Dentro de um filme escrita por G N Ferreira


Capítulo 14
Fix you


Notas iniciais do capítulo

*Fix you = consertar você. É também o nome de uma música da banda Coldplay, cuja letra achei que tinha TUDO a ver com Aredhel e Loki. A letra é uma declaração de uma pessoa que diz a outra que sempre estará lá para consertá-la quando as coisas não derem certo, quando ela estiver mal, quando tudo dá errado.

Esse capítulo é um dos mais longos que escrevi.. Espero que gostem... Deixem seus comentários!



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Depois do longo beijo ele ficou me olhando assustado e ofegante por um tempo. Depois saiu às pressas do quarto batendo a porta. Eu estava tão anestesiada pelo que tinha acontecido que fiquei encostada na parede, sorrindo em silêncio, por um longo tempo.

Passada a euforia do momento, a dúvida e a culpa tomaram conta de mim. O que eu estava fazendo? Estava traindo Phillip. Eu sentia que ainda o amava, mas agora também amava Loki. Como era possível amar dois homens ao mesmo tempo? Escorreguei pela parede e fiquei ali sentada no chão. Eu estava tão dividida. Eu queria partir, mas também queria ficar.

Em nenhum momento eu cheguei a imaginar que o que eu sentia por Loki era correspondido. Agora entendia a raiva dele, ele estava lutando contra o que sentia. Comecei a chorar. Eu tinha que voltar para casa, não pertencia àquele lugar, nunca existiria “nós”. Eu iria sofrer, e faria Loki sofrer também. Eu tinha conseguido fazer o que vinha tentando desde que cheguei àquele mundo, alterar a história, mas não do filme e sim a minha e a de Loki.

Passei o resto da noite acordada, não consegui dormir. No dia seguinte permaneci no quarto. Como não apareci para as refeições, vieram trazê-las ao meu quarto, mas todas ficaram intocadas. Naquela noite Loki não apareceu para irmos à biblioteca. Eu estava muito cansada, fiquei rolando na cama, mas só consegui adormecer quase ao amanhecer, vencida pelo cansaço.

Já passava da metade da manhã quando alguém bateu a minha porta, era Loki. Deixei-o entrar e, antes que eu pudesse dizer algo, ele começou a falar.

– Eu acho que entendi como você veio parar aqui. Quando você chegou naquele dia você surgiu de uma bola de energia. - falou Loki rapidamente.

Fiquei um pouco chocada com a situação. Parecia que nada havia acontecido. Fiquei pensando por um instante que talvez ele tivesse se arrependido, então decidi não tocar no assunto.

– Acha que pode ter sido o Tesseract? Acredita que foi ele que me trouxe? – perguntei em dúvida.

–Não sei. Ainda não estou certo, mas o que tenho certeza é que foi aberto um portal para que você viesse para cá. Não sei como e nem quem o fez. Quem sabe uma energia residual, um efeito colateral de meu portal, gerado pelo próprio Tesseract. Ele talvez pudesse também lhe mandar de volta para seu mundo. – continuou explicando.

– Certo... Mas não podemos utilizá-lo para me mandar de volta. Ele está muito bem protegido. E mesmo que o tivéssemos, não saberíamos como fazê-lo abrir um portal específico para minha terra, ou você sabe? – perguntei.

– Não.. Eu não sei. Foram os Chitauri que me enviaram para Midgard. – respondeu Loki. – Mas eu passei ontem o dia todo procurando na biblioteca e finalmente achei em um livro uma citação sobre uma passagem que pode levar você para seu mundo. – completou.

Eu fiquei calada por algum tempo. Estava feliz por poder voltar para casa, mas também estava triste por ter que partir. Pensei que talvez Loki tivesse pensando que era melhor eu partir. Ele sempre enxergou Jane como uma fraqueza para Thor, e agora eu era também para ele. Pensei que talvez fosse melhor assim. Olhei para Loki e ele me observava com curiosidade, como se estivesse esperando uma resposta.

– Obrigada pela ajuda. Você sempre cumpre suas promessas. - finalmente falei sorrindo de leve - E quando posso partir? – perguntei.

– Hoje mesmo se assim quiser. – respondeu.

Decidimos que era melhor partir a noite e não me despedir dos outros. Primeiro, eu detestava despedidas, e segundo, levantaria muitas perguntas sobre como eu havia descoberto isso. O plano era eu deixar uma carta de despedida, explicando as coisas e evitando perguntas. Escrevi uma carta endereçada a “Odin” agradecendo a hospitalidade. Expliquei na carta que eu mesma vinha frequentando a biblioteca sozinha em busca de uma resposta e que havia finalmente encontrado. Contei inclusive que aprendera sobre algumas lendas e o idioma asgardiano na prisão com Loki, o que me auxiliou na pesquisa nos livros. Deixei meus cumprimentos a todos, inclusive a Thor.

Deixei a carta sobre uma mesa que havia em meu quarto. Vesti meu vestido da festa de halloween e fui me encontrar com Loki, disfarçado de guarda, próximo à saída das aeronaves. Seguimos em direção ao lago e o atravessamos, em seguida rumamos em direção a uma caverna. Nesta havia uma lagoa pequena, que parecia emitir luz. Olhei para ela e fiquei apreensiva.

– Eu tenho que entrar na lagoa? – perguntei.

– Não. Você só precisa mergulhar seu rosto na água. Enquanto faz isso pense no local que você deseja ir ou em uma pessoa que conheça. – explicou Loki.

Dei um longo suspiro. Ele então se aproximou e ficou me fitando por um tempo. Seu olhar era triste. Um desespero tomou conta de mim. Eu iria partir, deixar tudo que vivi, iria deixar Loki e provavelmente nunca o veria novamente. Senti um nó na garganta e lágrimas brotarem de meus olhos. Corri e o abracei com força.

– Eu te amo. Nunca vou te esquecer.. – murmurei em meio às lágrimas.

Loki pareceu um pouco chocado, mas retribuiu meu abraço e ali ficamos abraçados por algum tempo. Eu não queria ter que deixá-lo. Tudo isso era doloroso demais.

Separei-me dele e ajoelhei-me na beira do lago. Olhei uma ultima vez para Loki, ele me olhava com um semblante triste. Respirei fundo, pensei na floresta próxima à festa e mergulhei o rosto na água. Uma luz branca me envolveu, senti perder o chão novamente e, em segundos, despenquei no meio de uma floresta.

Olhei ao redor e vi que já era dia, havia uma torta caída no chão, cheia de formigas, a minha bolsa e a minha tiara. Eu havia voltado para casa. Peguei minha bolsa e tirei o celular. Ao consultá-lo descobri que havia se passado somente um pouco mais de doze horas no meu mundo, enquanto que em Asgard eu havia vivido por muitos meses.

Digitei o número de Phillip, ele já devia estar louco de preocupação. Caixa postal. Liguei para nossa casa, mas ninguém atendia. Resolvi seguir para a casa de minha amiga Lucy, onde a festa havia ocorrido. Toquei a campainha e Lucy atendeu. Ao abrir a porta ela me olhou chocada, como se estivesse vendo um fantasma.

– Você... Você está viva... – gaguejou.

– Sim.. E porque não estaria? Eu sei que sumi por algumas horas, mas não precisa exagerar e.. – o olhar de Lucy me fez parar de falar. Ela me olhava com pesar.

– O que aconteceu? Vocês estavam me procurando, né? Sabe dizer onde está Phillip? O celular dele está desligado. – perguntei aflita.

– Você não sabe... – falou chocada. Seus olhos se encheram de lágrimas.

– Onde está Phillip? O que aconteceu? – perguntei quase gritando e sacudindo ela pelos ombros.

Ela fez uma pausa, parecia procurar as palavras certas para me falar.

– Ontem à noite você dois não apareceram na festa, nós estranhamos, mas vocês não atendiam o celular. – falou baixando a cabeça – Hoje pela manhã soubemos que o carro de vocês foi encontrado em um barranco a alguns poucos quilômetros daqui. No caminho da casa de Peter. – continuou.

– Em que hospital está Phillip? Ele e Peter estão bem, certo? – perguntei desesperada com lágrimas aos olhos.

Ela me olhou com pena, e chorando, segurou minhas mãos.

– Ared... Phillip e Peter estão mortos.. – falou.

Senti-me perdendo o chão novamente, mas não havia nenhuma luz ou portal me levando embora. Eu caí de joelhos no chão e rompi em lágrimas. Não podia ser verdade. Aquilo não podia estar acontecendo. Meu amado Phillip estava morto.

Lucy voltou a falar algo, mas eu não entendia, eu não estava ouvindo. Eu havia mergulhado em outro mundo, uma dimensão chamada dor. Eu não tinha mais meu noivo, meu melhor amigo, a única pessoa em meu mundo que me amava e me aceitava do jeito que eu era.

Não sei como cheguei em casa. Lembro-me de ouvir a voz de Lucy, de ver um carro e de sentar em meu sofá. Ela falou algo sobre os pais de Phillip e sobre o enterro ainda ser naquele dia. Eu não quis saber o porquê da urgência de enterrá-lo tão rápido, tampouco como ele tinha morrido. Eu não queria acreditar que tudo aquilo era real. Minha mãe ligou e falou algo sobre vir até minha cidade para me dar o seu apoio, lembro-me de ter recusado e de dizer que preferia ficar sozinha. Não lembro o que ela respondeu.

Pela tarde, Lucy me ajudou a vestir algo. Ao colocar um blusão notei a cicatriz no meu pulso. Asgard também não fora um sonho, pensei. Eu realmente havia vivido tudo aquilo.

Mais tarde seguimos para o enterro, eu mal compreendia o que as pessoas diziam a mim. À noite Lucy falou algo sobre comida e, finalmente, deixou-me a sós com meu luto.

Sentei-me em uma poltrona à frente de uma janela, que dava para nosso quintal, e lá fiquei chorando o resto da noite, até adormecer vencida pelo cansaço. Na manhã seguinte, continuei no sofá, o telefone e o celular tocaram várias vezes, mas não me mexi.

Já havia passado da metade da manhã quando uma luz branca surgiu em meu quintal. Olhei pasma, não acreditava no que via, era Sif que tinha saído da luz.

– Você! Venha aqui, agora! – gritou para mim do lado de fora.

Eu não pensei nem no absurdo que estava vendo, simplesmente levantei-me e fui para fora falar com ela. Ao descer as escadas da porta da cozinha, ela se aproximou e agarrou meu braço com força.

– Você vem comigo! Agora você não escapará de pagar pelos seus crimes! – rosnou para mim.

Olhei para ela sem entender nada e tampouco tinha condições de entender. Ela pareceu ler meus pensamentos e começou a dizer o motivo de estar me acusando.

– Odin está morto e descobrimos a sua farsa e a de Loki! Você pode ter escapado da morte da última vez, mas desta vez você não escapará desta pena! – vociferou para mim.

– Odin? Morto? Mas ele estava dormindo... – falei sem pensar muito.

– Não se faça de inocente! Eu sempre soube que não poderia confiar em você! Loki e você são iguais! – respondeu.

Ao ouvir o nome de Loki de novo, comecei a absorver o que ela estava me dizendo. Odin estava morto e Loki e eu estávamos sendo acusados pelo crime. Regicidas eram condenados à morte.

Sif puxou, de uma sacola de couro que trazia nas costas, um par de algemas e colocou em mim. Em seguida tirou uma tigela de vidro, a qual preencheu o com o conteúdo que havia em uma garrafa, também retirada da sacola. Ela acomodou a tigela na mesa de meu quintal, me puxou pelo pulso e mergulhou o rosto na tigela. Na hora percebi como ela havia chegado ao meu mundo. Sif veio da mesma forma que eu havia voltado. Lembrei-me de que contara na carta como voltaria para casa. Talvez não devesse ter falado sobre o livro, mas não me perdoaria se deixasse Loki sozinho nessa história.

Chegamos à porta de entrada de outros reinos para Asgard. Heimdall me olhou também com olhar de condenação. Sif me levou até a prisão e entregou-me aos guardas. Os guardas conduziram-me a uma das celas e, ao chegar a sua frente, vi Loki. Ao me ver, Loki pareceu se desesperar.

– O que ela faz aqui? Porque a trouxeram? - perguntou para os guardas.

Os guardas retiraram as algemas e me colocaram na cela. Dessa vez era uma cela comum, não havia móveis. Eu iria dividir a cela com Loki. Não havia regalias, não havia mais Frigga para interceder por nós.

Loki olhou-me de cima a baixo e depois franziu o cenho. Eu devia estar com uma aparência horrível. Não tinha dormido direito, tinha chorado a noite toda e vestia um vestido simples, com um blusão e pantufas.

– Eles fizeram algo a você? – perguntou preocupado.

Ao vê-lo constatei que agora as coisas não podiam ficar piores. Eu havia perdido Phillip e agora perderia Loki. Era demais para mim. Abracei-o com força e rompi em lágrimas.

– Eu não posso perder você também.. – falei em meio a soluços.

– O que? Também? – perguntou confuso olhando para mim.

– Phillip está morto.. – respondi soluçando.


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Notas finais do capítulo

Gente!! Me perdoem!! Chorei escrevendo esse capítulo!! T_T A ideia foi do meu marido! Não me odeiem! Ele que sugeriu isso, e com os depoimentos de vocês a favor dela ficar com o Loki, me levaram a fazer isso... O que acharam? Deixem suas opiniões e desabafos...