Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 60
Hermione e Rony


Notas iniciais do capítulo

Vamos respirar fundo depois desse capítulo, ok? kkkkk

A música que Rony canta no capítulo é Mr. Tambourine Man, do Bob Dylan. Ouçam lá, achei a cara da cena.

Mais um recado: A partir dessa semana os capítulos entrarão de segunda e sexta. Duas vezes na semana. Motivos? Os capítulos ficaram um pouco maiores e como estou levando várias fics tenho de balancear outras atualizações.

Beijos!



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— E esse era o balanço mais disputado entre mim, Gina e meus irmãos gêmeos. — mostrou Rony apontando para um balanço de madeira isolado numa barra de ferro. As correntes eram mais compridas permitindo um balançar mais elevado.

Estavam num parquinho deserto, ladeado por uma região arborizada que Hermione via todo dia do ônibus no caminho para a universidade. Rony dizia para ela sobre as tardes que Arthur os levava ali, mas a morena não parecia estar prestando muito atenção. Seus pensamentos claramente galgavam distantes. Ele já podia imaginar porque, a velha perua que lhe dera a bofetada devia estar abalando a paz dela, e o ruivo não demorou a reconhecer de onde já vira aquele rosto maquiado á exaustão.

— O que ele tem de diferente? — Hermione forçou-se a parecer natural sentando no balanço.

— Nada demais. — o ruivo sentou num balanço mais simples ao lado — É que como as correntes dele são mais longas, chegávamos ao céu mais rápido.

— Se eu me balançar vou chegar no céu? — olhou-o tristemente, já não conseguia mais evitar. Após o tapa de Tremelique, ela finalmente percebeu que sua leveza de semanas atrás era pura ilusão. Continuava mais perdida do que nunca.

Córmaco deveria estar sofrendo calado durante todas aquelas semanas, mas enfim a mãe descobrira. O rompimento que ela estabelecera fora súbito e quase humilhante. Vitor vivia na sombra do sofrimento de anos atrás. Ela seguiu amando e sonhando e jogou as aflições dele dentro da lata do lixo, lacrando-a o máximo que pôde para não deixar emergir e a incomodar.

Terminou seus antigos relacionamentos por puro conforto!

E tinha Rony. Esse novo rapaz que parecia tão incrível e mutável, mas que guardava histórias de amor tão ou mais complicadas que as dela. Talvez usando-a para se recuperar da outra desilusão... e desorientado... sem rumo algum. Ele bem poderia ser mais uma bomba de sentimentos catastróficos esperando para ser ativado.

— Tá querendo ir pro céu? Essas viagens espaciais são caras, já tá juntando uma grana? — o rapaz brincou. Ela encostou a bochecha na corrente e mexeu os pés fracamente para balançar-se. Seu riso veio tão rápido quanto se foi.

— Minhas piadas andam fracas ultimamente, eu sei. — Rony disse inseguro.

Outras coisas estavam o deixando inseguro. O que Hermione sentia por ele de verdade, o que esperava dele, e o pior, o mais aterrorizante, o que ele esperava dele mesmo.

— Quer saber por que eu levei aquele tapa?

— Se lembro, aquela era sua sogra milionária, só posso supor que tem a ver com seu ex-namorado. Não o que você leva regularmente no hospital quando o pai passa mal, é o outro, o super simpático. — as palavras saíram com tanto desdém que ele se envergonhou. — Não queria falar assim. Foi mal.

— Minha vida é tão louca, você nem imagina. — reclamou ela. — Sabe que meu relacionamento anterior foi um desastre ambulante? Eu devo ter algum problema.

— Somos dois.

— Me conta do seu quase casamento...

— Ah, Gina contou, claro. — resmungou. Nem conseguiu pensar em ficar irritado com a irmã, no fundo estava querendo falar disso para a morena. Gina facilitara. — O que quer saber? Como eu a amei ou como ela me humilhou? Como eu venci minha timidez e a pedi em casamento na frente de todo mundo? Pensando no discurso inspirador dela, começo a achar que Lilá não estava tão errada assim. Não vou a lugar algum trabalhando numa banca de revistas porque estou dependente de ler mangás e consegui-los com desconto.

Ela não o julgou. Só ficou olhando com seus olhos perspicazes. Por dentro, Rony imaginava que pensava como todos: "Ele é um moleirão, jamais havia deixado a adolescência!".

— Quer saber do Vitor? O bombado?

— Sou todo ouvido, se quiser contar.

— Eu amei aquele garoto como nunca amei ninguém. Como nunca amei Córmaco. Ele foi meu primeiro beijo, meu primeiro sexo, meus planos de princesinha para um casamento. Um dia éramos super apaixonados, noutro, passou a nutrir um ciúme eloquente por mim. Eu fui bem podre, porque por diversas vezes alimentei esse ciúme.

Rony continuou escutando, balançando-se calmamente ao lado dela.

— Então, um dia conversava com um colega de escola quando ele chegou, interpretou a nossa proximidade como quis e bateu no rapaz. Tentei apartar, ele me empurrou num reflexo e bati a cabeça. Sangrou bastante e dizem que cheguei a desmaiar por trinta minutos. Quando acordei, jurei que nunca mais falaria com ele. Não atendi suas ligações, seus chamados na minha porta, e uma vez, estava tão cega de ódio que quando ele tentou se desculpar comigo na rua chamei um policial e disse que "aquele desconhecido" estava me perseguindo. Vitor passou um dia na cadeia por isso. Meu pai e o vizinho pagaram a fiança para soltá-lo.

Ela suspirou, falar em voz alta sobre aquilo começou a deixá-la nauseada, mas prosseguiu:

— Depois daquilo, ele finalmente parou de falar comigo. Os anos passaram e éramos vizinhos, logo os esbarrões eram inevitáveis. Durante os dois últimos anos conseguimos trocar palavras padrões, amenidades fúteis de vizinhos que tem de manter a boa paz da rua.

— Agora você já tá dando carona pra ele.

— Depois que me separei do Córmaco aquilo que sentia por ele voltou novamente. Me pego pensando nas minhas escolhas do passado e não sei se vejo Vitor com mágoa ou...

— ... paixão?

— Ia dizer vontade de perdoá-lo.

Eles se balançaram em silêncio. Os equipamentos sem manutenção rangiam sob seus pesos. A tarde avançava e grilos iniciavam seu canto inspirado na mata adiante.

Rony, de súbito, teve vontade de cantar uma de suas canções prediletas:

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me I’m not sleepy and there is no place I’m going to. Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me In the jingle jangle morning I”ll come followin’ you…

Hermione o acompanhou:

Take me on a trip upon your magic swirlin’ ship. My senses have been stripped, my hands can’t feel to grip. My toes too numb to step. Wait only for my boot heels to be wanderin’ I’m ready to go anywhere, I’m ready for to fade Into my own parade, cast your dancing spell my way I promise to go under it.

Cantaram Bob Dylan por quase dez minutos, numa perfeita e desafinada harmonia. Suas mãos se entrelaçaram no balanço e sentiram a quentura de seus corpos numa bem vinda segurança.

— Foi bom que não nos precipitados. — Rony comentou por fim. Seu coração estava pesado.

— Sobre o que?

— Nos apresentarmos para a "sociedade" como o próximo casal promissor da Inglaterra.

— A gente ainda está se conhecendo... — ela disse docemente, percebendo o clima de despedida. Era tão bom estar do lado dele.

— Eu não quero me machucar tão cedo e você é tão complicada, Hermione. — o garoto expôs.

— Não te culpo. — a morena concordou.

— E eu também sou complicado. Temos muita coisa para acertar pelo caminho.

— Eu sei. — cada qual se referia a um evento. Hermione á sua tumultuada vida amorosa, Rony, a isso e seu futuro profissional incerto.

— Vamos combinar uma coisa? — perguntou em tom desafiador.

— Depende. — ela ficou cautelosa.

— A cada três meses a gente se encontra aqui, neste parque, as quintas, nesta hora, e contamos sobre nossas vidas e possíveis progressos. Eu posso te emprestar alguns mangás a cada novo encontro.

— Gostei da ideia. — sorriu, embora a tristeza começasse a invadi-la — Por que as quintas?

— Adoro a quinta-feira.

Era outra despedida. A mais estranha de todas da vida de Hermione. Era diferente pra Rony também. O vazio começou a preenchê-lo, mas percebeu a necessidade da escolha daquilo.

— Tá ficando tarde. — ele observou notando as primeiras luzes da rua se acenderem.

— Vamos ficar mais um pouquinho. — Hermione pediu. Entrelaçaram as mãos novamente e ficaram se balançando até o inicio da noite.

Quando se despediram, não havia mais nenhum vínculo que os impedisse de seguirem como suas vidas como bem entendessem. Somente uma promessa teria de ser cumprida: dali três meses tinham um compromisso importantíssimo no mesmo parque.


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Notas finais do capítulo

E então? Entenderam porque eles "meio" que romperam?
Estão tristes? Eu fiquei enquanto escrevia... :'(