Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 74
Hermione e Rony


Notas iniciais do capítulo

Bom, vamos ao aguardado capítulo de duplo POV!

Beijos, meu povo!! o/



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A pedalada até o parque transformou-se numa tarefa um tanto desgastante já que a tarde resolvera ser de sol. Rony conseguiu inventar uma desculpa qualquer para sua chefa (e namorada) para sair mais cedo do trabalho e saiu pedalando debaixo de um tempo nublado e reconfortante. No meio do percurso o dia ficara ensolarado, fazendo-o suar um pouco.

Quando ele parou a bicicleta perto de alguns arbustos achou que teria tempo de ajeitar-se da descompostura e do suor, mas Hermione já o esperava, sentada, balançando o corpo calmamente num balanço

Da outra vez que estiveram ali, Rony supôs que ninguém frequentasse aquele parque tão fora de mão. Enganou-se. Havia duas mães conversando perto do gira-gira e três crianças correndo entre os brinquedos.

Ela o viu chegando, trazendo uma mochila nas costas. Usava camiseta e os cabelos estavam ineditamente livres de sua fiel companheira, a touca de lã. Fios ruivos grudavam nas laterais de sua testa, denunciando de que viera de bicicleta e transpirara. Hermione o achou bem atraente suado e corado.

Cumprimentaram-se primeiro com olhos e sorrisos, depois ele disse:

— Juro que te daria um beijo de boas vindas se não estivesse suado.

— Eu não ligo. — levantou e beijou-o gentilmente na bochecha. A pele dele estava quente. Ficou esperando que ele talvez a abraçasse também, mas Rony limitou-se a tocá-la no braço. — O que vem nessa bolsa? — perguntou curiosamente.

Rony apoiou a mochila na perna e abriu o zíper, de lá dentro retirou um exemplar da sua coleção de Akira.

— Meu tesouro. — deu a ela o mangá.

Hermione retirou do plástico cuidadosamente, como o ritual mandava, e admirou a capa. Seus olhos brilharam e ele ficou orgulhoso por isso. Ficou bem consternado também, porque voltar a estar perto daquela morena trouxe aquele característico perfume ao seu nariz. Assim percebeu que sentiu mais saudades do que havia imaginado.

— Katsuhiro Otomo! — exclamou a moça não o impressionando nem um pouco por conhecer o autor de uma das melhores histórias distópicas dos últimos tempos. — Vai me emprestar? De verdade?

— E quero que apreciei bem até chegar o momento de eu resgatá-los novamente.

— Resgatá-los? — riu — Ok, seus filhos estarão bem como meus reféns. Pode apostar. Vamos ali ao meu carro e já vou guardá-los antes que mude de ideia.

Caminharam lado a lado através do gramado. Uma das crianças passou correndo na frente deles, ansiosa para estar no escorrega. Ao chegarem ao meio fio da rua a morena abriu a porta de um carro cinza, de marca popular.

— É do meu pai. Ele me empresta às vezes. — comentou abrindo a porta do banco de trás.

Rony começou a passar as revistas para ela, enquanto a jovem ia acomodando nos bancos. Pelos ombros dela, o rapaz relanceou uma caixa de bombons parcialmente vazia e um papel em forma de coração.

— Seus pais são românticos? — ele perguntou para instigá-la a responder, embora tivesse visto o nome de Hermione no topo do papel.

A garota sabia, e queria, contar para o ruivo sobre seu novo envolvimento. Somente não esperava que tivesse de ser em forma de justificativa. Ganhara a caixa de bombom de Vitor naquela manhã, antes de ir para faculdade e deixara-o ver o bilhete no garrancho grande do namorado, com seu nome, às vistas de Rony. Fechou a porta e encostou-se nele.

— Era meu. Você viu. — abriu o jogo.

Rony tentou não mostrar um semblante desapontado. Em seu âmago já esperava por aquilo e, se não, de todo jeito não teria direito de ressentir-se. Fora o combinado deles “Cada um com sua vida”. Ele seguia a dele, namorando outra mulher. Dormindo na cama dela.

— É. Eu vi. — encostou-se no carro também. — Um admirador?

— O meu ex-namorado.

— Que voltou ao primeiro posto, suponho.

Hermione anuiu, chateada.

— E como está sendo? — parecia conformado e aceitando bem a notícia, a morena pensou.

— Quer a verdade?

Ele respirou pesadamente. Não, não queria. Os mangás eram seu porto seguro de que a veria novamente, de que pudessem estar juntos outra vez, mas dependendo da resposta dela suas esperanças ruiriam ali.

— Claro. — coçou o queixo — Somos confidentes nos nossos encontros trimestrais.

— Estou perdida. — suspirou — Ter o perdão dele foi um alívio para minha consciência pesada. Voltamos a namorar e, apesar dos anos, parece que retornamos exatamente do ponto em que paramos.

— Isso é bom, não é? — por dentro estava devastado.

— Voltarmos do ponto onde paramos para mim quer dizer sentir receio de que alguma hora ele tenha algum dos seus ataques de ciúmes.

— Oh...

— Eu menti hoje. Prometi para mim que não mentiria para Vitor em nada, causando ciúmes ou não nele, mas menti. Disse que teria algumas coisas para resolver na cidade a tarde. Senti medo.

Rony não sabia exatamente como ajudá-la, até porque a notícia não era "más novas" para ele. Entretanto buscou interagir:

— Creio eu que sentir medo é ruim para um relacionamento. Esse tipo de medo, sobretudo.

— Eu o imaginei aparecendo e socando sua cara. — sorriu nervosamente.

A possibilidade não agradou o rapaz:

— Ele é um pouco grande. Torceremos para que fique só na sua imaginação. Sou bom em corrida, principalmente em cima da minha bike, porém num combate corporal tenho alguns músculos a menos de desvantagem contra esse carinha.

— E o que explicaria a sua namorada, não é mesmo? Se aparecesse com a cara machucada por ter apanhado do namorado de outra moça?

A insinuação de Hermione o espantou e o decepcionou. Como ela sabia? Haveria de contar sobre Tamara, mas gostaria de dar uma boa introdução em como a fotógrafa vinha mudando sua vida.

— Agora me pegou. — levou a mão no tórax.

— Quem é? Sua ex? — a confirmação esvaziou-a como uma bexiga furada.

— Como soube que estava namorando?

— Não respondeu minhas singelas mensagens com entusiasmo e tem algo em você também... Sei lá, alguma coisa diferente em seus olhos e sua postura.

— É porque estou sem a touca. — quis justificar-se.

— Não é isso. Está mais feliz, mais seguro de si. Arrisco a dizer mais independente.

As mães chamaram seus filhos e começaram a vir na direção deles. Com as crianças correndo por seus pés, as mulheres pegaram seus respectivos carros e partiram. O parque tornou-se deserto. Apenas Rony e Hermione destrinchando sobre como suas vidas mudaram nesses três meses.

— Ela é minha chefa. Me convidou para trabalhar no seu estúdio de fotografia e, de repente, estava ganhando melhor, me divertindo mais e percebendo as diversas responsabilidades que venho deixando para trás.

A moça experimentou um intruso ciúme. Poderia perder uma madrugada inteira idealizando, mas era incapaz de ver aquele ruivo com outra paixão que não fossem seus mangás. Outros lábios que não houvessem sido os dela.

— Então essa garota está te fazendo bem?

— Não é uma garota, é uma mulher feita. Tamara tem mais de trinta anos. As experiências dela e os conselhos, acima de tudo, vem me fazendo sentir-me mais útil e produtivo. — encarou a morena — Curioso em como pode vir alguém na nossa vida e começar a fazer tudo mudar, não acha?

A jovem controlou-se ao máximo para exibir algo que não fosse recalque. Ciúme e recalque. Ela estava ali, sem saber se amava ou temia Vitor Krum, metida em mais uma rede de confusões sentimentais enquanto Rony encontrava todo caminho e todas as respostas nos braços de uma mulher muito mais experiente do que Hermione.

— Estou feliz por você. Por estar com essa pessoa inspiradora e... e esclarecedora.

Rony captou tristeza e descontentamento nela. Percebeu sua confusão e adiantou-se em desfazê-la.

— De que alguém acha que me refiro?

Uma brisa vespertina atravessou as árvores que rodeavam o parque e acertaram eles romanticamente. Os cabelos dela esvoaçaram, a franja dele também.

— Dessa mulher inovadora na sua vida. Fico...

— Estou falando de você, Hermione. Continuaria naquela banca tão satisfeito quanto uma lesma num jardim lamacento senão tivesse aparecido. Me fez enxergar, indiretamente, que deveria dar chance a outras coisas, como quando esqueci minha antiga namorada e resolvi dar chance a nós. Pode não ter dado certo, por enquanto, contudo a mudança teve você como ponto de partida. Estou feliz com Tamara, é verdade, mas não me permito esquecer um dia que seja do nosso rápido envolvimento.

A moça molhou os lábios e aproximou-se desejando colá-lo nos dele. Gostava desse rapaz! Com ele não se sentia acuada nem rodeada de obrigações. Ainda assim deu um jeito de afastá-lo. Poderia listar todos os motivos nos três meses que haviam se separado para aquele rompimento ter acontecido. Olhando para ele pessoalmente nenhuma dessas razões vinha a sua mente.

De repente o celular dele tocou, quebrando o momento. A rápida conversa a fez deduzir de que fosse a tal mulher brilhante com quem ele estava.

— Daqui três meses então? — perguntou para ela.

Estava encerrando o assunto. Partindo para a outra.

— Claro. Daqui três meses. — Hermione sorriu mecanicamente e beijou-o na bochecha.

Quando a morena entrou dentro do carro e ele montou na bicicleta, Rony se pôs a pensar que assim estava melhor. A escapada brusca foi dolorosa, embora necessária. Não queria trair Tamara e também não achava que aguentaria olhar Hermione por muito mais tempo sem tocá-la.


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