Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 83
Rony


Notas iniciais do capítulo

:)
Espero que gostem!



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Em suas mãos estava o maior bolo de notas que Rony Weasley já recebera na vida como resposta a um trabalho seu. Ele contou e recontou, impressionado com suas cinco mil libras esterlinas. O mérito era inteiramente seu por aquele pagamento. “Ralou como gente grande” brincava Cho Chang relembrando-o dos percalços da semana passada para ser merecedor do dinheiro.

Os dois assistentes fotógrafos haviam acabado de devorar seus gordurosos jantares numa lanchonete localizada diante da movimentada avenida onde ficava o estúdio. A japonesa beliscava os últimos palitinhos de batata frita do prato enquanto o ruivo contava seu dinheiro pela terceira vez.

— Te acho tão bizarro. — objetou a garota sugando os dedos salgados. — Contando essa grana preta debaixo da mesa como um ladrão de caixa-eletrônico. Não tem medo não?

— Do quê? Eu sou um tipo temível na sociedade inglesa tradicional.

— Fala das suas olheiras adquiridas durante as madrugadas lendo seus mangás ou suas toucas de lã? Estamos no século vinte e um, o máximo que você corre o risco é ser considerado um hipster.

— As minhas olheiras não foram adquiridas lendo mangás. Fiquei varando a noite para ler aquelas apostilas que a Tamara me deu para o evento da semana passada — o evento que tinha feito ele angariar as cinco mil libras — ou seja, elas foram meu tributo pela experiência. Até onde sei, você não ficou fazendo social diretamente com os fotógrafos para Tamara e Oliver. Quem fez isso fui eu.

— Eu não queria mesmo. — ela desdenhou. — E nem ganhei tão menos assim, tá legal?

— Tá legal. — ele riu. Cho pegou uma batata murcha e tacou na direção dele.

— Eu falo sério, Rony. É meio louco você não ter uma conta no banco. Somos pupilos de Tamara Cook e Oliver Thomas, daqui a pouco o dinheiro vai começar a escoar pra valer.

— Mais? — espantou-se.

— Claro.

— Então porque você continua andando de ônibus?

— Você é tão estúpido às vezes, sabia?! — ele ignorou o xingamento. Cho lembrava bastante Gina no que tangia provocá-lo, e por essa característica gostava tanto da companhia dela. — Estou juntando para faculdade. Tudo que ganho vai para o banco e já tenho grana para bancar metade do curso quando começar ano que vem.

Ele ficou muito impressionado. Guardou as notas no bolso e se pôs a imaginar como lidaria e administraria seus futuros fundos. Comprar um carro, mais mangás, um vídeo game novo, reformar seu quarto, começar a pensar no seu próprio imóvel e até mesmo estudar... Eram muitas possibilidades.

— Me fala um pouco sobre a faculdade. Qual a vantagem?

— Tudo, oras. Vamos pegar o exemplo da Tamara: ela tinha experiência e talento, mas só conseguiu entender melhor a técnica e expandir suas próprias criações a partir dos conceitos teóricos. Do que adianta acrescentar ovos numa receita se você não sabe que a função é de ligar os ingredientes? O retrato fica incompleto.

— É verdade isso?

— Da faculdade ou da Tamara?

— Dos ovos.

Cho revirou os olhos.

— Sim!

— Bom saber. Agora vou poder explicar pra minha irmã porque os bolos dela ficam horrorosos. Ela sempre esquece os ovos.

De repente o celular dele vibrou, uma ligação. Era Tamara. Após desligar, disse para Cho:

— A chefinha tá me chamando lá no estúdio.

— A partir dessa hora ela não é mais sua chefinha. — brincou a jovem.

Ele teve de concordar. Certamente Tamara tinha algum programa em mente para os dois naquela noite. Pensando por esse lado ficou até mais animado; a namorada andava completamente indiferente a ele depois da conversa sucinta sobre Hermione há alguns dias.

— Aqui tá minha parte. — Rony deixou algumas notas em cima da mesa — Vai pedir sobremesa?

— Não, tô ficando gorda. Vou pedir a conta e zarpar no transporte público da vida direto para minha casa.

— Até amanhã então.

— Vê se abre uma conta pra você, seu hipster maluco.

— É, desta vez tenho de concordar contigo, Japa. — acenou e saiu para rua.

Eram apenas alguns minutos de caminhada da lanchonete para o estúdio. Ele entrou com sua chave, já que o lugar estava fechado para o público, e percorreu a escura recepção alcançando o salão. Apenas duas luzes estavam acessas ali, porém eram suficientes para iluminar o caminho. Encontrou Tamara na cozinha, sentada na mesinha de metal, envelopando alguns negativos e rabiscando no caderno.

— Weasley delivery chegando! — anunciou-se.

— Oi. — ela lhe lançou um olhar resignado e voltou para suas anotações. Droga! Pelo jeito nada mudou.

O rapaz puxou uma cadeira e sentou de frente para ela.

— E aí? O que há?

— Estou terminando de anotar algumas coisas que faltam no almoxarifado. — respondeu sem fitá-lo.

— Falo da gente. Vai ficar me tratando com frieza até quando?

Um vácuo de alguns minutos se acentuou enquanto a fotógrafa terminava sua lista de estoque. Chateado pelo silêncio, Rony levantou indo pegar qualquer coisa na geladeira para não se sentir tão sem graça. Voltou com uma garrafa de água. Ao sentar-se novamente ela já havia terminado e guardado a papelada.

— Vamos conversar então. — aceitou. O modo como disse aquilo fez o estômago dele rodopiar; Tamara não era a mesma.

— Vamos.

Então, subitamente, ela pegou-o pelas mãos e acariciou-as. Sua pele estava quente e macia. Sorriu-lhe com compaixão.

— Gosto muito, muito mesmo de você.

— Eu também. — disse cheio de sinceridade. — É ruim estarmos assim... meio que brigados.

— Não estamos brigados.

— Não?

— Estava refletindo e quando eu reflito fico sombria.

— Muito sombria. — reiterou — Refletindo sobre o que?

— Se eu te contar a história da minha vida promete não me achar uma cretina?

— Só existe uma possibilidade de eu te achar cretina, Tamara. Você destruir todos os meus mangás.

Ela deu aquele sorriso gostoso, mas ele esmoreceu rápido, mostrando o quão sério queria dizer-lhe agora. E disse. Começou falando sobre um tal de Nathan e sobre a paixão deles, que era parecida com todas as histórias de amores adolescentes. A história ficou mais pesada, quando contou sobre os preconceitos raciais que sofreu da família do mesmo. O desfecho foi uma gravidez vingativa e uma rejeição assustada. Ao terminar, para Rony, Tamara continuava sendo a mulher que ele admirava, com uma história tão intensa quanto ela na sua bagagem.

— Não vou deixar de gostar menos de você por isso, se era esse seu medo. — não compreendeu porque tanta tensão.

Aquela revelação, entretanto, não era o final.

— Rony, decidi por nós. Quero terminar.

Ele não entendeu num primeiro momento. Ela repetiu com mais argumentos:

— Se rompermos agora tudo continuara perfeito entre a gente. Teremos uma troca sadia de experiência para lembrar e eu não terei ficado tão viciada nesses seus olhos azuis ou nesse seu cabelo ruivo. Ou na sua boca... Seja lá o que for.

— Não. Eu não quero. — argumentou, se sentindo mais solitário do que triste.

— Você quer sim, só não tem coragem de admitir para si mesmo. Eu admito por nós.

— O que temos é bom. Você é tão importante para mim. Me ajudou tanto...

— E continuarei ajudando, pode apostar sua vida nisso. — assegurou-o enfaticamente — Meu bem querer por você está muito acima da minha atração.

— Tamara... Qual o sentido disso?

— Se realmente gosta de fotografia e do mundo que te apresentei ao longo desses meses, seu caminho profissional estará assegurado. Agora precisa de cuidar do seu outro lado, o sentimental.

— Somos namorados. Esse é meu lado sentimental! — exclamou incrédulo.

— Claro que não. Seus sentimentos todos pertencem à outra mulher. Se acha que tem alguma chance com ela quero que corra atrás, se não, viva seus dias até aparecer alguém que mexa com você tanto quanto esta.

— Você...

— Rony, meu Olhos Azuis. Eu faço sexo como ninguém, sou habilidosa e tenho um corpaço, mas só isso não vai fazer com que se apaixone por mim. Esse não é o seu tipo, gatinho.

Confuso, perdido, deslocado, o ruivo pegou as mãos delas e beijou-as intensamente.

— Estou derrotado. Acabou de me derrubar com um tiro a queima roupa, Tamara.

— Ficaria impressionado se soube a força que tem. Algo me diz, experiência talvez, que nada vai te derrubar mais daqui pra frente.


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