Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 82
Vitor


Notas iniciais do capítulo

Oi queridos!
Estão gostando dos capítulos? Espero que sim, afinal já devem estar percebendo que alguns castelos começam a desmoronar :3

Beijos e ótima leitura para todos!



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Ele precisou de toda paciência do mundo. Respirou fundo, agarrou a barra extensora e retornou para seus exercícios. Procurou concentrar-se nos movimentos, esvaziar a mente de todo aquele aborrecendo. Se ignorasse talvez a raiva passasse, se continuasse alimentando-a de certo o engoliria. Engoliria aos dois, aliás.

Sua namorada parara com as abdominais. Estava sentada num banco, observando-o, procurando todos os sinais de ciúmes que ele esboçaria. Era desse modo que funcionava entre eles agora. Hermione contava algo que o deixava louco de ciúmes e ele tinha de controlar-se porque vivia num teste. Ela queria a todo custo descobrir o maluco dentro dele porque, para a moça, certamente estar junto de Vitor vinha sendo uma experiência, não um relacionamento.

A última nova que acabara de contar fora sobre seu estranhamente “casual encontro” com o ex-noivo. O playboy. Ingenuamente a morena não percebera que o desgraçado a estava rondando. Mas ele sabia. Vitor sabia dessas coisas. Ele tinha certeza. E ainda houve um convite para saírem todos juntos, porque supostamente o fulano encontrara o verdadeiro amor e queria que a antiga noiva a conhecesse.

Hermione jogara a história no ar, talvez querendo que ele falasse o quanto de felicidade ele desejava para o tal também. Não, ela o estava testando. Se ficar feliz será um Krum forçosamente repaginado. Se fingir ignorância e fazer um comentário simples será um Krum diferente, menos tempestuoso. Agora, se agir desse modo como está fazendo, carrancudo e calado, então ela verá que é o mesmo Vitor de sempre.

O búlgaro terminou os exercícios de barra e caminhou para a mochila ao lado dela, pegando uma toalha e enxugando o suor da testa. Situavam-se na área livre de exercícios do clube. O lugar encontrava-se praticamente vazia naquele horário da tarde. Hermione o acompanhava, às vezes usava a piscina, mas quem aproveitava aquele espaço mais era ele.

— Não vai me dizer nada? — a garota quis saber. Se passara quase vinte minutos desde que ela revelara a conversinha mole com Córmaco na universidade e ele virara as costas, calado, para as máquinas.

Vitor pegou a garrafa de água, bebeu longamente e voltou a limpar o suor do rosto. Só então decidiu responder:

— Que tipo de namorado você espera que eu seja?

A pergunta a desajustou. Ela precisou de alguns segundos para elaborar uma resposta:

— Espero que seja alguém com quem eu possa conversar sobre todo e qualquer assunto. Que não precise de ficar pesando cada palavra para não te magoar ou te encher de ciúmes, como aconteceu agora.

— Você terminou com esse babaca não tem nem seis meses! Como acha que eu me sentiria quando me diz “Sabe o meu ex, o milionário? Então, encontrei ele ontem. Tava tão bem. Fiquei feliz por ele”.

— O que queria que eu dissesse? Que não fiquei feliz?

— Não queria que dissesse nada. Poderia era ignorá-lo, o que seria mais condizente com a ideia de não estar querendo nada com ele.

— Isso é tão, mas tão ridículo, que não sei nem por onde começar! Córmaco aparece — dizer o nome dele era só para provocá-lo — e eu viro as costas, então ele tenta estabelecer um diálogo e eu simplesmente finjo que não está falando comigo?! É isso que quer? Que eu dê uma de autista?

— Que tal sair da biblioteca e dar um verdadeiro gelo naquele idiota? Eu acho uma ideia excelente.

— Verdade! É excelente desviar dos meus planos, continuar carregando diversos livros pesados e pagar uma multa no próximo dia porque é conveniente para não alimentar o ciúme doentio do meu namorado!

— Se me acha doentio, porque me conta essas coisas então? — ela o encarou, indecisa. Vitor sabia qual argumento tinha em mente, entretanto coragem para dizê-lo obviamente não.

Duas pessoas da faxina passaram para dentro do salão de festas de olhos no casal. A súbita discussão levaram os dois a elevarem o tom de voz.

— Eu achei que tinha mudado...

— Hermione, seja franca, tenha consideração comigo. Você tem consideração comigo? — ela responderia, se Vitor não a interrompe-se e continuasse falando — Não é a primeira, a segunda, nem a décima vez que monta esses diálogos cheios de ciladas para capturar um pouco do meu ciúme. Esse sou eu, droga! Sou ciumento sim, estou tentando reduzir a intensidade, mas se não me der brecha vai ficar difícil — desabafou, frustrado.

Ela o pegou pelas mãos e o puxou para sentar-se ao seu lado. Seu olhar mudou de acusador para acolhedor.

— Não era minha intenção. Achei que poderia estar te ajudando tornando essas situações mais naturais.

Ele percebeu que respirava rápido e forte, então foi diminuindo o ritmo, buscando a paz novamente.

— Se eu disser que fui leviano durante esses quatro anos, como você se sentirá? Não foi a única, eu menti. Eu dormi com outras mulheres e com todas foram tentativas de recomeçar e tentar te esquecer. Isso vai te enciumar? Coisas assim deixam qualquer despretensioso sem confiança.

— Porque mentiu para mim?

— Essa é a questão! Porque não omite coisas sem importância para o andamento da nossa união? Encontrou aquele playboy? Ótimo, guarde para você. Ou agora toda vez que esbarrar em algum dos meus casinhos do passado poderei convidá-las para uma refeição na sua companhia?

— Não disse pra gente ir comer com ele! Droga, Vitor! Que porcaria de conversa é essa que estamos tendo?

O rapaz ficou quieto, rodando a garrafa de água nas mãos.

— Quero a Hermione do passado. — se viu dizendo.

A namorada mirou-o atônita.

— Como eu era no passado?

— Nós tivemos muitos passados e em um deles você vinha para mim sem preocupações e testes. Foi nesse passado que me ajudou a me erguer e fez com que me apaixonasse de fato.

Hermione escondeu o rosto com a mão.

— O acidente do seu pai...

— A fase em que fomos mais eu e você do que todo o resto.

A morena sabia ao que ele se referia. Acontecera há quase uma década. Iavor Krum sofrera seu acidente automobilístico e Vitor possuía apenas 16 anos. Todo o processo desde ele saber da condição física futura do pai até os primeiros anos de adaptações foram profundamente desgastantes. Iavor pouco colaborava naquela época, sempre ranzinza e a beira da depressão. Também carregava dores terríveis na coluna esmagada se tornando uma companhia deprimente para seu filho adolescente.

Nesse tempo Hermione e ele já namoravam há dois anos. Ela era tão jovem quanto ele, mas fora a cabeça fria e prática que Vitor precisou para levar todo momento sem surtar. Ajudava-o nas compras, o ensinou a cozinhar alguns pratos básicos, ia buscar remédios para Iavor quando o rapaz estava ocupado na escola ou no trabalho na oficina, e, o mais crucial, o estimulava a ter paciência com tudo aquilo. Dizia que o momento passaria e, dali algum tempo, seu pai voltaria a ser o prodigioso Sr. Krum costumeiro. Hermione não disse nenhuma inverdade. Os anos trouxeram o equilíbrio para pai e filho, e para seus espíritos, após aquela desgraça.

E o que ele só viera a descobrir anos mais tarde, foi que, do mesmo modo que Hermione apoiava Vitor com palavras e otimismo, fazia com Iavor. Uma garota atenciosa nos gestos e bem-humorada nas palavras contagiara o ambiente e levara a baixo-estima do pai.

— Ultimamente você vem me fazendo sentir-me egoísta. — a voz de Hermione estava embargada. Ele olhou-a e viu seus olhos marejados.

Era só isso que via nela desde que começaram, choros e choros. Como se ele fosse novos motivos de tristeza ao surgir outra vez no convívio dela.

— Mione, não quero te ver triste. — pegou-a pelo ombro, querendo um abraço. A moça repeliu suavemente.

— Desculpe, desculpe outra vez.

— Para de pedir desculpas. Você continua tão incrível...

— Sem exageros. Vitor, você está certo. Eu do passado e eu do presente são coisas distintas.

— O meu eu do passado também era melhor. — ele argumentou, agora arrependido por levantar a questão. Dizer que Hermione fora melhor antes era algo cruel e injusto para ela.

— Não. Aí que você se engana.

O búlgaro procurou confortá-la mais uma vez. A jovem o repeliu com mais determinação, levantou e disse:

— Vou para casa,ok?

— Vamos...

— Não. Fique aqui e termine seu treino. Eu quero ir sozinha. — pediu.

Então ele ficou vendo-a se distanciar. Não a pressionou, não insistiu. Completamente perplexo, descobriu que não sabia mais o que fazer para Hermione. Com Hermione.


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