Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 31
Rony


Notas iniciais do capítulo

A pedidos e algumas previsões, mais de Rony e Lilá.
Abraços!



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Estar sentado naquele café com um copo grande de chocolate quente na mão não diminuía o nervosismo de Rony. Automaticamente tomara um banho mais demorado e passara mais perfume do que de costume para o encontro com Lavander Brown. Deixou a touca de lã seguramente dobrada dentro da mochila e seus cabelos ruivos estavam jogados para o lado displicentemente.

Era ridículo ficar com expectativa sobre aquele momento, mas velhos hábitos não mudavam fácil. Houvera um tempo em que ele gostava mais de cuidar de sua aparência e não guardá-la atrás de vinte quilos de moletom. O seu jeito de se vestir e se portar também eram um pouco de sua natureza, porém esse modo taciturno piorara infinitas vezes mais após o tsunami Lilá.

Ele tomou um gole de sua bebida e observou através da borda do copo ela entrando na lanchonete. Como o local estava vazio, rapidamente a loira o identificou e aproximou-se.

— Olá! - Sorriu radiante e beijou-lhe na bochecha sem aviso prévio. A seguir, sentou espaçosamente no banco a frente, exalando sua incrível beleza de fada. — Lugarzinho gostoso. — ela avaliou a lanchonete enquanto tirava seu cachecol.

— De fato. — Rony fitou a rua pela janela.

Um garçom se aproximou e ela pediu um chocolate quente também.

— Gostei do seu cabelo... Saudades dele. — ela começou a puxar conversa.

— Obrigado. — o ruivo não a elogiou de volta.

Ficaram quietos e embaraçados por quase um minuto antes dela recomeçar:

— Eu trouxe as coisas que tinha falado. — Lilá abriu a mochila que tinha trazido consigo e retirou os itens de lá. — O álbum da Sailor Moon.

Rony pegou a revista. Ali estava um pedaço gigantesco da história deles. Lilá, como todos os que o cercavam, não se interessava por seus gostos orientais, mas havia um anime que fizera parte da infância da garota: Sailor Moon. Ao iniciarem a paquera que evoluía para algo mais sério, a loira lhe confidenciou o quanto ficara chateada por não conseguir encontrar todas as figuras necessárias para completar seu álbum. Ele, na época trabalhando como entregador de jornais, economizou seu salário e obteve todas as figurinhas restantes por preços salgados no site do ebay. Foi algo mágico e gratificante para ele ver no rosto dela a felicidade de poder finalizar aquela etapa de sua infância.

E agora ela estava devolvendo como se não tivesse significado nada os dias que Rony deixara de almoçar para ajuntar o dinheiro.

— Como você gosta disso, pensei que seria mais útil. — comentou.

Rony apoiou a revista na mesa e encarou-a com revolta. Lilá pareceu ou fingiu não perceber.

— O seu boné do Metallica.

Outra parte importante da relação deles. Uma vez o ruivo, que adorava tal boné, o esquecera na casa dela. No dia seguinte, quando foi reclamar pelo mesmo, a namorada confessara ter ficado abraçada ao objeto para sentir seu cheiro. A descoberta o tocara de tal forma que Rony deu a ela para que sempre se lembrasse do amor dele quando não estivessem juntos.

— Senti falta disso. — disse pegando rapidamente das mãos da moça.

O chocolate de Lilá chegou e ela o sorveu pacientemente enquanto o garoto rodava seu boné entre os dedos e aguardava, olhando outra vez pela janela.

— E o último é esse. — voltou a atenção para sua mochila, entregando a ele uma caixinha de música.

Imediatamente ele lembrou que Gina quis aquilo fervorosamente. Encontraram nas coisas da avó deles após seu falecimento. Como filhos mais novos, foram rapidamente convocados pela mãe para ajudarem na limpeza da casa algumas semanas depois do enterro.

A velha senhora tinha o costume de acumular muita tralha e, perdida dentro de um armário, empoeirava a caixinha de música. Tinha uma acabamento em black piano com diversos caracteres japoneses na borda. Rony achou que o objeto era o presente ideal para sua nova namorada, Lavander Brown, e Gina ficou histérica por obtê-lo. O rapaz teria perdido o páreo, mas a mãe decidiu a favor dele argumentando que a irmã estava numa idade de não tomar cuidado com nada e quebrar tudo.

Lilá ficou o analisando com expectativa e Rony fitava seu antigo presente calmamente. Ao final, todas as palavras seguramente afundadas de muitos meses atrás emergiram.

— Seu maior prazer é me humilhar, não é?

— Ron... — a jovem mostrou seu infalível semblante de coitadinha. — Tivemos algo tão bom. Não há necessidade de tudo terminar assim, com tanta amargura.

— Cala boca. — Ele revidou sem elevar a voz. Ela arregalou os olhos. Nunca falara assim com a ex-namorada, nem quando foi duramente escorraçado de sua vida. — Você sempre foi cínica, dissimulada e interesseira, e continuei te amando mesmo sabendo de todos os seus defeitos. Usava todos ao seu redor, sua família, seus amigos, seus contatos, para continuar na crista da onda. Eu fiquei cego por longos anos porque achava que via demais, que nunca seria assim comigo. Mas minha hora chegou, e eu levei um soco no estômago tão forte que... — ia dizer que ainda sentia nocaute, entretanto estava farto de vangloriá-la. Continuou:

— Vamos combinar uma coisa de uma vez por todas: Quando me encontrar na rua, mude de calçada. Quando achar qualquer porcaria que ligue você a mim nas suas coisas, jogue fora, ou melhor, queime para não trazer azar a quem vir a encontrar, e me ignore como farei se olhar novamente pra sua cara. Não quero sua amizade, ela não me interessa em hipótese nenhuma. E se quer bancar a ex-namorada legal, dê o pé na bunda do próximo trouxa que cruzar seu caminho!

Ele levantou serenamente, pegou apenas o boné, porque realmente o adorava, enfiou-o na cabeça, porque estava se sentindo nu sem nada nela, e partiu. Só quando pedalava há cinco quarteirões de distância lembrou-se que não pagou o chocolate quente nem o lanche que pedira antes.

Então gargalhou, riu com gosto e liberdade, assustando alguns transeuntes pelo percurso.


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