Et in Arcadia ego escrita por themuggleriddle


Capítulo 8
Ducunt Volentem fata, Nolentem Trahunt


Notas iniciais do capítulo

feliz ano novo (((:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/452206/chapter/8

Para a alegria de Tom, Potter lhe devolveu a sua varinha depois do incidente com o medalhão. Weasley havia trazido consigo uma varinha roubada de alguns Sequestradores e esta foi entregue a Harry, que devolveu a varinha de Bathilda para Riddle, dizendo que era melhor ele ter como se defender de qualquer jeito. Depois disso, Hermione voltou a lhe ensinar mais feitiços, arriscando até mesmo algumas maldições e azarações, e não demorou muito para que Tom conseguisse fazê-los sem dificuldade.

Mas havia um que ele não conseguia fazer de jeito nenhum. O Patrono parecia ser o único feitiço que travava. Hermione havia lhe dito que era normal alguém demorar para conseguir fazer um Patrono, mas ela também lhe contou que Harry já conseguia fazer um quando tinha treze anos. Tom tinha vinte e um e não conseguia só conseguia fazer com que um fiapo prateado saísse de sua varinha quando tentava. A garota lhe mostrou o seu próprio Patrono e Riddle não conseguiu evitar de ficar fascinado pela lontra prateada que flutuou ao seu redor por alguns minutos antes de evaporar. Ele também percebeu que já havia visto aquele feitiçø antes: a corsa prateada da floresta, mas, ainda assim, era diferente ver um tão de perto.

Outro detalhe que agora fazia mais sentido era a razão de nunca terem lhe dito o nome do seu outro eu. Os amigos haviam se recusado a dizer o nome do homem por medo de ele deixar escapar – de acordo com Hermione, ele tinha seus momentos de distração e aquilo era um perigo -, pois este havia se tornado, de acordo com Weasley, um tabu. Ou seja, caso qualquer pessoa falasse o nome do bruxo, ela seria rastreada e todos os feitiços de proteção seriam inutilizados. Riddle não conseguiu deixar de pensar que, no fundo, era uma estratégia e tanto.

Outra coisa boa era o fato de que o humor de Harry havia melhorado consideravelmente. A presença de Ron parecia deixar o outro rapaz mais confortável e, além disso, não havia mais o medalhão. Mas isso não significava que Tom gostasse da presença de Ron... Ele não podia falar muito sobre o ruivo, pois raramente conversavam, mas sabia que o garoto não gostava muito dele. Além disso, Weasley tinha o hábito horrível de comer como se não houvesse amanhã e aquilo o enojava. Aquilo e o jeito como Ron usava toda oportunidade para lembra-los do quão brilhante Hermione era. Aquilo já estava começando a ficar irritante.

“Estou dizendo que existe.” Tom parou atrás de Ron, observando enquanto o rapaz cutucava um pequeno rádio com a varinha. “Só estou tentando lembrar a senha... Wulfric? Não... Ah! Albus!”

O rádio emitiu um som baixo de estática por alguns segundos, antes de eles conseguirem diferenciar o som de vozes. Por alguns minutos, todos ficaram ao redor do rádio, ouvindo enquanto cinco pessoas chamadas River, Royal, Romulus, Rodent e Rapier falavam sobre a atual situação do mundo bruxo. Aparentemente, todos eram conhecidos do trio. Ao fim, Tom fez uma nota mental de agradecer Rodent – ou era Rapier? – pelas risadas causadas por uma infame piada sobre o seu outro eu e um basilísco, caso algum dia o conhecesse ao vivo.

“Isso é incrível!” disse Potter, depois do rádio ficar em silêncio.

“Não é? Eles estão arriscando a própria vida com isso, mas é brilhante!” disse Ron, sorrindo para os amigos. “Eles nos mantêm informados do que está acontece, sabe? O que o Ministério esconde das pessoas, eles falam. De tempos em tempos há um relatório das pessoas desaparecidas e também de ‘pessoas perigosas’.”

“Parece meio louco,” murmurou Tom, sentando-se na poltrona e olhando para o trio que estava sentado no chão.

“Desculpe?” Weasley se virou para encará-lo com uma sobrancelha arqueada.

“Parece meio louco, arriscar a própria vida por isso. Não estou dizendo que não é uma boa ideia,” ele explicou. “Só louco.”

“Bom, algumas pessoas conseguem se preocupar com os outros também.” Ron encolheu os ombros e voltou a olhar os amigos enquanto Riddle estreitava os olhos.

“Certo,” disse Hermione, levantando e olhando em volto. “Vou fazer algo para comer.”

“Oh, ótimo!” disse o ruivo e Tom revirou os olhos ao vê-lo se levantar e seguir a garota enquanto ela ia para a cozinha. Na sua cabeça, o rapaz já estava começando a comparar Ron Weasley a um cachorrinho carente.

“Pode parar.” A voz Harry o fez voltar para a realidade e só então Riddle percebeu que ainda estava encarando o local onde Ron e Hermione desapareceram ao entrar na cozinha.

“O que?”

“Hermione,” murmurou Potter.

“Do que você está falando?” perguntou Tom.

“Você sabe muito bem do que estou falando.” O garoto se levantou e foi guardar o rádio. “Aliás, nunca tive a oportunidade de dizer obrigado.”

“Obrigado?” Riddle franziu o cenho, sentindo-se incomodado pelo jeito calmo e descontraído com o qual Harry Potter estava falando com ele. “Pelo que?”

“Por pular naquele lago para me ajudar,” ele explicou e, para a surpresa do outro, um pequeno sorriso puxou os cantos de seu lábio. “Claro que não foi uma ajuda tão grande assim, já que o medalhão tentou nos afogar de qualquer jeito.” Harry apontou para o próprio pescoço, onde as marcas da corrente ainda estavam visíveis. Instintivamente, Tom olhou para a própria mão, onde as mesmas linhas avermelhadas marcavam a sua pele pálida.

“Acho que isso é você tentando me dizer para agradecer ao seu amigo por nos tirar da água,” Riddle suspirou.

“Eu não estava pensando nisso, mas, é, pode ser.” Harry riu. “Sabe, você nos deu um susto lá na floresta.”

“Oh?”

“Sim, digo, quando Ron apunhalou a horcrux, achei que ela estava machucando ele,” o garoto explicou. “Mas ai percebebi que era você quem estava gritando. E você estava no chão, agarrando o próprio peito e não tinha jeito da gente entender o que estava acontecendo. Ron não entendeu nada, claro, mas ele estava assustado pra caramba, principalmente quando você ficou todo duro, como se estivesse paralisado, sei lá, foi assustador. Achamos que alguém o tinha acertado com uma maldição Cruciatus.”

“A maldição da tortura?”

“Isso. Você reagiu da mesma forma que alguém atingido por ela.”

“Por que você está sendo tão legal?” Tom perguntou sem nem perceber.

“O que?” Harry piscou, inclinando a cabeça para o lado.

“Você está sendo legal comigo. Você não está... Falando como se estivesse esperando que eu puxasse a minha varinha para te matar a qualquer segundo, mesmo que agora eu sei quem... O que eu sou.”

“Bom, você quer me matar?”

“Não.”

“Que bom, então acho melhor irmos para a cozinha, porque Hermione já deve estar terminando o jantar.”

“Ela acabou de começar!”

“Magia, Riddle,” disse Harry, empinando o nariz e usando um tom de sabe-tudo que fez o outro rir fraco.

“Sabe,” disse Tom, se levantando e seguindo o outro. “Você me arrancou um dente no outro dia,” disse Riddle, quando finalmente chegaram na cozinha e se sentaram. “Quando você perdeu o senso e me socou do nada.”

“Você mereceu,” disse Harry.

“Na verdade, fui eu quem arrancou o seu dente, Harry apenas facilitou o trabalho.” Hermione riu enquanto servia uma tigela de macarrão, sendo ajudada por Ron. “Aliás, ainda está na minha bolsa. Assim que tudo isso terminar, podemos procurar um feitiço para colocar de volta no lugar. Ou podemos pedir ajuda à Madame Pomfrey... Quer dizer, nós vamos voltar para Hogwarts, não?”

“Você arrancou fora um dente de Tom Riddle?” perguntou Weasley, dando ênfase ao nome do rapaz. “Brilhante, Hermione!”

“Não foi tão brilhante na hora,” murmurou Tom.

“Porque foi você quem teve um dente arrancado por uma garota.”

“Acho que você perdeu a história: Potter arrancou ele do osso com um soco, Hermione o tirou da minha gengiva,” ele explicou, suspirando. “Mas ter um tende arrancado por um garoto ou garota não faz a menor diferença para mim, sinceramente. Não teria sido brilhante nem se o próprio Salazar Slytherin fosse o responsável.”

“Você que sabe, cara.” Ron deu de ombros, rindo e comendo o macarrão enrolado no garfo. “Está ótimo, Hermione!”

“Obgriada, Ron.” Hermione sorriu e Tom se forçou a comer para evitar olhar os dois. “Agora, quero falar uma coisa com vocês.”

“Vai em frente.”

“Estava pensando... Quero visitar Xenophilius Lovegood.”

“Quem?” perguntou Riddle.

“O pai de uma amiga nossa. Harry disse que ele estava usando um pingente com o mesmo símbolo que vimos na lápide de Ignotus Peverell, no casamento do irmão do Ron... Talvez ele saiba o significado,” explicou Hermione, olhando os rapazes.

“Não sei, Mione, a última vez que tentamos ir atrás de algo assim acabamos com Nagini tentando nos comer vivos.”

“Vamos lá, cara, é uma boa ideia,” disse Ron, sorrindo. “A gente não precisa se preocupar com o velho Xeno Lovegood. Ele sempre te apoiou, não é?”

“Eu ainda acho...”

“Vamos votar?” Weasley sugeriu, levantando a mão. “Eu acho que devíamos ir.”

Tom resistiu à tentação de revirar os olhos novamente ao ver Hermione olhar o ruivo com um sorrisinho nos lábios, logo antes de levantar a própria mão. Suspirando, Tom fez o mesmo. No fundo, ele também queria saber o que era aquele símbolo.

“Três contra um!” Ron riu. “Não se preocupe, Harry, vai dar tudo certo.  O pior que pode acontecer na casa de Luna é sermos atacados pelos nargulês!”

Por alguma razão, Tom não confiava nesses tais nargulês.

***

Aquilo não parecia uma casa. Na verdade, parecia uma Torre de xadrez. Uma Torre torta, para ser honesto. Enquanto se aproximavam, Tom percebeu que a casa parecia ficar cada vez mais estranha. As paredes escuras eram cobertas de desenhos – ele conseguiu reconhecer uma garota, um homem e um cavalo esquelético com grandes asas de morcego – e havia pequenas bolotas alaranjadas flutuando acima dos arbustos ao redor da ‘torre’. Riddle se perguntou se todas as casas bruxas eram assim.

“Bom,” disse Ron, quando eles pararam nas escadas em frente a porta. “Isso é bem... Luna.”

“Verdade.”

“O que são ameixas-dirigíveis?” perguntou Tom, lendo a placa presa ao lado da porta.

“Acho que isso são ameixas-dirigíveis.” Harry apontou para as bolotas laranjas, antes de subir as escadas e bater na porta. “Lembrem-se: fiquem atentos e prontos para atacar caso alguma coisa aconteça.”

A próxima coisa que Riddle viu foi o rosto de um homem encarando eles através da porta entreaberta. Ele era, no mínimo, peculiar. Tinha cabelos loiros e pálidos longos que pareciam oleosos e caíam-lhe sobre o rosto, e seus olhos azuis eram arregalados e brilhantes. O homem parecia estar usando pijamas e um roupão surrado por cima.

“Sr Lovegood?” disse Harry, sorrindo fraco. “Sou eu, Harry, Harry Potter. Se lembra de mim, do casamento? Bom, precisamos da sua ajuda...”

“Sr Potter?” o homem murmurou, encarando cada um deles antes de abrir a porta e acenar para eles entrarem. “Entrem, entrem!”

Hermione havia lhe ensinado alguns feitiços de limpeza e Riddle se sentiu tentado a usá-los na casa de Lovegood. O lugar era uma bagunça. Havia louças sujas por todos os cantos, algumas roupas espalhadas e penduradas nos móveis, muitos papéis e revistas no chão e mesas... Mas, aparentemente, ele era o único incomodado com a bagunça, pois o trio já havia seguido o homem sem pestanejar, subindo para o segundo andar, onde ele disse que lhes serviria um chá.

Assim que se sentram em um sofá, apertados um contra o outro, com o Sr Lovegood de pé na frente deles, sacudindo a varinha para lhes servir uma xícara de chá, Tom se permitiu olhar ao redor. Ali também era bagunçado, mas parecia mais uma casa, uma sala de estar. Havia vários objetos curiosos em todos os cantos, até mesmo um chifre retorcido em uma das paredes – Hermione estava falando alguma coisa sobre como aquilo era perigoso, mas Tom não prestou atenção -, além da estátua do busto de uma mulher bela, mas séria, com uma tiara esquisita na cabeça. Por alguma razão, Riddle decidiu que gostava do rosto da mulher da escultura.

“Onde está a Luna?”

“Luna está lá no rio, procurando plimpies de água doce. Ela... Ela vai ficar feliz de vê-los aqui. Vou lá chamar ela e dai... Bom. Vou tentar ajudá-los.”

Tom ouviu o homem descer as escadas e, depois, o som da porta abrindo e fechando lá embaixo.

“Velhote covarde,” disse Ron. “Luna é dez vezes mais corajosa que ele.”

“Ele só está com medo do que pode acontecer se os Comensais descobrirem que eu estou aqui,” disse Harry.

“Imagina se eles descobrem quem está com a gente.” Tom respirou fundo ao ouvir o que Ron falou, se levantando e indo ver o busto da mulher mais de perto. “Ouch! Hermione!”

 

“Bom, vou concordar com o Ron,” disse a bruxa. “Ele é um hipócrita, falando para todo mundo ajudar e tentando se escapar disso. Riddle, fique longe desse chifre, por favor!”

“Só estou olhando a tiara, não o chifre,” ele falou, apontando para a escultura.

“O que é isso?” perguntou Harry, aproximando-se e parando ao lado do outro rapaz.

“Bonitinho,” disse Ron. “Fico surpreso que ele não usou isso no casamento.”

“Que diabos de casamento é esse que vocês tanto falam?”

“Casamento do meu irmão,” Weasley começou a explicar quando Xenophilius apareceu na escada, carregando uma bandeja de xícaras e um bule.

“Ah, vocês acharam a minha maior invenção!” ele falou, colocando a bandeja nos braços de Hermione e indo até os rapazes. “Modelado na cabeça da bela Rowena Ravenclaw. ‘Sabedoria sem limites é o maior tesouro do homem!’”

O homem continuou falando da tiara e como ela era capaz de deixar quem a usasse mais inteligente. Tom não prestou atenção, pois continuava encarando o rosto da escultura. Ela tinha feições que lhe eram familiares, austera e linda, e aquela frase gravada na joia parecia ressoar de forma conhecida em sua mente. Quando o rapaz voltou de seus devaneios, Hermione o estava chamando, acenando para ele ir se sentar ao seu lado no sofá.

“Acredito que vocês conheçam o Conto dos Três Irmãos, então?” Tom perdeu a primeira parte da conversa deles e só agora ouvia o que Xenophilius estava lhes dizendo. “Oh, bom, deixem eu achar a minha cópia dos contos de Beedle...”

“Não precisa, Sr Lovegood, eu tenho aqui,” disse Hermione, tirando o livro da sua bolsinha. Os olhos do homem se arregalaram.

“Pelas barbas de Merlin! É o original!” ele riu, nervoso, e Riddle olhou para os outros para ver se mais alguém achou aquele comportamento esquisito. “Bom, vamos lá, querida.”

E então Tom ouviu a garota lhes contar a história dos três bruxos que enganaram a Morte com o uso de magia. Mas não demorou para seus pensamentos se desviarem para outro lugar... Assim que Hermione leu sobre a Varinha Anciã do primeiro irmão, Riddle não conseguiu não pensar no homem na cela, aquele que vira em sonho. Desde que descobriu que Você-Sabe-Quem era, na verdade, ele mesmo, Tom já havia se perguntado se o bruxo perguntando sobre uma varinha ao velho não era ele mesmo, e agora, ouvindo a história, aquilo parecia fazer muito sentido: o seu outro eu estava a procura da tal Varinha Invencível.

“Mas é só um conto de fadas.” Ele ouviu a voz de Ron e sacudiu a cabeça. Hermione havia terminado de ler e, aparentemente, Lovegood havia acabado de falar algo que Weasley não levara a sério.

“Para alguns é só uma história, mas há evidências da existência das Relíquias.”

“Uma varinha que não pode ser vencida, uma pedra que traz os mortos de volta à vida e uma capa da invisibilidade?” perguntou Hermione, fazendo careta. “A capa tudo bem, mas as outras duas? É bobagem. Desculpe, Sr Lovegood, mas não faz sentido, não tem chance de esses objetos existirem...”

“Há muitos tipos de magia que não conhecemos, Srta Granger,” disse Xenophilius, suas mãos tremendo levemente enquanto ele olhava para fora da janela. “Magia poderosa e misteriosa.” A garota logo virou o rosto para olhar Tom, como se Lovegood o tivesse mencionado. O mais velho não deixou tal ação passar em branco, pois logo olhou Riddle também, inclinando a cabeça para o lado enquanto o encarava. “Oh, Luna me falou sobre você, mocinha!” disse Xenophilius, virando para Hermione e sorrindo. “Você é, pelo que entendi, muito esperta, mas muito limitada. Fechada. Com a mente pequena.” Ele, então, virou para Tom novamente. “Não conheço você. Acho que Luna nunca me disse nada sobre você,” disse o Sr Lovegood, se aproximando do rapaz. “Qual o seu nome, garoto?”

“Ele é o Tom,” disse Hermione, rapidamente. “Um amigo nosso. Mas, como estava dizendo, Sr Lovegood, sabemos que capas da invisibilidade existem. São raras, mas existem. Agora-“

“Ah! Mas não é qualquer capa com um feitiço de desilusão ou algo assim. Esse tipo de magia é útil, mas logo começa a desaparecer. Estamos falando de uma capa que deixa quem a usa invisível e que dura para todo o sempre! Pense em quantas capas como essa você já viu, Srta Granger.”

Riddle olhou os outros três, vendo que eles, também, reconheceram a capa da qual Xenophilius estava falando.

“Viu? Ninguém jamais viu uma capa como essa!”

“Certo, mas e a pedra? Isso é bobagem, não tem como provar que-“

“Mas você também não pode provar que não existe.”

“Mas... Desculpe, mas é ridículo! Como você quer que eu prove que algo não existe? Você quer que eu pegue todas as pedras que existem no mundo para mostrar que nenhuma pode trazer os mortos de volta à vida?”

“Sim, é uma boa ideia. É bom ver que você está começando a abrir a sua mente um pouquinho.”

“Mas e a Varinha Anciã,” disse Harry. “Você acha que ela existe também?”

“Oh, existem infinitas evidências de que a Varinha Anciã existe! É a Relíquia que mais pode ser rastreada ao longo da história, já que é passada de mão à mão.”

“Como assim?”

“O dono da varinha deve tirá-la do seu antigo mestre e, só assim, ele a conquista de verdade,” disse Xenophilius e Tom sentiu seu estômago revirar. O que o prisioneiro do seu sonho havia falado? Que a Varinha das Varinhas descansava com o seu último dono, enterrada debaixo da terra. “A história sangrenta da Varinha está em várias páginas da história mágica.”

Enquanto eles continuavam conversando, Riddle se permitiu desviar do assunto em sua mente. A imagem do seu eu mais velho em posse daquela varinha o assustava. Claro, parte de si ficava fascinado com a ideia de uma varinha invencível, mas não sabia se podia confiar no seu outro eu com tamanho poder em mãos. Depois de algumas palavras a mais, Xenophilius se levantou, falando algo sobre eles ficarem para jantar.

“Que perda de tempo,” sussurrou Hermione.

“Bom, é o mesmo homem que nos trouxe os Bufadores de Chifre Enrugados,” disse Ron.

“Você também não acredita?” perguntou Harry.

“Nah, é só uma daquelas histórias para ensinar coisas para as crianças, sabe? Talvez essa ai seja pra dizer que varinhas de sabugueiro dão má sorte.”

“Como assim?” Tom franziu o cenho.

“É uma daquelas superstições. ‘Bruxas de Maio com trouxas vão casar’, ‘Azaração ao anoitecer, desfeita ao amanhecer’, ‘Varinha de sabugueiro, sem sorte a vida inteira’. Vamos lá, você já deve ter ouvido...”

“Fui criado por trouxas. Aprendi superstições diferentes, como ‘algo emprestado, algo azulado, algo velhaco e algo novato,” Tom explicou.

“O que diabos isso significa?” perguntou Ron, fazendo careta.

“Nos casamentos, a noiva deve usar algo emprestado, algo azul, algo velho e algo novo, para dar boa sorte,” disse Hermione. “Mas você está certo, também acho que é só mais um conto com moral da história. E é claro que é óbvio qual o melhor presente da Morte, qual você deveria escolher...”

Assim que ela falou isso, os quatro falaram ao mesmo tempo; Hermione disse ‘a Capa’; Ron disse ‘a Varinha’; e Harry e Tom falaram ‘a Pedra’.

“Você não precisaria ficar invisível se tivesse uma varinha poderosa, Hermione!”

“E nós já temos uma Capa da Invisibilidade,” disse Harry.

“Que sempre nos ajudou muito,” disse Hermione. “A Varinha iria atrair muito problema e a Pedra... É ridículo, não existe esse tipo de magia.”

“Mas seria uma boa escolha,” murmurou Harry. “Se pudéssemos trazer de volta o Sirius, Olho-Tonto, Dumbledore, meus pais...”

“Mas a história diz que eles não querem voltar, certo?” perguntou Riddle, vendo a garota o olhar com preocupação.

“Como já disse, não existe esse negócio de reavivar os mortos,” sussurrou Hermione, sua voz finalmente soando mais suave e menos mandona.

Enquanto eles continuavam conversando, Tom olhou para a escada que levava até o andar debaixo. Xenophilius havia descido para preparar o jantar e esperar a sua filha, mas não havia som algum vindo da cozinha.

“Harry, o que você ta fazendo? Acho que não deveria ficar bisbilhotando enquanto ele não volta!”

Enquanto ouvia o trio discutir sobre a curiosidade de Potter, Riddle se aproximou das escadas em espiral, esticando o pescoço para tentar ver o que estava acontecendo lá embaixo. Ele viu Lovegood se atrapalhando com as louças e revistas espalhadas pela casa, murmurando para si mesmo enquanto andava de um lado para o outro. Tom se lembrou de como Hermione ficara irritada quando descobriu que ele havia olhando dentro de sua mente, mas certamente ela não iria se importar se fizesse isso com Xenophilius, certo? Afinal, era apenas para ter certeza de que o homem não estava aprontando algo.

Concentrando-se e fixando o olhar na figura nervosa do outro bruxo, ignorando o burburinho vindo do andar de cima, o rapaz logo conseguiu passar pelas barreiras da mente de Lovegood, adentrando-a sem dificuldade. Os pensamentos de Xenophilius eram tão bagunçados quanto a sua casa, mas Tom conseguiu discernir algumas silhuetas entre todas as ideias confusas. Figuras vestidas com capas negras; uma garota loira; a voz assustada de Lovegood... ‘Ele está aqui, Harry Potter está aqui.’

Soltando a mente do homem, Riddle correu para o terceiro andar e viu o trio parado no meio de um quarto. O teto acima deles era pintado com o rosto dos três e de outras pessoas que ele não conhecia. Aquele detalhe teria lhe prendido a atenção por mais tempo se não fosse pelo que ele havia acabado de descobrir.

“Precisamos sair daqui,” ele falou, fazendo os outros se virarem para olhá-lo. “Agora.”

“O que?” perguntou Ron. “Por quê?”

“Lovegood chamou os Comensais,” disse Tom, agarrando Hermione pelo braço e a puxando para a escada.

“Oh, pare de ser tão-“ Os dois rapazes os seguiram, não parecendo muito felizes com a notícia.

“Estou falando a verdade, Weasley! Eu olhei na mente dele! Eu vi-“

“Sr Lovegood,” Hermione sussurrou, olhando para algo atrás de Tom. O rapaz se virou e viu Xenophilius parado ali. O rosto dele estava pálido demais e suas mãos tremiam muito.

“Eles pegaram a minha Luna,” ele murmurou com a voz tremendo, passando a língua pelos lábios e se aproximando de Harry, passando reto por Tom, com os olhos fixos na cicatriz do garoto. “Por causa do que eu andei escrevendo. Eles levaram a minha Luna e eu não sei onde ela está, o que fizeram com ela. Mas eles talvez a tragam de volta se eu... se eu...”

“Entregar o Harry?” Hermione terminou.

“Eles vão chegar a qualquer momento. Eu preciso salvar a minha Luna, por favor, entenda...” ele falou, abrindo os braços para bloquear a passagem deles pela escada.

“Sr Lovegood...” Potter começou a falar e Riddle colocou a mão no próprio bolso, agarrando a sua varinha.

“Harry!”

A garota estava apontando para uma janela. Lá fora, a silhueta de vassouras se aproximavam da casa. Enquanto eles olhavam, Lovegood puxou sua varinha e, bem a tempo, Harry jogou o próprio corpo contra os outros, tirando-os da mira de um feitiço que atravessou o lugar e atingiu o chifre de Bufador.

Houve um barulho ensurdecedor de explosão e, então, várias coisas aconteceram ao mesmo tempo. Harry estava gritando, como Hermione, enquanto Ron xingava sem parar. Havia pedaços de madeira e pedra voando por todos os lados e Xenophilius havia sumido de vista, muito provavelmente lançado escada abaixo. Apoiando-se nos cotovelos, Tom viu o cômodo arruinado e Hermione, em pé no meio dos escombros. O rosto dela estava pálido, coverto de poeira, enquanto ela olhava para eles e pressionava um dedo contra os próprios lábios.

“Não disse que não tinha razão para tanta pressa, Travers?” Uma voz rouca foi ouvida no andar debaixo. “Não falei que o doido do Lovegood só estava delirando como sempre?”

Tom sentiu um arrepio ao ouvir os gritos de Xenophilius, lembrando-se da dor que sentira quando Ron destruiu a horcrux. O que Potter havia dito? Que parecia que ele estava sob a maldição Cruciatus. Ele realmente não queria experimentar a tal maldição agora.

“Vamos sair daqui,” ele falou baixinho, praticamente apenas movendo os lábios, para Hermione, que sacudiu a cabeça.

“Não... No andar de cima... Potter!”

“Eu disse na semana passada, Lovegood: a gente não ia voltar por nada a não ser informações! Lembra da semana passada? Quando você queria trocar a sua filha por uma maldita tiara? E na outra semana.” Outro grito que fez Tom se encolher no chão. “Quando você achou que fossemos entrega-la quando você nos ofereceu provas de que existem malditos Bufadores.” Um barulho alto de algo batendo contra pedra. “De chifre.” Um grito. “Enrugado!?”

“Não, não, eu imploro! É o Potter! De verdade!”

“Seu desgraçado mentiroso,” um dos bruxos gritou. “Você nunca nem viu Potter, não é? Achou que poderia nos trazer aqui para nos explodir? E acha que vai conseguir a sua menina de volta assim!?”

“Eu juro... Juro... Potter... No andar de cima!”

“Homenum revelio,” disse uma voz no pé da escada.

“Eu disse para a gente sair!” sussurrou Riddle ao ouvir Hermione parecer ficar sem ar.

“Vá lá em cima e nos traga o Potter, e sua menina volta pra casa,” disse um dos Comensais da Morte. “Se for um truque, vamos ver se conseguimos deixar alguns restos da sua filha para você enterrar.”

Tom se esgueirou para fora dos escombros. Harry e Ron fizeram o mesmo, demorando um pouco mais. Hermione rapidamente se aproximou deles, abanando a capa da invisibilidade de Potter na frente do rosto de Ron.

“Se esconda e me dê a sua mão. Vocês dois, se segurem em mim também.”

“Mas o Harry...”

“Só faça isso, Ron!”

Tom agarrou o braço de Hermione com uma mão, a outra ainda apertando a varinha com força, e viu o rosto assustado de Lovegood finalmente aparecer na escada. A garota apontou a varinha para o homem e gritou um feitiço, logo antes de apontar para o chão. De repente, eles estavam caindo. Os dedos de Riddle apertaram o braço da bruxa quando ele conseguiu ver dois homens tentando subir as escadas. Os Comensais da Morte olharam para eles por alguns segundos, com os olhos arregalados, logo antes de Hermione girar no ar e a escuridão tomar conta de tudo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

ducunt volentem fata, nolentem trahunt = o destino guia aqueles que o aceitam; os que o negam, ele arrasta



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Et in Arcadia ego" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.