O Retorno - A Marca Negra Renasce (Hiatus) escrita por Laurent
Liadan chegou mais perto do quarto de Rabastan, o máximo que podia sem ser vista ou ouvida. A garota conseguia ver a sombra dos Lestrange, borrada e indefinida no assoalho.
— Velho estúpido, cale-se! — irritou-se Ralph com a súbita revelação do pai. — Não toque mais nesse assunto. Não quero que ninguém saiba.
— Não há ninguém aqui além de mim e de você — disse Rabastan com uma estranha convicção. — Mas, voltando ao assunto anterior... quem é Liadan?
— Não importa. — disse Ralph. — Escute, só preciso que você...
Neste momento, Liadan parou de ouvi-los, pois um barulho de passos vindos do segundo andar encheu a mente dela de pavor. Sorrateira, a garota foi espreitando pelas paredes em direção à sala comum, temerosa e ao mesmo tempo desapontada por não poder ouvir mais da conversa entre Rabastan e Ralph. Mas não podia correr o risco de ser pega, não se quisesse ser a líder.
Ela chegou até a sala comum e se deparou com Marshal Scabior no pé da escada.
— O que está fazendo aqui? — indagou ele, os olhos se arregalando de surpresa.
— Nada que te interesse — rebateu ela, passando pelo garoto e subindo pelas escadas sem dar a ele tempo para dizer mais alguma coisa.
Chegando em seu quarto, ela se trancou novamente e enfiou a cabeça nos livros, se perguntando quem realmente era Ralph Lestrange, e por que havia matado sua mãe.
***
— Cadê o Ralph? — indagou Kenrick a Paige, quando ambos estavam na Sala de Treinamento com os outros, aprimorando feitiços e testando alguns novos encantamentos.
— Não sei — disse a garota, olhando pensativa para a porta de entrada da sala. — Estranho, ele estava aqui agora pouco.
Os dois não perceberam que Marshal se encontrava logo atrás deles.
— Ralph está ocupado recebendo algumas aulas de seu pai. — disse ele casualmente.
Paige virou-se, os cabelos voando ao seu redor.
— Aulas? Com Rabastan? — questionou ela.
— Sim.
— Mas Ralph odeia o pai dele...
— Creio que assuntos como esse não são pertinentes a você — respondeu Scabior, desdenhoso e indelicado.
— Ei, maneira o tom, cara — falou Kenrick, incomodado. — Ela não fez nada de ruim para você.
Scabior soltou uma risadinha debochada.
— Desculpe, Kenrick. Eu não sabia que você e Paige estavam...
— Scabior — começou Paige, usando um tom feroz que Kenrick nunca vira na voz dela. — Não tem nada melhor para fazer?
— Claro que tenho...
— Então cai fora. Agora!
Marshal sorriu desdenhosamente e em seguida se retirou.
— Olha, vou te falar uma coisa — começou Kenrick logo depois, com um ar de riso no rosto. — Faltou você dizer palavrão e colocar uma peruca preta pra ficar igual a Liadan.
Paige ergueu os cantos da boca, entretida.
— Isso é um elogio?
— Sim e não. Sim, porque você tem mesmo que demonstrar que é forte para as outras pessoas. E não, porque meu maior pesadelo é ter duas Liadans na minha vida.
A garota riu, e em seguida, respirou fundo, ainda sorrindo.
— Eu tenho que ser assim com ele — explicou ela. — Já tentei ser gentil com Scabior, mas não funciona.
Kenrick assentiu lentamente, e um silêncio esquisito pairou no ambiente.
— Melhor continuarmos a treinar nosso Incendio... — disse Paige, finalmente.
— Posso fazer uma pergunta? — interrompeu Kenrick de maneira inesperada.
Paige deixou o rosto cair de lado quase que imperceptivelmente, em um gesto de dúvida.
— Claro — disse ela, apesar disso. — O que foi?
— Você é muito boa em feitiços. Mas por que não consegue executar um Crucio?
Ela surpreendeu-se com aquela dúvida. Ninguém nunca perguntara aquilo a ela, nem mesmo Scabior, que era bom em deduções. Será que ele sabia de alguma coisa? Será que ele desconfiava de algo?
Paige se apressou em formular uma resposta palpável.
— Existem feitiços alguns bruxos não conseguem lançar, por mais que tentem — disse ela, sabendo que aquela não era exatamente a verdade. — No meu caso, é o Crucio. Quando você aprender a executá-lo, verá como é difícil.
— Entendo — disse Kenrick, mas ele não pareceu muito satisfeito com aquela resposta.
Até quando vou esconder isso, indagou-se Paige em sua própria mente, mas para essa pergunta, ela nunca tinha uma resposta certa.
***
Na aula com Rabastan, Ralph sentia-se demasiadamente desconfortável.
— Não podemos acabar com isso logo? — irritava-se ele.
— Se você fosse um pouquinho mais habilidoso — dizia o pai com um senso de humor doentio.
Ralph franziu o rosto e pediu uma pausa.
— Eu queria ser filho de qualquer outra pessoa — ele falou, a voz impregnada de pesar, enquanto respirava fundo e enxugava o suor do rosto. — Menos de você.
— Não sabe o que diz, garoto — esbravejou Rabastan. — Sou um homem admirável.
— Você é desprezível, essa é a verdade.
O pai riu como se aquela fosse uma afirmação ridícula de que dois mais dois eram cinco.
— Preferiria mesmo ser filho de qualquer outra pessoa? Até de Lorde Voldemort?
Ralph engasgou, mas não respondeu. Ao contrário, desviou o assunto para o velho Rabastan.
— Um pai de verdade não faz o que você fez comigo.
— Primeiro veja o que você fez com sua mãe. Você a matou...
Ralph levantou-se da cadeira de onde estava sentado.
— Foi um acidente! — gritou ele, a mão indo em direção à cara do pai, mas parando por alguns centímetros. Ele pareceu frustrado.
Rabastan soltou uma risada fria e rouca.
— Não pode me tocar, estúpido — disse ele ao filho. — Se me tocar, você morre.
E Ralph se lembrou do infeliz dia em que o seu pai lhe obrigara a fazer um Voto Perpétuo, no qual o acordo era de que ele jamais deveria prejudicar Rabastan. E agora, sua vida estava decidida a isso: se o tocasse de forma violenta, morreria.
— Era para ter sido você — sussurrou Ralph, devolvendo a frieza do pai. — Você deveria ter morrido, e não ela. Se você tivesse morrido naquele dia...
— Você já tinha feito o voto perpétuo, filho. Se me matasse, morreria também. Sabia disso?
Ralph respirou fundo e sorriu sinistramente para Rabastan.
— Claro que sabia.
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