Ritsu me olhava, esperando que eu falasse alguma coisa. E eu sabia que agora realmente teria que conversar com ela, mas eu iria dizer o que? Dizer que a amo? Dizer que ela deveria largar a Mugi só para ficar comigo? Não, claro que não. Não sei nem o que falar, eu não me preparei para isto, ainda mais que eu não tenho razão alguma. Só a estava evitando, enquanto na verdade deveria estar apoiando. Eu sou uma idiota mesmo.

Ainda de toalha, desviei meu olhar do de Ritsu e disse sendo bem direta:

– Saí do quarto, Ritsu, preciso me trocar.

– Por que eu deveria? Sinceramente, até parece que nunca te vi pelada, Mio. – respondeu com a menor preocupação possível, e ela estava certa, sempre tomamos banho juntas, até com o clube. – Não me diga que agora está com vergonha só porque estou namorando uma garota.

– N-não, não é isso. - Respondi um tanto vermelha enquanto ela soltava uma risadinha. Virei-me para o armário, ficando de costas para ela. Enquanto estava me trocando, do nada eu senti duas mãos geladas encostando em mim e dando arrepio em todo meu corpo. – GYAHH, RITSU... !

– Hehehe, que gemido foi esse, Mio? – Enquanto ela caía na risada, dei-lhe um tapa atrás da cabeça. – AIIIIH, Mio.

Ela continuava a rir mesmo assim, e relembrava o momento enquanto eu terminava de me trocar. Secava meu cabelo, enquanto ela me observava. Provavelmente estava só esperando eu acabar para tentar falar comigo e quando terminei, o dito foi feito. Sentávamos um do lado da outra, em minha cama.

– Mas então, Mio...

– Eu prefiro conversar lá fora, Ritsu. – respondi, ainda evitando seu olhar, com a intenção de ganhar alguns segundos a mais, mas claro que naquele ponto, era inútil ganhar tempo.

– Mio, para de fugir e olha para mim. – Ritsu dizia de maneira extremamente séria.

– E-eu não estou fugindo. – respondi enquanto continuava a olhar para baixo. Ela segurou a minha mão e suspirou.

– Por favor, olha para mim. – sem minha resposta, continuou a falar. - Já faz um tempo que você tem nos evitado, faz quanto tempo? Uns cinco dias? Contando com o dia que ficou doente, e disse que não estava em casa, mas na verdade estava. E sabe como eu sei? Porque eu fui até sua avó. Você só mentiu porque não queria falar comigo.

– Não Ritsu, não era esse o problema. - Sim, era exatamente esse o problema

– E olha... Agora que eu percebi, o problema é só comigo, não é? Não é com as garotas. É tudo porque... - Então ela parou por um momento, e a vi como nunca vi antes. A menina energética, tão cheia de vida que a Ritsu era, estava triste, prestes a chorar. – Logo você... a única pessoa que eu não queria que...

Abracei a Ritsu antes mesmo de ela terminar. O que é que eu fiz? Eu não queria que isso acontecesse, olha para ela, olha o que eu consegui fazer com ela, fiquei ocupada demais tentando evitá-la, quando era a única coisa no mundo que não deveria ter feito. Apertei o abraço, e finalmente consegui olhar em seus olhos, que estavam quase transbordando.

– Me desculpa Ritsu. M-mas na verdade não é o que você está pensando. – ela me olhava e esperando que eu continuasse. Só que... O que é que eu vou falar? Como eu vou falar, não posso dizer que a amo, iria estragar tudo. – É que... É que... Eu meio que... Senti ciúmes da Mugi, porque pra mim, é como se eu estivesse perdendo você. Mas quero que saiba, se precisar de qualquer coisa, eu estou aqui.

Ritsu enxugou as lágrimas e riu. O que eu havia acabado de falar era a verdade, só que omitindo algumas coisas, claro.

– Ciúmes, né, Mio? Mugi pode ser minha namorada mas você é minha melhor amiga, não precisa ter ciúmes, hehe. – Ela falava como se ser melhor amiga fosse algo maior, mais importante do que ser namorada, e talvez seja, mas eu não acredito nisso, e não queria isso para mim. Encostei-me e em seu ombro, enquanto Ritsu continuava a me abraçar. – Você não vai sair do clube, vai?

A Azusa deve ter contado a ela... Na hora não estava considerado muito o que havia dito, mas agora eu realmente sabia que não poderia ou não conseguiria continuar tocando.

– Olha, eu ainda não levei meu baixo para o conserto e...

– Não levou, é mesmo? – Ritsu deixou de me abraçar, e pelo tom voz que usava, ela sabia que estava mentindo. E eu já estava desviando meus olhos para baixo de novo.- Qual é o problema, Mio? E mesmo que tivesse que consertar o baixo, coisa que você não tem, isso ainda não te impediria de continuar no clube.

– É que eu estou com um bloqueio. Não estou conseguindo tocar e... – E antes de tentar me explicar, Ritsu me interrompeu inconformada.

– Você não está com bloqueio, estava tocando melhor que nunca ontem mesmo. Por que está fugindo? Não tínhamos acabado de nos entender?- A cada palavra que ela falava, ficava mais brava, e eu me sentia pior.

– EU NÃO POSSO MAIS TOCAR, RITSU. – Gritei com ela, para que parasse.

– E POR QUE NÃO? – Ela respondeu gritando também. E naquela hora, já não parecíamos nós mesmas, nunca tivemos problemas como esses antes.

–Simplesmente... não posso. – suspirei.

– Eu não vou sair daqui até você responder minha pergunta, Mio.

– Ritsu...

– Você prometeu Mio, por que quer sair assim, sem mais nem menos?

– Não quero sair, eu só preciso de tempo. Por favor. E olha já está ficando tarde...

– Quer saber? Tanto faz, faça o que quiser. – Ritsu estava revoltada, pegou suas coisas e foi embora.

– Me desculpe Elizabeth. - Dizia para meu baixo que estava encostado no canto da parede, e que acabara de presenciar tudo o que ocorreu.

No fim, não resolvi nada, só piorei as coisas,e ando só fazendo besteira, realmente preciso de uma pausa. Mas por que eu continuaria tocando? Sendo que eu só tocava por causa da Ritsu.