O Retorno - A Marca Negra Renasce (Hiatus) escrita por Laurent


Capítulo 1
O Visitante


Notas iniciais do capítulo

Comentem, digam se está bom ou ruim, critiquem...



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— Você aí — chamou Liadan, a voz suave como vento. — Pare. Agora!

O garoto gordinho se virou, relutantemente. Embora ninguém nunca falasse com Liadan, a não ser seu irmão, todos no orfanato conheciam aquela voz; era tão bonita, mas pertencia a uma garota tão traiçoeira. Impossível confundir.

— O... qu-quê? — gaguejou o menino.

O quê? — imitou Liadan, caçoando. — Qual o seu nome?

Liadan foi até ele, imponente. Ela era alta, uma das garotas mais velhas do orfanato, e talvez a mais bonita. Tinha a pele branca como a luz, e cabelos negros como a meia-noite, tão lisos quanto seda. Os olhos eram verde-escuros, e a boca, corada. Entretanto, se por um lado era linda, por outro, era como o demônio. As outras crianças não conseguiam imaginar alguém mais detestável, a não ser Kenrick, o gêmeo.

— Chamo-me Kevin. — disse o garotinho, olhando para cima, com a voz trêmula.

— Kevin. — repetiu Liadan. Em seguida, agachou-se, de modo que o seu rosto e o de Kevin ficassem à mesma altura. — Eu te vi segurando alguma coisa quando saiu do refeitório... o que era?

Kevin engoliu em seco.

— Não era nada... eu... eu...

Liadan estendeu a mão e acariciou a bochecha do menino. O suave movimento de uma serpente, antes de dar o bote.

— Olha, vamos esclarecer uns assuntos, pequeno Kevin — disse a garota, uma falsa voz de gentileza. — Você não deve mentir para mim. Tem que fazer o que eu mandar. Pois, caso o contrário, as coisas podem ser piores para você. Entendeu? Sim? Ok. Repetindo a pergunta: o que você estava segurando quando saiu do reformatório?

Kevin tremeu e não disse nada. Seus olhos começavam a ficar úmidos e vermelhos.

Impaciente, Liadan disse:

— Se você não me mostrar, juro que faço com que serpentes apareçam na sua cama de madrugada e te comam vivo, pequeno Kevin — ela colocou as duas mãos nos ombros dele. — Elas vão entrar por sua boca, devorar as entranhas e sair pelo seu umbigo. Não quer isso para você, quer?

Chorando, Kevin pôs a mão no bolso da calça.

— Isso — encorajou Liadan. — Garoto esperto.

Do bolso, Kevin retirou um pequeno medalhão dourado, e estendeu para Liadan.

— Ah! — disse ela. — É de ouro! Pequeno Kevin, que gentileza me dar esse medalhão...

Lágrimas caíram pela bochecha rechonchuda do garoto.

— Por favor... não leve... ele é a única lembrança que tenho de meus pais...

Liadan mirou Kevin com desdém. Ela abriu o medalhão de bolso, e dentro havia uma pequena foto de um casal aparentemente simpático, segurando um bebezinho gordo.

— Você me deu, garoto. Agora, é meu. — a garota fechou o medalhão, deu dois tapinhas amigáveis no ombro do menino, e foi embora, deixando ele chorar por sua perda.

Liadan e o irmão Kenrick constantemente roubavam objetos das outras crianças, mas elas nunca os denunciavam às supervisoras do Orfanato St. Charles. Os gêmeos atormentavam os colegas que não fizessem o que lhes fosse mandado, e por isso, os dedos-duros eram perseguidos até que aprendessem quem realmente mandava. Sendo assim, eram poucos os que se atreviam a desobedecer aos irmãos. Às vezes, até as freiras supervisoras pareciam se amedrontar com a presença deles; Liadan adorava isso.

Em toda a vida, ela e o irmão viveram em sete orfanatos. O medo alheio não era característica apenas no St. Charles: os professores dos antigos estabelecimentos mandavam cartas aos responsáveis pelo respectivo local, alegando não ter os recursos necessários para sustentar os gêmeos Blackwood, e que ambos precisavam de tratamento especial urgentemente. Claro, qualquer enfermeira que inspecionasse os dois saberia que não havia nada de errado com eles. Mas, ao tentar retornar contato, os orfanatos apenas diziam que não haveria condições de receber os gêmeos novamente, pois todos os quartos já estavam cheios. Essas estranhas desculpas eram formuladas unicamente pelo medo de dizer realmente a verdade sobre os dois, mas, mesmo assim, Liadan e Kenrick eram obrigados a se retirar para outro lugar.

Aconteceu que eles já tinham rodado toda a cidade, e agora, o St. Charles era o único orfanato restante.

Ao entrar no pátio, Liadan sentiu uma onda de ar fresco sacudir seus cabelos negros. Ali, na mureta que separava a pequena quadra de vôlei do resto do local, debruçava-se Kenrick.

Assim como Liadan, Kenrick era um garoto deslumbrantemente bonito. Tinha os cabelos, os olhos e a pele exatamente da mesma cor dos da irmã, mas ele era oito centímetros mais alto que ela, e também era bem mais forte.

Ele fitou o medalhão nas mãos de Liadan assim que ela se aproximou.

— Uau — espantou-se, pegando o medalhão e colocando a corrente entre os dedos. — E esse tesouro escondido, de onde veio?

— De um gordo nanico. Dá aqui — disse a garota, e tomou-o de volta. — Imagina quanto isso aqui deve valer, hein? O que eu farei com o meu dinheiro...?

Kenrick piscou, confuso.

Seu dinheiro? — repetiu ele.

A irmã franziu as sobrancelhas.

— A serpente que captura o rato, come o rato. — disse ela orgulhosamente.

— A serpente tola, sim — retrucou Kenrick. Em seguida, indicou o medalhão com a cabeça. — A inteligente divide a caça com a família. Isso aí é meu também.

— Só se você tivesse ajudado a roubar. — falou Liadan. — Mas não foi o que você fez.

A expressão de Kenrick enegreceu-se de raiva

— O que é que você está pensando? Mê dê isso agora! — e ele estendeu a mão para o medalhão.

Porém, os dedos dele congelaram a meio caminho do objeto.

Era como se uma corda invisível envolvesse o pescoço de Kenrick, grossa e firme. A respiração dele estava presa, e não havia como soltar-se. Debilmente, ele pôs as mãos no pescoço, mas isso de nada adiantava.

Liadan sorria.

— Doce Ken — disse ela. —, às vezes você parece se esquecer de quem eu sou.

O sorriso da garota desapareceu no instante em que outra corda, também invisível, e igualmente forte, envolveu seu pescoço.

— E você, querida Lia — conseguiu falar Kenrick. — Se esquece de quem eu sou.

Desde pequenos, os dois faziam esse tipo de coisa. Criavam cordas e barreiras invisíveis, levitavam pequenos objetos, falavam com animais... agora, com 16 anos, eles estavam cada vez mais cientes de como controlar aquele dom.

Mas não estavam tão certos quanto pensavam

— Com, licença, Sr. e Srta. Blackwood? — chamou uma voz fina e medrosa.

Os irmãos se encararam mais uma vez, com os olhos repletos de desprezo. Até que, por fim, as cordas se soltaram, e eles retomaram a compostura. Liadan tratou de esconder o medalhão bem fundo nas roupas.

— O que foi? — quis saber Kenrick.

Uma das supervisoras, a Irmã Millie, olhava para os dois com olhos grandes e relutantes.

— Alguém veio visitá-los.

Visitas?! A expressão de Liadan não era menos espantada que a do irmão.

— Quem? — quis saber ele.

A Irmã Millie levantou os olhos, como se quisesse se lembrar de algo.

— Tinha um sobrenome esquisito... Lis... Lee... Ah, sim. Lestrange.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! Não se esqueçam de comentar!



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