Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 64
Hermione




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— Ele melhorou bastante. Disse pra mim hoje de manhã que as faltas de ar pararam. — Vitor informou, encostado no corrimão que levava a entrada da casa de Hermione.

A jovem morena o escutava e concordava.

— Da próxima vez que seu pai precisar trocar o medicamento me consulte antes, conheço um cardiologista excepcional: meu professor de Clínica Médica Cardiovascular. O Sr. Iavor merece um tratamento com o melhor. — disse a Vitor.

Como sempre, ele vestia suas roupas de corrida. Uma calça solta de tecktel, camisa branca de algodão e surrados tênis com amortecedores. Se não estava vestido com o macacão cinza chumbo na oficina mecânica, ela o via dentro das roupas de exercícios. Parecia que Vitor não tinha mais nenhuma vida que não fosse do trabalho para casa e de casa para sua religiosa corrida.

— Como consegue correr tanto? — o questionou. A brisa da tarde de fim de semana era convidativa e Hermione gostava de ficar ali na calçada dialogando sobre assuntos triviais com ele.

— Com treino. Quando eu era magrelo, você lembra, não aguentava nem um quarteirão.

O ex-namorado nunca fora realmente magro. Teve um tempo até que ganhou uns quilinhos e ficou um pouco parrudo. Entretanto, musculoso nos ombros, bíceps, tríceps, tórax como atualmente, ele nunca ficara.

— Quer dizer que tenho de ficar musculosa pra ter seu fôlego? — brincou.

— Não, sua bobinha.

No fundo Hermione sabia que não era bem assim. Era quase médica e suas maiores notas estavam nas matérias de fisiologia do corpo humano, contudo deixou-o descrever as formas pelas quais a musculatura, o sistema cardiorrespiratório e tudo que envolvesse a educação física aplicada a prática na corrida funcionava. Ele explicava com muito cuidado e atenção, e cada gesto dela de compreensão o incentivava a contar mais sobre seus conhecimentos básicos.

— Mas claro que já deve saber de tudo isso... — disse por fim a ela.

— Só porque sou quase médica, acha que sei tudo? Se soubesse criava vergonha na cara e ia praticar algum exercício físico. Sou magrela sim, mas ando bem enferrujada.

— Então o momento é esse. — ele desencostou do corrimão e se aqueceu correndo sem sair do lugar. — Vem! Vem correr comigo hoje.

— Agora? Não... eu só te atrasaria. — e estava morta de preguiça.

— Eu sou um bom instrutor, pode apostar. Já te disse que ganho um extra por fora como personal trainee?

— Sério?

— Fiz algumas vezes e fui muito elogiado pelos meus alunos. — comentou com orgulho — Vamos, deixe de ser preguiçosa.

Hermione ficou tentada. A tarde não estava fria, muito pelo contrário. Além disso, um sol poente estupendo e avermelhado derramava-se sobre o bairro e ela não gostaria de desperdiçar um entardecer daqueles na frente da televisão ou do computador.

— Tá, tudo bem. Me dá dois minutos pra eu me trocar.

Quando retornou com calças legging de ginástica, blusa e tênis, Vitor já estava começando os primeiros passos.

— Corre, garota! — incentivou-a apressando o passo.

Hermione trouxe mais força as pernas magras e conseguiu alcançá-lo. Correram duas quadras ininterruptamente, contudo, apesar de Vitor querer e conseguir conversar normalmente, a falta de fôlego só deixava a moça responder com grunhidos. Acabaram parando depois de oitocentos metros em frente ao chafariz do cruzamento. Ela apoiou as mãos nos joelhos e quase estatelou a língua no chão.

— Estou sem fôlego, é sério. — disse arfando.

— Você foi bem para uma primeira vez. — elogiou-a sem nem sequer parecer cansado.

Ela pediria para ele carregá-la de volta para casa se ainda fossem um casal. Sentiu cãibra na panturrilha direita.

— Tudo bem? — o rapaz perguntou ao vê-la escorar-se na mureta que cercava o chafariz.

— Acho que preciso de mais alguns minutos. — pediu.

Ele sentou ao lado dela e esperou calmamente. Olho-a também. Um ventinho passou pelas árvores atrás deles e os atingiu. Hermione viu a camiseta do búlgaro tremular em ondas.

— Por que fica me olhando desse jeito de vez em quando? — ela quis saber.

— É quase inacreditável que estejamos assim nesses últimos dias. Em paz. Conversando. — ele respondeu.

— Estou igualmente feliz. — e ela dizia aquilo com sinceridade. Não ter de marchar feito um general ao passar perto do portão dele era um alívio.

A cãibra foi passando, e deixou músculos doloridos no lugar. Hermione apalpou a perna fazendo careta.

— Me deixa fazer pra você. — Vitor ofereceu-se. Hesitante ela aceitou a oferta e apoiou a panturrilha na perna dele. Logo as mãos grandes e firmes se puseram a massageá-la no ponto.

— Nossa. Tá muito bom. — a jovem ergueu as sobrancelhas, relaxada. — Também é massagista nas horas vagas? — ele apenas sorriu ao comentário — Eu te disse: estou podre, enferrujada.

— Posso te desenferrujar. — a morena mirou-o — Se quiser minha ajuda. Senão, te passo alguns circuitos leves e você vai começando daí.

— Por que vou correr sozinha se posso ir com você?

— Não vejo motivos, para ser honesto.

— Nem eu. Começamos amanhã então?

— Hoje não mais?

— Por favor, me dá um desconto. Só essa massagem está ótima.

Ele concordou, sempre sorrindo, sempre com aquela luz incógnita nos olhos. E ela pensou: Será que ainda me ama tão forte como antes?


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