O Retorno - A Marca Negra Renasce (Hiatus) escrita por Laurent


Capítulo 6
Indo Embora


Notas iniciais do capítulo

Por favor pessoal, comentem ao final da leitura! Acho que ficou bom, mas preciso saber o que vocês pensam...



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Onze horas de sexta-feira. No pequeno quarto de paredes descascadas, Liadan Blackwood fechava sua mochila preta com pesar. Colocara todas as roupas que tinha, e mais algumas coisas que talvez fossem necessárias, mas ela ainda sentia que faltava alguma coisa.

Liadan não confiava em Ralph Lestrange. O garoto, tão esquisito quanto o próprio nome, levantara dúvidas na cabeça dela. Como ele iria lhes ensinar tudo sobre magia (se é que essa parte era verdade)? Onde iria fazer isso? Como ele iria fazer para que ninguém mais do mundo bruxo descobrisse quais eram as suas intenções?

E a maior dúvida de todas: se Ralph queria mesmo conciliar novos Comensais da Morte, quem iria liderá-los? Quem se atreveria a comandar o grupo? Liadan tinha quase certeza de que Ralph iria querer ficar no comando, mas era justo que ele tomasse o lugar que antes era de Lorde Voldemort, o pai de Liadan e Kenrick?

A garota só tinha certeza de uma coisa: ela não iria receber ordens de Ralph Lestrange.

Desde pequena, Liadan já era autossuficiente. Raramente dependia do irmão para fazer as outras coisas, principalmente depois que... bem, depois que ele tentara fazer aquilo com ela. Aquela coisa pela qual ela se atreveu a matar Violet e a irmã tola dela, Liza, apenas por vingança. Liadan não estava acostumada às pessoas mandando nela. Fazia o que bem entendia, e detestava que os outros lhe dessem ordens. Mas ela adorava liderar, saborear o poder. Mandar e ser obedecida. Para Liadan, as coisas eram naturalmente desse modo: ela ordenava, e o mundo obedecia.

No momento em que pusera os olhos em Ralph Lestrange, Liadan já sentira algo de ruim pelo rapaz. Havia alguma coisa nele que a garota detestava. Talvez a petulância, talvez o atrevimento, ou o péssimo senso de humor. Ele não era alguém capaz de liderar.

Mas ela era.

Secretamente, enquanto punha a mochila arrumada debaixo da cama, ela jurou a si mesma, que se tudo o que Ralph dissera fosse verdade, e que se esse negócio de Comensais da Morte realmente desse certo, ela iria fazer de tudo para conseguir ser uma líder.

Ao sair do quarto, porém, ela vislumbrou um brilho dourado em cima de sua cama, escondido entre os cobertores: o medalhão. Então era isso que estava faltando, pensou ela, puxando a mochila de debaixo da cama e colocando o objeto lá dentro.

***

Para Kenrick Blackwood, aquele fora um aniversário diferente. No dia anterior, exatamente às dez da noite, ele e sua irmã completaram dezessete anos. O presente foi o mesmo de sempre, desde que chegaram ali: aula das freiras de manhã, almoço ruim e tédio.

Mas, mesmo assim, havia algo de diferente.

Kenrick não sabia o que esperar da visita de Ralph Lestrange. Na sexta, não sabia se realmente estava fazendo a coisa certa, ao fechar o zíper da mochila. Não sabia se estava indo pelo caminho correto, e nem sabia se ele era mesmo um bruxo. Porém, ele tinha que arriscar. Porque ele tinha uma certeza:

Queria deixar aquele orfanato de qualquer modo.

Uma barulho na porta interrompeu seus pensamentos, e logo, Liadan estava ali, na sua frente.

— Não sabe bater na porta? — perguntou ele, irritado.

Liadan não deu ouvidos ao irmão. Sentou-se na cama dele.

— Onze e quinze. — ela informou, inquieta. — Ralph chega daqui quarenta e cinco minutos.

— Fico me perguntando por que ele quer nos encontrar à meia-noite.

— Também quero saber. Foi difícil distrair a Irmã Jannet, ela quase me pega no corredor. Podia ter dado um jeito nela... mas não quero ser suspeita de outra morte.

A boca de Kenrick comprimiu-se numa linha raivosa, mas ele ignorou a irmã.

— Já deixei minhas coisas no jeito. Afinal, se vamos entrar nessa, teremos que sair daqui, não é mesmo? Como vamos aprender tudo nesse inferno?

Kenrick estava em pé, apoiando-se em sua cômoda com o braço.

— Mas para onde vamos? — quis saber ele, sem ao menos olhar para a irmã.

— Ah, se esse Ralph quer tanto nos ensinar magia, então ele que nos convide para sermos hóspedes na casa dele, ora. Não deve ser tão longe assim.

Kenrick tornou a ficar mudo. Liadan batia os pés impacientemente no carpete.

— Sabe, até agora, mesmo depois de uma semana, eu não consegui acreditar nisso. É uma coisa tão estranha... não acha, Kenrick?

O rapaz assentiu lentamente.

— Os Comensais da Morte devem ser caras bem maus — prosseguiu a garota, rindo. — Mas, com certeza, são um bando de estúpidos também. Se os pais deles desfizeram o grupo depois que Voldemort morreu, então é porque nossos futuros companheiros são filhos de covardes. Quero só ver que tipo de gente serão os outros bruxos que Ralph disse “estarem na sua lista”.

Kenrick continuou sem dizer nada. Ele saiu de perto da cômoda e foi até a janela de seu quarto. A rua lá embaixo estava escura, exceto pela fraca luz de alguns postes.

— Vem cá, você tem língua ou não? — irritou-se Liadan. — Que há de errado com você?

— Não estou muito a fim de conversar. — disse o rapaz, mirando seu reflexo no vidro da janela.

— Por quê? — mas, antes que ele respondesse, uma súbita compreensão arregalou os olhos de Liadan. — Você não quer ir? É isso?

Kenrick virou-se e olhou para a irmã.

— Eu quero. Só estou indeciso.

Ela continuou a bater os pés no carpete, repetitivamente.

— É... eu também estou um pouco confusa. Não confio muito no Lestrange.

Kenrick respirou fundo. Aquietou-se e foi até a janela novamente.

E, por mais que o surpreendesse, Liadan também ficou calada. Até parou de bater os pés no chão. Ela parecia estar se lembrando de alguma coisa... alguma coisa distante e não muito agradável.

Por fim, Kenrick falou de novo.

— Até onde você acha que vai a maldade desses Comensais da Morte? Será que eles têm... limites?

A irmã pareceu despertar dos pensamentos ao ouvi-lo.

— Se tiverem, me recuso a entrar nesse grupo. — disse ela. — Qual seria a graça?

Kenrick pareceu ficar um pouco decepcionado.

— Você não entende. — ele disse. E não entendia mesmo. Desde pequena, Liadan fora uma criatura má por natureza. Quanto mais baderna, confusão, caos e desordem, mais ela ficava feliz.

Mas Kenrick era um pouco diferente. Embora muitas crianças do orfanato o achassem detestável — porque roubava todos e não falava com ninguém —, ele sabia que não estava tão perdido quanto a irmã. Ainda havia um resquício de bondade e esperança em seu coração, embora ele não fizesse nada para tentar aumentá-lo.

De repente, Liadan levantou-se da cama, feroz.

— Eu não entendo?! — indignou-se ela. Em seguida, baixou a voz até um sussurro sombrio. — Você fala tanto de limites. Faz-se de bonzinho. Mas pensa que eu simplesmente me esqueci do que você tentou fazer comigo quando eu tinha oito anos. Deixa eu te falar uma coisa, Kenrick: aquilo não é uma coisa que um bonzinho faça com a irmã. Então, por favor, largue mão de ficar se passando por algo que você não é.

E o silêncio reinou no quarto, tão incômodo quanto a culpa que Kenrick sentia.

***

— Liadan — murmurou Kenrick, muito tempo depois, ainda encarando a rua.

— Que foi? — perguntou ela, rudemente.

— É ele — disse o garoto, arregalando os olhos. — Lá embaixo.

A garota se levantou da cama e foi correndo até a janela. Ralph Lestrange espreitava na calçada.

— Como ele veio? — questionou ela. — Não vejo nenhum carro...

Um barulho no quarto surpreendeu os gêmeos. Ralph, subitamente, desaparecera da calçada e agora reaparecera bem no meio do quarto de Kenrick.

— Boa noite — disse ele, com um sorriso tolo na cara. — Felizes em me ver?

Ninguém respondeu. Liadan e Kenrick estavam surpresos demais com o que o garoto acabara de fazer ali.

— Como você fez isso? — indagou Kenrick, aproximando-se de Ralph.

O outro garoto tinha uma expressão orgulhosa na cara.

— Chama-se aparatar, meu amigo. Uma das coisas que irei lhes ensinar, isto é, se vocês aceitarem a minha proposta. E então...? Pensaram no assunto? Que me dizem?

Liadan parecia receosa, mas foi a primeira a falar.

— Nós... aceitamos.

Ao ouvir aquilo, Ralph sorriu tanto que os cantos de sua boca quase chegaram às orelhas.

— Não sabem como fico feliz em ouvir isso — disse ele, radiante.

— Mas nós temos uma dúvida. — manifestou-se Kenrick. — Onde vamos aprender tudo isso?

— Ah, não, não se preocupem! Podem ficar na casa da minha família. Todos os outros que reuni já estão lá. O lugar é bem grande, e o velho Rabastan não liga para nada.

Liadan cruzou os braços.

— Só porque vamos morar na sua casa, não quer dizer que possa mandar na gente — começou ela, raivosa. — Portanto, não nos dê ordens.

— Sem problemas. — disse ele. — Vocês podem fazer o que bem entenderem, não irei incomodá-los.

— Assim está bom. — falou a garota.

Ralph andou até os dois, passou uma mão pelo pescoço de Kenrick e outra pelo de Liadan.

— A partir de agora, seremos como irmãos.

— Tire essas mãos imundas de mim. — esbravejou Liadan. — Irmãos o seu cu.

O rapaz Lestrange fingiu desapontamento, colocando a mão sobre o coração.

— Assim você me magoa. — disse ele, debilmente. Como ele é estúpido, pensou Liadan. — Pelo jeito, somos eu e você, Kenrick.

— Vai parando por aí, Lestrange. — ameaçou o garoto. — É cedo demais para criar laços de amizade. Concordo com Liadan.

Ralph tirou as mãos de ambos e afastou-se.

— Vocês têm um coração de pedra, ah, sim. — disse ele, mas depois, mudou de assunto. — Vocês precisam arrumar suas coisas. Vamos partir agora...

— Já está tudo arrumado. — respondeu Liadan. — Mas a minha bolsa ainda está no meu quarto. Vai demorar um pouco até eu pegá-la... a Irmã Jannet está vigiando os corredores como um zumbi. Preciso distraí-la.

— Ah, que é isso. — disse Ralph. — Podemos aparatar até lá. Segure a minha mão.

— O quê?!

— Segure a minha mão. Vai ser rápido, prometo.

Com raiva e resmungando, Liadan foi até ele e segurou sua mão.

— Onde é seu quarto?

— A seis portas daqui.

E, de repente, uma sensação estranha — talvez a mais esquisita que a garota já sentira na vida —, tomou conta do estômago de Liadan. Era como se ela estivesse desmontando e montando de novo.

Mas, em um segundo, ela estava em seu quarto de paredes descascadas, com Ralph ao seu lado.

— Não vomite — pediu ele. — Este carpete é bonito demais para ser sujado.

Liadan soltou a mão de Ralph e ajoelhou-se para pegar a mochila.

— Já falei para não me dar ordens — disse ela, ferozmente.

Ao encontrar a mochila, a garota caminhou com pressa até o Lestrange, segurando sua mão de novo para aparatar de volta.

Mas nada aconteceu.

— O que há de errado? Por que não estamos aparatando? — indagou ela.

A boca de Ralph se curvou ao som de sua risada.

— Só estou aproveitando a sensação de suas mãos macias...

Antes que pudesse terminar de falar, a mão de Liadan esbofeteou a bochecha dele.

— Não. Me. Provoque. — disse ela, agressiva. — Vamos logo, ou desisto de tudo.

Um segundo depois, eles estavam novamente no quarto de Kenrick. O garoto já estava com sua mochila apoiada nas costas.

— Ok. Tudo certo? Pegaram tudo? — perguntou Ralph.

Kenrick assentiu.

— Agora, Kenrick, me dê a sua mão também.

Ele fez o que Ralph disse. Liadan parecia estar um pouco incomodada.

— Vão perceber que fugimos. — observou Kenrick, antes de irem.

Liadan respirou fundo.

— Não se preocupe. — disse ela. — Ninguém sentirá a nossa falta por aqui.

E então, os três mergulharam no desconhecido, rumo à casa de Ralph Lestrange.


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Notas finais do capítulo

E aí, que acharam? Não deixem de acompanhar a história.



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