Attack on Zombie escrita por Nobody


Capítulo 10
Capítulo 10 - Lembranças




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E então, tudo era sangue.

O sangue de meus pais se misturava com de outros homens caídos. E no meio daquele sangue, tinha um garoto que me salvara dos ladrões que assassinaram meus pais. E assim ele me entregava o cachecol de seu pescoço e me acolhia junto com a sua família.

Depois que a imagem melancólica sumiu, uma cena mais colorida começou a aparecer:

Uma televisão anunciava que não iria mais ter aulas. Tinha um aviso estranho na TV sobre alguma ameaça biológica, mas ele passou tão rápido que não foi algo que teve relevância em nossa família. Ah, a família... O homem estava sentado na poltrona e eu estava do lado da mulher no sofá. O menino, que já estava moço, estava deitado no tapete persa da sala. Minha nova família: Os Yeager.

Eren e eu estávamos indo comprar alimentos no mercadinho perto de casa quando vários aviões sobrevoaram o nosso pequeno bairro, aviões de guerra. Nos outros dias os anúncios de emergência começaram a ficar mais frequentes, mostrando o caos espalhado pela maior parte que cercava Raccon City. A primeira recomendação era ficar em casa, sair apenas quando por necessidade extrema. Mas nenhum de nós parecia compreender a situação, afinal, sempre pensamos que aquele mal que atinge outros lugares não nos atingirá. Mas depois de mais duas semanas, os Estados Unidos inteiro já estava naquela confusão.

E então, a imagem do primeiro mordedor apareceu. Eu estava encostada a um baobá enquanto Eren brincava com Teddy, o nosso pastor alemão, quando um grito de desespero surgiu ao fim da estrada. Eren saiu correndo pedindo que eu ficasse, mas eu o segui, sempre o seguiria.

Enquanto corríamos até a estrada, mais outros gritos foram ouvidos. Um guarda local começou a atirar na pessoa que causava aqueles gritos, mas ela não se importava com a dor dos tiros. Ao longe, mais uma surgia correndo e arrancando pedaços de qualquer um que entrava na frente. Ao ver aquela cena, Eren pegou em meu braço e saiu correndo de volta para a casa.

“Está começando” foi tudo o que ele disse. Entrou e trancou a porta. Seus pais olhavam assustados para nós quando o Eren trazia do porão várias tábuas de madeira e pedia a nossa ajuda para colocá-las nas portas e nas paredes. Quando concluímos o trabalho, fomos até o segundo andar, onde ficava nossos quartos, e observamos a situação do nosso pequeno vilarejo em meio a estrada: Pessoas corriam desesperadas para as casas, algumas saíam com os carros pela estradas atropelando qualquer um, outras assaltavam o mercadinho antes de saírem desesperadas para a floresta e tinha aquelas que apenas observavam o caos, como nós.

Pessoas pálidas e canibais estavam pela rua se alimentando de nossos conhecidos, vizinhos, amigos... Apenas naquele dia já tinha mais de seis mortos caídos na rua, mas na manhã seguinte já não havia mais nenhum.

Aos poucos todos os canais de TV anunciavam a mesma notícia de uma corporação conhecida por seus produtos farmacêuticos, a Umbrella Corporation: “Fiquem em casa que as autoridades irão salvá-los. Caso precise sair, saia armado. Acerte na cabeça. O vírus se espalha por arranhões ou mordidas”. Enquanto esses anúncios passavam, imagens do exército lutando contra aquelas coisas eram transmitidas. O mundo estava em guerra.

Esperamos na casa por dois meses, saindo apenas para ir ao mercado pegar alimento para encher a dispensa. Saíamos sempre pela janela do quarto de Eren e dificilmente encontrávamos algum daqueles seres. Por isso, o primeiro que matamos estava dentro do mercado.

Eren estava com um machado na mão e eu com um peixeira. O rapaz pegava os alimentos quando uma daquelas coisas começou a se aproximar por trás dele. Eu saí correndo e finquei a peixeira no coração daquilo, mas ele continuava a balançar os braços em uma tentativa de me agarrar e a bater suas mandíbulas querendo me morder. Eren virou-se e golpeou com o machado a cabeça daquela coisa. Ele começou a acertá-lo até que o crânio se abriu. Os respingos de sangue manchavam a nossa roupa, mas Eren continuava a atingi-lo.

–Eren, já chega. – Coloquei a mão em seus ombros enquanto o encarava. Minha voz era calma e sem emoção.

O moço bateu em minhas mãos, arrancando-as de seu ombro bruscamente, enquanto encarava-me com ódio.

– Mikasa! – Ele aproximou sua mão de minha cabeça e bateu fortemente com o seu dedo em minha testa. –Lute! Você tem que lutar! Mas faça direito! Acerte na cabeça!

Ele pegou os alimentos e saiu. Agiu como se já tivesse feito aquilo antes e andava orgulhoso por me dar uma ‘lição’.

– Mãe! Pai! Voltamos! – Eren descia as escadas que terminavam na sala com a sacola cheia de alimentos, e eu, com mais uma sacola na mão, corria atrás dele. – Alguma notícia na TV?

O Sr. e a Sra. Yeager estavam sentados de frente para uma TV sem sinal. Eles não disseram nada, apenas olharam para nós com rostos tristes enquanto o rugido da televisão se espalhava pelo ar.

– Oh não... – Eren agachou-se perto da TV deixando os alimentos caírem no chão e começou a tentar arrumá-la. – Mas agora nunca saberemos o que está acontecendo!

Por esses dois meses, o anúncio da televisão nunca havia mudado, o que mudava era apenas as imagens de guerra que passavam no fundo. O que tinha provocado tudo aquilo ainda era um mistério para nós. E o que nos dava esperança era a mensagem que dizia que iriam nos salvar. Mas eles não iriam.

O rapaz não aguentou ficar uma semana sem notícias de como estava o mundo e resolveu sair para encontrar mais sobreviventes. Seus pais o impediram, mas ele iria mesmo assim. Seus pais me impediram, mas eu iria com Eren para qualquer lugar.

Por duas semanas caminhamos até a cidade grande e no caminho aprendíamos a matar aquelas coisas cada vez mais rápido. Eren era de certo mais fraco que eu, mas ele tinha uma determinação que o fazia se tornar cada vez mais forte. Quando chegamos na cidade, um grupo de jovens nos salvou de vários mordedores e ficamos com eles por três meses.

Eren fez amizade com todos rapidamente, mas eu parecia estar sempre tão reclusa. Quando eu conversava com as outras pessoas, minha resposta era direta e minha voz indiferente. Eu não precisava daquelas pessoas, estaria tudo bem desde que eu estivesse com Eren.

No 3º mês em que estávamos com eles, todos os dias uma mensagem era transmitida nas frequências do rádio. “Abrigo, proteção, alimento, sem vírus. Esperaremos no porto de Seattle ao pôr-do-sol.” Os jovens iriam arriscar. A moça loira que liderava-os, Annie, convidou-nos para ir com eles, mas Eren recusou.

– Nos encontraremos lá! – Disse um dos jovens que se despedia de nós esperançoso.

Eren parecia confiante e alegre por ter aquela notícia. As pessoas daquele grupo também não sabiam o que havia dado início aquele inferno, mas se ajudavam a sobreviver e procuravam respostas. Annie ensinou-me a manusear uma espada e nós duas poderíamos acabar com vários seres monstruosos em poucos minutos. Ela era muito boa. E eu também. Porém, não conseguíamos trabalhar em equipe.

Estávamos voltando para nossa casa agora, iríamos levar nossos pais para o abrigo anunciado no rádio e para que chegássemos mais rápido, atravessamos a floresta.

A floresta estava calma e tranquila, até que vários mordedores apareceram em nosso caminho devorando algum animal grande. E quando eles nos viram, começaram a correr até nós.

Corríamos encontrando vários outros zumbis que logo se juntavam ao grupo atrás de nós. Um que surgiu em nossa frente correu para cima de Eren. Aquela coisa pulou em cima de Eren que defendeu-se com o braço, mas o pulo derrubou-os no chão e logo o rapaz deu-lhe uma machadada na cabeça e levantou-se com um olhar trêmulo. Sua mão. Tinha um leve pedaço arrancado acima de seu pulso. Ele apertou o ferimento e começou a correr para os lados para se distanciar daquelas criaturas que nos seguiam. Eu fui atrás dele. Quando ele me viu o acompanhado, parou subitamente.

– Mikasa, volte. Você sabe que eu não vou poder ir...

Sua visão concentrava-se ao longe esperando que os mordedores aparecessem para que voltasse a correr. Seu rosto esboçava angústia, seu corpo tremia e seus olhos claros estavam inquietos.

– Não! Você só foi mordido na mão! Você vai ficar bem!

– VOCÊ SABE QUE NÃO MIKASA!

– Eren... – meus olhos enchiam-se de lágrimas enquanto o rapaz arrancava um pedaço de sua roupa para estancar o sangue. Meus lábios estavam tão trêmulos quanto a minha voz chorosa – Eu não posso deixar você aqui!

O rapaz aproximou-se de mim e segurou minha nuca com sua mão limpa enquanto aproximava o seu rosto do meu. Seu calor estava cada vez mais forte e sua respiração se misturava com a minha, que estava pesada e nervosa. Mas tudo isso foi rompido quando ele arqueou para trás e voltou com a cabeça batendo em minha testa.

– Não seja tonta, Mikasa! – Ele tentou dar um sorriso. – Eu me viro.

Ele então me empurrou para trás e começou a correr para a direção em que vinham os mordedores, virando bruscamente para o lado quando chegou perto deles. Todos aqueles seres foram atrás de Eren. E eu saí da floresta e esperei do outro lado da cerca.

Esperei duas, quatro, seis, oito horas... mas o Eren não aparecia através daquela cerca. Eu deveria ter ido atrás dele, deveria tê-lo salvado.

Olhei para os lados e vi a placa da entrada de nosso vilarejo. O Sr. e a Sra Yeager estavam lá e Eren queria levá-los para o lugar seguro anunciado no rádio. Está bem, Eren. Eu irei protegê-los por você.

Cheguei a nossa casa e quando coloquei meus pés dentro do quarto de Eren, um aperto profundo atingiu meu coração. Um aperto que parecia sufocar-me. Tirei meu cachecol do pescoço, beijei aquele tecido vermelho e coloquei-o em cima da cama. Perdão Eren.

Comecei a gritar para que Grisha e Carla Yeager soubesse que eu tinha voltado. Entrei no meu quarto e separei uma troca de roupa para vestir, mas antes de me trocar, desci as escadas correndo para falar para eles sobre o abrigo. E sobre o que aconteceu com Eren.

Porém, quando eu desci as escadas, a poltrona em que estava sentado o Dr. Yeager estava manchada com um pequeno rio de sangue e ele tinha uma espingarda na mão. Meu corpo vacilou atordoado ao ver que Carla também estava no chão, com mãos cruzadas sobre o peito e com a cabeça perfurada por um tiro. Eles se mataram?

Um grito de dor partiu de minha garganta, um grito que vinha do coração. Eu já estava ajoelhada no chão apertando fortemente meu peito. Eu havia perdido toda a minha família? Outra vez? Eren... eu não tive forças para ir salvá-lo. Olhei novamente para os corpos sem vida.

Eu não tinha motivo para viver também.

Peguei a arma das mãos já endurecidas do homem e apontei em minha cabeça. Disparei, mas ela estava sem balas. Minha frustação aumentou. Eu não poderia nem morrer?!

Olhei então para os potinhos de remédios na estante. Uma última alternativa. Larguei a arma ao lado da estante e comecei a abrir todos os potinhos rapidamente enquanto minhas lágrimas caiam sobre minhas mãos trêmulas. Eren...

Esvaziei vários potinhos e engoli todos aqueles comprimidos de uma só vez. Um pouquinho depois, minha visão começou a se embaçar e fisgadas de dor passavam em meu coração. Tudo começou a escurecer e eu tombei no chão. Estava pronta para o sono eterno. Me perdoe, Eren.

Porém, eu acordei.

O forte raio do sol entrava pelas frestas de madeira presa na janela. Foi ele que me acordou. Ele não deveria ter me acordado.


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Notas finais do capítulo

E aí pessoal! Tudo beleza?
Então... perdoe-me por estar fazendo capítulos grandes ultimamente, talvez sejam mais cansativos que os outros.
E também queria me desculpar com a velocidade que os fatos ocorreram neste capítulo. Mas conforme o tempo as coisas necessárias serão detalhadas :)
Mas e aí, o que acharam?
Esperando reviews ;P



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