Todas as alunas tiravam uma casquinha do novo professor. Erik tinha uma incrível sensualidade que enlaçava as moças. Devia estar chegando a casa dos trinta anos, embora o espírito e o sorriso fossem de um garoto. Menos quando selecionava uma das aprendizes para um passo de dança. Nesse instante tornava-se maduro e muito experiente, deslizando as mãos grandes e espalmadas pela cintura da parceira com grande segurança.

O momento dele e Gina treinarem chegou naquela tarde, e a ruiva notoriamente percebeu que ele a reteve na dança por mais tempo do que as demais. Mirou-a com um misterioso interesse também.

Após o fim da aula, como de costume, Erik teve de distribuir meia dúzia de conversa fiada com suas fãs, para enfim se ver livre e consultar seu celular com ares de preocupação. Uma mania que a ruiva notara nele. Sempre que tinha uma brecha, olhava o aparelho.

Gina gostara tanto da performance que o professor forçara nela na dança a dois que o interrompeu para agradecer.

— Oi, Gina. — Erik guardou o celular na mochila.

— Desculpe atrapalhar. Só queria dizer que fiquei muito feliz com meu desempenho de hoje.

— Mérito todo seu.

— Não. Com a professora Helen eu sequer conseguia dar três passos sem me desequilibrar. Você me deu confiança e desenvoltura no passo de hoje.

— Desenvoltura você tem de sobra. Tem um corpo alto e esbelto e isso jamais será problema na sua apresentação. Confiança também me passa, embora não a conheça tão intimamente para saber.

— Acredite, ainda tenho muito que aprender. — rebateu pensando em Harry Potter.

— Para ser sincero, e que fique entre nós, não enxergo nas outras a mesma classe.

A garota piscou o achando inacreditável.

— Porque tá sendo tão gentil comigo? — abriu o jogo perante tal elogio.

— Hã? Como assim? — Erik ficou ligeiramente retraído.

— Me elevando em comparação as demais. Sandy é fantástica, já viu ela na pista?

— Então é verdade. — ele rebateu sorrindo.

— Verdade o quê? — a ruiva franziu o cenho.

— Que tem problemas com confiança. Eu te elogiei. Não fui gentil, só sincero.

Gina corou loucamente por sua grosseria. Ele continuava lhe observando lindamente.

— Tudo bem, me deixou no chão agora.

— Tá perdoada. — de repente o celular tocou e ele correu para desligar.

Cuidadosamente a garota viu alguma dose de aborrecimento no rosto dele, enquanto analisava a tela. Tentou mascarar, voltando para a conversa com a face serena de antes.

— Posso estar correndo o risco de ser mais grossa do que agora pouco, mas por que você tem tanto interesse nesse celular?

Erik colocou a mão na nuca e desvio o olhar.

— Er... já teve alguém que foi tudo para você, mas pisou feio na bola?

Ela falou sem nem precisar pensar.

— Com certeza!

— Camille é minha ex-namorada. Deixei-a na Suíça e corri para cá porque já não podia mais olhar para a cara dela depois da traição.

— Sinto muito.

— Ela está tendo problemas para entender que não a quero mais. Fica mandando duzentas mensagens de texto por dia para mim. De juras de amor a comentários desagradáveis. Acho que mudarei o número. — então apontou para Gina e disse — Agora é sua vez. Quem é sua bola fora?

— Nenhum assunto que valha a pena comentar. — achou que estar trazendo Harry para a conversa quebraria a magia daquele salão de dança, um dos únicos lugares em que conseguia esquecê-lo.

— Um namorado raivoso, ciumento ou traidor? — o professor insistiu.

— Nenhum dos três. Sou solteira.

— Humm... — ele tocou no próprio queixo, quadrado e bem barbeado — Nesse caso, não era apenas um elogio agora pouco, também falei aquilo porque te acho linda e gostaria de te chamar para sair.

Foi pega tão desprevenidamente naquele convite que tudo que Gina conseguiu articular se resumiu numa gagueira muito patética que respondia:

— Humm... Vamos ver. Tchau!