela, agora sem nenhuma tentativa de disfarce. Nós estávamos nos beijando afoitos, quase com pressa, e nossas virilhas estavam completamente encostadas. Mesmo que ainda vestidos, eu conseguia sentir como ela estava quente ali. Quando desci meus beijos da sua boca para o pescoço, e então, finalmente, para o seu decote, já com a mão preparada para abaixar a alça da sua camiseta, a campainha tocou.

Eu parei de beijá-la e continuei com o rosto encostado em seus seios, tentando acalmar minha respiração. Ela também respirou fundo algumas vezes para se acalmar, ainda com as pernas em volta de mim. Senti minha camiseta descer novamente quando ela tirou a mão das minhas costas e apoiou no meu ombro, apertando levemente.

—O jantar chegou. - Ela falou ainda meio ofegante.

—Justo agora que eu estava com fome. - Reclamei e ela riu do duplo sentido, me fazendo rir também enquanto soltava com cuidado suas pernas, colocando-a em pé.

—Vamos, a expectativa sempre melhora o final. - Me deu um selinho ao terminar de falar e me puxou para a sala, arrumando a camiseta com uma das mãos.

Gina se sentou no sofá enquanto eu atendia a porta e digitava a senha do cartão para finalizar o pagamento. Isso não era um jantar, como deveria, então eu peguei os pratos na cozinha e coloquei sobre a mesinha de centro para comermos ali mesmo, no sofá onde ela estava.

Rimos durante quase todo o jantar, como se a conhecesse há anos, e eu tomei o cuidado de não bombardeá-la com perguntas como havia feito antes. Nossa conversa foi tão descontraída que ninguém que nos visse dessa maneira seria capaz de suspeitar que minutos atrás eu estivesse quase me fundindo a ela, tão agarrados que estávamos.

Quando terminamos de comer eu peguei os pratos sujos e levei até a cozinha. Ela fez menção de me ajudar, mas eu a impedi com a seguinte frase:

—Pode ficar, hoje você é visita. Da próxima vez você leva e eu fico sentado. - Ela gargalhou e se sentou novamente.

Na volta passei direto para a sala de jantar e voltei com a minha mochila. Assim que sentei ao lado dela tirei de dentro uma pilha de folhas escritas, que ela reconheceu como os testes que eu havia aplicado naquele dia. Folheei até encontrar a que dizia Ginevra M. Weasley e a puxei, guardando o resto.

—Vamos ver como se saiu a Srta. Ginevra. - Ironizei já sabendo que ela não gostava do próprio nome.

—Toda vez que alguém fala meu nome inteiro eu me lembro de que nem que eu viva duzentos anos conseguirei agradecer à minha mãe o tanto que ela merece, por tanta criatividade. - Reclamou e eu ri.

—Olha... - Exclamei assim que terminei de conferir a resposta das dez questões. - Acertou quatro. Estamos progredindo, parabéns! - Finalizei com o elogio e entreguei o papel a ela, que observava curiosa.

—Mas ainda preciso melhorar muito! - Resmungou olhando para as contas que havia feito, e que eu não entendi completamente.

—Você vai conseguir. - Afirmei e ela me olhou sorrindo.

—Uma pena você não ser professor de Biologia, porque o que eu já aprendi de anatomia com você, no tempo em que deveria estar aprendendo Química, equivale a mais do que todos os anos na escola. - Brincou e nós dois rimos.

Depois desse comentário nos beijamos profunda e calmamente, sentados um ao lado do outro, no meu sofá, enquanto eu acariciava sua bochecha. Provavelmente um dos melhores beijos que trocamos até agora, sem pressa, só aproveitando o momento. Nos separamos um tempo depois com alguns selinhos demorados.

—Preciso ir para casa. - Anunciou depois de olhar as horas no relógio dourado em seu pulso.

Puxei seu braço e olhei também, já passava das onze da noite.

—Ta bom. - Concordei e me levantei também.

Gina caminhou comigo até onde suas coisas estavam e pegou a própria bolsa enquanto eu puxava as chaves do meu carro e seus livros, me virando com ela para a porta. Quando ela esticou os braços para pegar o restante de suas coisas eu recusei.

—Deixa que eu levo, vamos. - Convidei caminhando em direção à porta.

—Vamos pra onde? - Perguntou confusa.

—Pra sua casa. Eu vou te levar. - Esclareci e ela rolou os olhos ironicamente.

—Não precisa, Harry.

—Ta bom. - Ignorei seu comentário e continuei caminhando até a saída.

Ela ainda reclamou um pouco da minha insistência muda, mas entrou no carro comigo e me guiou até pararmos em frente ao prédio onde morava. Não ficava muito longe da minha casa, e aparentemente o padrão de vida ali era bem alto.

—Obrigada pelo jantar. - Agradeceu tirando o cinto de segurança e se virando para mim quando eu estacionei o carro.

—Aquilo ainda não foi um jantar. - Brinquei fazendo o mesmo, e pousando minha mão em seu joelho.

—Ok, então obrigada pela noite. - Retificou-se prendendo o riso.

—Eu que agradeço a companhia maravilhosa. - Retribui o agradecimento, sendo totalmente sincero, e ela sorriu graciosamente. - Será que agora já somos íntimos o suficiente para trocar telefones? - Perguntei já com meu celular na mão, fazendo seu sorriso se transformar numa discreta gargalhada.

—Acho que agora sim. - Confirmou pegando o próprio aparelho e anotando meu numero, enquanto eu fazia o mesmo com o dela.

Nos beijamos novamente, mais rápido dessa vez, e Gina me desejou boa noite antes de sair. Esperei que ela entrasse e só então fui embora. Assim que cheguei fui direto dormir, eu tinha cenas reais demais para reviver, não seria preciso nenhuma série dessa vez.

Meu final de semana passou extremamente lento dessa vez, e eu já não aguentava mais ficar em casa. No sábado recusei outro convite de balada, porque eu realmente não estava afim, e continuei estudando Química Analítica Fundamental. Uma ou duas vezes, diante de uma fórmula mais complicada, eu ria pensando no quanto Gina surtaria se um dia tivesse que aprender aquilo.

Na segunda feira pela manhã cheguei mais cedo na faculdade, mas Dino e Cedrico já estavam lá sentados. Me sentei ao lado deles, como todos os dias, e os cumprimentei como sempre. O que eu ouvi, no entanto, não foi uma resposta aos meus bons modos, foi uma pergunta:

—Conta aí, quem é que você ta pegando e te deixou de quatro? - Cedrico fez a pergunta, Dino só riu ao seu lado.

Eu ri também, diante do questionamento, mas não neguei nem confirmei, apenas fui tão direto quanto ele:

—Vá se foder, Cedrico.

Neste mesmo dia, durante a terceira aula, a data das nossas provas foi divulgada e seria dali a três semanas, duas antes de eu completar vinte e dois anos. Saí no horário de sempre, passei em casa como todos os dias, e fui para a escola dar minhas aulas.

Quando entrei na sala, apesar de ainda estar dentro dos vinte minutos de intervalo deles, Gina e Luna estavam sentadas no lugar de sempre conversando, e as duas sorriram em cumprimento, embora o sorrido da minha (minha?) ruiva tenha sido maior. Nós dois éramos discretos quanto ao nosso envolvimento extraclasse, mas a essa altura mais pessoas já haviam percebido que entre nós existia algo mais.

Continuamos com nossos encontros particulares, e três dias durante essa semana fomos para minha casa assim que a minha aula acabou. Em um dos dias que restaram ficamos na escola mesmo e no outro ela foi jantar com o irmão.

Na quarta feira, dia em que não ficamos juntos após a aula, ela veio até minha mesa antes de todo mundo, e me avisou rápida e discretamente que precisaria ir embora, mas que mais tarde me ligaria. Não nos despedimos com um beijo, é claro, mas não faltou vontade.

Tirei as duvidas de alguns garotos que estavam ali, e entre os três últimos que ficaram para falar comigo, reconheci a pessoa que havia mandado o telefone para Gina, pedindo para que se encontrassem.

Assim que eles terminaram de perguntar o que queriam saber, saímos juntos da sala, os três conversando mais à frente e eu logo atrás, andando pelo mesmo corredor. Eu não estava prestando muita atenção ao que diziam, até ouvir a palavra chave.

—... a ruiva não me ligou! - Exclamou meio indignado.

—Que ruiva? - Um dos colegas perguntou.

—A que senta na frente, aquela gostosa pra caramba, que ta sempre com uma menina loira. - Explicou e eu tive certeza absoluta que eles estavam falando da Gina. - Eu a chamei para sair e passei meu telefone, mas ela não me ligou.

Os outros dois rapazes fizeram expressões cômicas, quase incrédulas.

—Cara, você é muito burro! - Um deles falou.

—Você chama a mina do professor de Química pra sair, e quer que ela ligue de volta pra você? - O outro ironizou, rindo.

—Do professor de Química? - Perguntou sem acreditar. - Quem te disse isso?

—Não precisa dizer, seu idiota, é só prestar atenção no que acontece no mundo à sua volta. - O garoto da direita respondeu.

Eu ri, ao fim desse diálogo, e os três se viraram, me olhando. Os dois amigos, rindo, o autor do bilhete, meio sem graça.

—Desculpa ai, professor. Eu não sabia. - Desculpou-se ainda constrangido, e eu ri também.

—Não tem problema. - Respondi. - Só se lembre de que eu sei fazer uma explosão parecer um acidente. - Ameacei em tom de brincadeira e todos nós rimos, até mesmo ele. - Tchau, até amanhã.

A essa altura já havíamos chegado ao portão que dava acesso à rua, e após me despedir eu fui pra casa. Quase dez da noite Gina me ligou, conversamos por uns vinte minutos e depois fomos dormir.

Nos dias em que ficamos na minha casa sozinhos, após aquela primeira vez, é claro que houve outros amassos, no sofá principalmente, mas as coisas foram um pouco mais calmas, e nós conversamos muito. O ambiente mais íntimo abriu espaço para outros assuntos, como a nossa família por exemplo.

Ela contou, espontaneamente dessa vez, um pouco mais sobre os pais e o irmão, e eu descobri que o seu pai era, na verdade, líder da equipe de cirurgia cardíaca de um dos hospitais de referência no assunto, e o irmão queria seguir a mesma especialização. Sua mãe era economista, mas não exercia mais a profissão.

Eu falei sobre meus pais também, sobre como minha mãe era excelente em decoração de interiores (ela deduziu sozinha, a partir dessa parte, que meu apartamento não havia sido decorado por mim), e meu pai era tenente brigadeiro da aeronáutica. Diante dessa ultima informação ela fez a mesma expressão de surpresa que todos faziam, e eu ri como sempre.

Conversamos sobre os nossos planos para o futuro, e foi assim que eu descobri que ela queria se especializar em ginecologia e obstetrícia, mas que gostaria de trabalhar por um tempo em resgates, porque adoraria ajudar a salvar as pessoas. Eu falei sobre como sempre fui apaixonado por química e de que eu ainda não havia decidido exatamente o que gostaria de fazer quando acabasse a faculdade, apesar de ter certeza de que gostaria de trabalhar com composições.

Descobri que ela adorava comida japonesa e odiava pimenta, mas que seu fraco mesmo era a culinária italiana. Ela falou sobre o tempo em que morou fora, na Austrália, e de como lá era legal para viver de férias por um tempo, mas que não conseguiria se estabelecer num lugar que é tão quente o ano inteiro.

Eu nunca havia morado fora do país, mas contei sobre algumas viagens que fiz com meus pais e sobre como minha mãe insistiu para que eu seguisse a mesma profissão que meu pai, mas eu não queria ter que ficar tanto fora de casa, caso me casasse um dia.

Ela falou mais abertamente sobre a relação muito próxima que tinha com o irmão, e me respondeu, quando eu perguntei para onde eles iam quando saiam juntos, que dependia muito do humor de ambos. Balada, barzinho, restaurante chique, não importava o lugar, mas eles adoravam sair juntos. E que isso nunca havia mudado, mesmo ele namorando, já há dois anos, com Hermione, uma moça que ele conheceu na faculdade e que hoje estava se especializando em oncologia.

E nós estudávamos também, mais até do que quando ficávamos na escola. A diferença é que em casa normalmente estávamos no sofá ou no chão da sala, de frente para o outro ou então ela sentada entre minhas pernas. E o progresso que Gina havia feito na minha matéria, desde que começamos a estudar juntos, era notável.

Na sexta feira, enquanto comíamos alguns sushis que compramos juntos no caminho para o meu apartamento, o celular dela tocou, e eu vi o display indicar o nome “Ron” e uma foto dos dois, em que ele sorria e ela beijava sua bochecha. Eu fiquei quieto enquanto ela o atendia e concordava com algumas coisas, até responder aleatoriamente e com toda naturalidade: “Na casa do Harry.”.

Eu achei curioso o tom que ela usou, como se ele soubesse do que ela estava falando, e assim que ela informou que iria embora mais tarde, e desligou o telefone, eu perguntei se ele sabia de mim.

—Claro! - Respondeu como se fosse obvio. - Nós não costumamos esconder as coisas um do outro.

—E ele não se importa? - Quis saber.

—Mas por que se importaria? Eu sou maior de idade e acho que você não é nenhum psicopata! - Brincou e eu ri.

—Meus amigos costumam ter ciúmes das irmãs deles. - Expliquei minha dúvida.

—Mas o Ron morre de ciúmes de mim. - Esclareceu e eu ri.

—Compreensível. - Interrompi apontando seu corpo e ela riu também.

—Mas ele sabe que isso é normal, e entende. Só pede que eu avise quando for chegar mais tarde, o que eu não acho nada demais. - Deu de ombros quando finalizou.

Algumas horas depois, após repassarmos um pouco de Química Orgânica, nós estávamos nos beijando afoitos deitados no sofá, Gina embaixo de mim, ambos já sem camiseta, embora ela ainda estivesse de sutiã, quando meu telefone tocou. Ela riu com a interrupção, e eu bufei antes de pegar o aparelho em cima da mesa de centro.

Inicialmente eu pensei em apenas silenciar o toque, mas a tela indicava que era minha mãe, então achei melhor atender. Fiz um gesto mudo perguntando se ela se importava e após sua negativa saí de cima do seu corpo e me sentei no chão, ao lado do sofá, enquanto ela permaneceu deitada fazendo carinho nos meus cabelos. Enquanto levava o telefone ao ouvido observei sua pele muito branca em contraste com o sutiã preto e seu peito subindo e descendo lentamente.

—Oi mãe. - Cumprimentei como sempre fazia quando ela me ligava, mas lamentando um pouco que ela não tivesse ligado uma horinha só mais tarde.

“Olá, meu amor, tudo bem?”. Minha mãe perguntou animada.

—Tudo ótimo, e por ai?

Assim permanecemos conversando por poucos minutos. Ela me informou que estava tudo bem em casa e quis saber a respeito da faculdade e das minhas aulas. Quando o assunto de mãe começou, como das outras vezes, eu rolei os olhos teatralmente e ri antes de responder:

—Sim, mamãe, eu estou me alimentando bem.

Gina gargalhou ao meu lado, mas logo se conteve levando as mãos à boca e se desculpando pelo ruído, eu sorri para ela tranquilizando-a de que não havia nenhum problema. Ao ouvir o barulho diferente minha mãe interrompeu o provável “é bom que esteja!” que me responderia, para perguntar, maliciosamente, o que havia sido aquilo.

—Isso foi uma risada, mamãe. - Expliquei vagamente na esperança de que ela não fizesse mais perguntas.

Não é que eu não quisesse falar de Gina, só não queria falar na frente dela. Porque provavelmente eu faria cara de idiota enquanto estivesse falando qualquer coisa a seu respeito.

“Mas não foi a sua risada.”. Afirmou um tanto irônica, típica de quando queria tirar alguma informação de mim.

—Não foi mesmo. - Confirmei rindo e passando a mão no rosto, ao meu lado Gina prendia os lábios entre os dentes, segurando outra risada.

“E de quem é?”. Perguntou curiosa, me fazendo rir.

—Mamãe, podemos conversar amanhã? - Pedi rindo.

“Eu estou atrapalhando?”. Riu também, ao perguntar sarcasticamente.

—Mais ou menos. - Respondi no mesmo tom e ela gargalhou do outro lado da linha. - Diga ao papai que amanhã eu ligo pra falar com ele. Amo vocês.

Depois de dizer que também me amava, desligamos e eu olhei para a ruiva deitada ao meu lado, nós dois rimos quando nossos olhares se cruzaram.

—Foi mais ou menos o tom das conversas que eu tenho com a minha mãe, então não vou contar pra ninguém. - Afirmou me fazendo rir mais. - Harry, está ficando tarde, já vou embora, tá?

Eu assenti antes de pedir, ainda sentado no chão ao seu lado, o rosto próximo ao dela.

—Vem me ver amanhã?

Ela abriu um sorriso enorme e lindo diante da minha pergunta.

—Só se você me prometer que eu não vou ter que estudar Química Molecular em pleno sábado.

Eu ri com a sua resposta.

—Não pensei em estudar, pensei só em te convidar pra jantar. - Respondi e ela sorriu abertamente, me fazendo sorrir também.

—E o que eu devo vestir? - Questionou bagunçando meus cabelos, mais ou menos como eu fazia.

—Algo formal, afinal estaremos num encontro! - Esclareci como se fosse óbvio e ela riu outra vez. - Você pode escolher o lugar se quiser.

—Pode ser aqui? - Pediu descendo os dedos e acariciando minha bochecha.

—Claro, prometo que vou arrumar a casa. - Confirmei rindo e ela me acompanhou. - Te busco às oito?

—Não é muito clichê essa coisa de jantar às oito, não? - Perguntou me fazendo rir e eu dei de ombros. - Para mim está ótimo, mas não precisa me buscar, pode deixar que eu mesma venho de carro.

—Você tem um carro? - Perguntei em duvida, porque ela nunca havia citado isso, e a vi assentir. - E nunca me contou? - Acusei incrédulo, e ela riu.

—Você nunca tinha perguntado, achei deselegante jogar a informação na sua cara. - Se defendeu brincalhona.

—Combinado, então, esteja aqui amanhã as oito, senhorita. - Formalizei meu convite dando um beijo em sua mão, e ela sorriu diante da cortesia.

Vestimos as únicas peças que havíamos tirado e eu a deixei em frente ao seu condomínio, como nos outros dias. Mal cheguei a minha casa novamente já peguei o celular e disquei o número do meu pai. Assim que ele atendeu, tão logo nos cumprimentamos, eu disparei a pergunta que o fez gargalhar por, pelo menos, dois minutos:

—Pai, como eu faço um jantar romântico?


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Notas finais do capítulo

Olá pessoas lindas!
Eu aposto que todo mundo esperava um desfecho diferente para o convite do capítulo anterior! hehehe
Minha maior preocupação com essa fic foi mostrar a evolução do relacionamento deles, e eu adoraria ver a opinião de vocês sobre esse aspecto. E sobre todos os outros também, é claro! =]
Espero que tenham gostado.
Comentem, critiquem, opinem, recomendem!
Até o próximo.
Beijinhos!