Pov. Kath

Eu estava feliz.

Definitivamente, estava feliz! Josh havia acordado e estava se recuperando bem e para melhorar, não tinha nenhuma possibilidade dele voltar para a Austrália. Por quê? O médico dele alegou que ele precisaria ficar aqui, para caso alguma emergência os médicos já tinham a ficha dele e um blá blá desse aí, confesso, não prestei atenção depois de dizerem que ele não iria mais.

Eu acordei cedo, ou seja, antes do despertador tocar. Josh iria à escola hoje, e não queria aparecer atrasada, suada e toda bagunçada. Sei, sei, estou agindo como uma criancinha do fundamental, mas eu não iria deixa-lo escapar de mim, não de novo!

Pulei da cama e fui até o banheiro, que no caso não é no meu quarto. Tomei um banho demorado e relaxante lavando até meus pobres e sujos cabelinhos. Assim que saí voltei para o meu quarto, encontrando minha mãe na porta, me olhando espantada. Ficamos naquela troca de olhares até que eu falei:

— Que foi? — perguntei entrando no quarto ouvindo-a rir.

— Nada... Só é estranho ver minha filha preguiçosa acordar antes de mim. Uma trabalhadora da vida, cheia de...

— Eu já entendi o que quis dizer, ‘tá legal? — interrompi-a, rolando os olhos, novamente, mamãe riu.

Que falta de confiança!

— Tudo isso por culpa do Josh... — Não foi uma pergunta, mas eu quis responder mesmo assim, porque sou teimosa.

— Não... Só gosto de... Acordar cedo? — é, eu deveria mesmo ter ficado quieta.

— Me engane que eu gosto. — rolou os olhos com um sorriso de canto. Mas logo completou: — Não demore, vou fazer o café.

Sorri fechando a porta. Comecei a me trocar, tinha separado uma roupa especialmente para o dia. Parece uma besteira, eu sei. Devem estar se perguntando, “mas não se veem todo dia?”

Na realidade, não mais.

Desde que Josh ganhou uma “alta temporária” para ver se ele conseguiria reabilitar-se ou coisa do tipo na sociedade, eu mal consigo vê-lo. Ele está com um par de muletas, mas mal para quieto. Sua rotina agora é de casa para a Fisioterapia, da Fisioterapia para o médico fazer uns milhões de exames, e de volta pra casa. Conversamos mais pela internet, num grupo do Skype, eu, Josh, Cynthia e Zack.

Mas isso não dura mais que duas horas, o moreno sempre sai rápido, os mil e um remédios que ele toma para evitar qualquer tipo de infecção (“porque seu sistema imunológico está fraco” disse o médico) não o deixa acordado por muito tempo, então todo mundo vai embora, vez ou outra ficamos só eu e Cyn conversando besteiras até o sono vir.

Mas hoje ele iria à escola, teria que refazer a matricula e fazer o terceiro ano, mas bem, eu já tinha terminado o colégio, então... Ele ficaria sozinho, ou com grande parte da turma de repetentes. Ah ele se daria bem com eles!

Assim que terminei de calçar minhas sapatilhas ouvi o grito da minha mãe mandando-me descer para tomar café, e assim fiz. Desci correndo, com a minha mochila espancando minhas costas; quando cheguei na sala quase enfartei ao ver a hora, eram 07:00 horas, eu demorei tanto pra me arrumar? Deus!

— Então, eu fiz um lanchinho pra você e...

— Agora não dá mãe, me atrasei demais. Eu como lá, eu te amo, amo o papai também. Beijos!

— Também te amo querida. Cuidado com os carros! — gritou acenando, rindo enquanto eu tentava guardar o saquinho com meu lanche na bolsa.

Corri tentando não atropelar ninguém e fui para o ponto de ônibus, que por sorte minha carona — carona nada, eu estou pagando! — não demorou, e eu consegui um lugar vago! Maravilha! Arrumei as coisas na minha mochila melhor e esperei avistar a escola. É nessa hora que eu queria o Josh e sua moto, para me dar uma carona.

Desci na minha parada e corri para dentro do colégio, cumprimentando rapidamente o porteiro que tantas vezes evitou que eu perdesse aula. Corri mais um pouco até encontrar uma cabelereira castanha, que estava bem mais longa, e agora com mechas mais claras nas pontas... Ah, Cynthia está querendo ficar careca, só pode! E do lado dela... Zack... Não vou comentar nada, é bem melhor.

— Olá, olá! — disse sorrindo, pulando nas costas da morena.

— Sai de mim, Katheriny! — resmungou e todos riram. — Mas que felicidade é essa? E nem pense em fazer isso mocinha!

— Eu só ia abraça-lo... — tentei explicar, eu queria abraçar o Zack, eu estava feliz, só isso. Gente ciumenta!

— Não, não! Vai, vai, xô! — Rolei os olhos e ela aproximou-se e o abraçou de canto. — Mas por que tanta felicidade? Tudo por que o Josh vem aqui hoje? — perguntou com o velho sorriso malicioso, corei abrindo a boca para negar, quando alguém me atrapalhou.

— O que tem eu? — Josh perguntou atrás de mim, pulei de susto me virando para ele de uma vez, que riu de minha deplorável situação.

— Que susto, seu idiota! — grunhi, lhe dando uma tapa no braço. O mesmo fez uma careta, rindo em seguida.

Josh não mudara quase nada, a única diferença era aquele cabelo que... Ugh, eu necessito cortar, e ele estar com um par de muletas. Mas estava igual, vestindo uma camiseta roxa listrada, uma jaqueta azul claro, calça preta e sapatos também preto, e claro, uma touca que deixava o cabelo dele quase como uma franjinha caindo nos olhos, o que me irritava mais!

— Hey, cara! — Zack disse acenando, o moreno fez um sinal com a cabeça, Cyn também acenou animada pra ele. — Então, como está indo?

— Ah, como sempre. Saio de casa e vou direto para a fisioterapia, da fisioterapia fazer milhões de exames e desses exames pra casa, tomar uns cinco remédios e passar um tempo conversando antes de cair morto na cama. — Explicou rindo um pouco.

Dava pra ver só de olhar pra ele que aquilo era cansativo, na verdade só ouvi-lo me deixava cansada.

— Podemos sentar? — perguntou o moreno e concordamos indo para um banco ali perto. Josh soltou um suspiro de alívio colocando as muletas de lado.

Bem, não é que ele tenha perdido a capacidade de andar, Deus o livre, mas pelo fato de ter ficado muito tempo deitado, sem fazer nada, ele precisava se adaptar novamente, então usaria muletas e fisioterapia por um bom tempo.

Conversamos sobre algumas besteiras, até o casal melação suprema sair para pegar-se em algum lugar dando uma desculpa barata, clássico. Ri vendo-os sair, mas minha atenção totalmente atenta (?) foi desviada ao sentir a cabeça cabeluda do Josh apoiada no meu ombro. Ri mais rolando os olhos.

— Você ‘tá cansado não é? — perguntei e ele sorriu concordando.

— Muito! Quero folga, por favor. — brincou fazendo um aceno com a mão direita. — Odeio fisioterapia. — resmungou fazendo um bico emburrado.

Tirei a sua touca e usei-a para lhe acertar na cabeça, ouvir a risada dele me fez rir também, coloquei a sua touca em minha cabeça e comecei a brincar com aquele cabelo todo dele.

— Não faz isso... — disse sem se mexer, com a voz arrastada e eu ri.

— Corta esse cabelo, Josh! Irrita-me. — reclamei e ele deu tapinhas na minha perna, ainda sem tirar a cabeça pesada dele do meu ombro.

— Por isso ele está grande.

— Vai parecer a Rapunzel já já. — brinquei e ele riu, finalmente tirando sua cabeça de cima de mim.

Ele não disse nada, apenas segurou meu rosto entre suas mãos e me olhou fundo, com aqueles olhos cinza e... Riu, dando-me um selinho.

— E você vai parecer o camaleão da Rapunzel — rebateu enrugando meu rosto, soltando uma gargalhada. Soltei-me dele evitando rir, mas era complicado quando certas pessoas (Josh) não riem como hienas descabeladas.

— Para! — reclamei fazendo bico. Sei que era infantil, mas fazer o quê? Eu era infantil. — E para a sua informação, eu ficaria linda de camaleão.

— Ficaria... — mentiu e eu ri, estapeando-o.

Pude ouvir o sinal tocar e gemi totalmente preguiçosa. Eu não queria estudar, queria ficar ali, conversando o resto do dia com meu namorado (eu sei, eu sei, ainda ex) cabeludo.

— Hora de ir. — a voz dele tirou-me de meus pensamentos.

Senti-o puxar a touca da minha cabeça bagunçando meus cabelos, que obviamente tive que arrumar, não queria virar motivo pra piadinhas. Tudo naquela escola era sinônimo de piadas então preferia me ocultar... Nas sombras.

— Pois é, né... — Falei, levantando-me com a mochila nos ombros. Pude vê-lo se arrumar com as muletas antes de se levantar, murmurando algo por ter que andar com aquilo.

— Josh, vamos logo! Se quiser chegar cedo em casa temos que chegar logo na doutora Anaís! — ouvi a voz da Sra. Fanny ao longe, ela estava acenando para que ele andasse mais rápido.

Pena que ele mal andava.

— Até mais, camaleão! — acenou pra mim e eu retribuí, voltando a andar, ou pelo menos tentar. — Estou indo, sabe como é difícil andar com muletas? — retrucou e sua mãe riu.

Fiquei observando-o ir lentamente até o carro, cumprimentando algumas pessoas no caminho, sorrindo ou acenando com a cabeça. Rolei os olhos vendo que aquela “popularidade” nunca acabaria.

Entrei no colégio correndo, esperando não ter perdido nada da aula de Geografia, ainda bem, a professora nem havia chegado, o que me garantiu um lugar ao lado da Cynthia.

(***)

— Ah adoro o último toque, é tão bom. — espreguicei-me na cadeira, ouvindo a risada do casal ao meu lado. — Uh, é ótimo estar de vela. — comentei fazendo-os parar com o beijo.

— Estraga prazeres. — Cyn deu-me uma tapa na nuca, rolando os olhos.

— Ai! Isso dói.

— Por isso faço, minha criança. — apertou minhas bochechas e eu ouvi o loiro rir.

— Vamos embora, pessoal, aposto que somos os únicos no colégio. — Zack comentou fazendo a namorada fazer uma careta com uma mistura de desgosto, medo e... Um monte de coisa aí.

— Credo! Estou me sentindo as excluídas, vamos, vamos. Temos que sair daqui, pela nossa dignidade colegial! — Fez uma pose heroica e nos puxou para fora.

Fomos atrás dos passos rápidos da minha melhor louca amiga até fora do colégio, onde ela respirou fundo, como se tivesse saído de uma batalha. Um exagero?

Total.

— Sabe que não precisava fazer tudo isso, não é? — perguntei e ela me encarou, tive vontade de me esconder dentro de um pote. — Acho que eu já vou.

— Eu cuido dela, até mais, Kath! — Zack me deu um beijo no topo da minha cabeça e sorriu pra mim, acenando.

A morena também acenou, mas foi mais de leve.

Cynthia sempre levou muito a sério essa coisa de popularidade, segundo ela, não quer voltar a ser “A” excluída. Até porque, se fosse “A” excluída, nunca conheceria o Josh e blá blás.

Corri para o ponto de ônibus novamente, dessa vez tive que esperar alguns minutos, acho que 30, o que me fez desistir e ir andando. Mas, para minha ‘sorte’ assim que pus os pés pra fora do ponto, o meu ônibus chegou e não tive tempo de alcança-lo, o que realmente me fez ir andando, dessa vez sem muita escolha.

Cheguei em casa morta, fatiada e quebrada. Estava tão cansada que no primeiro sofá que vi me joguei, mas não vi quem estava no sofá.

— Ai! Quer me fazer usar muletas pro resto da vida? — Josh protestou e eu pulei deixando minha bolsa e meu celular caírem no chão.

— Bebê! — gritei desesperada, pegando o aparelho do chão, ligando-o rápido. — Desculpe filhote, desculpe... Sabe como são visitas — sussurrei a ele acariciando-o, vendo o brilhar em resposta.

— Hum... Kath? Você está bem? — perguntou claramente segurando a risada.

— Estou. Agora estou. — respondi-o enquanto colocava com cuidado meu celular na estante.

— É novo? — questionou divertido. Olhei-o confusa, e ele apontou para meu celular.

— Ah, sim. É novo sim. Não é liiiindo? — perguntei com os olhos brilhantes na direção do celular.

Branquinho, limpinho e perfeitinho!

— Sim... — comentou, ele parecia estar mais longe que eu imaginava. — Preciso falar com você.

— Falar comigo? O que é? — Perguntei e ele apontou para o lado livre do sofá. Caminhei até ele e sentei-me ainda desconfiada. — Aliás, cadê a minha mãe?

— Estou aqui, por enquanto. Esqueci-me de passar no mercado, tenho que comprar algumas coisas para o jantar, céus! Eu tenho muito que fazer — discutiu consigo mesma, arrumando a bolsa bege nos ombros apressada. — Eu vou sair agora, cuidem-se, e Katheriny não quero netos agora, só depois que terminar a escola, e trabalhar! Juízo!

— Mãe! — gritei tentando não denunciar o vermelho no meu rosto.

— Não se preocupe Sra. Sween, não farei nada — advertiu-a. — Que ela não queira... — isso saiu como um sussurro, mas eu consegui ouvir.

— Oh querido, não me preocupo com você, mas sim com a Kath...

— Mãe! — gritei mais alto, ouvindo-o gargalhar ao meu lado.

— Adeus, meus amores! — despediu-se batendo a porta em seguida.

Josh aproximou-se com um sorriso de canto, ficando próximo a mim, senti meu rosto corar ainda mais quando ele passou uma das mãos pelo meu rosto, acariciando-o.

— Sabe... Eu estava pensando aqui, que tal um “Recomeço”? — disse baixo, mesmo que estivéssemos sozinhos.

— R-recomeço? — Engasguei o que foi mais humilhante ainda pra mim, lindo isso!

— É... Começar do zero, sem todas aquelas coisas que não lembro... — riu. — Então, o que me diz?

Parei pra pensar um pouco.

Era óbvio que ele sabia que eu cederia, eu sempre cedia quando ele fazia aquela voz de derreter qualquer uma e, agora, começava a depositar alguns beijos suaves no meu rosto, descendo ao pescoço. Controle-se e pense!

Eu estou mesmo disposta a deixar tudo o que vivemos de lado e recomeçar? Toda a nossa história do zero...

— Eu aceito!

Depois disso a única coisa que me importou naquele dia inteiro foi o “nosso” momento, ali, juntos. Onde, mesmo sem querer, voltávamos ao que tínhamos começado.

Era bom “Recomeçar”...