Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 76
Erik


Notas iniciais do capítulo

E vamos para um dos capítulos mais frenéticos de Entre Otakus...



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Afagar aqueles cabelos era estar hipnotizado encarando as chamas. Cada madeixa que desembocava do couro cabeludo dela era semelhante a línguas de fogo refulgentes e perigosas. Um amigo uma vez disse que as ruivas eram arriscadas, que um homem poderia ser consumido quando muito perto delas. Erik temia estar sentindo-se assim com Gina.

A namorada permanecia deitada, a cabeça apoiada em suas pernas enquanto ele fazia um cafuné vagaroso nela. Assistiam a um programa de auditório qualquer, apenas para se curtirem naquela tarde no apartamento dele. Pediram lanches, tomaram um pouco de vinho e agora Erik estava admirando a beleza daquela garota, entregue aos seus carinhos no sofá. Mas não totalmente entregue, ele percebia.

Era o amigo do irmão que estava mexendo com ela. Ele sabia e controlava-se muito para não pensar nisso. Desde que o desgraçado aparecera com um buquê de flores e uma cara patética, confessando, depois de ter anos para aproveitar sua chance, que ficara apaixonadinho por Gina, o professor de dança percebia as sutis mudanças nas atitudes da ruiva na relação deles.

Ele somente tinha controle daquilo que via e do que sabia, portanto supunha com grande positivismo, se é que existia um lado positivo nisso, de que Harry-não-sei-o-quê, também estava investindo pesado em sua reconquista nos momentos em que Erik não podia se fazer presente como namorado. Na casa dela, por exemplo.

Ela virou o rosto para ele de repente:

— O que houve? — perguntou numa doce voz.

— Nada. — ocultou — Só estava vendo se seus cabelos viravam labaredas.

Gina tocou o rosto dele na barba. Estava tentando deixá-la crescer um pouco embaixo do queixo.

— Sua boca também está bem vermelha. Deve estar querendo meu beijo. — insinuou.

— Provavelmente. — ele concordou.

A namorada ergueu-se indo sentar no colo dele. Beijaram-se lentamente enquanto a mão da ruiva acariciava a sua nuca. Parecia tão carinhosa quanto de costume. Se não fosse aquele olhar de expectativa, querendo dizer algo para ele, que flagrava um punhado de vezes, tudo estaria bem.

Erik gostava de ser franco, ainda quando tão envolvido assim com aquela garota. Estava apaixonado e precisava saber se era seguro continuar investindo nisso.

— Gina... — descolou suavemente os lábios dos dela.

— O que? Tô com bafo? — quis saber, desconcertada. Quando começavam a se beijar só paravam no momento em que a coisa realmente estava perto de pegar fogo.

— Não. — colocou uma mecha ruiva atrás da orelha dela — Quero que me diga o que vem te incomodando durante esses dias. É o Harry? — ser direito era melhor do que rodear desnecessariamente.

— Por que temos de falar dele...?

— Porque devemos. — disse decidido. — Ele te procurou?

A moça desviou o olhar. Sim, procurou! Você não sabe mentir olhando nos meus olhos.

— Eu... Erik... — saiu bruscamente do colo dele e andou para a janela.

Ele preferiu continuar no sofá, as pernas ficaram de chumbo. Acabara gostando demais de Gina, só agora percebia.

— Pode falar, Gina. Por favor.

— Quero de verdade, do fundo do meu coração, que nós acabemos dando certo. — foi atropelando as palavras. — Sinto todas aquelas coisas boas que as namoradas devem sentir por seus namorados quando estamos juntos. Tesão também, sabe que te quero... — virou para ele. Seus olhos tinham um brilho pesaroso. — Estou confusa. Preciso ficar em paz contigo, te apresentar para minha família, assumir aos meus amigos que tenho alguém, mas...

— ...mas a ideia de perder qualquer chance de um dia namorá-lo é mais forte.

— Erik, queria tentar conosco.

— Eu também, Gina. — e estava sendo o mais honesto possível na afirmação. — Fica difícil, entretanto, quando ele já te beijou.

— Hã? — ela arregalou os olhos. Ele jogou verde e lamentavelmente acertou.

— Tá tudo bem. — resmungou fitando o patético programa na tevê.

A ruiva voltou, voando feito flecha, abraçando-o fortemente.

— Não sou assim! Ele me agarrou, ele forçou.

Erik afagou os cabelos dela.

— Eu sei exatamente como você é, gatinha. Fique calma, pensaremos em algo. — quis tranquilizá-la. O corpo da jovem tremia delicadamente.

Porém, ao soltá-lo a tez dela parecia bem mais sombria. Maquinando formas de abandoná-lo, percebeu. Devia ter antevisto ao ouvi-la proferir que “queria tentar”. Queria, Erik, seu idiota, queria! Gina era correta e integra demais para estar com um homem sonhando com outro. Esse tal nunca saíra do coração dela, assombrando-a igual a um carma. Ele tinha todos os atributos que uma garota deveria querer para se sentir feliz e plena, mas jamais poderia lutar contra uma paixão platônica.

— Acho que preciso pedir aquele tempo. — anunciou funebremente.

— Eu penso que não. — pegou suas alvas e pequenas mãos e beijou-as calmamente. — Esse Harry está querendo brincar novamente, está disposta a participar?

— Erik, eu gosto tanto de você. — limpou uma lágrima que deslizava pela bochecha — Não seria correto.

— Sou adulto e experiente, me responsabilizo pelos meus riscos. Sinto seu desejo ao me beijar. Quero tentar em nome desse sentimento por mim, aí, dentro de você. — Era adulto sim, entretanto correr aquele tipo de risco doía do mesmo modo, sendo proficiente ou não.

Gina pegou a mão dele e beijou também.

— Não quero dar uma chance para Harry. Ele... ele não merece. Só que tinha de dizer pra você que... — suspirou e o professor de dança completou para não deixar a carga somente para ela.

— ... está lutando para se desapaixonar por ele.

— Tem como gostarmos de duas pessoas do mesmo jeito?

— Comigo nunca aconteceu. Infelizmente essa resposta ficarei te devendo. — retorquiu chateado.

A ruiva ia dizer algo, contudo a campainha do apartamento a atrapalhou. Erik franziu o cenho, encarando a porta da sala.

— Tá esperando alguém? — ela o consultou num cochicho.

— Não. — falou noutro sussurro. Sem parentes e amigos naquela cidade estrangeira, a namorada era a única pessoa que vinha visitá-lo em seu lar. Levantou-se desconfiado e caminhou até a porta.

A garota continuou esperando no sofá enquanto ele inspecionava o olho-mágico. A visão no corredor congelou seu sangue. Camille! Como Camille? Por que Camille? O que ela fazia ali? Afastou-se da porta por instinto, completamente descomposto. A ex-namorada tocou a sineta mais duas vezes, com insistência.

— Quem é? Não vai atender? — Gina perguntou, confusa.

Erik respirou fundo. Estava sem opções e o destino nada fazia para ajudá-lo agora. A situação que já era espinhosa se tornaria embaraçosa também, pela presença daquela mulher.

Devia saber que ela me acharia, que não me daria paz!

— O que quer? — abriu apenas uma fresta da porta.

O semblante bonito de Camille surgiu completo para ele. A acusaria por ser infiel e problemática, possessiva e histérica, só que jamais por seu aspecto físico. Camille conseguia ser bem descrita como uma loira baixa, que se vestia muito bem (sem vulgaridade, mas mantendo a sensualidade), de rosto delicado e convenientemente maquiado. Vaidosa e feminina.

— Oi, Erik. — disse inofensivamente.

Ele procurou limitar a visão dela do apartamento. Torceu para Gina ficar quieta lá dentro e ela não forçar uma entrada. A inocência de Camille terminava ao ver qualquer mulher entre eles.

— Não me diga que veio até a Inglaterra só para me perseguir. Se for isso, gastou...

— Não. Não. — prosseguiu em sua voz de fada. — Vim com Shair. Ela veio visitar os avós e me convidou.

Era mais fácil Camille ter convencido a amiga de infância a ir visitá-los no país, só para forjar aquela desculpa.

— Como me achou?

— Fui à sua escola de dança. Disse que era sua irmã e não estava conseguindo falar com você.

— Acabou. O que quer? — disse murmurando.

Ela tentou tocá-lo na face, ele se esquivou com brusquidão. Nesse instante Gina falou lá dentro.

— Erik? Quem é?

Os olhos de Camille mudaram, se tornando aqueles possessivos olhos de harpia que temera. O rapaz segurou a porta, mas a loira chutou-a com força e a madeira escapou da mão dele, escancarando-a. Gina levantou do sofá, assustada.

— Uma vagabundinha londrina? Quer me rejeitar por isso? — gritou Camille querendo cravar suas unhas no rosto dele.

Erik esquivou-se, escapando da ira da ex-namorada.

— Quem é você? O que é do Erik?— gritou Camille para Gina.

A namorada, que continuava sem entender nada, disse:

— Ginevra, sou namorada dele. Quem é você?

O professor de dança fez um movimento para puxar o braço da ex e devolvê-la ao corredor. A ira ensandecida da mulher a favoreceu, passando rapidamente por ele e arremessando-se sobre a ruiva. A agressividade de Camille foi tão intensa que a garota nem teve tempo de antever o tapa estralado que recebeu, fazendo-a rodopiar no ar e cair desajeitadamente no chão.

Aquilo ferveu o sangue de Erik. Ele bem poderia dar-lhe um soco na nuca se não fosse homem. Ao invés disso, correu para Camille e agarrou-a num abraço implacável pela cintura, fazendo ela se debater odiosamente em seus braços.

— ELE É MEU, VADIA! MEU NAMORADO! — a loira gritava.

Gina permanecia no chão, a expressão atordoada, querendo rebentar em choro.

— SOME DAQUI, CAMILLE! — quis arrastá-la para porta.

A jovem Weasley levantou cambaleando, mais chocada do que machucada e correu pela porta no lugar de Camille.

— GINA! NÃO! — gritou ele, desesperado.

Como sua ex-namorada não parava de debater-se na posse dele, sacudiu-a com força e jogou-a no sofá. Então tentou ir atrás da ruiva, justificando-se:

— Ela é louca!

— Me deixa! — exclamou a garota, trêmula. A seguir sumiu de sua vista, partindo corredor afora.

— VAGABUNDA, NÃO VOLTA MAIS! — berrou Camille ficando em pé novamente.

Erik virou para ela controlando a ira.

— Louca! Como pude me envolver com uma louca como você?

— LOUCA? E VOCÊ QUE ESTÁ TRANSANDO COM VAQUINHAS LONDRINAS E ME DEIXOU SOZINHA NAQUELA CIDADE DE MERDA?

— Louca! Você que transou com meu amigo! — cerrou os punhos e afastou-se para não esganá-la. — Se te ver mais uma vez não respondo por mim, Camille. Sai da minha casa! Sai da minha vista! — exigiu escancarando a porta do apartamento.

Ela fez sua expressão doce de antes e isso o deixou mais descontrolado do que nunca. Pegou um de seus troféus de festivais de dança no aparador do telefone e arremessou de qualquer jeito na direção dela. A moça abaixou-se para não ser atingida.

— SAI AGORA! SAI! — gritou em frangalhos.

A mulher voltou a levantar. Estava boquiaberta pela sua atitude. Erik sempre fora carinhoso e meigo com ela, mesmo quando a pegou nua sobre outro homem meses atrás. Naquele dia fora quase compreensivo...

Um covarde apaixonado. Hoje não. Já não sentia mais nada pela mulher que Camille se transformara. Nem amor, nem consideração, nem pena, muito menos boas lembranças. E a cretina ainda atacara Gina num ato covarde e súbito. Não estava certo ficar respirando o ar daquela víbora.

Vendo-a plantada no mesmo lugar, resolveu ele mesmo partir. Pegou a chave do carro e correu. Poderia ser que quando chegasse a maluca tivesse tacado fogo em tudo. Pouco importava. Erik correu para a rua, tentando alcançar sua ruiva. Infelizmente não a encontrou mais aquela noite.


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Notas finais do capítulo

E aí, pessoal?
O que acham que Gina fará agora?
E Erik, será que ele perdeu suas chances com a ruiva?

Comenta aí, meu povo querido!
Beijos :**



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