Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 6
Rony




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O suor escorreu por suas têmporas. Ele estava um pouco apreensivo porque odiava jogar games do gênero Survivor Horror. Naquele momento, controlava um personagem no espaço, um astronauta engenheiro que tinha de enfrentar monstros gosmentos que um dia haviam sido humanos. Por opção jamais jogaria aquilo, seria uma espécie de masoquismo. Mas para agradar seu sobrinho, um garotinho de fartos cabelos loiros, até que encarava. Só não entendia a adoração da criança por coisas daquele gênero. Se buscasse no fundo da memória não conseguia encontrar similaridade seu progenitor, Gui, um reconhecido covarde.

— Sua mãe sabe que você tá vendo e comprando esses jogos? — puxou conversa com o sobrinho, quando os nervos relaxaram após uma sequência extremamente angustiante no game.

— A mesada é minha. — Louis tinha doze anos e o jeitinho indômito da sua mãe. Tão diferente do pacifismo de Gui.

— Humm... Eu acho que ela devia ficar por dentro de certos detalhes para evitar problemas, hã?!

Olhou-o de lado. Seu sobrinho tratava-se de uma mente inteligente e não influenciável, e nem Rony acreditava nas besteiras psicóticas em torno da alienação virtual. Contudo, Fleur era um osso duro de roer e Louis começava a entrar na fase da rebeldia. Deus sabia o quanto Rony temia encontrar-se no meio desse fogo cruzado.

— Eu sou seu tio, rapaz! Posso te dar uma bronca quando quiser. — ameaçou andando vagarosamente com o personagem na tela.

— Você não vai. — Loius tentou parecer concentrado nos movimentos do astronauta.

— Eu posso te dedurar.

— Você não é dedo duro. — começou a esboçar um sorriso. — Nunca me entregaria. Além do mais, jogar faz com que compactue comigo.

— Mas que diabos de criança é você? — Rony fingiu-se de horrorizado — Acima de tudo sou o responsável aqui. Eu não posso simplesmente fechar os olhos diante de uma grave penalidade juvenil. É meu dever te instruir e lhe dar uns cascudos quando seus pais virarem as costas.

Louis caiu na gargalhada, ainda mais porque Rony pulou do sofá, quando distraído não percebeu um monstro horripilante correndo para aniquilar seu personagem.

— Tá, da próxima eu falo com ela. Convenço minha mãe. — ele deu-se por vencido.

— Ok. Que tal começarmos com esse? — Rony estava doido para desligar o game.

— Não, tio. Esse eu já comprei e nem tem garotas sem roupa nem gente matando civis inocentes. Ele é leve.

— Tratante! — foi encurralado.

— Ah, tio Rony...

Louis sondou-o depois de alguns longos minutos observando-o em apuros com o astronauta.

— Sim? — o suor brotava da testa dele outra vez.

— É verdade que vai ter um jantar pro namorado da tia Gina?

— Humm... Não sei, provavelmente. — Rony ficava um pouco emburrado com aquele assunto. A caçula ainda era nova demais para estar apresentando o segundo namorado a família.

— Meu pai disse que vai ter sorvete. Nós vamos comprar. Será que o cara vai gostar?

— Quem se importa? Ele é convidado, não tem que exigir porcaria nenhuma... — então olhou de esgueira para o sobrinho e tentou concertar de um modo desajeito, adulto e responsável — Quero dizer, é legal fazer cortesia para as pessoas, mostrar respeito, mas enquanto ele não der as caras e nós o avaliarmos, ainda será só um cara. Entende?

Louis ficou um pouco ligando os pontos da conclusão de Rony.

— Sim, mas eu disse isso porque eu sou um dos poucos que gosta de sorvete na família, então é bom que sobre mais, porque vai ter que vir pra mim de qualquer jeito. A vó e o vô vão ficar com dó. — esboçou um risinho conspiratório.

— Porque o sorvete ganhou tanta importância nessa conversa? Até parece que seus pais não compram potes pra você e sua irmã se entupirem.

— É... na verdade a mamãe me deixou de castigo. Sem sorvete por algumas semanas.

— Porque o castigo? — Rony pausou o game em nome dos seus nervos tórridos.

— Er.. ela me pegou vendo Cavaleiros do Zodíaco.

— Quê? — jogou o controle longe. — Eu não disse pra você não ver esse anime na frente dela?!

— Eu tava vendo sozinho, tio! Então ela entrou... e... foi bem naquela cena em que o Ikki pulveriza o cavaleiro de Hidra.

Uma das cenas mais violentas de todos os tempos dos animes e mangás! Perfeito!

— Agora sua mãe vai encontrar mais alguns bons motivos para implicar comigo. — ele concluiu. — Mas me fale... — esqueceu a carranca de Fleur por alguns instantes — tá curtindo?

— Eles são meio dramáticos, mas até que estou.

Pirralhos do século vinte um, Rony balançou a cabeça.

Foram comer um lanche na cozinha e retornaram ao sofá. Rony ainda não conseguira convencer o próprio Louis de continuar jogando o que comprara e isso começou a corroborar que, de fato, ele era bem filho do pai. Entre sustos, corações congelados e momentos de correria desesperada, Louis soltou.

— Tio, eu nunca te vi namorando... Meu pai disse que você teve uma quando eu era bebê, mas e depois?

Pego de surpresa, o ruivo ficou quase um minuto inteiro formulando uma resposta satisfatória.

— Eu tenho namoradas, mas elas são tímidas demais para encarar sua avó. — mordeu a parte interna da bochecha escondendo um desconforto intrometido — Além do mais, que porcaria de pergunta é essa, sua peste?!


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