O convidado indesejado continuava a avançar através da poeira que a explosão levantou. Todos esperavam silenciosamente e com muito nervosismo que algum milagre surgisse e interceptasse aquela criatura em seu trajeto.

Mas, apenas quando a criatura chegou perto dos quinhentos metros de distância do muro, foi que algo realmente surgiu do outro lado da cidade: Vindo do centro de pesquisas da Umbrella, três caminhões percorriam em alta velocidade as ruas do abrigo em direção à entrada principal. Acima deles estava um helicóptero de carga estilo Chinook, onde seu formato comprido com as duas hélices nas extremidades suportava o peso do contêiner que vinha pendurado por fortes cordas de aço.

Ao ver aquele batalhão científico se aproximando, uma rajada de esperança surgiu em cada um de nós. Talvez eles fossem os possuidores do milagre que esperávamos.

Porém, a criatura do outro lado também percebeu a agitação que vinha de dentro dos muros e começou uma corrida assustadora.

Conforme o monstro se aproximava cada vez mais, era visível sua pele ainda carbonizada pela explosão que parecia sofrer um tipo de regeneração, transformando-a novamente em um tom vermelho vivo de carne recém cortada. O seu traje cirúrgico havia sido queimado e as mangas não existiam mais, deixando apenas os fiapos que pareciam penetrar em seu corpo enquanto ele corria.

Quando tentei focar naquela arma que ele segurava em sua mão esquerda, agora já exposta pela falta da manga comprida que a cobria, percebi que aquilo não era uma arma. Aquilo fazia parte dele: era uma garra gigantesca, com dedos irregulares e grotescos que deveriam servir apenas para fazer estragos em qualquer superfície que tocasse. Essas garras, como que frutos de uma péssima mutação, pareciam levar a parte da pele em decomposição consigo, deixando as veias do braço erguidas sobre o pedaço do corpo de cor escura, podre.

Quando o som do helicóptero se aproximou e alguns cientistas já começavam a descer dos caminhões, o monstro parou de correr e, após tomar uma posição de preparação forçando suas pernas no chão, ele deu um salto que o jogou no muro.

O muro tremulou com a batida daquele gigantesco corpo que agora o escalava.

Imediatamente vários sons de tiros eclodiram de todos os lados, mas isto apenas atrasava-o. Enquanto o corpo de quatro metros escalava o muro, mesmo agitando-se com todos os tiros que levava, o helicóptero passava sobre o muro e atingia o seu exterior.

Rivaille, em uma atitude suicida se jogo ao lado do monstro e em uma fração de segundo cortou as garras que prendiam o monstro ao muro. A criatura caiu no chão e suas garras caíram ao seu lado, separadas. Novamente as pessoas comemoraram aquele feito, e mais uma vez a comemoração não levou mais do que alguns segundos: o monstro levantou-se devagar e, como se simplesmente encaixasse algum tipo de peça, grudou as garras novamente ao seu corpo.

– Então isso é um Nemesis. – Cada vez mais eu me impressionava com o que um Nemesis era capaz de fazer.

Minha fala, apesar de baixa, foi ouvida por Irwin que estava ao meu lado e este pareceu espantado quando eu a pronunciei.

– Não. – respondeu Irwin a minha afirmação que, na verdade, não deveria ter passado de minha mente. – Isso é um Tyrant. Foi o nome que eles deram para o primeiro Projeto Nemesis fracassado.

Irwin, como sempre, mantinha um rosto sério encarando o monstro que se regenerava abaixo de nós. Um Tyrant... então ele era um Nemesis fracassado? Como seria alguma criatura completa do Projeto Nemesis?

Rivaille voltou ao seu posto e enxugou os cabelos negros que estavam molhados de suor. Pela primeira vez eu acho que vi Rivaille tremer de medo.

O monstro, que preparava-se para saltar novamente, foi parado pelo som forte do contêiner sendo jogado no chão. O helicóptero que o carregava não teve o mínimo cuidado ao descarregar o conteúdo: assim que estava a uns dez metros do chão, os cabos de acho foram soltados do contêiner, fazendo aquela grande caixa de metal desabar no chão com uma forte pancada.

O Tyrant virou o seu corpo para o contêiner e, em uma das bases no alto do muro, os cientistas que começavam a se reunir fizeram com que o contêiner fosse aberto.

Foi um pequeno dispositivo que destravou a forte porta do contêiner, fazendo um barulho de trinco quando as barras de ferro se encolheram e deixaram a porta com uma leve abertura.

Assim como todos, meu coração estava desesperado para saber que tipo de salvação viria de dentro daquilo e, como procurando alguma resposta entre os cientistas, encontrei um rapaz de branco que me encarava da base com um sorriso, quase que de orgulho.

Max estava com uma mão no ouvido, apertando algum tipo de aparelho que deveria dá-lo o controle de algo. Ao que nossos olhos se encontraram, ele sussurrou algumas palavras que, apesar da distância, fui capaz de compreender perfeitamente através dos movimentos de seus lábios: “ele acordou”.

O rapaz, após essas palavras, pareceu ter dado alguma ordem em seu aparelho e, quase que no mesmo momento, a porta do contêiner se abriu revelando os seres que estavam dentro dele: um homem com uma armadura moderna abria a porta enquanto, atrás dele, surgia um vulto que o fazia parecer minúsculo.

Ao ver o seu oponente, o Tyrant bateu com força as garras chão e soltou um urro assustador. Seu grito forte ainda trazia as lembranças de que algum dia ele havia sido um humano, já que uma palavra estava entre o berro atemorizante: Umbrella.

Ambos os lados tomaram posição de ataque, até mesmo o pequeno homem entre os monstros estava pronto para lutar.

Agora iria começar a batalha entre as armas criadas pela Umbrella.