Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 75
Gina


Notas iniciais do capítulo

E aí pessoal? Estavam com saudades desse trio tempestuoso?



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Escolheu um esmalte vermelho e aprumou-se na cama para pintar as unhas dos pés. No celular ao lado, uma música melosa qualquer embalava seu momento de vaidade. Na cabeça os pensamentos não poderiam estar mais longe. Estava tendo de dar o braço a torcer sobre o quanto o beijo abusado de Harry lhe causava calafrios na barriga a cada lembrança. Nunca o imaginou tão determinado em beijá-la, como se fosse feita de algum elixir precioso que deveria ser experimentado.

A até bem poucos meses atrás ela era a boboca criançola, sem atrativos para ele. A garota, que por mais que se enfeitasse, sentia-se mais menina do que mulher diante do olhar dele.

Mas o olhar de Harry mudou. Agora remetia desejo quando a fitava e o que foi aquele jeito atrevido de aproximar-se a qualquer custo? Nem Gina com toda sua famosa teimosia podia manter-se fria diante das investidas corajosas e ousadas do primeiro amor de sua vida. Primeiro porque agora havia Erik... Ou ele ainda não tinha subido de posto no coração dela naquele pódio conquistado por Harry?

Entretanto Erik mexia com ela de um modo diferente. Despertava algo que fazia seu sangue esquentar ao toque e transformar-se numa verdadeira ebulição com as tais carícias. Como um homem mais velho, ligava os botões da jovem e controlava-a em maestria plena nos prazeres de carne. E em outros momentos, seu professor de dança conseguia ser tão competente? Se viu novamente respondendo que sim. A tratava com carinho, respeito, e a conversa entre eles fluía facilmente. Às vezes nem parecia que contabilizavam dez anos de distância um do outro.

Com o amigo de seu irmão não se lembrava de diálogos tão prazerosos. Nunca houvera muito diálogo, se Gina pensasse com afinco. Desde pequena ficava em sua sombra, cobrando sua atenção, e naqueles anos ganhara alguns esculachos e várias portas na cara. Depois que virou adolescente, ele começou a conversar com ela melhor, só que os assuntos eram superficiais e constantemente terminavam nele e em Rony provocando-a aos gracejos.

Ainda assim, como um vício incontrolável, por mais que Harry representasse tudo e nada ao mesmo tempo, o beijo dele ainda a deixava algumas horas acordada todas as noites. Ou com a cabeça longe dentro do ônibus. Ou lembrando-se do gosto do sangue dele depois que mordera seus lábios. Dessa parte ela ria baixinho, malignamente.

A ruiva gostaria de ter alguém com que debater sobre suas inquietações, mas fora condenada por uma penca de irmãos. Nem Rony, com toda sua discrição, poderia aconselhá-la, já que sua vida era tão confusa quanto a disposição das roupas em seu guarda-roupa. E ainda por cima ele era um homem, ela queria falar com uma mulher.

Molly, sua mãe, também estava fora de cogitação. A moça era vista pelos pais como o “bebê da família”. Sentença por ser a mais nova e a única filha. Se contasse para a mãe que namorava um rapaz dez anos mais velho e que ele lhe dava um prazer erótico absurdo, poderia ter de ficar em casa pelo próximo século, ou ser obrigada a usar um cinto de castidade.

Possuía amigas sim, embora muitas delas fossem completamente desmioladas. Fora uma delas que disse para ignorar Harry depois que voltou dos Estados Unidos. Tudo bem que dera certo em partes, só que não ajudava em nada na sua confusão sentimental. As garotas da aula de dança estavam terminantemente riscadas da lista também. Se soubessem sobre Erik acabariam por olhar torto para eles e inventar mil confabulações sobre preferências nas aulas.

Após retocar o último dedo e esperar o esmalte secar, Gina descobriu que havia alguém que poderia tentar a sorte. Ela era da família e bem mais experiente. Além de delicada, bondosa e, o principal, discreta. A garota trocou-se, inventou uma desculpa qualquer para Molly e tomou um ônibus até a casa de sua possível ouvinte.

***

O prédio onde Gui morava era constituído de apenas quatro andares. Típico em estilo vitoriano, construído num bairro muito calmo de Londres. Os tijolinhos vermelhos estavam desbotados e as grades da escada precisavam de outra demão de tinta. Fora isso, por dentro era um edifício aconchegante e bem organizado.

Gina anunciou-se no interfone e Fleur respondeu de imediato. A voz da cunhada soou surpresa porque não era comum a jovem aparecer para uma visita repentina no meio da tarde. A loira rapidamente abriu a porta do saguão para ela entrar. Depois de subir três lances de escadas, foi encontrar a mulher já de pé em frente a porta do apartamento para recebê-la.

— Gina, aconteceu alguma coisa? — questionou num tom vacilante.

— Não. Vim fazer uma visita, está ocupada? — Gafe, deveria ter ligado antes de perturbar.

— Oh, não. Entre, entre. Estava lendo um livro. — com um gesto fez com que a ruiva entrasse.

A casa cheirava a chá de hortelã e bolo de limão. A televisão da sala estava desligada e um livro grosso apoiado no braço do sofá de dois lugares. Tudo pairava no mais perfeito silêncio.

— Não estava dormindo né, Fleur? Me desculpe...

— Claro que não. Acabei de fazer o chá da tarde. Daqui a pouco as crianças chegam da escola. — sorriu calmamente. — Quer bolo?

— O cheiro está incrível. — admitiu.

— Então vem comigo. Vamos montar a mesa para lancharmos.

Acomodaram um lindo bolo no centro da mesa, pegaram xícaras, pratinhos, o bule e se sentaram. Fleur serviu o primeiro pedaço para a cunhada enquanto bebericava seu chá. Depois das primeiras garfadas no bolo, a moça suspirou:

— Esse bolo de limão está fantástico. Meu irmão passa bem!

— Gui diz que não paro de engordá-lo com meus doces.

— Ah sim, ainda bem que não moram lá em casa conosco. Estaria imensa.

Fleur serviu-se de um pedaço de sua própria arte.

— Ao que devo a honra da visita da caçula Weasley? Estou curiosa.

— Desculpe por não vir com tanta frequência. Quer dizer, por só vir quando preciso de algo. Bem... — começou a ruborizar diante dos estonteantes olhos da loira. De repente viu-se arrependida por estar ali. Nem iniciara o assunto e já estava envergonhada.

— Seja o que for não falarei para seu irmão ou para sua mãe. — a palavra “mãe” saiu um pouco azeda. Era sabido na família que Fleur e Molly nutriam uma rixa divertida quando encontravam-se juntas no mesmo ambiente, pela atenção de Gui. Por mais que a Sra. Weasley não admitisse e os trata-se no mesmo amor, Gui era o queridinho, o primeiro filho, e a moça prateada o tirara da companhia constante dela há alguns anos.

— Eu não tenho com quem falar sobre isso. — confessou Gina, percebendo o quão intuitiva Fleur era.

— Tem a mim. Diga, Gina?

— É um rapaz.

— Naturalmente.

— Quer dizer, são dois.

— Humm...

— Já ficou entre dois relacionamentos? No meio de uma encruzilhada sem saber quem escolher?

— Mais ou menos. Você está namorando dois garotos?

— NÃO! — disse alarmada, depois repensou — Bem, sim e não. Beijar um namorando com outro, sendo que esse um forçou o beijo conta como dois relacionamentos?

Fleur riu baixinho.

— Realmente não sei dizer. Meio termo outra vez?

— É, provavelmente mais ou menos. — a ruiva concordou.

— Conheço alguns desses garotos para ter uma base? — Claro que conhecia, todo mundo conhece! Até a Rainha da Inglaterra sabe que sou apaixonadinha por Harry!

— Um deles é o idiota do Harry, claro. — disse afobadamente.

Fleur bebericou lentamente mais um pouco do seu chá.

— E ele é quem nessa história?

— O que me beijou a força.

— Então ele finalmente resolveu enxergá-la?

Gina nunca contara abertamente a cunhada sobre sua paixão por Harry, mas já era esperado que ela é metade de Londres soubesse.

— Um grande imbecil!

— Não conheço tão bem o amigo do seu irmão, porém me parece que mesmo de óculos, continua cego.

Gina gargalhou. Ei, Fleur, estou gostando de você!

— Adora me por de lado e agora que estou bem aparece do nada querendo me agarrar e me comprar com flores. Detesto flores.

— Mas isso pode ter acontecido porque ele ficou sabendo que está experimento outra paixão. Deve tê-lo deixado inseguro e, acima de tudo, aberto seus olhos pelo o que sente por você.

A ruiva ainda estava descrente.

— Me conte desse seu outro rapaz. — incentivou a loira.

— É meu professor de dança. Um homem gentil, quente e lindo. — ruborizou.

Fleur pegou na mão dela.

— Mais velho que você?

— Alguns anos.

— E sente o carinho dele? De verdade?

— Sinto, por mais que Harry fique falando aquelas babaquices de que é velho, só quer se aproveitar de mim e tudo mais.

Isso fez a mulher casada sorrir.

— É puro ciúme, Gina. Puro e verdadeiro ciúme.

— É verdadeiro também o que sinto por Erik... e acho que ele por mim também. Mesmo com a idade.

— De cabeça a diferença de idade entre vocês não deve ser nada. Eu e seu irmão, por exemplo, sou seis anos mais nova e estivemos constantemente em igual sintonia. E olha que na época tinha dezesseis anos.

Ela conhecia aquela história. O pai de Fleur chegou a proibir o namoro quando soube que a filha estava namorando um rapaz de vinte e dois anos. Teve de ir com seus pais até a casa dos Delacour provar o caráter e as intenções de Gui para que o namoro deles prosseguisse em harmonia. Essa lembrança levou a moça perguntar:

— Qual, afinal, é o irritante problema em estar com uma pessoa mais velha?

— Nenhum. — a cunhada apoiou uma mão no queixo — Existe um preconceito sim, e muito disso vem daqueles rapazes que gostam de pegar as meninas inexperientes e deslumbradas nos assuntos do coração. Você conhece os argumentos — conquistar, levar para cama, não querer mais, pensou Gina. E até aí Harry também era mais velho do que ela, e, além disso, Erik recusou-se terminantemente tirar sua virgindade quando esse momento chegou. — De quem gosta, afinal? Do novo amor ou da ideia do antigo estar finalmente te querendo?

Ela pensou bem sobre a questão enquanto terminava seu bolo. Encontrou a resposta depois de terminar o chá.

— Gosto de Erik, entretanto não consigo esquecer o beijo que Harry me deu, nem os olhos que lançou para mim quando disse que queria uma chance. Um sonho estúpido, eu sei, mas ver ele me desejando sempre foi meu sonho. Isso, com certeza não é somente o gosto por uma ideia.

— Então aí está sua resposta. — Fleur serviu-as de mais chá — Mas lembre-se: o coração de uma mulher apaixonada é mais traiçoeiro do que preciso.


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