Bella desligou o telefone celular.

— Era Rose.

Edward desviou os olhos do noticiário do jornal que costumava ler durante o café da manhã, os lábios sensuais curvados para cima num dos cantos.

— Foi o que imaginei, por causa de sua ale­gria ao atender.

Os olhos azuis de Edward revelavam enorme interesse. Era sempre assim... Ele tinha um jeito de olhar para as pessoas como se, naque­le momento, não existisse mais ninguém no universo. Era um verdadeiro diplomata. Pou­cos duvidavam de sua sinceridade, ou melhor, de seu interesse por eles, ou pelo país deles.

Bella fora atraída pelo jeito de Edward. No início, ela se achava muito especial. Agora, no entanto, sabia que diante de Edward todos se sentiam assim. Mas nem todos podiam ser especiais. E se os outros não eram... talvez ela também não fosse.

— Algum problema? — perguntou Edward, preocupado.

Bella negou, pois estava determinada a não se deixar levar por idéias depressivas. O fato de morar com ele já a tornava especial. Com um suspiro, voltou os olhos para a paisagem. Avista da varanda era incrível! A Acrópole ao longe, a parte rica da cidade mais próximo... Era bonito demais para ser descrito em pala­vras. De fato, do apartamento tinha-se uma vista muito especial.

Bella adorava morar na Grécia. Na verda­de, Edward optara por residir em Atenas por causa dela. Quando ela precisasse viajar, se­ria mais fácil se deslocar de Atenas do que do pequeno aeroporto de Zohra. Além disso, em Atenas eles tinham amigos que a acei­tavam sem questionar seu papel na vida de Edward.

O que não acontecia com a família dele.

A serenidade que a vista proporcionava to­mou conta de Bella. Ela olhou para Edward e sorriu.

— As notícias são excelentes. Rose teve o bebê... ou melhor, os bebês.

— Bebês? — perguntou ele, franzindo a testa, o tom de preocupação ainda presente na voz.

Bella ignorou aquilo, atitude que adotava com freqüência atualmente. Era a única forma de sobreviver.

— Eles tiveram trigêmeos.

— Trigêmeos?

— Sim. Não é incrível?

— Emert deve estar muito feliz.

— Está, e Rose também. Ela está em es­tado de choque... A primeira a nascer foi uma menina, o que a torna a herdeira do trono. Aparentemente, Rose não sabia que Isole dei Rei é uma monarquia com oportunidades iguais para ambos os sexos. —Bella riu ao se lembrar da voz surpresa da amiga.

A filha de diplomata que se transformara em princesa jamais cogitara a possibilidade de o próximo rei na verdade ser uma rainha.

Edward deu de ombros, num movimento que revelava seu corpo grande e musculoso. Fora os olhos azuis e a altura exagerada para seu povo, herdados da avó holandesa, tudo mais nele era de um sheik moderno. O cabelo pre­to era curto e levemente ondulado, o queixo barbeado deixava à mostra uma covinha, e a roupa se adequava aos círculos ocidentais que ele freqüentava.

Eles estavam juntos há dois anos, e Bella ainda se arrepiava só de olhar para ele.

— É uma monarquia ocidental — observou Edward.

O sorriso de Bella desfez-se diante da lem­brança das diferenças de seus dois mundos. Edward vinha de uma extensa linhagem de sheiks, e o comportamento de sua família era mais adequado ao século anterior. Bella não conhecia os pais e os irmãos de Edward porque eles moravam juntos sem terem se casado.

Para a família conservadora de Edward, Bella não existia. Quando foram morar juntos, ela pediu que ele fizesse alguma coisa para mu­dar a situação. Edward respondeu que não tinha escolha, pois não podia mudar séculos de um modo de pensar, por mais que quisesse.

Mas será que ele queria?

Se ela significava tanto para Edward, por que ainda era sua amante, não sua noiva?