Pov. Kath

Saí do carro correndo, tirando os sapatos enquanto subia as escadas até a minha casa. Uma residência de certa forma grande, com um primeiro andar, de cor amarela bem clara (que eu escolhi), várias janelas, um jardim bem cuidado e... Enfim, uma casa muito bonita. Abri a porta procurando-o com os olhos, será que ele já chegou?

A TV está ligada no jogo, então sim.

— Amor? Paixão? Razão do meu viver? Vida? Você está aqui? — cantarolei jogando minha bolsa em um lugar qualquer.

Pude ver Josh, meu marido, pôr apenas a cabeça na porta, me encarando da cozinha. Ele estava engraçado com o avental escrito “Beije o Cozinheiro” e com o rosto manchado de molho de tomate, e claro, com uma colher de pau nas mãos.

— Kath, você está bem? — Perguntou com uma sobrancelha arqueada. — Você nunca chega feliz do trabalho. Nunca.

Quanta desconfiança!

— Ah, fica quieto! Estou feliz, meu dia foi maravilhoso! — afirmei aproximando-se dele, enlaçando seu pescoço, depositando um selinho casto em seus lábios.

Passei o dedo pelo molho do seu rosto e experimentei.

— Hum... Isso está muito bom! O que está preparando? — Perguntei curiosa, sorrindo. Ele beijou minha testa e negou, rolei os olhos.

Josh havia mudado muito, não era mais um jovemzinho de 18, pelo contrário, já tinha 37 anos. Pois é, 37. Mas aquele idiota continuava lindo, o que era meio irritante para alguém que precisava andar sempre com um kit de maquiagem pelos lados.

Os cabelos pretos, como sempre, grandes, mas ele passou a aparar mais, deixava os fios cobrindo boa parte da testa, onde havia uma cicatriz do dia do acidente, os olhos ainda eram os mesmo acinzentados de sempre, com o mesmo brilho de sempre, definitivamente, Josh não mudou, apenas ficou com uma expressão mais séria (mesmo que fosse pura farsa, ele ainda era tão brincalhão quanto antes); ele era um veterinário.

Isso mesmo: Veterinário!

Eu não sabia dessa paixão absurda por animais, ele comentava que queria ser arquiteto, mas pelo visto mudou de ideia. E ele era famoso! Tinha um centro veterinário na cidade, só animais de ricos iam lá, na realidade, era dois, um pra ricos, como eu costumo dizer, onde pagavam uma fortuna para fazer qualquer besteira, e o outro era um Centro comunitário, ficava numa área mais carente da cidade, ele pegava animais de rua, principalmente, cuidava e mandava para uns Pets Shops de quem era parceiro.

Um ato fofo! E acredite, ele foi premiado por isso, tem a foto na parede do corredor.

E eu? Bem, eu virei secretária! Aí me perguntam, mas seu marido é dono de um dos centros veterinários mais famosos e você trabalha? Pois é, e a vida, eu já trabalhava antes mesmo dele ganhar tanta “fama” e gostei. Eu tinha amigos no trabalho, e gostava do meu emprego. Tinha feito faculdade pra isso! Mas claro, que sempre tinha uma pedra no caminho e essa pedra se chamava Meredith.

Sim, a própria. Ela trabalhava, literalmente ao meu lado. Era irritante, mas hoje ela havia sido suspensa por ter derramado café na roupa da Mariah, minha chefinha maravilhosa. Claro, eu ajudei.

Cynthia tinha se tornado uma estilista, sua grife estava fazendo sucesso, e Zack era seu empresário, e marido. Bom, nossas vidas estavam ótimas! Pelo menos eu gostava de como estava.

— Vou preparar o jantar hoje e vai ser surpresa pra vocês. — Respondeu sorrindo e eu fiz uma careta.

Sim, tínhamos filhos, dois, pra ser exata, Amélia de 15 anos, minha princesinha, ela herdou praticamente tudo de Josh, menos a cor dos olhos, e claro, meu principezinho, Derek. Ele tinha três anos, era a fofura das fofuras, cabelinhos loirinhos e olhos cinza, mas claro, ainda parecia com Josh. Dá pra ver que ninguém puxou a essa beleza infinita que eu sou.

Que triste.

— Aliás, a Cynthia te ligou. Disse que queria tomar um sorvete mais tarde, todos nós.

— Ela já voltou de viagem? E, ei! Por que ela não me ligou? — perguntei com uma das sobrancelhas erguidas, era muita falsidade da parte dela não me ligar.

— Ela quebrou o celular, idiota — Ele revirou os olhos e eu ri. — Só tinha o número de casa, e como eu estava em casa... — concluiu, deixando a frase pairar no ar. Murmurei um “Ah” de entendimento.

— Sabe, poderíamos aproveitar esse tempo só nós... Sem as crianças... — sugeri e ele abriu um sorriso de canto malicioso, puxando-me mais pra perto.

— Você está mesmo muito feliz hoje, o que fizeram com minha esposa? — sussurrou em meu ouvido, o que provocou um arrepio por meu corpo inteiro.

— Nada, só...

— Eu o odeio! — Alguém praticamente arrombou a porta, gritando a plenos pulmões, fazendo-me pular e afastar-me de Josh.

— Menina! Quer me matar do coração? — perguntei a Amélia, vendo a jogar a mochila no sofá bege que tinha perto da escada.

Ela estava furiosa com os cabelos pretos desgrenhados dela tanto os puxar. Coitados, eram tão legais...

— Um “boa noite, meus pais amados” ajudaria muito, sabia? — Rolei os olhos e ouvi o moreno abafar uma risada ao meu lado. — O que houve Amélia?

— Boa noite — respondeu a contra gosto, estava faltando um ‘meus pais amados’, mas eu relevaria. — O André, como sempre, aquele garoto adora me atormentar, só isso! Precisa grudar em mim!

Eu ri alto, lembrando da minha própria história. Perdi as contas de quantas vezes cheguei assim em casa por culpa do Josh.

E não, “André” não é nenhum estrangeiro, é tão norte-americano quanto o presidente, culpa da Meredith que deu o nome ao coitado. E sim, Meredith, a coisa, era mãe do pobre André e da Giselle, eram gêmeos, eu até gostava dele.

— Ah, filhota, você vai ver, isso pode acabar muito diferente do que você imagina. — falei, tendo eu mesma como base.

— O que? Tá achando que vamos namorar casar e ter uma penca de filhos? Mãe, você e o papai podem ter se olhado e bum, amor? Mas essa não é a realidade! — explicou como se fosse um gênio e subiu a escada irritada. — Vou ligar pra Giselle, ela me entende!

Pude ouvi-la gritar, Josh me cutucou, olhando-me com reprovação.

— Você disse que ia contar nossa história pra ela.

— Eu ia, mas... Deu preguiça. — Sorri amarelo pra ele que revirou os olhos.

Procurei pela sala meu filhotinho, mas logo ouvi um gritinho fino. Olhei na direção vendo uma coisinha loira com uma mochila enorme correndo até mim.

‘Tá, até mim e Josh.

— Mamãe! Papai! — Ele gritou jogando-se em meus braços, oh coisinha pra pesar.

— Filhote! — O abracei forte, esse filho sim sabe reconhecer o esforço da mãe!

— Vem cá, campeão! — Josh tirou-o de meus braços, tirando a mochila dele (que arremessou pra mim) e o lançou pro alto, pegando o em seguida. Arregalei os olhos vendo o quanto ele era doido. — Quer cozinhar com o papai? — perguntou sorrindo travesso.

— Sim! — gritou empolgado ainda gargalhando.

— Então vai lá se arrumar! — O pôs no chão e eu o entreguei a mochila.

O mesmo saiu disparado subindo as escadas, sorri observando meu filhote tão animado, mas minha atenção curta foi desviada por outro “filhote”. Josh me prensou na coluna amarelinha, toda rabiscada (e não foi o Derek.) me enchendo de beijos, o que me fez rir.

— Sabe que eu te amo né? — sussurrou em meu ouvido, e eu suspirei. Não dava pra ficar a sós com o Josh tendo uma conversa normal.

— Não sei... Acho que preciso de mais provas. — brinquei ouvindo sua risada breve.

— Idiota.

— Idiota que você se casou, agora aguente.

— Só porque você é minha idiota. — Abraçou-me e eu encostei minha cabeça em seu peito fechando os olhos, mas ainda sorrindo.

— Idiota. — sussurrei rindo.

Poderia acabar por aqui, nesse momento extremamente fofo, mas a realidade voltou pra mim num grito, literalmente.

— Mamãe, papai! A Amélia quer me bater! — Derek gritou lá de cima e eu suspirei.

— Vamos, temos dois idiotinhas pra conter. — ele riu, me puxando pelas escadas.

Bem, não dizem que sempre tem uma história depois dos Felizes para Sempre? Então, essa é a minha!