Attack on Zombie escrita por Nobody


Capítulo 2
Capítulo 2 - Caminhando




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/455809/chapter/2

Com minha vista embaçada, eu pude ver a janela daquele quarto aberta. Ainda com o rosto quente por conta das lágrimas, coloquei minha cabeça para fora da janela para ver aonde era a casa: ela estava de frente com uma estrada de terra, havia apenas uma casa de cada lado e um mercadinho mais na frente; já no outro lado da estrada, havia uma densa floresta envolvida por cercas. Mas não tinha ninguém na estrada, e nenhum sinal de movimento nas casas ao lado. Hora de sair.

Eu não vou mais desistir, Eren.

Coloquei o cachecol em meu pescoço, peguei a foto daquela família que algum dia eu pertenci e passei pela janela colocando meus pés sobre o telhado íngreme da pequena área. Eu iria fugir da realidade assassina que talvez me pertencesse, iria encontrar Eren e encontrar respostas. Enquanto eu deslizava minhas mãos pela parede em busca de apoio, observava toda a região para que eu tivesse a certeza de que não seria vista. Apoiei meu pé em uma moldura de gesso bem detalhada, um belo rodateto para aquela casa, enquanto segurava em uma calha, pronta para descer.

À media que eu comecei a deslizar lentamente até o chão, um pensamento veio em minha mente: E se eu tivesse matado Eren também?

Minhas mãos soltaram-se da calha e em um estrondo eu caí de costas no chão. Coloquei meu braço sobre os olhos e comecei a chorar novamente. Não... o Eren não... eu não poderia matar ele... ele era... Quem ele era? Me deparei que a única coisa que eu sabia sobre ele era que havia me dado o cachecol e dito para eu lutar, mas era apenas isso. Mas meu coração doera demais ao imaginar ele morto, ele devia ser alguém importante. Aliás, eu sabia o nome dele, mas não me lembrava do meu.

Levantei-me tirando o pó da roupa e olhando para a casa. Lembrei-me das tábuas de madeira nas portas e nas janelas. Eu acho que eu não queria os deixar saírem de lá. Será que eu tinha sido tão cruel assim?

Comecei a caminhar rumo à estrada. Não sabia onde estava, nem para onde eu iria, mas sabia que iria continuar. Olhei para a casa vizinha, ela estava toda trancada também. Tudo estava assim. Será que aquilo era normal? Parti meu olhar para o mercadinho e vi vários carrinhos caídos no chão e produtos espalhados pela rua. O que tinha acontecido ali?!

Fui andando em direção à estrada e encontrei um pacote de salgadinho na rua. Peguei-o e coloquei na minha jaqueta: meu alimento para a viagem. A estrada estava extremamente calma, como se fosse uma ocasião perfeita para alguém que matou duas pessoas fugir sem ser notada, até que eu vi uma pessoa andando no meio da estrada mais adiante: ela estava longe demais para me ver e, talvez, embriagada demais, já que caminhava a passos trôpegos e sem caminho, mas mesmo assim seria melhor não passar por ele. Talvez, mesmo bêbado, ele me conhecesse e perguntasse onde eu estive.

Passei por entre a cerca e adentrei na floresta. Minha vista escureceu de repente, até aos poucos ir se ajustando a baixa luz daquele matagal. Eu deveria continuar seguindo em frente, talvez chegasse a outra cidade ou algo do tipo.

Andei por cerca de uma hora desviando-me da reta de onde ao longe apareciam pessoas. O que elas estavam fazendo ali?

Quando escutei o barulho de um rio corri até lá, pois já começava a sentir sede. Fiz uma conchinha com minhas mãos e bebi um pouco da água. Depois lavei meu rosto e fiquei encarando o meu reflexo. O que eu realmente estava fazendo? Coloquei minhas mãos na água e vi um rastro vermelho passar por ela: sangue. Soltei um grito de exclamação e olhei dos lados, e, pela primeira vez, eu vi uma pessoa realmente perto de mim. Ela estava abaixada a devorar um servo, e com o meu grito ela também me viu. E ergueu-se.

Suas mãos estavam sujas de sangues, assim como a boca. Seus dentes tinham fiapos de carne crua. Mas o pior não era ela matar e comer a carne de um animal cru, era o seu rosto: Os olhos estavam amarelados e sem foco, a pele passava de pálido a um alaranjado podre e uma das bochechas, assim como o pescoço, estava em carne viva borbulhando em larvas. As roupas estavam sujas e rasgadas. Aquilo não era um bêbado. Aquilo grunhiu e começou a avançar rapidamente em minha direção.

Antes de pensar em qualquer coisa eu saí correndo em direção a floresta novamente, e ele me perseguia. Havia uma mulher logo na frente e eu gritei para que ela me ajudasse, mas a ajuda não veio: ao virar o rosto para frente, eu vi seu maxilar descolado coberto de sangue e os mesmo olhos que eu vira no homem. Virei para o lado e corri mais rápido ainda. Algo me dizia que eu devia fugir deles, afinal, não queria acabar como o cervo. Continuei correndo até ter a ideia de subir em uma das árvores.

Entre aquela imensa floresta de árvores de troncos retos, algumas árvores se destacavam possuindo um de seus galhos mais baixo do que as das demais. Agora era só escolher uma. Com certeza a mais próxima.

Comecei a escalar a árvore com certa dificuldade, mas consegui subir até um dos galhos de sua copa, que ficava a uns oito metros do chão. De lá, eu podia ver os galhos de outras árvores se cruzando com os da qual eu estava, formando uma linda camada de folhas que dificultava a entrada da luz solar. De lá, eu também podia ver aqueles dois seres se aproximarem da árvore.

Eu havia tomado uma boa distância deles, e mesmo assim eles continuavam a me perseguir. Primeiro foi o homem quem chegou. Ele tinha diminuído a velocidade e estava passando bem devagar por debaixo do galho em que eu estava. Depois eu vi a mulher mancando e arrastando um dos pés e algo que eu não havia percebido antes: o pé dela estava torcido e quebrado, realmente torcido e quebrado. Eu podia ver o pé inteiro virado de um lado e um osso saindo da perna. Era uma fratura grande demais para que ela continuasse de pé sem sentir dor alguma. Ou então, ela já não sentia mais dor alguma.

Olhei para o homem que começava a se distanciar e para a mulher que se aproximava. Suspirei fundo e apertei com força o meu peito, com medo. Não devia ter feito isso.

O pacote de salgadinho em minha jaqueta, que estava estufado de ar, estourou e fez um estrondo que ecoou pela densa floresta. O homem olhou para cima. A mulher também. Eles me acharam.

Talvez eu conseguisse fugir, afinal era só dois, ou melhor, só um. A mulher estava muito debilitada para poder me alcançar se eu corresse muito rápido. Ou então eu poderia tentar conversar, talvez eles apenas estivessem muito machucados e procuravam uma ajuda em mim. Não. Realmente não era a segunda opção. Aquelas coisas não poderiam mais ser humanas. Era melhor a primeira alternativa. Comecei a descer em um galho, até ouvir mais grunhidos vindos por todos os lados: havia mais deles. Dois se aproximavam rapidamente pela frente, três da direita e quatro da esquerda, apenas um vinha por trás. O som os havia chamado até mim.

Subi novamente para o galho de cima e fiquei sentada observando eles cercarem o tronco da árvore raspando as mãos nele em uma tentativa de subir. Havia um total de 12 em volta da árvore, um quase esmagando o outro em uma tentativa de me alcançar. Todos deformados e com a pele em estado de apodrecimento. Todos com o mesmo olhar amarelo doentio. Todos querendo me pegar para saciar a fome.

Fechei meu olhos para tentar encontrar calma naquele lugar. Não encontrei ela. Procurei então alguma última lembrança, uma última recordação para me lembrar antes que eu aceitasse que iria morrer. Não encontrei também. Tudo certo, eu não deveria ter sido uma boa pessoa mesmo. Então, a única lembrança que eu tinha me encontrou: o menino colocando o cachecol em meu pescoço e o som da sua voz me pedindo para lutar. Lute... Lute.

Está certo. Eu não vou mais desistir, Eren.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E agora, o que vai acontecer ? Acho que até agora, nem eu sei :)

Por favor, coloquem comentários sobre o que estão achando, preciso saber se estão gostando ou não ..
Comentários, tanto positivos quanto negativos, são sempre bem-vindos :)