O Retorno - A Marca Negra Renasce (Hiatus) escrita por Laurent


Capítulo 16
Fim da Linha




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Os pés de Kenrick atingiram solo duro. Confuso, ele virou-se para os lados a fim de verificar onde estava, e descobriu-se na rua do Orfanato St. Charles, o lugar no qual crescera e passara a maior parte da vida.

Irônico, pensou ele. A coisa que o garoto mais quisera na vida fora sair de lá, e agora ele estava bem diante do St. Charles novamente. A mochila que Kenrick carregava nas costas era um pouco mais pesada em comparação ao dia em que fugira com Ralph — agora, ele trazia a varinha e uns poucos livros. Não muito progresso, na opinião dele.

Cabisbaixo, ele foi até a porta de entrada do orfanato. Era tarde da noite e a rua estava completamente deserta, sem nenhum sinal de vida por ali. As Irmãs provavelmente estariam ferradas no sono — St. Charles devia ter virado um local de grande paz depois da saída dos Blackwood. Ele conjurou um Alohomora para abrir as trancas da porta, e empurrou-a lentamente.

O corredor da recepção estava vazio, naturalmente. Ao olhar para aquele cenário, Kenrick quase quis voltar atrás, mas ele não tinha escolha: aquele lugar era seu único lar agora. Ele imaginou como as Irmãs reagiriam quando soubessem que tinha voltado.

Ele fechou a porta atrás de si, deu dois passos e então um vulto apareceu na frente dele. Seria a Irmã Millie? Não, não podia ser... ela era roliça demais para se encaixar naquele formato. O vulto era alto, longo e ágil. Não era possível enxergar quem era. O primeiro reflexo de Kenrick foi enrolar os dedos no cabo da varinha.

Contudo, antes que ele pudesse executar qualquer movimento, o vulto tirou outra varinha de dentro da capa e apontou direto para o coração do garoto.

Estupore! — gritou o desconhecido.

Protego! — revidou Kenrick com habilidade. O feitiço ricocheteou na barreira protetora e atingiu um quadro velho da parede, derrubando-o com um estrondo.

Petrificus Totalus — gritou outra voz, vinda de trás do garoto. Kenrick preparava-se para se proteger de novo, mas o feitiço passou por cima de seu ombro e atingiu o vulto na sua frente, derrubando-o.

Um silêncio mortal pairou pelo ambiente, até a segunda voz dizer:

— Acalme-se. Acalme-se. Está tudo bem — o dono da voz saiu das sombras e revelou-se. — Lumos!

Uma luz se acendeu na ponta da varinha dele, e Kenrick pôde vê-lo melhor. Era um homem pálido, vestia roupas pretas e era alto. O cabelo era louro-prateado, levemente despenteado.

— Quem é você? — perguntou Kenrick.

— Sou Thomas Shunpike. Já disse, pode abaixar a varinha. Está tudo bem...

Kenrick não se moveu.

— Explique-se — exigiu ele, as sobrancelhas franzidas de modo que sombras formavam-se em seus olhos verde-escuros.

— Está bem, eu me explico... mas por favor, abaixe essa varinha!

O garoto finalmente obedeceu, ainda que de maneira cautelosa e indecisa.

— Eu trabalho para o Ministério... — começou Thomas, limpando a garganta. — Quero dizer, trabalhava. Há muitos anos...

— O que isso tem a ver com o que acaba de acontecer aqui? — perguntou Kenrick, irritado.

— Muita coisa... por favor, sente-se. A história é longa.

***

— Eu era assistente do Ministro, Kingsley Shacklebolt. Estava sempre em suas reuniões e conselhos, atento a todas as suas palavras. Eu era fiel e leal, isso eu era... mas tudo mudou.

Thomas respirou fundo, a expressão vaga.

— Quando soube que ele queria que você e as outras crianças filhas de Comensais da Morte vivessem separadas, confinadas, injustiçadas... simplesmente não pude aceitar. Não acreditei naquilo. Não esperava algo assim de Kingsley. Culpar crianças pelos pecados dos pais, isso não. É antiético. Mas, de alguma maneira, ele não conseguia enxergar isso; Kingsley, que sempre tinha sido astuto e bondoso, não percebera em que se transformara: em um monstro.

O homem estava com os olhos semicerrados, como se lembrasse de algo distante.

— Eu o abandonei depois disso. Continuei sendo seu assistente, mas não era mais leal. Simplesmente continuei a servi-lo, a tratá-lo amigavelmente... porém, eu o traí.

Kenrick, sentado no chão, encarou-o com dúvida.

— E como você fez isso?

— Comecei a investigar mais sobre você e sua irmã. Descobri que viviam aqui no St. Charles, e a partir de então, passei a vigiá-los.

— Mas por que nós? Porque somos filhos de Voldemort?

— Exatamente — assentiu Thomas. — Eu tinha certeza de que, depois que vocês completassem dezessete anos, Kingsley iria mandar seus homens para matá-los...

— Mas ele não mandou.

— Só porque eu interferi — afirmou Thomas. — Enfeiticei-os. Assim que eu tivesse uma chance, iria entrar no St. Charles e ajudar vocês a sair desse lugar, porém...

—... Ralph veio nos buscar antes — completou Kenrick.

— Isso — concordou o homem. — Aliás, eu não sabia o nome dele. Chama-se Ralph, aquele garoto?

— É. Ralph Lestrange.

Lestrange? — Thomas parecia hipnotizado e alarmado ao mesmo tempo. — Os Lestrange são uma das famílias mais perigosas do mundo bruxo.

Kenrick surpreendeu-se. Para ele, Ralph era só um garoto descontrolado que achava que tinha algum poder de governar.

— Eu pensei que ele fosse alguém do Ministério, ou a trabalho de alguém do Ministério — continuou Thomas. — De início, não entendi como conseguiu chegar ao St. Charles, afinal, eu havia enfeitiçado os homens que Kingsley mandara. Por isso, pensei que talvez o garoto fosse alguém com os mesmos propósitos que os meus: ajudá-los a fugir. Não consegui acompanhar você e sua irmã... já não tinham mais o rastreador. Mas Kingsley mandou mais homens para cá, e a única razão de ele ter feito isso seria porque ele acreditava que havia uma probabilidade de vocês voltarem. Desde então, vários aurores passaram a noite aqui...

— Aurores? — quis saber Kenrick.

— Sim, funcionários do Ministério que prendem bruxos das trevas. Eles ficaram vigiando o St. Charles... assim como eu. À espera de vocês.

— Isso é burrice — exasperou-se Kenrick. — Por que voltaríamos?

— A resposta está bem na minha frente. Por que você voltou?

— Não te interessa — disse Kenrick num tom muito parecido com o de Liadan.

— Aliás — começou Thomas. — Foi uma tremenda idiotice você ter voltado para cá.

— Por quê?

— O mundo bruxo está atrás de você agora. Qualquer um mataria para receber a recompensa em galeões que Kingsley ofereceu em troca dos gêmeos Riddle.

— Riddle? Mas meu sobrenome é Blackwood.

— Não, seu sobrenome é Riddle. Blackwood é só um pseudônimo patético que os trouxas inventaram para você e sua irmã. — Thomas enfiou a mão dentro de um bolso interno e tirou um panfleto enrolado. Ao esticá-lo, Kenrick viu uma foto (que se mexia) dele e da irmã. Embaixo, havia os dizeres: “Fugitivos: Kenrick e Liadan Riddle. Extremamente perigosos. Recompensa de 50.000 Galeões por seu paradeiro”.

Kenrick não podia acreditar naquilo.

— Mas... eu...

— Eu sei, é chocante.

Nem tão chocante assim, pensou Kenrick. Será que Thomas sabia que Ralph Lestrange era agora o líder dos Comensais da Morte? E que Liadan estava no grupo?

— Kenrick, você precisa vir comigo — disse Thomas. — Você não vai sobreviver muito tempo sem ajuda...

— Por que está me ajudando? Como posso saber que você não quer me entregar a Kingsley? — Kenrick ficou de pé, os dedos suados roçando a varinha cautelosamente.

— Bem, fuja se quiser. Não vou impedi-lo. Não estou te obrigando, mas sim te perguntando.

O garoto refletiu.

— Para onde você vai me levar? — indagou Kenrick.

— Para onde você for — respondeu o homem, rapidamente.

— Como assim?

Thomas respirou fundo e encarou o chão, o olhar sem foco e estranhamente robótico.

— Você é quem me conduzirá...

— O quê? Do que você está falando?

— Estou falando que — e ele encarou Kenrick. — Você vai me levar até Liadan.

O garoto franziu as sobrancelhas, confuso.

— Por que quer ir até ela?

— Ela é sua irmã. Merece ser ajudada.

Para Kenrick, aquela afirmação era equívoca. Liadan não precisava de ajuda. Estava muito bem no meio daqueles feiticeiros loucos e metidos. E, além do mais, ele acabara de deixar aquele inferno que era a casa de Ralph; não voltaria lá de novo.

— Não posso fazer isso, sinto muito — disse Kenrick. Pense, falou ele a si mesmo. Pense, pense, pense... Ele tinha que pensar. Tinha que fazer alguma coisa. Estava certo de que Thomas era um mentiroso, e queria levá-lo até Kingsley. O homem não sabia mentir. Era óbvio que tudo era uma farsa.

— E então? — indagou Thomas Shunpike.

— E então o quê?

— Vai vir comigo ou não?

— Vou... — respondeu Kenrick. Mas ele tinha outros planos em mente.

Thomas mostrou o resquício de um sorriso pálido.

— Ótimo, eu só...

Estupefaça!

Ele caiu no chão, batendo a cabeça. Kenrick chegou mais perto e examinou-o. Estava com os olhos abertos, ainda consciente. O momento perfeito.

Imperio! — murmurou Kenrick, a varinha apontada para a têmpora de Thomas.

Ótimo. Ele contaria tudo. Seria desmascarado completamente. A Maldição Imperius fazia com que o conjurador tivesse controle total sobre o enfeitiçado, e Kenrick praticara-a algumas vezes.

Mas o que ele ouviu em seguida congelou a sua reação.

— Você — disse uma voz fria — Parado. Agora. Ou eu o mato.

A voz vinha de trás de Kenrick. O auror que o atacara tinha acordado, e agora apontava sua varinha para as costas do garoto. Ele deu meia-volta, encarando-o. O bruxo era alto e ruivo, e usava uma capa preta que descia até os pés.

— Uau — disse o auror, só que dessa vez com entusiasmo e uma alegria tola contaminando sua voz. — Imagine só quando o mundo descobrir que Ronald Weasley capturou o filho de Voldemort!


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