“Entre por essa porta agora, e diga que me adora”

POV Hermione Malfoy

Hoje já era a terceira noite que eu dormia sem o Draco. Eu já não dormia na verdade. Era estranho dormir sem o corpo dele me aquecendo, sem as mãos dele nas minhas costas e seios. Na verdade era uma droga.

Eu havia acabado de chegar do trabalho, finalmente tinha concluído a revista que ia as bancas no outro dia. Meu trabalho até que estava indo bem. Eu estava ganhando credibilidade e meu salário até podia aumentar. Enquanto eu brilhava na empresa a minha vida pessoal ia uma porcaria.

Estava deitada no chão da cozinha, cansada demais pra ir banhar, tinha tirado a blusa e os sapatos e simplesmente me aconcheguei no chão frio. Meus olhos fechados, e uma das mãos acariciavam a minha barriga.

“Oh filhinho, o que faremos sem seu pai?”

Estava tão imersa em pensamentos que quase não escutei os barulhos dos passos. A minha porta tinha sido aberta. Nenhum alarme disparara, só podia ser ele. Rapidamente me levantei e fui ver o que meu coração tanto queria.

– Draco? – eu chamei

E lá estava ele. Alto, imponente e mais magro do que dias atrás e com olheiras. Ele sofria tanto quanto eu? Será que ele vai pedir desculpas?

–Hermione, oi.

Seus olhos brilharam fracamente quando disse meu nome, estava prestes a me jogar em seus braços. Mas precisava ouvir um pedido de desculpas. Apesar do que eu fiz, não abandonei ele, ele saiu de casa. Se ele começasse, eu talvez....

– Como você está...eu.... – Ele começou

– Draco, o que veio fazer aqui? Eu sinto tanto a sua falta...eu...

– Você vai pedir desculpas? To aqui pra te ouvir.

Como assim eu pedir desculpas? Tudo bem, eu sei que eu errei, eu exagerei, e devo desculpas, mas não vou começar a pedi-las. Não antes dele. Não fui eu que comecei com isso.

–Acho que seu ego é grande demais querido. Não fui eu que comecei com essa briga, e acho...

– Só vim buscar umas roupas Hermione.

Ele disse um pouco alto demais, e saiu rumo ao quarto. Eu corri pro banheiro, o tom de voz dele tinha me dado náuseas.

“Você tem meia hora, pra mudar a minha vida”

POV Draco Malfoy

– Draco, porque você não liga pra ela? Como consegue ser tão cabeça dura assim? Na verdade, vocês dois são. Hermione também está sofrendo.

– Mas não é o que parece. Porque ela não liga também?

Pansy andava de um lado pro outro, me dando um sermão de como eu era covarde. Ela tinha certa razão, mas quem começou a briga foi a Hermione. Ela não tinha direitos de ter ciúme, não quando eu a encontrei abraçando aquele ruivo do Weasley.

Blás já havia desistido de tentar me convencer de algo. Ele estava na sala com a filha, vendo algum filme da Disney.

–Ela não liga, porque, como você, também acha que tem razão. Mas Draco, ela está sozinha, você está aqui com a gente. O que ela vai pensar? Você saiu de casa, saiu de casa com raiva dela. O que você acha que eu faria se Blás fosse embora?

–Não chamem meu santo nome em vão. – Blás gritou da sala.

Pansy revirou os olhos.

– Você devia me ajudar a dar razão ao seu melhor amigo.

– Eu já desisti. – Ele gritou novamente

Sai de lá rapidamente, antes que a Pansy recomeçasse a falar. Entrei no meu carro e apenas dirigi com os pensamentos assaltando a minha mente.

Será que Pansy tem razão? Que Hermione acha que eu a abandonei? Ela foi tão dura comigo, nem me deixou falar. As vezes Hermione era muito ciumenta. Lembro que no ensino médio, ela vivia estapeando garotas que me dessem em cima de mim.

Eu ri com a lembrança. Hermione era impossível.

Quando dei por mim, estava na frente de casa. Todas as luzes pareciam acesas.

– Draco?

Finalmente havia escutado a voz dela, eu precisava disso. Depois ela apareceu, estava pálida, mais magra e parecia muito abatida. Seus seios pareciam maiores. Ou talvez fosse apenas os dias sem vê-la fazendo efeito.

–Hermione, oi – Foi o máximo que eu consegui dizer.

– Como você está...eu.... – Comecei, realmente queria saber como ela estava. Sentia saudades.

– Draco, o que veio fazer aqui? Eu sinto tanto a sua falta...eu...

– Você vai pedir desculpas? To aqui pra te ouvir.

Eu não sei de onde eu tirei isso. Quando vi já havia falado. Fora totalmente o contrário do que Pansy disse. Mas era verdade. Queria ouvi-la, ela havia me magoado muito quando que chamou de Malfoy. Foi como se tivéssemos voltado a oitava série, onde eu a humilhava tanto, e nunca vou conseguir me desculpar de tudo que eu fiz.

–Acho que seu ego é grande demais querido. Não fui eu que comecei com essa briga, e acho...

– Só vim buscar umas roupas Hermione.

Novamente agi por defesa e impulso.

Meu ego era grande? Acho que sim. Estava ofendido demais para dizer alguma outra coisa. Nosso orgulho vai acabar nos destruindo, eu sei. Mas não ia dar o braço a torcer... não mesmo.

Peguei algumas roupas no guarda roupa e quando sai Hermione não estava mais a vista. Alguma coisa me dizia para procurá-la, mas sai de casa. Só mulheres têm essas intuições e acho que já to ficando uma marica.

Não voltei pra casa de Pansy e Blás. Ela viria com as suas perguntas inquisitórias e ele com seus conselhos de sala de terapia.

Dirigi direto para o meu escritório. Ia ser mais uma noite no sofá.

"Que o que você demora, é o que o tempo leva."

POV Draco Malfoy

Mais um dia no escritório tentando evitar os olhos de Luna e as pergunta de Blás. Oh inferno!

Fechei mais um negócio, e recebi uma proposta tentadora. Uma grande empresa australiana me ofereceu a diretoria de uma das suas filias. Eu apenas tinha que me mudar pra Austrália em um mês.

Só de pensar nisso me dava dor de cabeça. Dispensar essa oferta era fechar as portas de uma grande oportunidade e a uma grande empresa.

– Chefe, o Sr. Blás quer falar com o senhor – Austoria me disse.

Eu a fitei por uns instantes. As roupas dela eram impróprias, a voz dela era imprópria, ela era totalmente imprópria. Porque eu havia a contratado?

–Obrigada senhorita Greengrass. E por favor chame a Luna pra mim.

– Sim senhor – Ela disse batendo continência.

Patético.

Blás entrou e foi logo dizendo.

– Por que você não foi dormir em casa? A Pansy ficou louca da vida.

Rolei os olhos, que exagero.

– Eu fui em casa. E fiz tudo que a Pansy disse pra eu não fazer. E quase brigamos de novo. Olha não dá, não consigo ficar sem ela.

– Então não fique. A Pansy tem certa razão quando diz, você deixou a casa.

Eu não respondi nada e ele foi embora. Luna entrou após a saída dele.

– Draco, você me chamou?

– Sim. Preciso que você demita a Austoria e contrate outra secretaria. De preferência casada já.

Luna arregalou levemente os olhos e assentiu.

– Mas alguma coisa? – Ela disse

– Sim, não conte a Hermione.

“Ainda tem o seu perfume pela casa”

POV Hermione Malfoy

Eu não havia ido trabalhar. Como era dia de lançamento da revista, os meus serviços não seriam realmente necessários. Liguei pra Parvati e acertei tudo com ela.

Eu passei a tarde toda vendo filmes, comendo e chorando. Eu não aguentava mais ficar sem o Draco.

Porque ela saiu de casa? A gente podia muito bem ficar brigados aqui em casa mesmo. Tem espaço suficiente pra isso. Pelo menos eu poderia vê-lo, saber a hora que chega e a hora que sai. Por que ele não me liga?

E mais uma vez um choro histérico subiu pelo meu peito, e eu não segurei as lágrimas. Malditos hormônios. Estão tornando a minha tristeza mil vezes pior.

Eu não gostava de ficar sozinha. Era triste e deprimente. Assim como eu.

Sai correndo da sala e abri o closet de Draco. Tudo ali cheirava a ele. Sem pensar direito tirei a minha blusa e vesti uma blusa dele. Depois joguei todas as roupas dele no chão, fiz um ninho pra eu deitar.

Chorei até não ter mais água no meu corpo. Cansada de chorar, cansada do sofrimento, cansada da minha vida acabei dormindo.

“Ainda tem você na sala”

POV Draco Malfoy

Naquela noite, não voltei pra casa de Blás. Fiquei pelo escritório mesmo. Como estava sem sono, resolvi ir até a biblioteca que ficava atrás de meu escritório. Chegava-se lá através de uma passagem.

Demorei um pouco pra resolver entrar, mas finalmente o fiz. Quando entrei a primeira coisa que notei, foi a echarpe verde que eu havia dado a ela, no dia que fizemos um ano de namoro. Ela deve ter deixado aqui, na ultima vez que veio.

Hermione adorava esse lugar, eu fiz isso pra ela. Logo no inicio do casamento, ela saia do trabalho e ficava aqui até eu sai do escritório para irmos juntos pra casa. Mas ai ela ganhou um cargo importante na empresa e ela não pode mais vir.

Peguei a echarpe e me sentei na poltrona que ela costumava sentar pra ler.

“Porque meu coração dispara? Quando tem o seu cheiro, dentro de um livro”

Imerso em pensamentos era como eu me encontrava.

O que ela estava fazendo? O que estava pensando? Será que ela sentia a minha falta como eu sinto a dela?

Perdido em meus próprios pensamentos, não reparei no livro em cima da mesa. Peguei-o e li o titulo. “Orgulho e Preconceito”

Que irônico não?

Folhei o livro, e meu coração bateu disparado, pois o perfume dela me atingiu. Era um cheiro fraco, mas ainda era o cheiro dela. Que saudade eu sentia daquele perfume.

Porque eu sai de casa? Pansy tem razão, foi um erro. Agora é tarde demais pra voltar atrás.

“Ainda tem o seu perfume
Pela casa
Ainda tem você na sala
Porque meu coração dispara?
Quando tem o seu cheiro
Dentro de um livro
Na cinza das horas...”

POV Hermione Malfoy

Quando eu me espantei, parecia ter escurecido. Eu estava suando muito. Rápido demais me levantei. Uma forte vertigem me atingiu. Apoiei a minha mão na parede pra não cair.

Depois de uns segundos, eu estava bem melhor. Sai do closed e olhei as horas. Puxa já eram 20hrs.

Liguei o ar condicionado, e fechei as janelas. Estava distraída e quando me virei bati o meu joelho no criado mudo na cabeceira de Draco.

– Ai, ai, ai. Mas que merda!! – Praguejei

Sentei na beira da cama e massageei meu joelho. Olhei pra eles avaliando o estrago. Nada muito sério. Mas algo no chão me chamou atenção, era o livro de capa vermelha que o Draco lia antes de dormir.

Peguei-o no chão e abri onde ele estava lendo. Levei o livro ao nariz, mas como um hábito do que qualquer coisa. O cheiro da loção pós-barba dele, invadiu o meu olfato. Era tão bom sentir esse cheiro novamente. Esse era um dos perfumes que compõem a fragrância que me fazia dormir.

As lagrimas começaram a rolar.

Fechei o livro e sai correndo do quarto. Cheguei a cozinha e tomei água. Desliguei todas as luzes e voltei pro quarto.

Não aguentava mais dormir naquela cama grande demais pro meu corpo pequeno. Abri as portas do closet para que o ar pudesse entrar, e voltei pro meu ninho de roupa.