Crazy 'bout you. escrita por Hermione Granger


Capítulo 1
Chalé de Conchas.




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– Você tem muita sorte, duende. Mas não podemos dizer o mesmo dessa aqui.

Eu a ouvi dizer. Não saberia dizer se “essa aqui” se referia a mim, mas não encontrei outra opção. Estava caída de costas sobre o piso de mármore negro e gélido, sem forças, quase inconsciente e sentindo a pior dor física que alguém poderia pensar em sentir. Não conseguia enxergar ou me mover direito, mas pude ouvir a voz de Ron gritar ao longe algo parecido com “não”. Queria levantar a cabeça para olha-lo, queria saber se ele estava bem, meu corpo não respondia as ordens do meu cérebro. Vi alguns lampejos de varinhas e os gritos estridentes de Bellatrix, e quase que no segundo seguinte, alguém me erguera com uma facilidade absurda e eu torci para que fosse alguém para me tirar dali, mas apenas torci, eu sabia que não era nada disso. Uma mão fria agarrou-se aos meus cabelos da nuca enquanto a outra prensava algo que suspeitei ser uma faca com a lâmina cortante voltada para o meu pescoço. Dessa vez eu pude ver Ron, logo a minha frente com os olhos tão arregalados quanto era possível.

– Abaixem as varinhas. – eu a ouvi ordenar. A voz estava tão próxima dos meus ouvidos que era como se a faca estivesse agora me desfigurando. Tentava manter minha visão em foco. Olhava para Ron ao mesmo tempo em que ele olhava para mim em estado de choque. Harry e ele se abaixaram depositando suas varinhas no chão. – Ora, ora, ora. O que temos aqui? É o Harry Potter, novinho em folha para o Lorde das Trevas. Não vamos perder mais tempo. Chame-o Draco.

Bellatrix sorriu e pressionou ainda mais a lamina, eu pude senti-la rasgar. Apenas como um arranhão, mas o local atingido latejava com tanta intensidade que eu quase sentia dificuldade para respirar. A feição de Ron, se é que possível, ficou ainda pior e pude ver que suas mãos tremiam, jogadas ao lado do corpo.

Da minha parte é um pouco difícil descrever com precisão a cena que se seguiu. Escutei alguns tilintares de cristais se debatendo e Bellatrix soltou um muxoxo como se sentisse confusa. Todos sob meu campo de visão olhavam para cima e eu tentei elevar lentamente os meus olhos na mesma direção. Algo balançava o grande lustre na casa dos Malfoy, mas antes que eu me desse conta, Bellatrix empurrara meu corpo para frente ao mesmo tempo em que o lustre veio ao chão. Tentei sair da linha de fogo, mas me sentia tão tonta que minhas pernas trançavam e eu sentia que iria cair a qualquer segundo. Meu corpo fora envolvido por um par de braços fortes que me segurava com certa firmeza. Dessa vez os braços eram de Ron. Ergui os olhos apenas para comprovar a minha certeza, antes de sentir algo me puxar o estomago como se estivesse me comprimindo por um canudo enquanto Ron nos levava para longe dali.

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Segundos depois e estávamos sentados sobre um chão úmido e arenoso. Uma brisa passava trazendo ao meu encontro o cheiro do mar. Talvez ele nos tenha trazido para o lugar errado, pensei. Mas com a mesma velocidade do pensamento, Harry apareceu, passos diante de nós, debruçado sobre algo que descobrir ser Dobby.

– Ele esta ferido... Ele está... Temos que ajuda-lo. – dizia Harry com desespero. – Hermione, temos que ajuda-lo. Deve ter um jeito... Algo, na sua bolsinha... Me ajudem.

Eu queria ajuda-lo, eu queria ajudar Dobby, mas eu mal podia me levantar e a essa altura o ferimento em Dobby criara para ele um destino irreversível. Ron permanecia ao meu lado com os braços ainda me segurando firme pelos ombros enquanto eu me apoiava sobre seu peito. Ouvi Harry murmurar algumas coisas a Dobby que possuía apenas um fio de sua consciência. Eu queria me desculpar por não estar dando a ele os créditos merecido. Queria lhe dizer que era de todos o melhor elfo que já conheci, mas não tive tempo, pois ao mesmo tempo, para nós dois, tudo ficou escuro.

Acordei meio perdida. Acordei em partes, meus olhos permaneciam fechados e eu sentia uma grande dificuldade de abri-los. Era como se meu corpo estivesse preso entre o sonho e a realidade. Estava deitada sobre algo macio e quente, extremamente confortável, que me fazia não querer mais me levantar.Algo prendia meus braços ao lado do meu corpo e eu não conseguia e nem tinha forças para erguê-los ou mexe-los para os lados, que fosse. Fiz um esforço fora do comum apenas para abrir os olhos e quando consegui, encontrei a fonte que me prendia. Ron tinha a cabeça deitada sobre minha barriga e seus braços envolvia minha cintura como se ele tivesse pegado no ronco no meio de um abraço. Senti uma vontade quase incontrolável de rir, mas nem pra isso eu estava servindo.

Fiz mais um esforço para mover um dos meus braços e consegui liberta-lo. Ron nem ao menos se moveu. Estava sentado em uma cadeira posta ao lado da cama e eu imaginei o quão desconfortável ele estava naquela posição que lhe renderia um terrível torcicolo. Suas sobrancelhas estavam fortemente franzidas como eu já acostumava a ve-las nesses últimos meses. Um nítido sinal de que seus sonhos não eram nada bons. Levei minha mão livre até as mechas de cabelo laranja que eu sempre gostei, a fim de lhe fazer um carinho que proporcionasse um pouco de tranquilidade para o sonho conturbado, mas minhas intenções foram falhas. Ron acordou quase que de imediato com o meu toque como se ele nem ao menos estivesse dormindo. Ele ergueu a cabeça para me olhar ainda com as sobrancelhas franzidas. Tentei lhe dar um sorriso que não funcionou, ele continuava a me olhar sério. As vezes ficava dificil saber se o olhar de Ron era de fúria ou preocupação. Ele costumava usar a mesma expressão para ambos os sentimentos, o que me levava a crer que ficar preocupado demais, o deixava irritado...

– Me... Me desculpa. – pediu ele.

Eu o olhei sem entender o que ele realmente queria dizer.

– Ron... – tentei dizer, mas ele logo me interrompeu.

– Eu não consegui. Não consegui. – repetia ele me deixando ainda mais confusa.

– Do que está falando? – perguntei com um pouco de dificuldade. Falar nunca fora tão dificil.

– Não cuidei de você. – ele disse fazendo uma expressão chorosa. – Disse que cuidaria...

– Eu estou bem Ron. – tentei conforta-lo em vão. – Está tudo bem.

– Não, não está. Você não estaria assim se eu... – ele disse como se eu tivesse perdido um olho, um braço ou algo mais trágico. Esfregou as mãos no rosto como se aquilo pudesse apagar todo sofrimento que ele sentia. – Eu fiquei nervoso. Você estava gritando e eu... Eu não consegui pensar.

– Para com isso Ron. Eu estou aqui, não estou? Garanto que não cheguei sozinha. – tentei alcançar uma de suas mãos, estavam mais longe do que eu gostaria. Ele entendeu meu recado, ou talvez tenha tido a mesma ideia, e estendeu uma mão em direção a minha, entrelaçando as duas. – Obrigada.

– Não. Não fiz nada além de ver ela torturar você. – tornou a dizer. Apertei a minha mão na dele. Ele me olhava com os olhos decepcionados, reprovando a si mesmo. – Me desculpe.

– Por salvar a minha vida? – perguntei em tom divertido para descontraí-lo. – Não, de jeito nenhum. Isso é imperdoável. Como ousa? Espero que isso não se repita.

Ele me deu um leve sorriso, parecendo não muito convencido, não teve tempo de responder qualquer coisa, no entanto. A porta do quarto se abrira lentamente e a cabeça de Fleur emergiu pelo espaço entreaberto. Eu estive tão distraída com Ron que mal tive tempo para pergunta-lo onde estávamos.

– Ronald! – exclamou Fleur chamando sua atenção como se ele fosse uma criança arteira que acabara de quebrar o seu vaso favorito, espalhando terra pelo seu tapete caríssimo. – Eu disse para deixa-la descansar. Como se sente, Hermione?

– Estou ótima, obrigada. – respondi. Fleur carregava nas mãos uma bandeja com um prato solitário no centro.

– Trouxe algo para você comer. – ela disse. Eu fiz uma careta, pois o meu estomago estava consideravelmente revirado. – Sei que deve estar se sentido mal pelo remédio que te dei, mas precisa comer.

Ron olhou para mim como quem dizia “Ela tem razão.”. Fleur colocou a bandeja sobre a cômoda ao lado da cama e por um momento, achei que ela iria expulsar Ron a pontapés, mas ela focou os olhos em nossas mãos ainda entrelaçadas e pareceu reconsiderar.

– Só mais uns instantes. – ela disse olhando para ele. – Depois deixe-a descansar.

E saiu.

A mão de Ron abandonou a minha temporariamente, para alcançar o prato sobre a cômoda. Ele mexeu o que me parecia ser uma sopa e eu fiquei imaginando se ele iria comer ou fazer aviãozinho para que eu comesse.

– Consegue? – perguntou indicando o prato.

Eu assenti, pegando-o de suas mãos.

– Você está bem? – eu perguntei.

– Acho que sim. – disse soltando um longo suspiro.

– E Harry?

– Ele se sente culpado por Dobby, você sabe como ele é. – ele disse. – Nós o enterramos. O Dobby, não o Harry.

Eu ri. Estava triste por Dobby, afinal ele salvara a todos nós. Mas eu estava feliz por saber que Harry estava bem e por estar com Ron.

– Isso está doendo? – perguntou apontando para o meu pescoço e eu me lembrei do corte que Bellatrix fizera bem ali.

– Não mais, acho que o remédio de Fleur fez um bom trabalho. – respondi.

– Ela melhorou muito não é? A Fleur. – comentou ele. – Sempre achei que o homem melhorava com o casamento, mas acho que nesse caso a melhora veio dela.

– Tenho que admitir que sim. Mas, com todo respeito, Gui não teria mais o que melhorar.

Ron pareceu pensar sobre o assunto.

– É, acho que sim.

– Tenho inveja de você. – confessei. – Da sua família.

Ele me olhou com sobrancelhas arqueadas e riu pela primeira vez naquele dia.

– Por que ter inveja se você faz parte dela?

Aquela foi a melhor coisa que ouvi naquele dia, até o momento pelo menos. Coloquei o prato novamente sobre a cômoda e o abracei. O mais forte que conseguia a julgar pela minha fraqueza. Ele me abraçou com força semelhante, tentando ao máximo não me machucar. Eu senti vontade de chorar e só não o fiz porque sentia uma incrível vontade de rir ao mesmo tempo. Não havia no mundo sensação melhor do que a de estar perto de Ronald, diga você o que quiser. Senti medo de larga-lo, eu não queria.

– Fiquei com medo de não poder ver você de novo. – eu disse.

Ele soltou um suspiro mais profundo enquanto afagava meus cabelos, e disse:

– Eu também, Mione.

Devo ter ficado abraçada a ele por uns quinze minutos. Ficaria por mais quinze anos, quinze décadas, quinze vidas, sei lá. Me afastei contra vontade e ele sorriu para mim.

– Não vai terminar? – perguntou indicando o prato sobre a cômoda, ainda com um restinho de sopa.

Balancei a cabeça em negativa.

– Então é melhor eu te deixar descansar... – ele disse fazendo menção de se levantar, mas eu alcancei sua mão e segurei-a para impedi-lo.

– Não quero ficar sozinha. Fica aqui. – pedi.

– Fleur vai me matar se me ver aqui.

– Eu sou a doente, eu escolho minhas visitas.

Ele pareceu gostar daquilo. Aproximou-se e se sentou ao meu lado na cama se recostando na cabeceira. Passou seu braço em volta dos meus ombros me convidando a me aproximar e eu tomei a liberdade de apoiar-me sobre seu peito. Aquilo era quente e confortável. Ron passava o polegar pelo meu braço e embora os quilos de roupas de inverno me impedissem de sentir o toque direto, o fato de saber que havia um toque já me deixava estremecida.

– E agora? O que faremos agora, Ron?

A mão que Ron usava para acarinhar o meu braço, me deu um leve aperto como quem queria dizer que tudo ficaria bem ao mesmo tempo em que seu suspiro me dizia que ele não fazia ideia do que estava por vir.

– Queria poder dizer que ficaríamos aqui, tendo o que comer e onde dormir... Mas infelizmente acho que temos que esperar pelo pior.

– Tenho medo de como isso vai acabar.

– Não vai te acontecer nada, sei disso. – ele me garantiu.

– Não falo de mim.

Ele me deu um sorriso, mas por algum motivo aquilo não me confortou. Deu um beijo no topo da minha cabeça e nada mais disse a fim de encerrar o assunto. Eu preferi não insisti.

– Ron.

– Humm...

– Voce... promete que não vai embora outra vez? – talvez fosse algo tolo, mas eu precisava saber que poderia acordar no dia seguinte e ainda vê-lo a uma curta distancia de mim.

– E te deixar sozinha com o Harry? Nem pensar. – ele disse em um tom divertido. Eu sorri ao ouvir sua risada.

– Harry é como...

– Um irmão... – completou ele. – É, eu sei. Mas... é inevitável as vezes.

– O que? – perguntei sem entender.

– Não... Sentir ciúmes.

Não que eu não soubesse dos ciúmes infundados de Ron, mas ouvir uma confissão era muito melhor. Eu apertei o braço ao redor da cintura dele e o abracei tão forte que o som de sua risada saiu abafado.

– É diferente, Ron.

– O que? – ele me perguntou.

– Você e o Harry. São diferentes. – eu levantei a cabeça para encara-lo. Ele olhava em direção a porta, mas sem fita-la realmente, como se olhasse para o vazio. Ao notar sua veia no pescoço que teimava em pulsar de preocupação mesmo quando ele sorria, olhar as cicatrizes que aqueles dias vinham sendo adicionadas pelo seu corpo, seu olhar sempre tão duro e cansado, sempre tão atento e protetor, eu senti aquela vontade de lhe dizer tudo antes que fosse tarde para um de nós dois. – Eu nunca vou te ver como um irmão.

Ele tirou seu olhar do vazio e olhou para mim. Sorrindo. Não sei se foi com o passar dos anos, ou se é o meu medo de perdê-lo, mas Ron me parecia incrivelmente mais bonito do que sempre fora para mim, e eu lhe sorri de volta.

– Ótimo. – ele me deu um beijo na testa e afagou meus cabelos enquanto pedia em um tom divertido. – Só não diga que eu sou seu primo.

– Você é um idiota, Weasley. – eu disse rindo.

Ron me fazia tão bem, eu queria poder ter a certeza de que ficaríamos bem dali por diante. Que tudo acabaria bem. Mas essa era uma certeza que eu não teria tão cedo, tão pouco poderia contar com ela.

Eu olhei mais uma vez para ele que agora estava serio.

– Descansa um pouco, Mione. Você precisa. E se Fleur voltar...

Eu não o deixei terminar. Até sabia o que ele iria dizer em seguida e pra dizer a verdade, não me importava. Acabei com a curta distancia que nos separava e colei os lábios nos dele. Apesar do tempo frio, ele estava quente e era tão macio. Senti um tremor correndo por toda espinha quando Ron colocou uma de suas mãos em minha nuca, me puxando para mais perto ainda que aquilo fosse um pouco impossível. Foi um pouco desesperado no inicio. Medo de acabar aquele momento, de não ter outro igual... Medo de que algo me separasse dele outra vez. Demorou um tempo para que nós compreendêssemos que por enquanto tudo estava bem, e o beijo foi se acalmando.

– Você não vai embora, não é? – perguntei em voz baixa, sem me afastar dele totalmente. Meus olhos permaneciam fechados.

– Já disse que não, Mione. A partir de agora, vou atrás de você até no banheiro.

– Não é pra tanto. – Sorri e abrir os olhos para olha-lo.

– Descanse, está bem? – ele pediu. Me deu um beijo no nariz e me abraçou, apoiando mais uma vez a minha cabeça sobre seu peito enquanto acariciava o meu cabelo. – Vou estar aqui quando você acordar.

Só tive tempo de agradecê-lo antes dos meus olhos se renderem ao sono novamente.


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Notas finais do capítulo

Short Fic :D .. que eu tenho que dedicar a linda da Tuts (Tuania) que me ajudou com o titulo ♥ ...PS: É uma short meio long gr/ haha