Apenas Tudo escrita por Liminne


Capítulo 1
Apenas Tudo




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O sol queimava num céu azul estonteante. Os raios atingiam sua pele morena e pequenas gotículas de suor já começavam a se formar debaixo de sua franja e na sua nuca. Não via a hora de entrar em casa, se esticar em uma daquelas espreguiçadeiras coloridas embaixo de um grande guarda-sol e ler um bom livro.

Seriam férias maravilhosas. Sozinha numa grande e linda casa de veraneio com piscina, um jardim aconchegante e espaço suficiente para seus livros e seus pensamentos.

Carregava as sacolas do mercado. Assim que chegara à cidade, fora comprar os mantimentos. Sabia que teria que se preocupar com algumas instalações e coisas aborrecedoras do tipo, mas... Por enquanto só comida e bebida era suficiente.

- Olá! – assim que pisou na calçada da casa, uma mulher apareceu sorridente. Até demais, a morena pensou franzindo os olhos azuis. Aquele sorriso brilhava muito com o sol. – Foi você quem alugou essa casa de veraneio? – apontou.

- Sim. – ela respondeu. – Vou ficar algumas semanas.

- Muito prazer! – a outra cumprimentou animada. – Eu sou sua vizinha, Aira Natsumi. – estendeu a mão.

- Nico Robin. – a morena respondeu e em seguida olhou para as sacolas como quem pede desculpas por não poder apertar-lhe a mão.

- Ah, tudo bem! – a mulher não ficou ofendida. – Escuta... Você vai precisar de alguém para cuidar das coisas por aí, não é? Quero dizer... O encanamento, a pisciana, a grama... Seria muito aborrecimento cuidar disso nas suas férias. – balançou a cabeça. – A casa esteve bastante tempo sem ninguém. Você sabe que os antigos donos dela...

Tudo que Robin queria era entrar em casa, procurar sombra e água fresca. Apesar de sua vizinha estar sendo bem simpática, não estava muito a fim de ouvir a história do motivo pelo qual a casa tinha sido abandonada. Então tentou resumir por ela.

- Então o que você me sugere que eu faça para poupar esse aborrecimento? De ter que cuidar das coisas por aqui.

- Ah. – ela se interrompeu, mas ainda sorria. – Eu aconselho que ligue para um faz-tudo.

- Um faz-tudo? – Robin achou graça. – E o que seria isso?

- Bem... Um homem que faz de tudo. – riu. – Tem muitos por aqui. Daqueles que precisam arrumar dinheiro, mas não são muito bons de usar a cabeça!

Aquilo foi um alívio! Embora ela quisesse mesmo ficar sozinha.

- Certo. Então como faço para encontrar um desses?

- Eu vou te dar o telefone de um. – Natsumi disse.

- Obrigada.

- Não tem de que! – balançou as mãos. – É o dever dos vizinhos!

Bem. Dessa Robin não sabia.

 

****

 

Guardava os mantimentos enquanto esperava o tal do faz-tudo aparecer. Se incomodava um pouco de ter um estranho dentro de casa no seu primeiro dia de férias, mas... Pelo menos era melhor do que ter que aparar a grama do quintal sozinha.

A campainha tocou.

Ela terminou de guardar as compras e foi até a porta atender.

- Roronoa Zoro, o faz-tudo. – o homem se apresentou carrancudo, assim que ela pôs os olhos nele.

- Boa tarde, Zoro. – ela respondeu de um jeito mais ameno do que de costume. Na verdade, é porque estava segurando um pequeno riso.

Não era de rir à toa, mas aquela pessoa era tão clichê que chegava a ser ridículo.

“Daqueles que precisam arrumar dinheiro, mas não são muito bons de usar a cabeça”.

A frase de Natsumi estava estampada na cara daquele tal de Zoro.

Quer dizer... Ele era muito alto, muito musculoso e bronzeado. Tinha olhos pequenos, um rosto ossudo e uma expressão dura assim como pareciam ser suas enormes mãos. E sua cabeça. Que era verde por sinal. Sim. Ele tinha cabelos verdes! E usava três brincos em uma das orelhas.

Podia visualizá-lo carregando-a com um único dedo, mas jamais na frente de um dos livros que costumava ler.

Mas deixando o preconceito de lado... Afinal, ela não o havia contratado para isso. Precisava dele de algum jeito.

- Entre. – ela deu passagem.

Ele entrou sem dizer nada, apenas movendo os olhos de um lado para o outro.

- Então... Você faz tudo mesmo? – olhou para ele por cima do ombro, com um sorrisinho enigmático.

Ele arqueou de leve uma sobrancelha.

- É o meu trabalho. – respondeu seco.

- Ótimo. Porque eu tenho uma lista bem grande para você.

Por algum motivo, o tom de voz dela o irritou.

 

****

 

Quatro e pouca da tarde e Zoro terminava de ajeitar o encanamento. Àquela altura ele já havia capinado todo o quintal e cuidado de algumas instalações elétricas.

- Pronto. – ele pôs-se de pé, na cozinha. Estava muito quente, então Robin não podia determinar se o peito dele estava molhado ou suado. Ou os dois.

Não que fizesse diferença.

Ele estivera com aquela mesma cara amarrada o tempo todo. E como ela não era de puxar muito assunto, também não disse nada.

Parecia uma situação incômoda, mas pelo menos para ela, não estava sendo tanto quanto imaginara.

Andou até a geladeira então e abriu-a. Tirou de lá uma garrafa de cerveja e colocou na mesa, diante dele.

- Você deve estar com sede. – ela disse.

Ele ergueu um pouco as sobrancelhas, mas não demorou muito para que as apertasse de novo.

Então ela não era tão esnobe quanto parecia. Não que ele se importasse, mas... Quer dizer. Aquela era uma marca de cerveja bem cara.

- Valeu. – ele agradeceu meio sem jeito e esticou o braço para tocar na garrafa. Mas ela interrompeu-o colocando uma jarra de água com força em cima da mão dele.

- A cerveja não. Essa é pra mim. – sorriu maldosa. – Você não pode beber, está trabalhando.

Ele diminuiu ainda mais os olhos pequenos e comprimiu os lábios. Como imaginara. Ela estava querendo tirar uma com a cara dele, só podia. Notara isso desde que ela abrira o primeiro sorrisinho arrogante ao vê-lo.

Sem tirar os olhos da expressão furiosa dele, Robin encheu um copo de água e empurrou-o.

- De nada. – aumentou o sorriso.

Ele bebeu a água numa fração de segundos e quase esmagou o copo entre os dedos enquanto ela arrumava uma bandeja com a cerveja e petiscos – para ela, é claro.

- Agora a piscina. – ela disse e foi andando na frente, largando a bandeja na mesa. – Ah. – parou no meio do caminho. – Traz a bandeja, sim?

Ele cerrou um punho e trincou os dentes.

- Você não pode fazer isso sozinha, não?

Ela arregalou os olhos teatralmente para ele.

- E eu te contratei para que? Achei que fizesse tudo mesmo.

Ele engoliu um palavrão, pegou a maldita bandeja e seguiu-a.

Ela sorriu satisfeita.

Os dois foram para os fundos da casa, onde havia uma enorme piscina e espreguiçadeiras com guarda-sóis.

Ela sentou-se em uma das cadeiras confortáveis e fez com que ele arrumasse a bandeja em uma mesinha ao lado.

Ele fez tudo com aquele olhar furioso e direcionou-se à piscina que devia ser tratada. Antes de começar, porém, tirou a camisa molhada.

Não o fizera antes por respeito, mas pelo visto ela não merecia respeito nenhum. Não por causa do lance da cerveja – não por isso - mas por ela ter olhos azuis tão superiores e aquele sorriso audacioso. Como se ela pudesse mais que os outros. Quem ela estava achando que era?

Virou o rosto para constatar se havia causado impacto na mulher que nem sabia o nome. Mas não. Ela estava lendo um livro tão grosso que quem sentiu impacto foi ele mesmo. Ficava espantado de ela conseguir segurar aquilo, quanto mais ler todo aquele conteúdo.

Ela ergueu os olhos do livro e mirou-os nele com uma expressão irritante de “O que você está olhando, serviçal?”

O rosto dele queimou de raiva e ele tratou de voltar-se para o seu afazer.

Então era isso. Ela era uma intelectual, rica e metida à besta. Hunf. Grande coisa.

Continuou seu serviço, mas quando se virou para pegar o cloro, quase cambaleou para dentro da água. Porque, fala sério! Ela estava tirando a própria blusa revelando o biquíni que usava por baixo e... Nossa. Um par de seios enormes e curvas hipnóticas. O homem ficara paralisado e com cara de idiota. Só faltou mesmo cair para parecer mais patético.

Então além de inteligente e endinheirada ela também era extremamente atraente. Que ótimo!

A verdade é que ele já havia notado antes de ela tirar a blusa, mas... Agora ficava impossível de ignorar.

- Zoro! – a voz dela o fez acordar. – A piscina fica na sua frente, não aqui.

Sentiu-se corar e virou irritado. Por que ela tinha que ser tão... Tão...

- Quando terminar aí... – ela continuou falando. – Quero que me ajude com uma coisinha lá dentro.

Ele não se dignou a olhar, mas pelo tom de voz, ela parecia estar sorrindo daquele jeitinho irritante. Ou talvez fosse sua imaginação.

Mas mesmo sabendo disso ele não pôde deixar de ficar curioso sobre o que ela estava falando. Era bem provável que ela só fosse maltratá-lo mais um pouco, mas... De algum modo... Argh! Ele não era bom mesmo em ficar pensando tanto!

 

****

 

Assim que o sol ficou mais fraco, quando Zoro já sentia a cabeça quase rachada de tanta quentura, Robin chamou-o para dentro da casa.

Estava estampado na cara dela que ela havia feito de propósito em deixá-lo no sol até agora.

Pelo menos agora ia finalmente descobrir o que ela queria que ele fizesse. Quer dizer... A casa já parecia perfeita, ele havia feito tudo o que geralmente fazia em casas há muito não usadas.

A morena parou na sala de estar onde havia deixado as malas e sinalizou para elas.

- Essa mala vermelha. – disse. – Me ajude a levá-la lá para cima. – e foi rumando para as escadas.

Zoro pegou a tal mala vermelha e se espantou com o peso dela. Não que ele tivesse alguma dificuldade para carregá-la, mas... O que diabos tinha ali dentro? Tijolos preparados só para atormentar a vida de um faz-tudo?

Mas ele não ia perguntar. Não era esse seu trabalho. Ao invés disso, só foi seguindo-a até que chegaram a uma salinha vazia no segundo andar.

Ela virou-se para ele sorrindo. E pela primeira vez não parecia... Hun... Má.

- Eu não sei para que usavam essa sala quando moravam aqui... Mas eu a achei perfeita para os meus livros.

Livros?!

O homem olhou para a mala pesada que havia posto no chão. Então os tijolos eram livros?!

Lembrou-se do livro que ela estava lendo na beira da piscina. É... Não era de se espantar tanto.

- Quero que você os arrume ali! – apontou para as prateleiras pregadas à parede e sentou-se no pequeno sofá que havia na sala.

Ele arqueou uma sobrancelha pra ela.

- Arrumar... – abriu a mala e se deparou com aquele mundo de livros. – Isso tudo?!

- Sim. – ela fez que sim com a cabeça. – Você é meio devagar para entender, não é?

Cerrou os dentes. Ela estava passando dos limites!

Resolveu parar de questionar e começou a colocar os tijolos nas malditas prateleiras.

- Eu não acredito que você lê tudo isso. – ele resmungou, mas na verdade nem era para ela ouvir.

- Por que não? – ela cruzou as pernas e inclinou o corpo para frente. – Você não gosta de ler?

Ele prendeu um suspiro na garganta.

Ela riu.

- É claro que não. Se você passasse seu tempo lendo, não teria músculos tão definidos.

O tom dela foi insuportável.

Tanto que ele não se agüentou.

- Você está o tempo todo tentando me chamar de burro ou é impressão minha?

Ela mordeu o lábio inferior com uma expressão engraçada.

- Eu não estou fazendo isso.  – deitou no sofá. – Só estou realmente impressionada com o seu físico. Deve ter te dado muito trabalho.

Ela estava falando sério?!

Ele ficou sem fala. Talvez fosse mesmo burro e não conseguisse distinguir um elogio de uma ironia.

- Você não precisava ter tirado a camisa para exibi-los.

Ele segurou a vontade de jogar o livro que segurava nela.

- Eu estava com calor. – disse entre os dentes.

- É mesmo? Por que não disse antes?

Ele lançou-lhe um olhar mortífero, mas ela apenas sorriu fraquinho de volta.

- Quando você terminar o serviço, pode experimentar a piscina. – ele até estranhou. – O que acha?

Preferiu dar de ombros a responder. Mas bem que ele queria aceitar o convite.

Ficaram alguns minutinhos em silêncio até ele suspirar e anunciar:

- Terminei.

Ela levantou e foi até ele. Olhou-o nos olhos por um instante e fez com que o coração dele desse um pulo fora do ritmo. Em seguida encarou os livros e balançou a cabeça desanimada.

- E cadê a ordem alfabética? – pôs uma mão no quadril.

Ele indignou-se.

- V-Você não disse que tinha que estar em ordem alfabética. – defendeu-se.

- É claro que eu disse. – ela fechou os olhos como se estivesse buscando paciência para lidar com alguém tão idiota. – Por favor. Arrume isso direito. – voltou para o sofá soltando o ar ruidosamente.

Ele começou a tirar todos os livros e jogá-los no chão com raiva.

- Ei, ei! – a voz dela ficou mais alta. – O que está fazendo?! Você pode não gostar de ler, mas eu gosto e meus livros são importantes pra mim!

Ele olhou feio para ela.

- Qual é o seu problema?! São só livros! Eles têm capas grossas e não tem sentimentos, tá? – “Diferente de mim!” pensou em acrescentar.

- Mas eu tenho! – ela foi até ele de novo e fitou-o séria. – E ferir os meus livros fere os meus sentimentos!

- Há! – ele riu irônico. – Que engraçado. No fundo da minha mente eu podia imaginar que os livros fossem sofrer com os meus maus tratos. Mas nunca me passou pela cabeça que você fosse sofrer com alguma coisa!

- O que quer dizer com isso? – ela diminuiu os olhos para ele.

- Quero dizer que você não tem sentimentos. – levantou um pouco o queixo e cruzou os braços.

- É claro. – sorriu pequenamente. Em seguida foi andando até a porta. – Quando terminar, nos encontramos lá embaixo. – saiu e bateu a porta sem muita força.

 

****

 

Zoro desceu irritadíssimo um tempo depois. Quer dizer. Os nomes daqueles livros eram impossíveis! Tinha letras que ele nunca vira na vida! Como ia conseguir colocar aquilo em ordem alfabética decentemente?

Ela sabia disso!

Devia ser uma pessoa muito, muito mimada mesmo!

Chegou lá embaixo e não a viu. Foi então novamente até a piscina e ela estava lá, com um colchão inflável vazio na mão.

- Encha. – ergueu-o para ele.

Ele foi andando a passos duros até ela e praticamente tomou o colchão de sua mão com violência.

Começou a enchê-lo enquanto ela molhava os pés na piscina, sentada no deque, parecendo pensativa.

Olhou para o céu e viu que o sol estava se pondo.

- Você vai ficar sozinha nessa casa o verão todo? – perguntou entregando a bóia para ela.

Ela apenas esticou os lábios. Aquilo era sim ou não?

Ficou esperando ela dizer mais alguma coisa, mas só o que ela fez foi tirar o short que usava, jogá-lo em cima dele e entrar na piscina com o colchão amarelo.

Observou enquanto ela se acostumava com a temperatura da água e deixava o objeto inflável boiando na enorme piscina. Ela não ia usá-lo, não é?

Okay. Ela também não ia responder sua pergunta.

Mas e daí? Ele não queria saber mesmo! Do jeito que ela era, não se admirava de ela ficar sozinha por meses!

- Olha. Já está anoitecendo. – ele se pôs de pé. – Já tá na hora de eu ir embora.

- Não. – ela olhou desafiadora para ele. – Você pode ficar esperando eu enjoar de nadar para me trazer a toalha. Não quero molhar a casa toda.

Antes que ele pudesse dar a ela uma resposta malcriada, ela afundou-se na água e foi nadando até a outra ponta da piscina.

- Os meus livros... – ela mudou de assunto. – Tratou-os com carinho?

- Estou falando sério. – ele ignorou. – Eu vou embora.

Mas ela não deixou que ele sumisse dali. Atravessou a distância entre eles, ainda na água, e agarrou-lhe o pulso.

Ele olhou surpreso para os olhos azuis dela.

- O que foi?! Eu trago a porra da toalha e deixo aqui no deque pra você!

Ela continuou segurando-o como se ele não tivesse dito nada.

- Não vai me dizer que não tem dinheiro pra me pagar! Aí já é demais! Você tá achando o que? Que eu vim do disk-escravo?!

Ainda o silêncio daqueles olhos profundos.

- Você não me respondeu. – ela disse. – Você arrumou meus livros direitinho, não foi?

Ele revirou os olhos.

- Que drama! Eu não os rasguei nem nada assim, não precisa disso tudo. – estava claramente aborrecido.

- Eles são importantes para mim. – ela repetiu.

- Você já disse. – ele franziu a testa. – E eu já disse também que eu os arrumei direito, cacete. Agora pode me soltar.

Ela finalmente soltou-o. Mas continuou olhando nos olhos dele.

- Eles são os meus companheiros. Vou passar as férias com eles.

Ele diminuiu os olhos como se assim pudesse entender os dela melhor.

Então era isso. Ela ia mesmo ficar sozinha ali naquela casa enorme.

Meneou a cabeça e foi até onde tinha deixado sua camisa.

- Você é tão insuportável que nem os seus livros devem te aturar. Se eles tivessem pernas, sairiam correndo.

Ela riu, mas não parecia feliz.

- Você também não é muito doce.

- É difícil ser doce quando alguém faz você trabalhar o dia inteiro no sol de verão sem oferecer mais que um mísero copo d’água, manda você agir como seu servo, faz com que organize livros com letras de alfabetos desconhecidos, mande encher um colchão enorme que nem mesmo vai ter utilidade e ainda fica te olhando o tempo todo com cara de superior! – tomou fôlego ao terminar.

O sorrisinho dela cresceu.

- Não acho que eu seja superior. – disse. – E também não acho que você seria doce se eu fosse doce com você.

- E daí?!

- Me desculpe se causei uma má impressão. Só não sei bem como lidar com os outros. Sou uma pessoa solitária.

- Eu também sou uma pessoa solitária, porra! E não estou maltratando ninguém!

- Mas está gritando com uma dama. – riu.

Ele ficou emburrado.

- O que você faz? Quando se sente sozinho? – ela perguntou do nada.

Ele demorou para responder.

- Eu durmo. – concluiu.

- E quando você encontra pessoas?

Ele demorou mais ainda nessa.

- Eu... Não sei direito.

O sorriso dela pareceu mais verdadeiro.

- Venha. Eu disse para experimentar a piscina quando terminasse o serviço.

Ele hesitou um pouco.

Mas aquele sorriso, a pele e a solidão dela o estavam atraindo.

Acabou entrando na água fria. E foi uma sensação ótima.

- Por que você veio sozinha para cá? – ele perguntou e agora seu tom não era mais agressivo.

Ela encostou-se na borda da piscina e ficou olhando-o muda.

- Você é um faz-tudo mesmo, não é? – o sorrisinho voltou aos lábios dela.

Era assim então. Ele perguntava e ela não respondia. Mas se ele não a respondesse, ela o obrigaria.

- E você ainda tem dúvidas? – cruzou os braços.

- Eu nunca tinha ouvido falar nessa profissão. Achei bem interessante. – nadou até mais perto dele, mas se afastou de novo. – Acho que acabei me aproveitando disso. Queria ver até onde você podia ir...

Ele fez uma careta.

- Isso que dá não ver pessoas.

- Não é? – ela riu e parou no meio da piscina. – Talvez só tenha te usado para não me sentir tão só. – disse olhando para o céu.

- Eu já entendi isso, sua idiota. – ele ainda tinha a cara fechada.

Foi até mais perto dela.

- Olha! Está ficando mais eficiente! Descobrindo por si mesmo o que tem que fazer!

Ele se aproximou demais. De repente não conseguiu evitar. Ela parecia tão insuportavelmente perfeita... E mesmo assim tão sozinha...

Ela tinha razão. Não tentou parecer superior. Era ele quem havia se colocado inferior diante dela.

Mas agora percebia que não tivera motivos para isso. Ela era apenas como ele... Um coração endurecido e distante... Mas ainda existente. Não importava o que tentasse mostrar por fora.

O tudo que ela queria era muito menos do que parecia.

Passou o braço pela cintura dela e a puxou mais para perto do corpo dele.

Os olhos dela arregalaram-se.

- Zoro! – ralhou baixinho. – O que está fazendo?

Ele sorriu pela primeira vez.

- Não vai me dizer que não quer isso. – apertou-a contra si e em seguida encontrou os lábios dela com os seus. Beijou-a demoradamente, de um jeito não calmo. E foi recebido de volta de um jeito mais intenso ainda. Era como se... Era como se os dois estivessem querendo apenas mostrar um para o outro sua própria presença. Para que pudessem se notar. E nisso os lábios e as línguas gritaram até que se percebessem, se encontrassem, se unissem num consenso.

Afastaram-se quando o ar faltou e olharam-se nos olhos.

- O meu serviço está feito. – ele disse.

Ela ofegou um pouco e voltou a sorrir.

- Você acha mesmo que eu vou te deixar ir embora tão facilmente? – os olhos faiscaram. – Não se esqueça de que tem que buscar minha toalha, Zoro. E antes disso tem que estar seco para entrar em casa.

Ele fingiu ignorá-la e beijou-a mais uma vez.

Porque talvez não fosse só ele fazendo tudo para ela no fim das contas.

 

 


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