Foi uma doce surpresa a ligação de Rony. Ele estava acanhado, mas determinado e lhe fez uma proposta de ir visitá-lo ainda naquele domingo. Hermione estava mais envergonhada do que todas as vezes em que falara com o ruivo, afinal cabia a ela uma senhora explicação sobre o ocorrido da manhã.

Aceitou o convite, porque queria verdadeiramente estar com ele naquele dia, e não seriam seus ex-casos que a impediriam. Perguntou para a mãe se poderia pegar o carro emprestado e ir para casa dele segundo suas coordenadas. Jane Granger concordou e Hermione estava prestes a sair de casa quando sua consciência falou alto.

Tirou o carro da garagem, estacionou-o calmamente próximo a guia e saltou para calçada novamente. Então tocou na campainha do portão no corredor dos Wilson, que levava aos Krum. Depois de dois minutos, Vitor apareceu. Descobriu-a surpreendido, e já saiu falando:

— Hermione, me perdoe por hoje.

— Eu já vim fazer isso. Desculpe te envolver em tudo aquilo. — pediu de coração.

O rapaz, uns quinze centímetros mais alto que a moça, ficou consternado.

— Você é tão gentil. Caí na provocação do seu noivo e te obriguei a presenciar aquilo.

— Córmaco não é mais meu noivo. — deixou claro — E, sinceramente, ele partiria para te agredir a todo custo. Como você está?

Vitor piscou, certamente encantando pela preocupação inesperada dela.

— Estou normal. Ele não me acertou pra valer não. Ficou muito machucado?

— Nem tanto. — e esperou que ele dissesse a próxima frase.

Pelo visto o moreno estava afim apenas de admirá-la. Hermione viu seus olhos negros dançarem do rosto para os cabelos dela. Esqueceu por um momento que se arrumara com esmero para encontrar Rony dali a pouco.

— Você é linda. — a elogiou — Aquele carinha ainda vai sofrer muito quando descobrir o que perdeu.

Dignou para ela seu olhar mais sedutor, seu olhar conquistador, seu olhar revelador. As sobrancelhas grossas pairando numa linha tênue de docilidade.

— Boa tarde, então. E desculpe novamente. — a morena desconversou saindo para o carro.

— Não tem do que se desculpar.

***

Ligou o som do carro numa altura razoável para que a quietude do veículo não fizesse pensar nas palavras e no gesto do seu vizinho. Por um momento ele encarou-a daquele jeitinho devastador que costumava ser uma rasteira em qualquer desafeto que ela estivesse sentindo por ele no tempo em que namoravam. Somente quando conseguiu chegar a casa de Ronald foi que a visão desse rapaz ruivo e a ideia de explorar sua vida, afastou Vitor da mente dela.

Ele também tinha um olhar sedutor para Hermione. E era totalmente diferente do de Vitor. Rony erguia as sobrancelhas, inclinava o queixo e ficava com seus olhos azuis nebulosos nesse fitar. Foi mirando-a desse modo que a recebeu no jardim de sua casa. Já a esperava com as mãos tipicamente enterradas na blusa.

— Você dirige bem. — Rony a elogiou assim que ela estacionou perfeitamente em frente à residência.

— Obrigada. — sorriu amavelmente para ele, guardando a chave na bolsa.

Foi cumprimentá-lo com um beijo no rosto e recebeu um selinho dócil.

— Aonde vamos? — perguntou depois do toque de seus lábios.

— Quer entrar?

Ela hesitou. Conhecer a família dele? Aquilo era um namoro? De repente ficou insegura.

— Quero te mostrar minha coleção de mangás. — ele insistiu. — Depois a gente dá uma volta.

— Claro. — acabou concordando.

E deste modo acabou sendo introduzida a um mundo completamente novo. Controlou todas as tonalidades que sua face ousava querer assumir ao cair irremediavelmente dentro da sala. A família dele era grande, imensa! Sete cabeças ruivas a inspecionaram avidamente quando Rony passou com ela naquele cômodo. Eram irmãos e pais e, segundo informações, ainda faltava um. Havia também uma mulher estonteante de cabelos dourados e duas crianças perfeitamente belas.

A família dele.

A mãe era uma baixinha gorducha, cheia de zelos e expansiva. Toda extroversão destinada aos filhos, a Sra. Weasley guardara só para ela, porque era o oposto absoluto de Rony. Falava pelos cotovelos e foi abraçando-a como se se conhecessem há anos. O Sr. Weasley era bem alto, tinha mãos e pés grandes, como seus filhos homens, e um sorriso amável de um patriarca tolerante.

O que era pra ser uma simples passada pra ver os mangás deles acabou virando uma apresentação exaustiva a todos aqueles desconhecidos. Ninguém lhe escapou. A moça loira, por exemplo, tratava-se da cunhada, casada com seu irmão mais velho. Também tinha irmãos gêmeos e a irmã caçula, uma garota pequena feito boneca de porcelana, porém provida de olhos que deveriam guardar uma forte personalidade.

Eram ousados acima de tudo. Perguntaram francamente, fora um dos gêmeos no caso, se Hermione era namorada do "Roniquinho". Deveria ser algum apelido provocativo, porque Rony pegou a almofada mais próxima e enterrou na cara desse gêmeo. Eles desconversaram pateticamente dizendo serem apenas amigos.

Depois daquilo, finalmente conseguiram se arrastar para a privacidade do quarto dele. Ali dentro, a morena respirou aliviada.

— Você poderia ter me avisado. — suspirou.

— Foi mal. Não achei que eles seriam tão invasivos. — respondeu envergonhado.

— Fora isso, sua família é uma graça. — confessou — Vocês são todos autenticamente ruivos. Achei fantástico.

— É a nossa sina. — sorriu. — Agora, minha coleção! — ergueu o braço, orgulhoso em lhe apresentar centenas de gibis emparelhados sobre várias prateleiras.

Hermione reparou em sua coleção com uma pontada de inveja. Contudo, não foi apenas a isso que prestou atenção. O quarto parecia estranhamente arrumado, de um jeito suspeito, deixando implícito no lençol mal esticado da cama e da manga de uma blusa se insinuando para fora da gaveta da cômoda, que aquela fora uma arrumação bem genérica somente com a finalidade de recebê-la. Acabou rindo.

— O que foi? — Rony questionou-a.

— Você tentou arrumar seu quarto pra mim?

— Falhei miseravelmente, não é? — a pergunta pareceu retórica. Seus ombros caíram derrotados. — Não queria que fosse apresentada ao verdadeiro Ronald Weasley tão bruscamente.

— Mais bruscamente do que conhecer toda sua família numa tarde de domingo?

— Prefere a Senhora dos Cisnes á minha mãe? — a provocou numa clara referência a única vez que teve contato com sua ex-sogra.

— Olha, Roniquinho... — o rapaz revirou os olhos aborrecido. Ela achou graça e o abraçou pela cintura — não me provoque se não quiser conhecer a ira de uma Granger.

Eles se beijaram antes do ruivo formular uma resposta. Estavam ávidos por aquilo. Pelo toque mágico de seus lábios apaixonados. Hermione deixou-o segurar em sua cintura e erguê-la gentilmente no ar. Parecia magro por debaixo do blusão, entretanto a trouxe para si com tanta facilidade que pensou ser só impressão. Ele não usava touca, o que a provocou a emaranhar os cabelos em seus dedos.

— Você gosta de bagunçar meu cabelo, hein, garota. — resmungou entre os beijos.

— Tenho culpa se te acho exótico? — ela justificou-se.