Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 84
Harry




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Feliz da vida, Harry Potter desceu os últimos degraus da escada de sua casa deslizando pelo corrimão. Saltou elegantemente no hall e saiu cantarolando uma balada pop em direção à cozinha. Lá estava a mãe, Lily Potter, sentada na bancada com uma taça de vinho na mão. O pai, James Potter, cortava legumes auxiliado à uma faca afiada e agilidade no pulso.

— Aí está nosso filhão! — exclamou bem humorado.

Harry estava bem humorado. Primeiro porque o pai se propusera a cozinhar seu famoso Yakissoba, capaz de conquistar qualquer visita instantaneamente pelo estômago. Em segundo lugar, mas não menos importante, porque a visita era Gina Weasley, sua, agora oficializada, namorada.

— O cheiro tá bom. — o jovem elogiou indo tomar um gole do vinho na taça da mãe. — Rosê? — perguntou para ela saboreando.

— Acho que Gina vai gostar, está bem suave.

— Parece que não. — respondeu vacilante.

— Harry, não entendo isso muito bem. Passou metade da vida enfiado na casa dos Weasley e não sabe quase nada sobre a Gina.

Ele coçou a nuca envergonhado.

— Ah, mãe, você conhece a velha história... eu não reparava muito nela. Era a irmãzinha do meu amigo.

— Ela ainda é a irmãzinha do seu amigo. — James o memorizou, rindo.

— Espero sinceramente, do fundo do meu coração altruísta, que vocês não fiquem jogando essas indiretas durante nosso jantar. Vamos fingir que veem a minha ruiva pela primeira vez, e numa primeira vez nós somos um pouco menos assustadores.

— “Minha ruiva” — imitou James — Ele fala com propriedade só porque agora tem uma ruiva para chamar de sua. Garoto invejoso!

— Filho, não iremos te ridicularizar. Alguma vez já fizemos isso?

Uma centena. James e Lily só não eram mais corujas porque não adquiriram penas e sabiam voar, de resto, faziam todas as coisas esquisitas que pais de filhos únicos gostavam de praticar para demonstrar amor e constância. Houve cenas constrangedoras na sua adolescência, principalmente se tratando de longos beijos na bochecha e suplicas de cuidado na frente da escola e daquela coleguinha bonitinha. Quando foi para estagiar em outro continente recebia ligações diárias, mais de uma, no qual tinha de narrar seus passos e todos os estranhos com que encontrava. O cúmulo fora ter de mostrar o notebook para seu supervisor porque a mãe queria lhe conhecer e perguntar como Harry estava se saindo.

A campainha salvou Harry de uma resposta inevitavelmente malcriada. Ele correu para porta e abriu galanteador sabendo quem estava do outro lado. Gina, explosivamente ruiva, sorriu-lhe timidamente. Da esquina, sobre o ombro dela, Harry acenou para o irmão que a trouxe de carro, Carlinhos, e recolheu a namorada para o aconchego da casa.

— Nem preciso rasgar elogios para esse seu vestidinho preto. — olhou-a malicioso.

Renda e seda preta naquela pele branquinha e sardenta. Gina tá querendo me enfartar na juventude ou o quê? Vou me repreender eternamente por não ter reparado em você antes.

— Ficou bom então? — ela avaliou-se indecisa. — Minhas pernas não estão muito a mostra?

Quanto mais melhor!

— Sensacional, sou suspeito para falar. — ajeitou os óculos — E meu beijo?

Gina atendeu ao pedido prontamente. Beijou-o banalmente, parecendo tensa.

— Sua mão está gelada. O que houve? — perguntou no ato. Não seria mais sua intenção deixar qualquer assunto passar e acumular-se entre eles.

— Acho que é o clima de conhecer os sogros. — ela falou sendo pouco convincente. Ele aceitou a desculpa de peito aberto.

— Ora, são meus pais, os bons e velhos Potter. Já conhece eles. — pegando-a pela mão, a trouxe para a cozinha.

Os pais a cumprimentaram com bastante festa e carinho.

— Aceita uma taça de vinho, Gina? — Lily ofereceu delicadamente.

— Eu vou aceitar sim! — concordou a pequena ruiva, ansiosa.

— Nossa, não sabia que gostava assim. — Harry impressionou-se. — Aquela vez que fomos no restaurante... — parou de falar no meio da frase. Se pudesse resgatar alguma recordação do passado compartilhado com a Weasley, não deveria ser aquele fatídico dia.

Gina já não prestava atenção nele. Conversava cada vez mais confiante com seus pais enquanto sorvia os primeiros goles de sua taça. Harry serviu-se de sua própria dose e ficou apenas observando os gestos dela. Se expressava desembaraçadamente, sem engasgos ou recuos. Tinha opiniões e perspicácia em todo assunto abordado. Definitivamente não era uma garotinha, mas uma mulher. E nem parecia a moça assustada por visitar os sogros que ele recebeu na porta.

O jantar demorou quarenta minutos para ficar pronto. O estômago de Harry já roncava ao dar a primeira garfada no macarrão com legumes, saboreando o único prato que James sabia preparar. O assunto entre sua namorada e os pais não terminou durante a refeição, e ele ficou muito feliz por poder conhecer a ruiva verdadeiramente. Talvez aquela fosse a primeira vez que descobria seus modos maduros, suas opiniões formadas e trejeitos corriqueiros.

Perceber que pouco sabia de sua própria namorada era uma sensação ímpar, e otimistamente ele viu como um ponto positivo. Já reconhecia a beleza dela, agora desbravaria outro lado de sua personalidade.

Depois do jantar, o pai fez a típica e batida piadinha que rezava toda vez depois de comerem Yakissoba. Harry esperou ele falar que “Yakissobrou” e Gina poderia levar uma quentinha para casa, para comer no dia seguinte. Educadamente a garota agradeceu, mas preferia não arriscar porque poderia haver uma briga feia entre Rony e Carlinhos pela marmita.

Livre dos pais e das obrigações sociais sobre namorados novos e jantares de apresentação, o jovem pegou a moça pela mão e chamou-a para uma caminhada no quarteirão. A noite estava estrelada e fresca, conspiratoriamente romântica.

— Gostou dos dotes gastronômicos do meu pai?

— Se meu pai cozinhasse assim estaria no céu e com muitos quilos à mais.

— Ele é cozinheiro de um prato só. E seu pai faz aquele macarrão com salsicha, se bem lembro. Adorava comer aquilo quando ia na sua casa.

— Nossa! Agora você resgatou! Ele fazia aquilo quando eu minha mãe trabalhava no supermercado de fim de semana e ele precisava de forrar nossa barriga com alguma coisa. Acho que se parar pra contar, faz uns oito anos.

— Faz tanto tempo que nos conhecemos, né? Tanto tempo que estou na sua vida.

— Eu nunca me esqueci disso. Confesso que no começo tentava te enxergar como um irmão, mas você bem sabe que não deu.

— Graças a Deus. — abraçou-a pela cintura enquanto andavam. — Já contou para o Sr. e a Sra. Weasley de nós?

— Já sim.

— E eles? — ficou apreensivo.

— Minha mãe disse que vai terminar de bordar os enxovais com G&H que anda confeccionando há alguns anos.

— É sério isso? — arregalou os olhos.

— Não. — ela riu. — Só estou simplificando o quão na cara era pra eles.

— É verdade. Só eu não enxergava. — disse constrangido. — Está mais tranquila agora?

— Tranquila?

— Sua tensão mais cedo foi evidente. Era mesmo pelo encontro com meus pais?

— Claro. Se eu disse que era, é porque era.


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Notas finais do capítulo

E então? O que estão achando desse casal?



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