Eu só queria que a noite não acabasse e que o dia seguinte não viesse nunca. Que continuasse dentro dos meus sonhos, preferia ao menos não estar na própria realidade. Recentemente tenho estragado as coisas, e não sei se quero consertar tudo isso, não sei nem se tem como, e se tiver, não poderia ser do meu jeito, poderia? Eu sei que no final, isso tudo é medo. Medo... algo que me acompanha desde sempre. Mas de algum modo é diferente, tudo parece um problema tão simples, e eu o torno complicado, porque não consigo pronunciar apenas três palavrinhas.

Mas como o dia seguinte era inevitável, já havia amanhecido. Levantei já me arrependendo de ter acordado, desliguei o despertador, me espreguicei e fui me arrumar. Estava com medo do dia de hoje, e também dos dias seguintes, não tenho coragem para enfrentar nada. Tomei o café da manhã em extremo silêncio, e saí de casa.

Precisava me certificar de que não iria me encontrar com a Ritsu, então fui até sua casa e a observava escondida atrás de um carro, que deveria estar cerca de vinte metros de distância. Esperava que ela saísse, esperei, esperei, e nada, talvez ela não fosse à escola hoje, se continuasse ali, provavelmente me atrasaria. Quando decidi me levantar, avistei Mugi indo para casa de Ritsu. O que é que ela está fazendo? Me abaixei imediatamente, mas ainda observando. Mugi aguardava Ritsu na porta de sua casa, e quando ela apareceu se cumprimentaram com um... b-beijo...

– Ei, Mio-chan, o que estamos fazendo?

– GYAAHHH! – tapei minha boca logo em seguida.

Olhei para meu lado para ver quem é que fez a pergunta, e lá estava a Yui, escondida.

– Que susto, Yui...

– Nós não vamos atrás da Ricchan e da Mugi-chan? Elas estão indo para aquele lado. -Yui apontava para as duas que se distanciavam cada vez mais, nenhuma delas lançou um único olhar para trás, o que na verdade foi um alívio, suponho que signifique que não me ouviram.

– Não acho que a Ritsu queira me ver agora.

– Hm? – Ela me olhava com uma cara de quem não entendeu absolutamente nada.

– Elas estão indo para o lado errado... – murmurei

– Mio-chan, cadê a Elizabeth?

– É q-que eu ainda não levei para o conserto... Ah, olha o horário... Vamos Yui? Se não iremos nos atrasar. – Falei já cortando o assunto, então levantei e ajudei-a a se erguer também, seguimos direto para a escola.

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Já era o meio da primeira aula e nada das duas aparecerem, será que estão matando aula? Não, não pode ser. A Ritsu eu até entendo, mas a Mugi não faria uma coisa dessas, faria? Não pode ser. Mas por que matariam aula? Quem sabe seja pra passarem mais tempo sozinhas e n-namorarem... E aquele beijo... Por que eu fui à casa da Ritsu afinal? Não precisava me sentir pior. Por que tinha que gostar logo dela? Talvez não fosse para ser mesmo...

– NÃO, EU NÃO ACEITO ISSO. – Quando percebi havia falado em voz alta no meio da sala e interrompendo a aula , de repente todos olharam para e mim.

– Akiyama Mio, o que é que você não aceita? – Sawako-sensei olhava para mim com um sorriso que parecia leve em seu rosto, mas dava para perceber pelas suas sobrancelhas que estava brava por tê-la interrompido. Olhei para o quadro negro e depois voltei a olhar para ela.

– E-eu não aceito essa conta errada ali no quadro, você errou a conta inteira porque se esqueceu de trocar o sinal. – Tentava me explicar, esperando que ela engolisse.

– Ah, é mesmo, obrigada por avisar, mas da próxima vez, levanta a mão antes de falar. – ela continuava com a mesma expressão de quem iria me matar depois da aula e com o mesmo sorriso tentando suavizar, mas corrigiu o erro na lousa e retomou a aula. AI QUE VERGONHA...

Abaixei a cabeça esperando que o tempo passasse e só ao toque do sinal para a terceira aula, Ritsu e Mugi finalmente decidiram aparecer.

– Por que é que chegaram tão tarde? – Perguntou Sawako-sensei com a mesma expressão que fez para mim há um tempo atrás.

– Hehehe, Sawa-chan não esquenta, eu garanto que a Mugi tem um belo motivo... – Disse Ritsu jogando sua responsabilidade para outra pessoa. Ela não tem jeito mesmo.

Mugi murmurou na orelha da sensei e seja lá o que foi que disse, ela a convenceu de que pudessem entrar. Ritsu passou olhando para mim, e quando eu a olhei, ela virou o rosto, e não só naquele momento, foi assim durante a aula inteira, virando o rosto, mas mesmo assim estava me observando. Ela está brava comigo, mas quem não ficaria? Afinal, quis dar um tempo antes de voltar a tocar e não lhe dei um motivo.

As aula passavam e Mugi parecia preocupada, mas evitava falar tanto comigo quanto com a Ritsu, provavelmente não queria se envolver. Quando acabou a aula, Mugi saiu na frente e Ritsu tentava arrastar Yui para fora da sala.

– Espera Ricchan, e a Mio-chan? – Yui perguntava, e naquela hora, não pude olhar para ela.

– VAMOS LOGO YUI. – Dizia Ritsu.

– Mas temos que esperar a ...

– Ela não vai mais com a gente, ela não quer. – Respondeu de uma forma tão seca e finalmente conseguiu puxar Yui de vez.

–MIO-CHAN... – Gritava enquanto era arrastada pelos corredores.

Arrumei minhas coisas e fui embora para casa o mais rápido possível.

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Quanto mais tempo passava e quanto mais pensava, era como se me importasse mais e mais, mas sentia que deveria desistir. Estava cansada e sabia que era besteira estar agindo assim, mas não conseguia evitar. Sei que também não podia fazer nada, porque realmente não era para ser. Mas se eu desistir seria como se minha vida perdesse o sentido. Não que a Ritsu seja meu motivo de viver, mas tudo fica mais sem graça sem ela. Talvez seja melhor pedir desculpas... Mas o problema é que não quero fazer isso, não quero que as coisas continuem as mesmas de sempre. Já não sei mais o que é melhor se é do jeito que está ou como era antes.

Quando estava prestes a terminar a última conta da lição de casa, o som da campainha atrapalhou meu raciocínio. Levantei e fui ver quem era, quando abri, me deparei com Azusa, Yui e Mugi que devem ter acabado de voltar da escola.