Pov. Kath

Eu estava feliz!

Meu “relacionamento” com o Josh estava indo bem, minha família estava bem, e meu natal foi ótimo!

Eu, o Josh, a Cynthia, o Zack, todos reunidos na casa da minha melhor amiga, junto com as nossas famílias, não poderia ser mais perfeito, e vou confessar, aconteceu um milagre de natal: o Josh teve um flashback rápido de um dos nosso momentos. O que me deixou tão feliz, mas tão feliz que vi a hora de explodir!

Mas, enfim, passamos a noite toda juntos, conversando, brincando, comendo, e até que rolou uns beijos aqui outro ali... Enfim, isso é algo passado. Só saímos de lá depois da meia-noite, muuuito depois.

Mas o Natal havia acabado e vinha o ano novo! E todos nós tínhamos um plano pra essa passar na praia! Teria um show de fogos de artifícios e eu estava louca pra ver.

(***)

Os dias se passaram numa rapidez enorme porque, quando me dei conta, já era véspera de Ano Novo, eu e mais algumas pessoas ficamos responsáveis por organizar tudo. E era uma confusão sem fim, comida para encomendar, o ônibus para locar, e vários outros detalhes que eu tinha que cuidar. Mal falei com Josh nas últimas semanas, mas tinha certeza que o veria no fim de ano, até porque ele foi convidado pro fim de ano, mesmo que não estude conosco. Josh sempre foi muito conhecido e com essa confusão toda por culpa do acidente ficou mais ainda. E, claro, todos insistiram para que ele aparecesse por lá e que fosse com a turma. E por fim, ele aceitou e a turma ficou elétrica.

Os preparativos iam bem... Ou quase

— Cadê o telefone do cara do ônibus?! — perguntei desesperada com vários papéis na mão.

Vários alunos corriam de um lado pro outro dentro da apertada salinha do grêmio estudantil, eu estava num canto tentando ligar para o carinha da comida.

Odeio trabalhar com gente que não sabe trabalhar!

— Já estou ligando, Kath, não se preocupe! — Ouvi Matt gritar de um canto da sala e suspirei aliviada.

Aquela loucura se arrastou até as 19h00min horas, quando todo mundo foi liberado. Tudo estava organizado, ou pelo menos a maioria das coisas. Estava cansadíssima, queria dormir até o ano que vem, mas infelizmente não consegui. Ao chegar em casa apenas tomei um banho quente, jantei e fui dormir. Cedo, muito cedo.

(***)

Acordei com o despertador tocando como louco. Remexi-me na cama com a preguiça me puxando para voltar a dormir novamente, mas não consegui, minha mãe me fez acordar (a força tenho que dizer). Passei minha manhã me arrumando, fazendo cabelo, unhas, escolhendo roupas e esse tipo de coisa, afinal, eu tinha que entrar no outro ano o mais aceitável possível, não?

Quando o relógio bateu cinco da tarde eu me desesperei, tinha me atrasado demais, era para começar a chegar na escola de cinco! Andei desajeitada pela casa tirando umas coisas malucas das minhas mãos e pés e arrumando o roupão gigante da minha mãe no meu corpo. Tomei um banho rápido tentando não molhar meu cabelinho que estava repleto de bugigangas e o melhor: Escovado! Era raro isso, precisava aproveitar.

Assim que saí do banho fui direto pro meu quarto, trocando-me rápido. Tinha separado tudo (tá, foi minha mãe, mas são detalhes), minha lindíssima roupa era um vestido na altura dos joelhos azul escuro com detalhes em renda nos lados, uma sapatilha prateada, joias combinando e uma tiarinha prateada com um lacinho azul. Ela era incrivelmente fofa... E cara! Tive que convencer a moça da lojinha a me fazer um desconto. Logo em seguida minha mãe apareceu disposta a fazer minha maquiagem, não recusei, nunca levei jeito pra isso mesmo. Foi algo leve, um batonzinho rosa e uma sombra num tom que acho que era roxo, ou azul, ou verde... Enfim, eu desci as escadas de casa apressada recebendo elogios dos meus pais, apenas agradeci dando um sorrisinho amarelo.

E pedi minha velha carona, já que eles não querem me da um carro, por acharem que eu não sei dirigir, só por que eu bati o carrinho bate-bate contra 4 pessoas seguidas, isso não quer dizer que eu sou uma péssima motorista.

Que calunia!

Meus pais me levaram de carro, fomos o caminho todo conversando, eles iam pra casa de uns parentes que eu não fazia ideia de quem eram. Assim que cheguei à escola, despedi-me deles desejando um feliz ano novo e corri rápido até o ônibus que estava parado na frente da escola. Entrei lançando um sorriso inocente tentando me esquivar dos olhares de reprovação do povo da minha sala.

Procurei o Josh por entre os assentos e o achei num dos bancos do meio, o lugar ao lado dele estava vago, o que foi ótimo pra mim, ele estava lindo! Os cabelos continuavam grandes, mas ele havia aparado um pouco o que me aliviou uma camiseta azul claro, quase branco, jaqueta jeans preta, uma calça azul escura e o velho All Star que ele tanto amava. Sentei-me ali sem nem perguntar se tinha alguém e pude vê-lo tirar um fone para me encarar com um sorriso de “como você é atrasada”.

— Ok, há quanto tempo estão me esperando? — perguntei temendo ter demorado tanto.

— Ah, quase nada só uns 45 minutos. — respondeu irônico e eu murmurei um “foi mal”.

O caminho até a praia foi bagunçado, os alunos começaram a cantar músicas infantis e andar pelo lugar todo, alunos trombando uns nos outros, caindo por cima dos outros uma confusão só!

Chegamos até um pouco rápido, a praia não era tão longe. Josh preferiu esperar a turma toda sair primeiro, e o esperei. Ele ainda usava as muletas, mesmo que não fosse tão necessário quanto antes, mas como ele não queria se arriscar a levar um tombo (palavras dele), preferia continuar usando as muletas.

Foi meio complicado pra ele descer, mas ele conseguiu em menos tempo que eu imaginava. Linda era a vista da praia, areia branquinha, mar azul, céu estrelado, aquilo parecia um paraíso e eu ainda estava do lado do Josh, isso completava meu paraíso.

Isso soou extremamente clichê e meloso, eu sei.

Passamos umas boas horas arrumando tudo, tinha que arrumar a mesa e as decorações do lugar; a sala foi dividida e cada metade fazia uma coisa. Eu e Zack ficamos na organização das mesas, Josh e Cyn na decoração. O que é errado porque se ninguém percebeu ele está de muletas e isso é mais que errado, mas infelizmente fiquei na minha, apenas arrumando os salgadinhos na mesa.

Quando terminamos tudo estava organizado, os alunos circulavam pela área permitida comendo e bebendo, tinha tochas e luzinhas iluminando tudo, era lindo. Eu peguei uns docinhos e um copo de refrigerante antes de sair andando por aí, para tentar encontrar meus amigos.

Aquilo estava bonito, mas morgado, não tinha nada pra fazer além de comer e beber, e esperando dar meia-noite pra voltar pra casa. Queria me divertir, sei lá, um jogo, quem sabe damas? Damas eram legais!

— Quem está afim de um joguinho pra matar esse tédio? — Alguém gritou, parecia ser a Michelle, a baderneira. Ela sempre fazia brincadeiras de mau gosto.

A maioria soltou alguns gritinhos de aprovação, olhei em volta e não vi a diretora. Deveria estar se agarrando com o motorista. Aquela velha tarada. Fui de encontro com Josh e sentei ao seu lado, mais a frente estava a Cynthia e o Zack.

— Qual vai ser o jogo Michelle? Verdade ou Desafio? — Um dos garotos sentados na roda de alunos na areia perguntou com um sorriso largo.

Verdade ou desafio era a marca registrada dela, era sempre esse jogo que ela promovia, mas daquela vez foi diferente.

— Nop. Jogaremos “Segredos Ocultos”. — Aquilo fez meu sangue gelar. Odiava esses jogos.

— Como é isso? — O mesmo garoto perguntou.

— É assim, cada pessoa fala seu segredo mais oculto relacionado à pessoa do seu lado. Pode ser com ela ou com alguém próximo dela. Quem topa?

Todos concordaram rindo, menos eu. E outras pessoas, mas ninguém se importou com nossa opinião (pobres ignorados). Logo o jogo começou, uns alunos iam falando seus segredos, e a cada um que falava a turma explodia em gargalhadas, admito até eu ria. Os segredos eram diversos desde vomitar no policial até beijar um sapo. Não prestei atenção direito quando um garoto falou algo relacionado ao Zack, estava encarando o Josh abobalhadamente... Certo, isso não soou muito legal.

— Vai Zack, sua vez! — Michelle falou, quase sem ar de tanto rir. O loiro pareceu congelar e ficou vermelho de repente.

— Uh, eu? — Perguntou querendo se esquivar da pergunta, mas várias pessoas gritaram um “Sim” em coro. — Eu, hum, já... Beijei o... Rick.

Cynthia definitivamente surtou ao ouvi-lo, grande parte riu, Josh fez questão de soltar uma gargalhada alta e gostosa de ouvir e eu fiquei abafando uma risada, e a outra metade estava chocada.

— Você... O QUÊ? — Ela gritou furiosa, de olhos arregalados.

— Desculpe! Mas eu estava bebâdo, numa festa, teve verdade ou desafio e era isso ou terminar com você! — Defendeu-se e minha amiga olhou-o com cara de poucos amigos.

— Certo, certo, vamos continuar! Como o Rick já foi é sua vez Josh! — Michelle deu continuidade ao jogo.

— Por que eu? Nem estou do lado dele! — Ele falou nervoso.

— Porque você é o melhor amigo dele, idiota, e vocês ficaram por último.

— M-mas, eu nem sou da turma, só vim porque vocês insistiram!

— Está aqui vai jogar, responde logo, Fanny! — Pressionou-o a loira.

Josh deu uma olhada rápida pra mim, que estava imaginando o que ele diria, será que ele falaria o quanto me ama? Ou dos nossos momentos maravilhosos? Ou de tudo que acha de mim? Que ele sente uma atração inexplicável que...

— Certo! Eu falo — Deu-se por vencido e eu senti meu coração palpitar de emoção. Era agora, ele iria falar sobre o que sentia em relação a mim. — Eu, hum, já tive... Algumas “fantasias” com a... — era meio estranho, mas eu queria que fosse pra mim (não pergunte). — Mãe da Kath.

Minha boca foi ao chão. Minha mãe?! Logo minha mãe? Isso afetou meu ego, bem lá no fundo sabe?

— Josh! — Gritei espantada e algumas pessoas riram, mas eu não me importei. Como ele ousa achar minha mãe melhor que eu? Isso machuca nossa autoestima.

— Ah, fala sério! Sua mãe é um pedaço de mau caminho! — Defendeu-se e eu lhe desferi uma tapa, fazendo-o rir.

Ouvi uns murmúrios de outros alunos concordando com o que ele havia dito.

— Ela é a minha MÃE! — Grunhi tentando pôr algum tipo de juízo naquelas cabeças. — E ela é casada! Muito bem casada!

— Ok, eles já entenderam tudo — Michelle falou novamente ainda rindo. — Vai lá Kath, conta seu segredo.

— Eu? — Certo aquilo não era legal quando acontecia comigo.

— Sim, fala seu pior segredo, você é a penúltima! — Ela insistiu curiosa.

— ‘Tá, eu... Hm, já... Vi o Zack sem roupas pronto falei! — Disse o mais rápido que pude, mas isso não impediu ninguém de entender.

Meu rosto estava mais vermelho impossível, o do Zack também, e Cynthia parecia querer me estrangular.

— Como?! — ela perguntou enquanto todos riam.

— Ah desculpa! Foi sem querer eu fui ao vestiário pegar meu estojo e... Vi! Não me mata! — Pedi fazendo uma careta, o que só provocou mais risos no pessoal.

Ela não disse nada, na realidade ela nem estava me olhando mais, e sim pro Josh. Ambos conversavam por olhares, mas eu não entendia, olhava de um lado pro outro tentando saber o que eles falavam ou pensavam... Ah eu sei lá!

— Cynthia... — Michelle cantarolou e a morena rolou os olhos.

— Eu já sei. — Advertiu, e logo em seguida lançou um olhar de “Me desculpe” pra mim e pro namorado, o que eu não entendi, mas esperei ela falar. — Eu... Traí o Zack — ela falou e olhou para Josh, que fazia um sinal de “não” com a cabeça, mas ela ignorou. — Com o Josh.

Ninguém falou nada, eu só pude ver meu namorado (ou ex, quem liga?) fechar os olhos com força. Eu não conseguia assimilar nada do que foi dito. Como assim ela tinha ficado com ele e nunca me contou? Nem ao próprio namorado pela cara dele...

— Ah... O jogo acabou pessoal, vamos ver quem come mais salgadinho de queijo? — Michelle anunciou e quase todos levantaram menos nós.

— Como assim me traiu com o Josh? Quando isso aconteceu Cynthia? Fale-me a verdade, pelo amor de Deus! — O loiro começou tentando manter o tom de voz firme e calmo.

— Foi logo quando ele chegou à escola — explicou apontando para o moreno enquanto falava. — Tínhamos acabado de discutir, Josh era bonito, popular... Aconteceu! Foi só uma vez, eu juro! — Ela falava afobada.

— É verdade, nunca nos envolvemos mais, foi só uma vez Zack. Foi antes de nos conhecermos até. — Dessa vez foi Josh que falou. Ele estava calmo, brincando com as muletas de forma distraída.

E, novamente, o silêncio ficou por ali todos naquele clima pesado. Ninguém se encarava nem conseguia falar nada, era estranho porque nem eu sabia o que dizer. Cynthia pigarreou, quebrando a tensão dali.

— Podemos deixar esse assunto de lado? É passado... — comentou a morena e nós assentimos e levantamos.

Ajudei Josh a levantar e eu pretendia seguir nossos amigos até a mesa de comida, mas o moreno me segurou. Olhei-o e arqueei uma das sobrancelhas.

— O que foi?

— Nada, só... Não está chateada, está?

— Não... Talvez só um pouco. Sei lá, é estranho, para mim, imaginar vocês dois juntos. — Expliquei dando de ombros e ele riu.

— Mas Kath, não estamos juntos, nem nunca vamos estar, me entendeu? — Falou baixo, aproximando-se mais de mim.

Sorri a ele, abraçando-o e ele retribuiu, afundando seu rosto no meu pescoço, dando um beijo rápido no local, o que me fez arrepiar e estapeá-lo.

— Para. — Mandei com a voz abafada pela jaqueta dele, ouvindo-o rir de novo.

— Boba. — Sussurrou ainda sorrindo, não dava pra ver, mas era meio óbvio que sim.

Soltei-o quando ouvi várias vozes escandalosas gritando algo como: “A contagem regressiva vai começar” ou “Está chegando o ano novo!”. Sorri pronta para ir me juntar com o povo, mas ele me segurou de novo e dessa me puxou para um canto mais isolado da praia, não comentei nada apenas segui seus passos lerdos, apressando-o.

— Anda Josh, ou só vamos chegar lá ano que vem! — Brinquei e ele me deu língua voltando a andar com as muletas.

— Falar é fácil, não é você que tem que andar nessa areia fofa com muletas, bonitinha. — rebateu irônico e eu ri.

Andamos mais um pouco chegando numa parte meio abandonada da praia, mas tinha uma vista ótima para o show pirotécnico (demorei um bom tempo para aprender essa palavra.), então a contagem regressiva começou. O povo na minha sala gritava tão alto que dava pra escutar dali, onde eu estava.

— Dez!

— Sabe, eu preciso te falar uma coisa... — ele começou, sorrindo sem graça.

— Nove!

— E o que é? — perguntei curiosa.

— Oito!

— Devo te falar agora ou ano que vem? — Brincou fazendo careta e eu lhe dei outra tapa, mas rindo também.

— Sete!

— Prefiro ainda esse ano.

— Seis!

— Não, vou deixar pro ano que vem mesmo.

— Cinco!

— Josh! Conte agora!

— Quatro!

— Certo, eu me rendo. — Ele falou erguendo as mãos ao alto, mas logo em seguida deixou as muletas no chão, prensando-me contra uma pedra gigante que tinha ali, e eu, claro, travei.

— Três!

— Eu... — Começou, sendo interrompido pela contagem.

— Dois!

— Te...

— Um!

— Amo...

— Feliz Ano Novo!

E assim eu virei o ano, no meio de um beijo com o Josh, enquanto era espremida contra uma pedra e perdia o show pirotécnico. Mas quer saber, não desejaria nada melhor!

Ouvi passos se aproximando de onde estávamos, mas não me importei, apenas continuei com o beijo querendo que ele durasse um ano inteiro, mas logo ouvi a voz de Cynthia, num sussurro bem alto, se querem saber.

— Olha, que fofinhos! — ela falou com uma voz afetada, fazendo o namorado rir.

— Sim... Mas acho que também podemos ser bem fofinhos... Em outro lugar. — ele sugeriu rindo e ela gargalhou.

— Yeah! It’s Beautiful Love, baby! — exclamou soltando umas risadas, afastando-se.

Eu tenho que admitir uma coisa: It’s Beautiful Love, baby!