Entre Otakus escrita por Van Vet


Capítulo 15
Vitor


Notas iniciais do capítulo

Sim! Vitor vai entrar na história! Logo, não temos um triângulo amoroso, mas um quarteto!!
kkkk
Competições acirradas para o Ron. Tadinho.



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Vitor Krum estava para estacionar na frente de casa quando viu a Lamborghini branca do noivo de Hermione Granger roncando no meio fio. Atrapalhado, desligou rapidamente o som que berrava numa das faixas de seus cd’s de death metal e passou discretamente na faixa mais distante. De canto de olho, viu sua vizinha saltando da máquina e lançando beijos para o motorista .

Odiava ter de cruzar com o riquíssimo Córmaco MacLaggen e toda sua ostentação, quando ele próprio dirigia um utilitário caindo aos pedaços e de segunda mão. Sentia-se o mais humilhado dos homens nesses momentos.

Deu uma volta vagarosa pelo quarteirão e retornou na esquina, ficando aliviado. Ele se fora. Entretanto ela continuara lá, conferindo algumas correspondências na caixa.

Mesmo envergonhado pelo estado de suas roupas Vitor optou por não escapar mais uma vez.

— Olá! — acenou saindo do carro e balançando seu molho de chaves em frente à porta.

— Ah, Vitor! — ela lhe sorriu radiante.

Linda e simpática como via de regra.

— Muitas contas? — ele apontou um pouco acanhado para os papéis na mão dela.

— Elas nunca param de chegar. — concordou. — Voltando do trabalho?

— Graças a Deus! — suspirou. Seu macacão encardido de graxa e óleo o denunciava.

O rapaz trabalhava como auxiliar mecânico na garagem de reparo dos ônibus da cidade. Um emprego relativamente estável, mas muito fatigante. No início seus músculos ficavam doloridos, mas havia enfim se adaptado aos excessos do serviço. Normalmente o cansaço agora era mais mental.

— Como estão indo as coisas lá na oficina? — Hermione apoiou-se na sebe que separava a entrada da casa deles. Estava mesmo querendo bater papo.

Ele disfarçadamente afastou-se um passo. Não queria que ela sentisse seu cheiro de suor.

— Fica mais puxado no meio da semana, mas estou satisfeito. Está dando para pagar as despesas em casa e no curso.

— Ah, é! O curso preparatório naval. Quando começam as provas?

— Fim do ano que vem, apenas. Tenho bastante tempo até lá.

— E está gostando?

— Sim, ele tem me ajudado muito. Tirando o velho problema com inglês, que você bem sabe, estou otimista. E você, senhorita médica?

— Ei, calma lá! Ainda falta muito para eu conquistar esse título.

— Com sua inteligência diria que está a um passo. — ele estralou os dedos.

Ficaram rindo bobamente um para o outro até uma bolha de constrangimento flutuar e estourar sobre eles. O que houvera entre os dois acabara há bastante tempo e eles decidiram serem amigos desde então. Os dias, meses e anos subsequentes mostraram a ambos que isso seria impossível, tão logo tudo o que conseguiram fazer a partir dali se resumia nesses encontros casuais na frente de suas residências com conversas transbordando amenidades e elogios embutidos com lembranças de outrora.

— E seu pai? — Hermione perguntou-lhe para quebrar o “climão”.

— Ele tá legal. Reclama da perna nos dias mais frios, mas é imbatível em todo o resto do tempo.

— Que bom. Fale que eu lhe mandei um beijo.

— Ele vai adorar.

A jovem lhe jogou um beijo no ar, um doce costume de Hermione Granger. Ele então teve oportunidade de esquadrinhá-la com mais atenção. Estava de calça jeans azul marinho e aquela blusinha do Magic Kingdom que usava desde a adolescência. Desde o tempo deles.

Aquilo o fez abrir a matraca e detê-la quando ela já começava a abrir a porta da própria casa.

— Seu pai estava comentando com a Sra. Wilson que você vai se casar daqui uns meses. É verdade?

“Quem era ele para questioná-la desse modo? Eles não tinham mais nada. Nada! Nem mesmo uma amizade...”.

— É sim. — ela tentou parecer gentil, mas deu para ver estampado na sua testa em letras cintilantes e garrafais que não estava gostando daquela conversa. — No outono.

— Ah... legal! — Vitor teve de fazer um levantamento pesado de músculos faciais para conseguir sorrir. — Fico feliz!

— Eu te mando o convite quando chegar o momento.

— Ficarei esperando.

***

Abalado, o rapaz búlgaro contornou para os fundos da casa dos Wilson e chegou até o conjugado que dividia com o pai. Mal abriu a porta da saleta deparou-se com seu velho sentado no sofá, a televisão ligada e o notebook no colo. Suas expressões eram indubitavelmente francas para os olhos treinados do Sr. Krum.

— Oh não. Você questionou a Srta. Granger quanto ao casamento?

Vitor ficou horrorizado por ele ter captado tão rápido seu semblante desapontado.

— Tava escutando minha conversa lá na frente, é? — irritado com seu próprio fedor, ou o quanto Hermione pudesse ter sentido dele, foi tirando a camiseta de trabalho e jogou-a no banheiro.

Retornou a saleta. Tinha uma coleção harmoniosa de músculos abdominais: além de treinar o intelecto, tinha de treinar o corpo para o teste naval.

— Não sou fuxiqueiro. — seu pai retrucou ressentido. — Quando ouvi daqui aquele escapamento ruidoso e inconfundível do namorado da Srta. Granger e você entrando logo depois, pude deduzir o desfecho. Tudo de acordo com meus sessenta e um anos de vivência terráquea.

— Desculpa, tá legal! — Vitor foi para cozinha e serviu-se de um copo de limonada.

— Tá sem açúcar. — o Sr. Krum avisou quando ele deu um gole generoso.

Cuspiu tudo de volta na pia.

— Pai! Pra que o senhor faz isso?

— Estou um pouco gripado. Não vou ficar me entupindo de remédios!

Iavor Krum tinha aversão a remédios. Na verdade tinha pânico de tudo que se relaciona-se a hospitais. Após seu terrível acidente automobilístico, oito anos antes, do qual quase perdera a perna e os movimentos da cintura para baixo, essa fobia apoderou-se do velho búlgaro.

Vinte anos antes, Iavor era um imigrante dos países do leste europeu em busca de uma vida com melhor estabilidade governamental. Em sua companhia, o filho pequenino.

Logo quando chegou a Inglaterra teve a sorte de ser acolhido por um simpático casal, os Wilson. Trabalhou como motorista particular da família, recebeu um salário satisfatório e direito a moradia numa casa decente nos fundos da residência deles. O sacrifício de ter de acordar a hora que fosse para levar o Sr.Wilson, que era obstetra, para suas chamadas de emergência era uma troca pequena pelo generoso acolhimento desses ingleses.

Certa noite, Iavor colidiu em cheio com um carro maior que vinha na contra mão. O Sr. Wilson saiu ileso, mas a perna do búlgaro recebeu todo o impacto da batida. Ele tornou-se inútil para o serviço, mas continuou morando na casa dos fundos com a única exigência de que fosse tomar chá com seus acolhedores todo domingo às cinco da tarde.

Nos tempos do acidente o filho teve de contornar toda tristeza e depressão que o pai experimentava por perder os movimentos da perna esquerda. Dias difíceis.

Ultimamente, Iavor havia finalmente se conformado com sua condição e ainda podia ajudar nas despesas caseiras ao aprender a mexer na mágica internet e trabalhar como vendedor para uma empresa de anúncios. Tudo online!

Iavor viu seu filho entrar no quarto e voltar rapidamente trajando um conjunto de moletom azul marinho.

— Aonde você vai? Acabou de chegar do serviço.

— Vou correr. — Vitor pegou uma garrafa de água que reservava refrigerando na geladeira.

— Filho...

— Pai. Só preciso ficar sozinho e esfriar a cabeça. Até daqui duas horas!


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