Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 72
Rony




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Rony trabalhava com afinco de segunda a sábado, muitas vezes nem o domingo escapava. Tamara ensinava-o numa velocidade feroz dizendo que ele tinha mesmo habilidade para aprender. Ele confessou para si que estava verdadeiramente adorando ser assistente de fotógrafo. Seu último salário, por exemplo. Conseguiu abandonar o vício, deixando de lado vários mangás para comprar outro mês, em detrimento de um livro gigantesco que sua namorada dizia ser a bíblia dos fotógrafos.

Namorada. Era este o título que Tamara tinha em sua vida agora. Sua experiência o envolvia numa atmosfera diferente, nova de qualquer coisa que o rapaz já experimentara. Não sabia quando a mulher comentava, incentivava-o ou lhe passava uma reprimenda, em qualquer das ocasiões ele sempre se pegava convencido de que os conselhos dela o ajudavam dia a dia.

Sentiu uma sensação boa, de utilidade, ao doar vinte por cento do seu ganho no estúdio (muito maior que a ninharia no shopping) para ajudar os pais no mercado daquele mês. Molly Weasley olhou-o espantada quando Rony depositou várias notas de libra em cima da mesa enquanto a matriarca rabiscava a lista de compras.

— O que é isso, filho?

Rony voltava do trabalho. Já eram dez e meia da noite. Tirou a touca e escolheu uma cadeira ao lado da mãe.

— Minha ajuda do mês.

— Roniquinho...

— Dê para o pai, para inteirar no mercado.

Molly passou a mão pelo braço do filho carinhosamente.

— Esse é seu dinheirinho, não precisa, querido. — arrastou as notas na direção dele.

Ele sorriu docemente para mãe e tocou-a no ombro. Arrastou as notas na direção dela outra vez.

— Claro que precisa. Passou da hora, inclusive.

— É seu dinheiro.

— Eu ganho melhor do que jamais ganhei, mamãe. E devo ajudar por aqui.

— É meu filho. Meu menino caçula, sempre cuidei de você e sempre cuidarei.

— Sou seu caçula, mas estes também crescem. Daqui uns cinco anos faço trinta e estou grandinho demais para ficar sob a responsabilidade perpétua de vocês. Preciso ajudar. Quero ajudar.

A Sra. Weasley estudou-o cismada.

— Seus irmãos mais velhos vêm enchendo sua cabeça quanto a isso? O aborrecendo?

Rony era protegido por Molly desde que se entedia por gente. Os irmãos, principalmente Percy, não lhe cobravam atitudes há bastante tempo, certamente conformados. Entrementes, não queria dizer que não estavam certos. Lembrando-se das ocasiões em que pedia para os pais comprarem todo o tipo de guloseimas para ele já adulto, permitiu-se sentir vergonha. Ele era um homem. Tamara dizia e repetia "Você é um homem, Olhos Azuis". Passava da hora de agir como tal.

— Aceita, mamãe. Tentarei ajudar todo mês daqui em diante.

Vendo que não conseguiria regredi-lo a seu caçula acomodado, Molly anuiu e agradeceu.

O rapaz entrou no quarto e começou a tirar a roupa. A namorada admirava seus músculos alvos e sardentos, embora ele não achasse nada demais no cara refletido no espelho. Meteu-se em roupas mais confortáveis e foi para cama. Acordara muito cedo e deveria estar com sono, ansioso por enfiar a cabeça no travesseiro e desabar. O sono, porém, não veio. O grande dia aproximava-se. Três meses sem ver Hermione Granger.

Agora tinha alguém e pesou se deveria encontrá-la ou não. Percebeu o inevitável quando perguntou isso ao seu coração. Tamara era uma criatura linda e perfeita, excelente no sexo, com beijos incríveis, uma conversa maravilhosa e mais o instruía do que cobrava, porém não era aquela morena fã de mangás. Não possuía a aura única e instigante que o atraía naquela garota. Por outro lado, não seria traição à fotógrafa encontrá-la. Conversariam como bons amigos.

Pelos meses passados ele decidiu que era melhor ligar para a jovem e confirmar. Se a vida dele vinha mudando á cambalhotas desde o a última vez, a dela poderia estar em situação parecida. E Hermione poderia não o achar tão atraente que valesse a amizade e o reencontro.

Discou os primeiros números de cor e só teve de clicar no nome dela quando apareceu na tela do celular. Ficou de pé, ansioso pelos toques, até que a voz a moça ecoou do outro lado.

— Oi, Hermione.

Rony. Tudo bem? — ela o saudou.

— Tudo legal. — sorriu nervosamente para o aparelho — Estou ligando pra saber se nosso encontro está em pé.

Claro que sim. — disse de imediato. Aquilo o tranquilizou.

— Legal. Tem novidades para mim?

Algumas. — ouviu-a responder sem muita firmeza.

— Eu também. Acho que vai gostar de alguns rumos que andei seguindo.

No fim da tarde, na quinta?

— Isso, no mesmo horário. Está bem pra você?

Estarei lá.

Estava tímida, tão tímida quanto ele.

— Então até lá.

Até lá.

— Beijos. — desejou impulsivamente.

Beijos. — ela retribuiu depois de breve silêncio.

Ao desligar se pôs a pensar no encontro. Que mangás levaria para emprestar a garota, como prometido? Olhou para sua estante e correu os olhos por centenas de revistas, dos mais variados gêneros e volumes. Este era o grande elo compartilhado entre os dois.

Lembrar-se desse vínculo o deixava feliz, pois nem Tamara, aberta e disposta a novas aventuras, conseguia entender seu vício por aquelas histórias. Adorava aconselhar Hermione acerca do assunto. Apresentou-a boas obras e ficou satisfeito quando ela dissera bem de todas elas. Queria apresentá-la a mais uma, a que considerava a melhor de todas.

Os mangás que tinha em mente nem na estante ficavam. Ele os embalara a vácuo e guardara-os muito bem guardados numa caixa de tranca que ocultava na última gaveta do guarda-roupa. O zelo fora absurdo porque tinha medo de que a irmã ou os sobrinhos pegassem os volumes e amassassem. Não era possível ter muita privacidade naquela casa.

Rony livrou seus volumes de Akira do “cofre” e guardou-os com esmero e perícia na mochila destinada ao transporte dos mangás. Emprestaria à morena sua peça mais valiosa da coleção, sua história predileta de todos os tempos, porque nisso, não importa o que acontecesse, teria um motivo muito forte para encontrá-la numa próxima vez depois deste encontro.


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