Iavor Krum observou-a aferindo sua pressão arterial com os olhos curiosos. Ela terminou, guardou o aparelho e sentou-se no sofá ao lado dele.

— Diga, Sr. Krum.

Seu antigo sogro era uma das pessoas mais incríveis que Hermione já conhecera. A garota costumava brincar amargamente para seu coração de que, o rompimento dela com Vitor a castigou duplamente tirando-a um sogro maravilhoso e colocando uma megera implacável em seu lugar. Era bom estudar aqueles olhos negros e tolerantes novamente.

— Só eu quase caindo dentro de um caixão pra você vir me visitar, hein, pequena?

— Pedir perdão vai adiantar? — tentou.

— Pode parecer que não, mas sou bastante compreensível quanto a isso.

— As coisas entre nós foram tão bruscas que não houve tempo para meio termo.

Eles falavam sobre Vitor que, naquela tarde de semana, trabalhava na oficina.

— Exatamente. Lamento muito por isso. Você era boa pra ele.

— E ele pra mim. — anuiu.

— Ainda bem que o tempo passou e agora os dois amadureceram.

— Essa palavra da até medo!

— Mas é um fato. Meu filho cresceu, está preocupado com o futuro e ficou muito mais determinado a ascender em suas escolhas. Você também. Médica! Fiquei tão feliz quando soube. Lembro-me da primeira vez que entrou nessa casa, estava com a Sra. Wilson.

— Sim... a época que ela me chamava pra fazer bolachas na casa dela. Era tão divertido.

— Quantos anos tinha mesmo? Dez... Quatorze?

— Doze. — relembrou.

— O tempo voa! Naquela tarde a Martha te trouxe aqui porque você estava curiosa para conhecer quem morava nos fundos da casa. Eu assistia a qualquer porcaria na televisão, Vitor estava sentando no chão dessa sala arrumando as figurinhas do álbum de carros que tinha.

— Eu conheci vocês nesse momento.

— E eu perguntei, entre outras coisas, se já sabia o que queria da vida quando crescesse...

— ... e eu respondi "escutar o coração das pessoas igual meu médico".

Eles riram recordando. Perdidos em bons pensamentos.

— Sei que não tenho direito de te pedir nada. Estou ciente da minha condição, mas se houver alguma possibilidade dentro de você, pequena, não ignore mais meu Vitor. Não estou pedindo demais, sua vida é sua e ele segue a dele, apenas peço que mostre a ele que não ficou magoada desde aquela época. Isso o machuca até hoje. Sinto nele a necessidade do seu verdadeiro perdão para seguir em frente.

— Será?

— Com toda certeza. — contemplou-a bondosamente.

Hermione aplicou um beijo carinhoso na bochecha de Iavor e se despediu. Enquanto atravessava o corredor dos Wilson e seguia para casa ia refletindo sobre as palavras do Sr.Krum.

"Meu filho cresceu, está preocupado com o futuro e ficou muito mais determinado a ascender em suas escolhas".

O tempo deles, de repente apareceu a ela outra era. Como se o Vitor de hoje jamais pudesse igualar-se ao do passado.

A morena entrou em casa e consultou o relógio da sala, faltavam alguns minutos para Rony chegar. Eles iam dar uma volta num lugar que ele disse ser surpresa. Ela pensara demais nele depois do encontro com a irmã, Gina. Nem sempre do jeito deslumbrado dos primeiros dias. Hermione estava bem cismada pela história maluca da ex-namorada que a ruiva relatara, um pouco receosa. Queria aproveitar os momentos com o ruivo, não imaginar que ele pudesse pedi-la em casamento impulsivamente.

Será que ele era assim com todas as garotas pelas quais se apaixonava, ou só aquela moça fora seu único amor genuíno?

A campainha tocou.

— Já? — se espantou voltando para a porta. Ao abrir para quem ela imaginava ser Rony, tomou um tapa estralado no rosto.

— Sua vagabundinha de quinta!

A bofetada não fora forte, só a surpreendeu. Hermione piscou, confusa, e olhou para frente. Tremelique a encarava e inacreditavelmente não piscava.

— Como ousa rejeitar alguém como meu filho? Você é uma cretininha suburbana, que nunca, NUNCA, vai conseguir dar valor a um homem de verdade. Ele brigou comigo por você, sua ingrata! Ele testou meu amor de mãe pra você pisar como se o tivesse encontrado na sarjeta pedindo esmolas! Se algum dia aproximar-se de Córmaco novamente, Hermione Granger, eu juro que darei um modo de arruinar sua vida para sempre!

A mulher não esperou que ela respondesse. Girou o corpo e entrou no carro, pedindo para o motorista partir de imediato. A jovem continuou parada na porta, atônita como jamais estivera. O lugar do tapa ardendo no rosto.

Foi assim que Rony chegou e encontrou-a. Observou a agressão de longe e estava quase chegando quando a Sra. McLaggen terminou de cuspir as últimas palavras e afastou-se.

— Hermione, o que houve? Quem é essa?

Uma lágrima solitária desprendeu-se do olho dela. Limpou rapidamente e começou a voltar a si.

— Te conto no caminho. Vamos?