Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 23
Hermione


Notas iniciais do capítulo

Estou amando meus leitores "não-fantasmas"!
Parabéns por seus maravilhosos comentários. Estou tão feliz que aqui vai mais um capítulo.



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Uma dor de cabeça infernal a acompanhava naquela manhã. Para piorar era Domingo, o dia que menos gostava da semana. Quando o cérebro e os músculos não queria sair da cama e funcionar.

Córmaco ligara ontem, às dez horas da noite, dizendo ter voltado do evento beneficente com os pais, e que a digníssima Tremelique perguntou dela. Hermione achou que ficaria feliz porque teve um encontro para justificar sua ausência, mas se pudesse voltar no tempo preferia aguentar a arrogância de sua sogra a vergonha suprema.

Ela não estava entendendo porque fora tão estúpida em tentar beijar aquele garoto: Ronald Weasley. Comportou-se feito uma assanhadinha imoral sem a menor justificativa. Nem sentia atração por ele... Ou sentia?

Pensou naqueles lábios carnudos e rosado e ficou corada instantaneamente. Mesmo sozinha na manhã silenciosa, e no seu quarto, deixou-se ruborizar igual a uma freira descoberta com um pôster de um rapaz bonito e sem camisa. Ruborizou de novo pela analogia:

— Deixe as freiras fora disso, Hermione, sua ridícula! — repreendeu-se em voz alta.

Não havia ninguém mais lindo que seu noivo. Era loiro, ombros largos, bem malhado, sorriso sensual e um amante competente nas carícias íntimas. Então não havia nenhum sujeito que pudesse competir com o que ela já tinha. Nada de admirar a espessura e a maciez dos lábios de outro.

Com raiva, jogou o travesseiro contra a parede. Bufou.

O que estava feito estava feito, ou quase feito. Com certeza jamais teria coragem de olhar no rosto do rapaz novamente.

Justo aquela banca onde era fácil achar vários mangás!

Mas não era por isso, verdadeiramente, que ela lamentava. Era por não poder conversar mais com Rony e por, acima de tudo, estar com uma imagem distorcida diante dele. Uma aliança gigante, maior do que uma âncora de transatlântico, no dedo e ainda se atirando nos braços do primeiro cavalheiro gentil que te oferece o abrigo de uma blusa?!

— Porque fez isso, hein... — suspirou, resolvendo levantar.

Vestiu uma blusa de lã por cima da camiseta do pijama e foi para o banheiro. Lavou o rosto demoradamente, escovou os dentes e analisou sua cara de pau no espelho. Precisa de ver se não estava escrito infiel na testa quando Córmaco viesse lhe encontrar depois do almoço.

Desceu para a cozinha, preferindo a solidão, mas deparou com o pai lendo jornal diante do café da manhã exposto na mesa. Fora ele mesmo que fizera, porque as torradas tinham uma aparência deliciosa. A mãe normalmente queimava-as.

— Oi. — disse adentrando na solidão do pai e sentando-se à mesa.

— Bom dia, gatinha.

— Cadê a mamãe?

— Dormindo. Ficou até o dia clarear terminando um projeto e capotou há apenas algumas horas.

Hermione passou uma camada generosa de geleia na torrada.

— Porque você chegou carrancuda ontem? — ele perguntou pousando seu jornal e tomando café.

— Não cheguei não. — ela riu nervosamente. Podia ver a palavra traidora em chamas na sua testa.

— Ok. — Oliver aceitou a mentira de bom grado. — Quais os planos para hoje?

— Acho que Córmaco vem aqui à tarde. — disse de boca cheia.

— Que pena para mim. Aluguei uns filmes de terror para nós vermos.

— Alugou? Pai! É só baixar!

— Você sabe que eu gosto do ritual, amorzinho. Ir à locadora, caçar as prateleiras, ler as sinopses, analisar as capas...

— Acho que sabe que esse seu ritual está com os dias contados, né?

— Maldita internet! — brandiu.

— Bendita. — a filha corrigiu. — Esse café tá fantástico, pai.

— É uma chantagem para fazê-la ficar comigo hoje. Jane está atolada de trabalho de novo e o grande barato é ver esses filmes com você. Mas se seu noivo está vindo...

— Ah, quer saber? Eu vi a cara do Córmaco a semana inteira. Vou falar para ele vir à noite apenas. Que tal?

— Que bicho da boa vontade te mordeu?

Nenhum, papai! Apenas quero que essa insígnia de pérfida suma até eu ver meu noivo outra vez.

Ficou mais relaxada durante o resto do café. Uma tarde agradável na salinha de cinema que o pai havia equipado com tanto carinho no terceiro quarto da casa, a deixava longe das mancadas da noite anterior.

Ouvia um relato caótico de como foi tirar um dente apodrecido de um paciente dele, quando escutou seu telefone celular berrando lá do quarto. Pediu licença e subiu rapidamente para atender. Chegou sem fôlego, mas a tempo de dizer:

— Alô...

Alguns segundos de pleno silêncio, então:

Oi... Hermione?

Era a voz de Ronald. Tinha esquecido completamente que ele possuía seu número para contato num possível desencontro no passeio de ontem. Praguejou mentalmente a falha de memória e sentiu o rubor nas bochechas ao responder:

— Ah, não. Acho que ligou errado.

Tem certeza, Hermione? — a voz dele era cansada.

Mais vergonha veio ao seu rosto. Não havia escapatória.

— Olha, desculpe por ontem. Eu quis fazer uma brincadeira e acho que fui mal interpretada. — “Essa é sua melhor desculpa?” Repudiou-se. — Desculpe mesmo.

Na verdade eu queria te pedir desculpa... Acho que agi meio... Nossa... Tô um pouco nervoso. Foi mal.

— Tava dormindo? — ela mudou o foco da conversa para não ficar mais embaraçoso do que já estava para eles. E também porque ele sonorizava tão rouco quanto um dragão.

Sim. Eu acordei pra usar o banheiro, mas já vou para o segundo turno.

Hermione consultou de relance o relógio de sua cabeceira, já eram dez horas da manhã.

— Então bom descanso — disse desajeitadamente.

E nós...

— Nós? — rubor novamente.

Tá tudo bem?

— Claro. — respondeu uma vozinha de falseta.

A jovem se espantou, nunca ouvira som mais patético saindo de suas cordas vocais.

Boa semana.

— Tudo de bom para você. — ela saudou com firmeza. Esperava que com aquelas palavras estivesse implícito para ele que não o veria mais e que não era nem para ligar.

Quando Ronald, o garoto otaku ruivo, desligou, Hermione anotou seu número no celular somente para não atender assim que o nome dele aparecesse na tela. Agora teria de pensar em outra banca.

Droga!


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