O Retorno - A Marca Negra Renasce (Hiatus) escrita por Laurent


Capítulo 21
A Marca Negra Renasce




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A poção polissuco demorou para ser finalizada, mas finalmente, Liadan terminou de prepará-la. Tinha um aspecto pegajoso, e parecia repulsiva de se engolir, mas isso não era problema algum. O que importava é que eles teriam sua aparência alterada, e com isso, invadiriam o Ministério.

Só que havia algo que nem Elora ou Scabior sabiam: havia um plano secundário, do qual apenas Liadan faria parte. Afinal, ela só poderia esperar que tudo desse errado.

Após Paige fugir repentinamente daquele jeito, a garota entrou em um estado de fúria tão violento com si mesma que por pouco não arrancou os próprios cabelos. Como podia ter sido tão burra a ponto de se esquecer de matar Sandor, que era justamente o único elfo que ela conhecia? Não posso mais repetir esses erros grotescos, dizia ela a si mesma. Sou filha de Voldemort, e ele morreu por causa de um erro grotesco. Não, não posso repetir o feito de meu tão odiado pai.

Só que, quanto mais ela tentava fazer as coisas direito, mais elas davam errado. Por essas e outras razões, ela decidira esconder seu plano B dos outros. Porque se algo desse errado, isso significaria ser presa pelo Ministério e dar adeus aos Comensais da Morte.

Durante as últimas semanas, Liadan organizara melhor o pequeníssimo grupo (composto apenas por ela, Elora e Scabior). Lamentou ter matado Orson e Greyback. Dois caras grandalhões como eles poderiam fazer diferença.

Mas, faltando um dia para que eles invadissem o Ministério, ela resolveu oficializar o grupo. Era um segredo dos Comensais da Morte o ritual necessário para se tornar um, e Liadan e os outros, embora se autonomeassem comensais, não tinham sequer a tão famosa Marca Negra que os identificaria como tais.

Por isso, Liadan procurara pela casa inteira alguma pista, qualquer coisa que a ajudasse a conjurar a Marca Negra. Ralph deveria ter escrito o processo em algum papel, ou o pai dele. Mas não acharam nada.

Até que Liadan lembrou-se de uma coisa.

― Scabior ― chamou ela.

O menino apareceu prontamente na sua frente.

― Você era o melhor amigo de Ralph, não era?

Ele assentiu com a cabeça.

― Sabe como fazer a Marca Negra?

Ele não disse nada. Mas se soubesse, teria de dizer. Por fim, ele mexeu a boca de maneira vacilante, proferindo em voz baixa:

― Sei ― foi só que Scabior disse. Assim que o fez, pareceu arrependido.

― Mostre-me ― Liadan ordenou, e com isso o garoto explicou detalhadamente como se fazia. Surpreendentemente, ao arregaçar sua manga, Liadan viu que, no braço dele, havia uma tatuagem de caveira com uma serpente saindo da boca. A Marca Negra. A garota não sabia que Scabior havia conquistado-a. Perguntou-se quando isso acontecera.

Marshal disse que, para tatuar a Marca Negra e fazer com que a pessoa se tornasse Comensal da Morte, era preciso sangue de Voldemort.

― Já tenho o sangue. Sou filha dele ― disse Liadan.

Em seguida, colocava-se três gotas desse sangue em cima do antebraço, e lançava-se Mosmodre em cima do líquido. Logo, o sangue se transformava em um desenho, e mudava seu tom de vermelho para negro. Ele formava as linhas que originavam a caveira e a cobra.

Após esse ritual, a pessoa estaria conectada com o sangue do Lorde das Trevas ― no caso de Liadan, com a Senhora das Trevas. E seria uma Comensal da Morte.

― Ajude-me a fazer isso ― ordenou a garota.

Em menos de meia hora, havia acabado. Finalmente consegui, pensou Liadan. Meu pai morreu, mas eu estou viva e forte. Todos os bruxos irão se curvar sob as minhas ordens a partir de agora. A Marca Negra, há muito esquecida, acaba de renascer. E não será derrubada novamente... não. Eu é que vou derrubá-los, um por um. Harry Potter, por matar meu pai. Ronald Weasley, por capturar meu irmão. E qualquer um que seja prejudicial a mim...

― Senhora Liadan ― chamou Scabior. Ele ainda achava estranho chamá-la daquele jeito. ― Amanhã invadiremos o Ministério da Magia. A poção polissuco...

―... Está pronta ― concluiu Liadan. ― Já tenho o fio de cabelo que cada um irá usar.

O outro garoto não disse mais nada.

― Acho melhor repassarmos o plano novamente. Chame Elora.

Scabior relutou em obedecê-la.

― Não escutou o que eu disse? ― indagou ela com a voz feroz. Marshal deu um passo para trás.

― Não é isso, é que... a senhora tem certeza de que é uma boa ideia três pessoas invadirem sozinhas um Ministério inteiro?

― Meu pai foi um só, e olhe quantas coisas ele fez ― Mesmo tendo morrido, no final das contas. ― A não ser que vocês dois sejam retardados mentais e estraguem todo o plano, nada dará errado. Agora, por favor, quer fazer o que eu mandei?

Scabior retirou-se, e cinco minutos depois, voltou com Elora Carrow, a menina baixinha que outrora fora amiga de Liadan, mas que agora tinha medo dela, assim como Marshal.

― Muito bem ― começou Liadan, os três sentados na grande mesa da sala de jantar. O cômodo estava escuro, exceto pela luz de algumas velas em candelabros. A casa dos Lestrange sempre fora sombria, mas após a morte de Ralph e do pai, tudo ficara ainda mais sinistro. ― Investiguei um pouco sobre o paradeiro de Kenrick, e descobri que ele está preso em uma das alas do Ministério, esperando por um julgamento. Nós entraremos, já com nossos disfarces, lá dentro. Veremos uma maneira de despistar os guardas, e quando eu encontrar meu irmão, lhe darei um frasco de poção polissuco e algumas roupas. Sairemos como se nada tivesse acontecido.

Liadan achara o próprio plano simples demais, mas era justamente isso que o fazia eficiente.

― Senhora das Trevas ― disse Elora, a voz fina. Pouco falava desde que fizera o Voto Perpétuo. ― Não seria muito mais fácil esperar pelo julgamento de Kenrick? Olhe, ele não fez nada de ruim, provavelmente irão soltá-lo...

― Não fez nada ainda ― corrigiu Liadan. ― Obviamente, vão obrigá-lo a dizer qual é o meu paradeiro e o de todos nós. É isso que você quer, querida Elora? ― a outra garota balançou a cabeça negativamente e calou-se. ― Além do mais, esse Ministro, Kingsley Shacklebolt, não gosta nem um pouco de nós. Provavelmente, vai bolar algum estratagema para mandar Kenrick a Azkaban e mantê-lo lá pelo resto de sua vida. Não posso deixá-lo nessas condições. Ele é meu irmão.

Aquilo soou estranhamente sentimental, e Liadan lembrou-se, por um momento, do que Kenrick tentara fazer com ela na infância. Já faz tempo, pensou ela. E eu já me vinguei dele matando aquelas duas garotinhas imundas, Violet e a irmãzinha tosca. Recordou o que ela dissera ao irmão naquele dia: “Estamos quites”.

Contudo, mais tarde, naquele mesmo dia, Liadan pegou-se novamente pensando naquela coisa que Kenrick fizera com ela. Na época, ela era uma criancinha. Nos dias atuais, o irmão até podia se passar de bom moço, mas ninguém sabia daquele seu segredinho. Ninguém, exceto Liadan.

***

Muito antes de Liadan e Kenrick irem para o St. Charles, um homem uma mulher recém-casados se interessaram em ambos. Acharam-nos criancinhas muito bonitinhas, embora a inspetora do local ressaltasse que eles eram “estranhos”.

― Ora, ela é muito lindinha ― disse a mulher, indicando a pequena garota. ― Qual é o nome dela, hein?

― Liadan ― respondeu ela própria.

― É um nome magnífico ― disse o homem. ― Gosta de ursinhos de pelúcia, Liadan?

Ela não hesitou em responder:

― Não. Acho ridículo.

O homem ficou meio sem jeito, mas ainda assim deu umas risadas calmas.

― Então, do que você gosta?

Liadan pensou.

― Gosto de serpentes ― disse ela. ― Gosto de falar com elas. Elas me entendem, me obedecem.

― Ah... ― o homem franziu um pouco as sobrancelhas, confuso. A mulher também ficou chocada. ― Que... legal... Liadan. Serpentes... isso é... diferente.

Ela sorriu, na época sem saber que diferente era sinônimo de rejeitada

― E você, querido? ― indagou a mulher para o garoto, que estava ao lado da irmã, um pouco acanhado. ― Qual o seu nome?

― Kenrick ― disse ele.

― Kenrick também é um nome lindo. Do que você gosta, Kenrick?

― Hmm... eu gosto de Rugby.

O casal ficou aliviado com aquilo. Talvez achassem que o menino fosse normal.

― É? Eu adoro Rugby ― disse o homem, sorrindo.

Eles gostaram mais dele do que de mim, pensou Liadan. Dane-se, não me importo com isso.

Mas, mais tarde, ela e o irmão foram até a recepção e enfiaram suas orelhas na madeira da porta para ouvir o que a inspetora do orfanato estava conversando com o casal.

―... muito bonitos ― disse uma voz feminina, a da mulher.

― É. Sem dúvida eles são mesmo. Os pais deles deveriam ser bem bonitos ― falou a inspetora. ― Mas, e então? Gostaram deles?

Houve silêncio.

― O Kenrick é adorável ― comentou a mulher. ― A irmã também, só que... bem...

― Achamos ela um pouco excêntrica ― completou o marido. ― Não sei se estamos preparados para lidar com alguém como Liadan...

― E então? Vão adotá-los? ― quis saber a inspetora.

O casal demorou para responder.

― Não... sinto muito. ― disse a mulher. ― Até adotaríamos Kenrick, mas não quero separá-lo da irmã. Seria cruel demais de nossa parte. Desculpe.

― Oh, não, está tudo bem ― respondeu a inspetora.

Mas, quando Liadan encarou os verdes olhos de Kenrick, sabia que, para ele, não estava tudo bem. As grandes bolas podiam até ser cor de esmeralda, mas pegavam fogo de raiva da irmã. Ele sempre quisera uma vida longe de orfanatos e órfãos, e o fato de o casal se interessar por ele foi o mais próximo que o garoto chegara de alcançar esse objetivo.

Kenrick deixou a recepção correndo, indo até seu quarto. Liadan sentiu-se estranha,como se fosse incômoda.

Era uma sensação horrível. Mas não tão horrível quanto o que iria acontecer naquela noite.

***

Liadan estava deitada em sua cama, sozinha, como de costume. Ela respirava irregularmente, um pouco confusa e com dificuldades para dormir. Não ligo se esse casal não gostou de mim. Claro que não ligo. Mas será mesmo que ela não ligava? Será que ela queria passar o resto de sua vida presa com outras crianças? Não seria muito melhor viver com um pai e uma mãe, e talvez outros irmãos...?

Eram perguntas difíceis de responder sinceramente, mas a garota ficou horas e horas acordada, pensando nisso. Por essa razão, Liadan não viu quando o vulto preto se aproximou de sua cama...

Uma mão tapou sua boca. No mesmo segundo, ela tentou gritar, mas os dedos brancos impediram que qualquer som escapasse. O pânico inundou-a, e ela tentou usar seus “dons” para se soltar de quem quer que fosse aquela pessoa, mas era como se tivesse algo exercendo a mesma força sobre ela. Uma estranha força sobrenatural. O que significava que aquele vulto preto só podia ser Kenrick.

Ela arranhou as mãos fortes do irmão, mas em momento algum ele vacilou. E então, Kenrick puxou um objeto metálico de dentro do bolso da calça, afiado e reluzente à luz da lua.

Uma faca.

O plano era escandalosamente óbvio: ele queria matar Liadan para que o casal o adotasse. Só ele, e mais ninguém. Como ele é egoísta, pensou ela em meio a todo aquele pânico. Ela queria usar seus poderes, mas estava nervosa demais para isso. Conseguiu apenas se debater debilmente, enquanto o irmão levava a faca até o pescoço dela...

Foi o momento de maior fraqueza de sua vida. Liadan começou a tremer e a chorar, igual a uma criancinha. Na verdade, ela era uma criancinha ― tinha oito anos ― mas seu comportamento nunca batera com sua verdadeira idade. Havia barreiras em torno dela. Barreiras enormes, que ninguém conseguia penetrar. Barreiras que ela pensou que fossem imbatíveis, mas que, naquela noite, foram completamente arrasadas. Ela odiou Kenrick por isso.

E foi aquele ódio imenso que a salvou da morte. O ódio, sentimento que todos diziam ser ruim, ajudou-a a escapar. O ódio foi maior que o pânico, e a magia de Liadan era à base de ódio. O irmão encostou a ponta da faca no pescoço dela e começou a traçar uma pequeno ponto ― do qual o sangue começava a jorrar ― quando Kenrick foi violentamente jogado contra a parede do quarto. Estou conseguindo, pensou Liadan. Levantou-se da cama, correu até o irmão e tirou a faca dele. Apontou-a para o coração do garoto, que ficou completamente imóvel.

― Não... faça... isso... Lia ― disse ele, a voz sussurrada e pesada.

Por um momento, ela quase fez.

― Da próxima vez que você sequer me ameaçar... ― começou ela, falando tranquilamente. Tinha parado de chorar, e as lágrimas haviam secado. ― Eu te mato. Ouviu bem?

Ele assentiu rapidamente, nervoso.

Mas ambos sabiam que não estavam quites. E foi exatamente por isso que Liadan matara Violet, a garota que Kenrick começara a gostar. E Liza, a irmã chata e irritante de Violet. Aquilo era uma advertência do que Liadan era capaz de fazer: Kenrick não matara ninguém, e isso lhe custara duas vidas, mesmo assim. A vingança foi doce e prazerosa, um sentimento que Liadan adorava.

Naquela noite em que o próprio irmão tentara assassiná-la, as barreiras de Liadan foram quebradas. Mas apenas para que outras, mil vezes mais fortes e espessas, fossem construídas em seu lugar.


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