Capítulo III - Smiling Angel

– O-oi Castiel, eu só queria saber.. - limpa a garganta. - Bem, é que alguns vizinhos disseram que viram um garoto parecido com o meu irmão de noite pela região, e eu gostaria de saber se você o viu.

Ao fim da sentença, a garota parecia tão vermelha quanto um tomate e recusava-se terminantemente a encara-lo, com aquela típica expressão de adolescente apaixonada, que chegava a revirar-lhe o estômago.

– Por que eu o teria visto? Por acaso ele fugiu de casa? - pergunta disfarçando a sua curiosidade com o deboche, vendo a loira passar a enrolar as madeixas nervosamente com o indicador.

– I-imagina, por que o Nathaniel fugiria de casa?! Ele apenas não voltou de sua maratona de estudos e ficamos preocupados. - diz com a voz tremula, encarando os próprios sapatos nervosamente, enquanto algumas gotas de suor passavam a acumularem-se em sua testa.

Aquela garota idiota realmente não tinha jeito algum para mentiras..

– E você imaginou que ele estaria justamente no meu apartamento? - pergunta encarando-a de forma sarcástica, vendo a garota rir nervosamente.

– E-eu sinto muito, foi uma ideia idiota, eu sei que vocês não se dão muito bem, mas o seu apartamento era o lugar mais próximo, e também, você não foi para escola hoje e eu, bem, e-eu..

De repente a loira tem sua atenção tomada por um estrondo vindo de dentro do apartamento, sentindo seu sangue gelar, enquanto a loira tentava de todas as formas olhar através da fenda, fecha a porta rapidamente atrás de si, ficando a poucos centímetros da loira, lembrando-se tarde demais, que ainda encontrava-se apenas de cueca. Mas que..

– Ca-Castiel! - exclama corando furiosamente, tentando inutilmente não fitar o corpo desnudo do ruivo.

– Fique calma, era somente o meu cachorro fazendo bagunça, esqueci que ele esta sem coleira, já o conhece? - pergunta sorrindo forçadamente.

– Cachorro?! Nã-não, eu sou alérgica!

Ao ouvir outro estrondo, a loira tenta abrir a porta, sendo impedida pelo corpo do ruivo, que sem saber o que fazer a abraça.

– Meu Deus, Castiel! - sussurra sentindo suas pernas bambalearem.

– Ambré, eu sei por que esta aqui. - diz contorcendo a face em uma careta ao sentir o perfume enjoativo da loira, e girando os olhos ao senti-la estremecer.

– Vo-você sabe?! - pergunta timidamente, confundindo com sedutor, o tom de descaso do ruivo.

– É cla-claro. Eu sei que apenas queria um motivo para me ver. - diz entredentes, sentindo-se sufocar pelo perfume, que parecia agora impregnar-lhe a boca.

– Oh Cas.. - sussurra pontilhando com a ponta dos dedos o peito do ruivo que a afasta.

Achando o gesto de ter a mão segura pelo ruivo romântico, a loira encara-o apaixonadamente, confundindo repulsa com consentimento, cerra os olhos, passando a aproximar-se lentamente do ruivo com um bico digno de um baiacu. Franzindo a face em puro asco, o ruivo passa a fita-la sem ação, orando internamente e esperando pelo inevitável.

Felizmente, este não ocorreu. Ao ouvir a porta se abrir, o ruivo só tem tempo de afastar-se da loira e observar boquiaberto, enquanto Dragon latia feliz e pulava sobre esta, levando-a ao chão em meio aos berros.

Surpreso, o ruivo encara a porta, não vendo o loiro em lugar algum do apartamento, volta sua atenção para a loira, não conseguindo conter-se e rindo sonoramente, enquanto esta gritava e gemia desesperada, em meio às lambidas de Dragon. Minutos após, quando finalmente consegue se recompor, chama Dragon, que dá uma ultima lambida na loira e entra no apartamento abanando o rabo, a garota então levanta-se tremula, com os cabelos em total desalinho e grudados a face com baba de cachorro, sua pele antes levemente amorenada, agora encontrava-se vermelha e inchada, com alguns caroços começando a formarem-se.

– E então? Onde nós paramos? - pergunta sorrindo sem graça, enrolando uma mecha de suas madeixas babadas com o indicador, tentando soar sensual.

O ruivo permanece encarando-a fixamente por vários segundos, até que um meio sorriso vai surgindo em sua face e transformasse em uma sonora gargalhada, a loira perplexa com a ação bufa irritadamente, jogando o cabelo para trás e saindo rebolando pelas ruas. Quando vê que é seguro, o loiro coloca a cabeça para fora com uma mão sobre os lábios, não conseguindo mais se conter ao ter seu olhar retribuído pelo ruivo e acompanhando-o no riso.

Entre risos, ambos entram novamente no apartamento com Dragon aos seus calcanhares, sem nada dizer, o ruivo apenas acompanha o loiro em seus passos vacilantes, sentando-se ao lado deste no sofá e pondo-se a brincar com Dragon, sendo acompanhado pelo loiro, que parabenizava o cachorro pelo trabalho bem feito.

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No dia seguinte, o ruivo é acordado por um estrondo vindo da cozinha, empunhando a guitarra com ambas as mãos, passa a caminhar lentamente na direção desta, relaxando ao encontrar o loiro diante do fogão.

– O que esta fazendo? - pergunta encarando-o com o cenho franzido, vendo este encara-lo timidamente e rir sem graça.

– Bem e-eu.. - diz corando levemente, calando-se ao ver o ruivo inclinar-se na sua direção.

– Panquecas? - pergunta erguendo uma sobrancelha, vendo o loiro sorrir.

– Err.. é que você não acordava, e esta quase na hora de irmos para a escola, então..

– Escola? - pergunta passando a analisar o loiro, notando que este se encontrava com os cabelos levemente úmidos e trajava a calça, agora limpa, com que viera para sua casa.

– Sim, já perdemos um dia de aula, então eu pensei que..

– Você esta brincando, não esta? - pergunta franzindo o cenho, vendo o loiro encara-lo de forma confusa.

– Eu não entendo, por que eu estaria..

– Você quer ir para a escola nesse estado?! - pergunta apontando para as bandagens sobre o peito desnudo do loiro, vendo este encobri-los com as mãos.

– Eu já estou melhor.

– É, tem razão. Você não sangra mais quando estica o braço! - diz de forma áspera, vendo o loiro colocar-se na defensiva.

– Eu agradeço por se preocupar, mas como eu disse, estou bem. - reforça desviando o olhar para a panqueca.

– Se esta bem, por que se escondeu ontem quando a Ambré veio te procurar?! - pergunta encarando-o irritadamente.

– Eu não queria que ela me visse nesse estado..

– Você não queria que ela o visse neste estado, ou que o levasse de volta para aquele que lhe fez isso?! - pergunta encarando-o fixamente, vendo este adquirir um semblante sério.

– Eu estou indo, obrigado por tudo, nos vemos no colégio. - diz largando a frigideira sobre o fogão e pondo-se a caminhar em direção a porta da cozinha.

“Droga!” pragueja mentalmente o ruivo.

– Espera! - diz ao ver o loiro passar por si, agarrando-o pelo braço e vendo este virar a face em sua direção.

Ambos os olhos se encontram, primeiro sérios, mas após alguns segundos passando a contemplarem-se mutuamente, sem que ambos percebessem, o ar foi tornando-se cada vez mais denso e suas faces, sem consentimento, passam a se aproximar perigosamente, cada vez mais os olhos tempestuosos mergulhando nos dourados, até que o ruivo desperta do torpor momentâneo e respirando ruidosamente, afastando-se, vendo o loiro ofegar e corar, apoiando-se contra a porta.

Após alguns minutos, já recomposto, sussurra o loiro:

– Suas roupas estão sobre o sofá..

E impotente, o ruivo assiste o loiro sair da cozinha, em seguida, ouvindo a porta do seu apartamento bater com força excessiva. Quem aquele CDF oxigenado pensava que era?

Com um bufo indignado, vira-se em direção ao fogão, só então notando o cheiro de queimado a empestear o ar e apressando-se em desligar a boca acesa. Que ótimo, era só isso que lhe faltava.

Ao ver o prato repleto de panquecas ao lado do fogão, não resiste, levando uma a boca, irritando-se ainda mais ao constatar que Nathaniel cozinhava bem.

“Ao menos serve para algo!” pensa dando as costas às panquecas e caminhando até o seu quarto. Afinal, graças a certo loiro, agora precisava ir para a escola..