Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 66
Rony


Notas iniciais do capítulo

Recado: conhecem minha fanfic de terror, Os Convidados? É Romione (só pra variar), mas tem Gina, Harry e até Draco. O melhor de tudo que é já está completa. Vou deixar o link para quem quiser ler e comentar: http://fanfiction.com.br/historia/320765/Os_Convidados/

Beijos, espero que gostem do capítulo!



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Tamara dirigia pela estrada conduzindo-os pacificamente pela faixa da direita. O rádio estava ligado e Bon Jovi cantava uma de suas baladas românticas enquanto a fotógrafa e a asiática assistente cantavam também. As moças eram animação pura. Rony não podia dizer o mesmo: Fora arrancado cinco e meia da manhã da cama, com sua chefa tocando loucamente no seu celular e quebrando o silêncio aconchegante do quarto.

Era uma terça-feira e o ruivo não se lembrava da última vez que tivera de acordar tão cedo. Este estava sendo seu novo trabalho. Passaria o dia carregando tripés, bolsas com objetivas, filtros e Cho Chang certamente ficaria encarregada da parte divertida, ajudar Tamara pessoalmente nos registros.

Agora eram sete e quarenta e a negra alto astral cutucou as costelas dele, que estava no banco do passageiro.

— Rony, não fica emburrado assim. Já vamos parar e comer algo no posto antes de pegarmos a trilha para a floresta.

— Eu só estou cansado. — tinha a cara amassada de quem jogara vídeo game e assistira animes até às três e meia da madrugada.

— Você reclama demais. — Cho resmungou. Era baixinha, cabelos negros, rosto redondo e olhos bem puxados. No momento, estava indo contra todas as leis de trânsito que prediziam segurança: deitada no banco de trás, os pés apoiados no vidro, os braços sob a cabeça.

— Tamara, cadê o cinto dessa japa? — Rony disse a chefa, para irritar a japonesa.

— Bláblábá... — Cho revirou os olhos.

Se por um lado o trabalho lhe parecia puxado e sem mangás, em questão de duas semanas Rony se entrosara maravilhosamente bem com seus colegas de trabalho. Tamara era a pessoa mais fácil do mundo de se estabelecer comunicação, nem parecia sua empregadora. Cho tinha qualquer coisa jovial e elétrica, semelhante à Gina, mas era um ano mais velha do que Rony. Pouco via Oliver, porém era comunicativo e elegantemente fatalista. Havia ainda os dois recepcionistas e a senhora polonesa que limpava o estúdio. Todo mundo tratando ele bem desde o primeiro dia.

A fotógrafa estacionou em frente ao centro de conveniência de um posto na base da floresta, que crescia colina acima, e eles saltaram do carro. Entraram no restaurante, pediram pães fritos com ovos e chá, e comeram com prazer. O estômago do rapaz roncava.

— Como foram seus outros empregos se não gosta de acordar cedo? — Tamara questionou Rony.

— Eu nunca trabalhei antes das onze. Desde a escola que desacostumei de acordar tão cedo. — respondeu.

— Você é uma figura, Rony Weasley. — penetrou-o nos seus potentes olhos negros de ônix.

Ao mesmo tempo em que aquela mulher lhe lançava olhares gentis e doces podia mostrar outra faceta: uma tez determinada refletindo vivência e algo mais do qual o ruivo não identificava.

— Ele tá emburrado porque vai carregar o equipamento pra gente, Tammy. — Cho revelou.

Tamara apenas fitou-o esperando que se justificasse.

— É que eu quero aprender a mexer nas câmeras...

— Vou ao banheiro. — a japonesa anunciou e saiu para os fundos da lanchonete.

Rony continuou seu discurso.

— ... achei que esse emprego me traria algo de diferente, quer dizer, vou ter que carregar as coisas pra sempre?

— Faz duas semanas que começou e já está reclamando? — embora sorrisse, os olhos da mulher eram desabonadores. Ele ficou sem graça.

— Desculpe, eu ando meio tenso ultimamente.

Ela pegou uma das mãos dele e espalmou com a sua. A mão dela era pequena perto da dele, contudo os dedos eram longos e ágeis. As unhas estavam pintadas de lilás.

— Como posso confiar meus bebês a mãos tão grandes e tensas? — piscou-lhe.

Tamara fazia isso em alguns momentos. Normalmente era quando estavam sozinhos. Rony não buscou pensar muito sobre o assunto, só que parecia que ela lhe paquerava nessas ocasiões. Impossível. Tamara era superior a ele em todos os sentidos!

— Por que gosta de me intimidar? — ele quis saber.

— Não estou te intimidando. Você é um rapaz bem misterioso, somente tento entendê-lo.

— Sou mais simples do que imagina.

— Aposto minha carreira que não. — ela estralou a língua. — Eu vou começar a ensiná-lo a manejar a câmera hoje, Tolinho. — soltou a mão dele. — Tem que ser menos apressado, sabia?

Ele ficou feliz, acordar cedo valeria algo mais do que seu salário afinal.

— Prometo não ficar tenso.

Cho retornou do banheiro reclamando de falta de papel e descargas quebradas. Depois Tamara pagou a conta, voltaram para o carro e pegaram a trilha para o Bosque dos Abelharucos.

A subida era tudo de perfeito em termos de natureza que seu país podia oferecer. Aquela região, a quase trezentos quilômetros da capital, compunha-se de florestas coloridas, repletas de faias de troncos cumpridos e copas largas. Os pneus do carro iam quebrando as folhas ressequidas e vermelhas na estradinha de terra, fazendo a trilha sonora do percurso.

Perdidos em centenas de hectares de vegetação, chalés montanhosos lucravam com aquela paisagem e era para uma delas que eles trabalhavam hoje.

Tamara e seus assistentes se responsabilizavam de fotografar tudo que houvesse belo e atrativo para propagandas visuais na região chamada Bosque dos Abelharucos. Abelharucos eram os pássaros nativos, lindos espécimes coloridos de bicos agulhados. Rony podia ouvir o canto deles e de outras dezenas de espécies enquanto avançavam. A cada hora compensava mais ter desgrudado do travesseiro.

Sua chefa estacionou numa clareira e eles começaram o trabalho. Pegaram bolsas e os equipamentos em geral, e se embrenharam no meio da mata. As moças usavam botinas de couro de cano baixo, já Rony seu coturno preto que ganhara há dois natais dos pais, mas pensou que se andasse descalço pelas folhas seria uma sensação gostosa.

Pararam depois de meia hora de caminhada num aglomerado de pedras lisas que serviram para apoio dos objetos. A negra deixou os dois assistentes desempacotando e instalando os pertences e correu para uma elevação por de trás das pedras. Voltou sorrindo de orelha a orelha, contando os louros de sua intuição. Fotografara um ninho vistoso construído entre duas copas instáveis. Os chamou para admirar as aves. Cho e Rony viram cinco filhotes depenados e rosados gritando por uma mãe ausente.

— Não são as coisinhas mais feias?! — disse ela em tom de carinho.

— Isso é um elogio aos coitados? — Rony franziu o cenho.

— Ah, Rony, eles são feinhos mesmo. — Cho apoiou a chefa.

— Mas os pais já estão lindos. Consegui fotografa-los abusivamente antes que voassem daí.

— Vou lá arrumar os tripés. — Cho informou.

Rony ia acompanhando quando Tamara puxou-o pela blusa.

— Não fuja da sua primeira aula, Olhos Azuis.

— Ah, já vai começar?

Ela olhava sonhadoramente para o ninho. Ia colocando a câmera na mão dele, mas recuou.

— Primeiro de tudo, tem de entender que fotografar é mais que registrar um momento. Fazer uma foto é enxergar detalhes além de olhos comuns; é ver um ângulo sobre uma nova perspectiva. Fotografando nós flagramos, provocamos reações, brincamos com a luz e com a sombra, somos artistas. Acima de tudo, guardamos uma memória pela eternidade.

Esta era a Tamara Cook que Rony mais gostava. A risonha era fantástica, a simpática querida... A Tamara mais verdadeira era aquela, a apaixonada e profunda. Ficou feliz em saber que aprenderia com esta.

— Estou ansioso.

— Então comecemos. — ela mesma passou a alça da câmera pelo pescoço dele.


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