P.O.V. Grover

Bufei estressado.

– Eu já falei trilhões de vezes, garoto. – fiz força para não gritar – Para ganhar a bicicleta, você precisa de dois mil cento e cinquenta tíquetes. E você só tem dezenove. O máximo que eu posso te dar é um lápis com tabuada.

O moleque na minha frente só faltou me fuzilar com os olhos. Ele era branquelo, baixinho, ruivo e cheio de sardas. Tinha o cabelo espetado e era rechonchudo.

– Mas, eu quero a bicicleta! – exigiu batendo o pé no chão.

– Mas, eu não posso te dar.

Continuei organizando as prateleiras que eu tinha que terminar de organizar, ou então, receberia uma bronca enorme do meu patrão. Estava ajeitando alguns ursos de pelúcia quando...

– Vai me dar a bicicleta agora?

Bati a mão na prateleira. Tomei um pouco de ar para me acalmar e virei-me.

– Não! – neguei – Você não ganhará bicicleta nenhuma com apenas dezenove tíquetes. – ele me deu língua – Ah, é assim? – retribuí o gesto – Para você também! – ele foi além do que eu esperava de um simples pivete: ele me mostrou o dedo do meio – Que feio! Onde aprendeu isso?

– Aprendi ontem à noite, com a sua mãe.

Agora passou do limite!

– Pelo menos a minha mãe tem o que ensinar! – rebati – Não é como a sua que só tem a aprender. Advinha o que foi que eu ensinei para ela.

– Ensinou ela a agir como um funcionário imprestável e idiota? Porque você deve ser formado nisso.

– JÁ CHEGA!

Subi encima do balcão que me separava do garoto. Já estava para pular encima daquele pirralho e estrangulá-lo até a morte quando senti alguém me puxar para trás.

– Calma Grover! – disse Ronald segurando os meus braços e puxando-os para trás – Se você bater nele, vai ser demitido.

Soltei-me e levei minhas mãos para cabeça.

– Ei. – o ruivinho chamou a minha atenção – Desculpa. – pediu.

– Tudo bem. – falei.

– Desculpa o caralho, otário! – mostrou de novo o dedo do meio – Na sua bunda!

– EU MATO ESSE MOLEQUE!

Ronald me segurou de novo e aquele capetinha em forma de criança correu.

– Grover, você não pode ficar fazendo essas coisas. – lembrou.

Eu odeio a minha vida.

Bom, o que aconteceu...

Eu trabalhava como recepcionista num motel, mas fui demitido por causa de uma garçonete que eu conheci naquele restaurante, Delicious Meal. Não era aquela garota, Júniper, era outra garçonete que se “apaixonou” por mim. Ela fez o maior barraco no motel e eu fui suspenso. Agora, trabalho numa área de diversão e brinquedos num shopping.

Ronald era meu colega de trabalho. Ele era até legal. Tinha o cabelo loiro e liso jogado para o lado, a pele oliva, os olhos castanhos médios, corpo atlético e estatura alta. Muitas mulheres, a maioria era gata, viam até nós só para conseguir uma maneira de chamar a atenção dele. Teve uma que veio com o decote em V que chegava até o umbigo e ainda era casada e mãe de quatro meninos e uma menina! Mas era gata! E não pensem que o fato do Ronald ter me impedido de dar uma surra no garoto faz dele um bom moço. O cara é malandro a beça. E ele é o segundo maior galinha que eu já conheci – o primeiro lugar é do Percy Jackson.

Isso me faz lembrar que eu tenho que ligar para o Percy. Eu precisava desabafar com alguém um “probleminha” que estava acontecendo comigo. Fora que eu queria saber se ele ainda se encontrava com Victoria Rice as escondidas.

– Me ajuda a ajeitar essas bolas? – pediu Ronald.

Ajudei o a empilhar bolas de diferentes cores e tamanhos por trás de uma rede preta. Tínhamos uma pausa de trinta minutos agora, só que ainda não podíamos sair de trás do balcão. Peguei minha mochila e tirei de lá um sanduíche frio e uma latinha de refrigerante.

– Ah. Meu. Deus. – disse Ronald pausadamente.

Não o entendi. Ele estava quase boquiaberto enquanto segurava uma barrinha de cereal. Parecia até um retardado mental. Olhei na mesma direção que ele.

http://www.youtube.com/watch?v=hSoOqvptTUA

Um casal caminhava de mãos dadas em meio a muitas crianças. A garota era gata elevada à décima potência! Alta e esbelta. Pele clarinha e rosto fino. Cabelo longo e castanho. Sorriso estonteante. Usava uma regata branca sem mangas e uma saia comprida e florida que só não cobria os pés.

– Júniper – murmurei.

– Você a conhece? – perguntou Ronald.

Balancei a cabeça sinalizando um sim.

– Só não conheço o fortão ali.

O cara que a acompanhava era musculoso e um pouco mais alto que ela. Moreno e de cabelo preto que chegava até o queixo. Por que ele andava com ela?

Júniper e o garotão andavam felizes. Não sei o porquê, mas aquilo me incomodou. NÃO! Eu não estava com ciúmes, só que eu me sentia mal pelo o que pensei a respeito dela e queria que ela viesse até mim, para que eu pudesse me desculpar, só que eu não queria fazer isso tendo a presença daquele cara.

O cara devia ser namorado dela, porque abraçou a cintura dela e a beijou diante de todos.

P.O.V. Quíron

Cerrei os olhos de maneira assassina. Já não basta eu ter que aturar a presença do Percidiota, agora tenho que aguentá-lo no MEU SOFÁ?

Ele e Annabeth estavam sentados e abraçados assistindo um filme de comédia. Detesto o Percy! Como eu detesto!

De repente, Luke Castellan entra na sala segurando um buquê de rosas vermelhas.

– Annabeth! – chamou.

Minha sobrinha ficou boquiaberta. Levantou-se rapidamente do sofá e segurou o Luke pelo casaco.

– Luke, você é tão forte e tão bonito. – disse ela – Como pude terminar com você e começar a namorar um débil mental como o Percy... – ele levou o dedo indicador para os lábios dela e sinalizou para que ela fizesse silêncio.

– Não tem problema. – falou – Tudo vai voltar a ser como era antes. Agora, me beija.

Eles dois estavam para se beijar quando o Percy os interrompeu.

– EI! – exclamou – Eu estou aqui.

Percy se levantou e a sua calça deveria estar bem frouxa, porque ela caiu exibindo a cueca de arco-íris dele.

– Que gay. – comentou ela – Percy, está terminado tudo entre nós. – ela virou o rosto para frente do Luke e pôs as mãos na nuca dele.

E com isso, eles dois se beijaram.

– Sonhando acordado? – perguntou Susy.

Apenas bufei e neguei com a cabeça.

Voltei minha atenção para o pior casal do mundo. Como eu queria que aquele pensamento fosse verdade. Algo no filme deve ter acontecido para eles dois começarem a gargalhar alto. Annabeth olhou fixamente para TV e Percy olhou do mesmo jeito para outra coisa: o busto da minha sobrinha, sendo que ela usava uma camisa com decote em U.

TARADO!

Senti Susy puxar minha cadeira de rodas para trás e me guiar até a cozinha.

– O que está fazendo? – perguntei.

– A Sra. Atena me pediu para ficar de olho em você, para que não fizesse confusão com o Percy.

– Isso é sério? – ela fez um “sim” com a cabeça – ERA SÓ O QUE ME FALTAVA! Se eu tivesse movimento sobre as minhas pernas, eu pisaria no chão de maneira revoltada. – ela riu com aquilo – Não acredito que eu, aos cinquenta e seis anos, vou precisar de uma babá!

– Olha, eu sei que o senhor só quer o melhor para Annabeth. – disse serenamente – Mas, ela já tem vinte e dois anos. Já é adulta e, praticamente, independente. Ela lhe adora, mas se continuar dando chiliques sobre o Percy, vai afastá-la de você, entendeu?

Realmente, ela tinha razão. Eu detestava o Percy, mas odiaria ter a Annie longe de mim. O jeito vai ser aturá-lo mesmo.

– Tudo bem! – falei derrotado.

– É assim que eu gosto. – ela sorriu. Eu sempre achei o sorriso dela o mais bonito entre todos que eu já vi – Agora, quer me ajudar a preparar um pudim.

– Claro.

P.O.V. Annabeth

Escorrei minha cabeça no ombro do Percy.

– Antes que eu me esqueça. – ele começou. Afastei-me um pouco. Ele tirou uma carta rosa escuro com bordado branco – Minha irmã nos convidou para festa de aniversário dela, daqui a duas semanas.

Peguei a carta e a abri.

– Festa a fantasia. – falei.

– Eu sei. E, do jeito que eu conheço a Hanna, posso garantir que é uma festa diferente das outras.

– As fantasias tem que ser sobre filmes antigos. – ele suspirou – Posso escolher as roupas? – pedi.

Ele assentiu. Nossos lábios se encontraram num beijo casto. Terminado o beijo, me aninhei no braço dele.

Depois do filme ter acabado, acompanhamos a Tia Afrodite, a Silena, o Charles, o Ares e o pequeno Andrew até o aeroporto, já que eles voltariam para Paris.

No aeroporto, não tivemos muitas despedidas e tal. Apenas dizemos “Tchau” e eles se foram. Agradeci a Silena por ela não ter comentado com ninguém a nossa conversa que tivemos naquele dia.

Flashback on

Bati na porta do quarto de hóspedes. Escutei um “pode entrar” e entrei. O quarto era bem simples: paredes amarelas, uma cama de casal, um berço e um guarda-roupa. Silena estava sentada na cama enquanto trocava a frauda do Andrew.

– Oi prima. – disse ela.

– Oi. – sentei na cama também, de frente para ela – Sabe quando você entrou no meu quarto ontem...

– Ah, desculpa, Annabeth – pediu – Eu não sabia que você e o Percy estavam... Sabe... Tendo um pouco de diversão.

– Isso mesmo que eu vim falar. Nós dois não estávamos... Nos divertindo.

Ela ergueu uma sobrancelha e formou um sorriso malicioso no rosto.

– Bom, não foi o que pareceu para mim. – brincou.

– Enfim, não estávamos tendo relações sexuais, certo? E eu agradeceria muito, muito mesmo, se você não comentasse aquilo com ninguém.

– Quer dizer que você e o Percy ainda não fizeram sexo?

– Não. – respondi – Ontem, ele tentou, mas eu recuei, porque achei que ainda não fosse o momento certo.

– Ok. Pode ficar tranquila, eu não conto para ninguém.

Suspirei aliviada e agradeci.

Flashback off

Agora, só estávamos e o Percy no aeroporto.

– Quer sorvete? – perguntou.

– Quero.

Quando começamos a andar em direção a sorveteria sinto alguém tapar os meus olhos.

– Advinha quem é? – perguntou uma voz masculina que eu tinha certeza que conhecia, mas não sabia quem era. Também tinha a certeza que não era o Percy.

– Tio Apolo. – chutei e a pessoa negou – Eu não sei.

Destaparam meus olhos e eu pude ver quem falava comigo. Um homem alto, moreno e sorridente.

– Sr. Castellan? – falei. Ele bufou.

– Querida, já disse que pode me chamar só de Hermes mesmo! – falou ele – Como vai?

– Vou bem.

– Ora, ora. – disse Vanessa – Há quanto tempo?

Vanessa era a filha caçula do Sr. e da Sra. Castellan. Assim como May, ela era loira – só que com mechas coloridas no cabelo – e de pele clara. Os olhos também eram azuis. Suas roupas eram bem diferentes: uma saia roxa de tule curta, meias com detalhes rasgados, uma regata preta e um colete de couro cheio de tachas.

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– Oi Vanessa. – fui até ela e a abracei – Você está tão diferente. – ela assentiu. May também apareceu e me cumprimentou – Cadê o Luke?

– Ele está bem ali. – Hermes apontou para o filho dele que falava no celular enquanto arrastava a mala dele.

Andei até ele e o abracei. Ele encerrou a ligação e retribui o meu abraço.

– Oi Annie. – ele disse beijando o topo da minha cabeça – Está fazendo o que aqui?

– Vim acompanhar meus tios. Enfim, eles já viajaram.

– E você está aqui sozinha? – perguntou.

– Não, o Percy está me acompanhando.

– Quem é Percy?

Ah, droga! E agora? Eu sei que deveria falar a verdade já que Luke é meu amigo, mas eu não queria magoá-lo nem nada do tipo. Talvez ele ficasse chateado, mas acho que não. Eu havia deixado bem claro que, com o Luke, só queria amizade.

– É aquele cara de camisa polo azul. – apontei para o Percy.

– É seu amigo? – perguntou Luke.

– Não. – neguei – É meu namorado.

O sorriso no rosto do Luke foi desfeito.

– Ah... – foi o que ele disse e eu achei que fosse a única coisa que ele iria dizer – Como está a sua mãe?

– Bem. – respondi – Como foi de viagem?

– Bem. – suspiramos juntos – Quando você e esse Percy começaram a namorar?

– Pouco mais de um mês.

Percy veio até nós segurando um sorvete de chocolate na casquinha. Entregou para mim.

– Percy, este é Luke, meu amigo. – apresentei – Luke, este é Percy, meu namorado.

Os dois se cumprimentaram com um aperto de mão.

– Prazer em conhecê-lo. – falou Luke. Talvez, eles consigam se dar bem.

– Pena que eu não posso dizer o mesmo. – rebateu Percy. Luke franziu o cenho e eu não sabia qual dos dois encara – O que foi Annie? Acha mesmo que eu vou ser legal com o cara que te traiu.

– Eu não a traí. – afirmou Luke. Percy revirou os olhos e fez uma coisa... Um tanto... Ousada. Tomou o sorvete da minha mão e o passou na camisa do Luke.

– Fique longe da minha namorada, seu traíra!

As coisas só pioraram. Luke, com todas as forças do seu corpo, socou o olho esquerdo do Percy. Esse cambaleou e caiu de costas no chão.

– PAREM! – gritei tentando afastá-los, o que foi em vão.

Percy se levantou rapidamente tentou avançar no Luke, mas esse foi mais rápido e deu uma joelhada na barriga dele. Alguns seguranças apareceram e afastaram os dois. Escutei alguns gritinhos de implicância da Vanessa.

– Pega ele Luke! – encorajava.

– Luke, não brigue com o Percy. – olhei para Percy – O mesmo para você. Não quero vocês dois brigando.

– A culpa não é minha se você está namorando um bruto. – resmungou Luke. Olhei o, incrédula.

– Pelo menos, esse bruto, não me trai enquanto eu pego refrigerante. – rebati.

Muitas pessoas ficaram atônitas. Confesso que não gostei de ter dito aquilo.

– Podem me soltar. – disse Luke aos seguranças. Esses o soltaram. Luke olhou sério para mim e se foi sem dizer nada. Sua família o acompanhou, sendo que só o Hermes se despediu de mim e mandou lembranças à minha mãe.

Percy pôs a mão no meu ombro. Olhei para ele que estava cobrindo um dos olhos com as mãos.

– Eu só quero ir para casa. – falei.

– Tudo bem.

E fomos embora.