Et in Arcadia ego escrita por themuggleriddle


Capítulo 6
In pectore


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito tempo, aqui está. Vou tentar justificar isso com a desculpa do "2015 foi um ano terrível e, junto com isso, a faculdade não permitiu muita coisa. Agora estou tentando voltar devagar, recuperar a mão para essa fic, vamos ver o que vai dar"



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Hermione dormia profundamente na cama de cima do beliche e Harry estava do lado de fora, fazendo guarda. Dessa vez, Tom não gostou do silêncio, principalmente porque esse silêncio estava sendo constante desde que ele acordara daquele sonho com Grindelwald, um dia atrás. Os dois amigos haviam voltado a cochichar seus segredinhos um para o outro, deixando-o de fora e sempre parecendo estar suspeitando de algo; mais uma vez ele havia se voltado para a companhia de Koschei, a pequena cobra que ele havia começado a cuidar. O rapaz havia desistido de tentar entender o que havia acontecido, já que tudo o que os outros dois falavam era que ele havia tentado matá-los mesmo que ele não se lembrasse disso.

“Ela dorme.” Riddle olhou para cima, vendo a serpente pendurada na cama de Hermione.

“Obrigado,” ele murmurou, levantando-se e pisando na beirada do seu colchão para poder olhar a garota adormecida até encontrar a pequena bolsinha de contas enfiada debaixo do seu travesseiro. O bruxo trancou a respiração, esticou o braço e agarrou a bolsinha, puxando-a devagar. A garota mexeu-se em seu sono e ele congelou no lugar, direcionando a sua magia para fazê-la afundar mais no sono. Logo, ela estava quieta novamente.

Enquanto descia para a sua cama, abria a bolsa e fazia um Accio sem varinha para puxar o livro que queria, Tom podia ouvir a voz da Sra Cole ecoando em sua cabeça. ‘Você é muito curioso para o seu próprio bem,’ ela diria caso o visse naquele momento. ‘Você irá se meter em problemas por isso’.

Lumos,” ele murmurou, espantando as palavras da velha diretora do orfanato. Logo, uma luzinha pálida surgiu acima de sua mão. Ele havia visto Hermione usar aquele feitiço com uma varinha e ficou feliz de ver que ele funcionava sem a ajuda de tal objeto.

Enfiando-se debaixo dos cobertores outra vez, Tom tirou um tempo para observar a capa de couro preto antes de abrir o livro e olhar o seu sumário. Havia diversos rituais, feitiços e maldições listados ali e Tom desejava ter tempo suficiente para ler sobre todos eles. Magia, branca ou negra, era uma coisa interessante demais, ele havia descoberto isso nos últimos dias, e ele queria saber tudo sobre aquilo. Dizendo a si mesmo que iria trabalhar para ganhar a confiança de Hermione outra vez, Riddle voltou a procurar pelo que queria no sumário.

Tom levou o seu tempo para ler as páginas que explicavam com detalhes sobre as horcruxes. Como Hermione havia falado, elas eram coisinhas perigosas que desestabilizava o bruxo que as criava: a alma ficava cada vez mais frágil a medida que mais horcruxes eram criadas, chegando ao ponto de se quebrar mesmo sem que o bruxo tivesse essa intenção. A criação de uma horcrux consistia de duas partes: um sacrifício e um ritual. O sacrifício era a inocência do bruxo, já que era preciso que este assassinasse alguém para que sua alma se quebrasse. Uma vez que o assassinato fosse cometido, a alma fosse dividida, as suas partes continuavam contidas dentro do corpo do bruxo até ele realizar o ritual, no qual ele arrancava uma dessas partes e a guardava dentro de algum objeto. No fim das contas, matar era a parte mais fácil do processo.

Além do texto explicando o assunto, havia também várias ilustrações no livro. Desenhos em preto e branco mostrando bruxos realizando o grotesco ritual e tendo suas almas arrancadas de seus corpos, outros mostrando os fragmentos de alma saindo dos objetos que foram usados como seus veículos… Uma, no entanto, chamou a atenção do rapaz. Parecia muito com o desenho da criação de uma horcrux, mas não havia nenhuma legenda, pelo menos não em inglês, mas havia pequenas runas nas margens e, logo que as viu, Tom fez outro Accio, dessa vez para chamar o dicionário de runas de Hermione.

Riddle estava no meio da tradução das runas, tentando fazer o mínimo de barulho possível e confiando em Koschei para saber se Hermione estava quase acordando ou não, quando um barulho fora da barraca chamou a sua atenção. O garoto ficou estático, encarando a entrada da tenda e ouvindo o barulho de alguém andando lá fora. Potter havia saído de seu lugar de sempre e agora estava se afastando. Tom olhou para o livro em seu colo, antes de escondê-lo debaixo dos cobertores e se levantar, saindo da tenda.

***

Estar fora da área dos feitiços de proteção fazia com que Riddle ficasse incomodado. Era como se, saindo daquela área, ele estivesse exposto à todos os perigos do mundo, mas, mesmo assim, ele continuou a andar, seguindo Harry. Ele mantinha uma boa distância entre eles, não querendo ser visto, e ficava se perguntando o que havia atraído a atenção do bruxo para fazer com que ele saísse da área de proteção para perambular pela floresta no meio da noite gelada. Tom já estava quase desistindo de tentar entender as intenções de Potter, quando finalmente a viu.

Alguns metros a frente do outro rapaz, havia uma forma prateada parada no meio da neve. A silueta parecia a de uma corsa que olhava para Harry, antes de continuar andando sem deixar nenhum traço de pegadas pela neve fofa. Potter continuou a seguindo, com o olhar fixado na corsa e ignorando tudo ao redor de si. O rapaz disse a si mesmo que só o estava seguindo para ter certeza de que Harry não iria se meter em alguma encrenca, mas sabia que, no fundo, a maior razão para continuar aquilo era a curiosidade de saber o que era aquela corsa prateada.

A corsa finalmente parou quando chegou à superfície translúcida de um laguinho congelado e, assim que Potter parou às margens deste, ela desapareceu. Tom ficou observando de longe enquanto Harry atravessava o gelo até se ajoelhar sobre este, limpando a superfície com a manga da camisa. Ele ouviu uma exclamação e se perguntou o que o outro vira ali, mas conteve a vontade de se aproximar. O outro bruxo puxou a varinha do bolso - ‘Minha varinha,’ pensou Tom - e, com um feitiço silencioso, quebrou uma parte do gelo, abrindo um buraco que expunha a água negra e gelada. Franzindo o cenho, ele viu Harry se levantar e ir até a margem do lago outra vez, começando a tirar as suas roupas, deixando apenas a roupa debaixo.

“Você é louco, Potter,” ele sussurrou quando Harry pulou na água. Assim que os cabelos negros de Harry sumiram debaixo da água, Tom desistiu de ficar ali escondido e correu até o lago. E ele ficou satisfeito de tê-lo feito, pois assim que pisou no gelo, um barulho alto de algo batendo abaixo de si ecoou do lago e não demorou muito para perceber que Harry estava em apuros.

Se ele achava que a água do orfanato era gelada, então ele devia rever os seus conceitos do que realmente era ‘frio’. O choque inicial de pular na água congelante fez com que a sua cabeça girasse por alguns segundos, antes de abrir os olhos e ver o que estava acontecendo debaixo do gelo.

Potter estava se debatendo, volte meia atingindo o gelo acima deles e, pelo que era possível ver, era o medalhão dourado que o arrastava para lá e para cá, sempre tentando alcançar a superfície como se quisesse escapar. Pelo canto do olho, o rapaz também conseguiu ver algo brilhante descansando no fundo do lago, mas ele estava mais preocupado com a corrente do medalhão, que agora se enroscava no pescoço de Harry, já encravando-se na pele dele. Riddle chutou a água e ficou aliviado ao perceber que aquele simples movimento já o ajudava a se aproximar do bruxo.

Os olhos de Potter se arregalaram quando as mãos de Tom entraram em contato com a pele de seu pescoço, puxando a corrente em um esforço inútil para tentar afrouxá-la. O medalhão, como se percebesse que outra pessoa o queria afastar de Harry, enroscou-se ao redor da mão e do braço de Riddle, prendendo-o também. O local onde a corrente encostava em sua pele queimava a medida que o metal cortava a sua pele. O pânico começou a aumentar dentro de si quando percebeu que não havia jeito de soltar a corrente. A sua cabeça já começava a ficar leve com a falta de oxigênio e, em uma tentativa involuntária de respirar, Tom engoliu uma boa quantidade de água.

A visão de Tom começava a escurecer quando sentiu algo o puxar pela camisa. Hermione devia tê-los achado e, depois de salvá-los, iria lhes dar o maior sermão de todas as suas vidas… Ele já conseguia imaginar a voz dela gritando com eles assim que os tirasse da água.

Mas não foi a voz irritada de Hermione que ele ouviu. Depois de alguns minutos tossindo e cuspindo água gelada no chão e apertando a mão machucada pela corrente contra o próprio corpo, não foi a voz da bruxa que lhe chamou a atenção, mas sim uma voz mais grossa e desconhecida.

“Você… é… louco?!”

Tom viu quando os olhos de Harry se arregalaram, antes do rapaz erguer a cabeça para ver quem falava com eles. Riddle tossiu mais algumas vezes, antes de virar-se para ver um rapaz ruivo parado atrás deles. As roupas dele estavam encharcadas e ele tinha o medalhão em uma das mãos e uma espada brilhante na outra.

“Por que diabos você não tirou essa coisa antes de mergulhar?” o ruivo perguntou, balançando a corrente.

Riddle abraçou a si mesmo, tentando permanecer aquecido enquanto via Harry colocar as roupas outra vez.

“Foi… Foi você?” perguntou Potter.

“Bom, sim…”

“V-Você fez o Patrono?”

“O que? Claro que não! Eu achei que fosse você!”

“Meu Patrono é um veado.”

“Oh, sim. Pensei mesmo que estivesse estranho.” O desconhecido ergueu as mãos para cima das cabeças como se indicasse algo ali. “Sem chifres.”

“Como você chegou aqui?” Tom apenas observava os dois em silêncio e se perguntava quem diabos era aquele garoto.

“Bom, eu… Sabe… Eu voltei. Se, hum, vocês me quiserem de volta…” O ruivo passou uma mão pelos cabelos, antes de olhar para Riddle. “Quem é esse?”

“É uma longa história, Ron,” disse Harry. “Vou explicar depois. Agora, você viu mais alguém por aqui?”

“Não. Digo, eu estava procurando por vocês faz horas, esse lugar é gigante! Aí eu vi a corsa prateada e você a seguindo,” ele falou e apontou para Tom. “E depois ele apareceu e entrou no lago atrás de você. Mas quando nenhum dos dois voltou, eu entrei também. Além disso, não havia mais ninguém.”

“Então como essa espada chegou aqui?” perguntou Tom e, mais uma vez, o estranho o olhou com um ar de suspeita.

“A pessoa que conjurou o Patrono a colocou no lago,” disso Harry.

“Como você sabe que é a verdadeira?”

“A verdadeira? Quer dizer que existe mais de uma?” Riddle perguntou, antes de suspirar ao ver que havia sido ignorado outra vez.

“Só há um jeito de saber, não?” Tom observou Harry olhar para o medalhão na mão do outro rapaz e franziu o cenho, sentindo os cortes em sua mão arderem. Ele havia visto o que aquela coisa era capaz de fazer e, agora, ele tinha quase certeza de que o objeto tentara matá-los ao perceber que Potter estava indo atrás da espada que o destruiria. Então as horcruxes eram como a alma escondida de Koschei: eles tinham vida dentro si e tais fragmentos tentavam se defender. Tom não sabia se isso o deixava interessado ou apavorado.

“Vamos.” Harry começou a andar na direção da floresta de novo, parando perto de uma pedra em cima da qual ele colocou o medalhão. Ron lhe ofereceu a espada, mas ele simplesmente negou. “Não, você faz.”

“Eu? Por quê?”

“Porque você a pegou do lago. Ela deve tê-lo escolhido. Eu vou abrir, okay? Seja o que for que existe aqui dentro, irá tentar se defender. O pedaço de Ri- dele que estava no diário tentou me matar. Eu vou pedir para que ele se abra em língua de cobra.”

“Não! Harry, não! Eu não…” Tom finalmente se levantou do chão, observando os rapazes conversarem. Ele queria voltar para a barraca, ele já havia visto o suficiente daquele medalhão pelo dia, mas ao mesmo tempo ele queria ficar e ver o que iria acontecer. “Eu não consigo lutar contra essa coisa. Ela me afeta mais do que afeta você ou Hermione! Ela me fez pensar coisas horríveis, eu não sei explicar, mas assim que eu a tirei, minha cabeça voltou ao normal. Eu não posso fazer isso, Harry!”

Tom afastou-se um pouco, parando atrás de Ron. Dali, ele conseguia ter uma boa visão de tudo.

“Você consegue,” disse Harry. “Eu sei que consegue! Você tirou a espada da água; eu sei que é você quem deve usá-la! Por favor, destrua o medalhão, Ron.”

O ruivo respirou fundo, antes de assentir e se aproximar da pedra outra vez.

“Quando?”

“Quando eu contar três. E você!” Harry gritou para Tom. “Não tente fazer nada!”

“Como se eu pudesse,” o garoto murmurou, cruzando os braços na frente do peito e se preparando para o show.

“Um… Dois… Três… Abra.”

Quando o pequeno medalhão se abriu ao comando de Potter, Tom sentiu a sua respiração falhar. Pequenos olhinhos azuis olhavam de dentro do vidro que cobria o interior do medalhão. Ele conhecia aqueles olhos. Ele já havia recebido diversos elogios por conta de seus olhos durante a vida e ele os reconheceria em qualquer lugar… E ali, dentro do medalhão, encarando Ron, estavam os seus olhos.

“Acerte-o com a espada!” disse Harry, segurando o medalhão. O ruivo ergueu a espada, a ponta desta ficando logo acima dos olhos dentro do objeto.

“Eu vi o seu coração.” Riddle sentiu um arrepio correr pela sua espinha ao reconhecer a voz que ecoava da horcrux. A sua voz. “E agora ele é meu.”

“Não escute! Mate-o!”

“Potter, o que está acontecendo?” Tom gritou. “Potter!”

“Eu vi os seus sonhos, Ron Weasley, e eu vi os seus medos.” A voz - a sua voz - continuava vindo de dentro do medalhão, ecoando entre as árvores e fazendo com que ele começasse a tremer. Algo no fundo de seu peito começava a se apertar. “Tudo o que você deseja é possível, assim como tudo que você teme…”

“Mate-o!”

“Sempre o menos amado pela mãe que queria uma filha… O menos amado pela garota que prefere o seu amigo… Sempre o segundo, eternamente uma sombra…”

“Ron, acerte-o agora!” gritou Harry e Tom viu os olhos no objeto brilharem.

E então, da horcrux, duas figuras começaram a surgir. De início, elas não tinham uma forma definida, mas logo era possível ver os rostos de Harry e Hermione e, então, os seus corpos. Os olhos do rapaz se arregalaram enquanto ele via as cópias dos dois adolescentes flutuando acima de Ron. Horcrux-Potter parecia mais alto e mais forte enquanto Horcrux-Hermione parecia mais bonita e mais perigosa enquanto olhava para o bruxo de cabelos vermelhos, rindo.

“Por que você voltou? Nós estávamos melhor sem você, mais felizes sem você, estávamos felizes que você foi embora… Nós rimos da sua estupidez. Da sua covardia, da sua presunção,” disse Horcrux-Harry com uma voz que parecia ser uma mistura da voz de Tom e de Harry.

“Presunção!” Hocrux-Hermione riu mais alto, sacudindo a cabeça e fazendo os cabelos flutuarem ao redor de si. Ron permaneceu petrificado, olhando os dois com uma expressão de horror no rosto. “Quem olharia para você, quem o escolheria quando se está ao lado de Harry Potter? O que você já fez, comparado ao Escolhido? Quem é você comparado ao Menino-Que-Sobreviveu?”

“Ron, acerte-o, ACERTE-O!”

“Sua mãe confessou,” zombou Hocrux-Harry enquanto a menina ria. “Que ela queria que eu fosse o filho dela, que ela ficaria feliz de me ter no seu lugar…”

“Quem não iria preferir ele? Que mulher iria preferir você? Você é não é nada, nada, nada perto dele,” Hocrux-Hermione cantarolou, passando os braços ao redor de Horcrux-Harry, abraçando-o até que seus lábios se encontraram.

“Vamos, Ron!”

E então tudo ao redor de Riddle não passava de barulho e imagens borradas. Potter continuava gritando e, então, a voz de Ron se juntou aos gritos, seus berros se tornando intermináveis aos ouvidos de Tom. E então, no fundo de seu peito, bem no ponto onde um nó parecia ter se formado, uma dor enorme e excruciante explodiu. Era como se algo dentro de si queimasse e essas chamas se espalhassem por todo o seu corpo. Ele conseguia ouvir o próprio coração batendo contra a parede de seu peito e a dor seguindo o ritmo dos batimentos. Sua mano alcançou a frente do seu suéter, agarrando-se à ele como se aquilo fosse segurá-lo ali e, logo, não ouvia mais nada. Não havia mais os gritos de Harry e Ron, nem o som da voz vindo da horcrux, nem o vento, nem os próprios gritos, nem os seus batimentos… Apenas o silêncio.


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Notas finais do capítulo

Sempre fiquei frustrada com como essa cena da destruição do medalhão foi conduzida no filme. Sempre imagino como seria legal se tivessem tentado misturar mais Voldemort/Riddle às figuras do Harry e da Hermione ao invés de fazerem um efeitinho a la A Múmia com o rosto do Voldy aparecendo quando destroem a horcrux.