Et in Arcadia ego escrita por themuggleriddle


Capítulo 15
Alea Iacta est




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Antes de Harry ter entendido do que se tratava a charada de Helena Ravenclaw, Tom já o estava puxando pelos corredores do castelo. Os pensamentos do rapaz passavam pela sua cabeça tão rápido que era impossível se ater a um só, mas ele conseguia entender o contexto: já estivera no local mencionado por Helena, já o havia usado como refúgio, tanto para si quanto para objetos.

Eles tiveram que esperar os outros alunos evacuarem a sala. Tom não pôde deixar de achar engraçado o fato de que todas aquelas crianças estavam se escondendo no exato local onde Lord Voldemort escondera parte de sua alma. A Sala Precisa, realmente, era um santuário para todos.

Enquanto os estudantes se dispersavam, os dois rapazes procuravam por Ron e Hermione, mas em nenhum momento foi possível ver a cabeleira ruiva de Weasley ou os cabelos armados de Hermione entre a multidão. Em certo momento, Ginny Weasley se esgueirou entre os últimos alunos que deixavam a Sala Precisa e, ignorando a presença de Tom, trocou um olhar com Harry, antes de explicar que o irmão e a amiga disseram algo sobre ir até um banheiro.

“Um banheiro?” perguntou Potter, franzindo o cenho.

“Foi o que eles disseram.” A garota encolheu os ombros e lançou um olhar nervoso na direção de Riddle. “A Ordem acabou de chegar. Lupin e Flitwick estão cuidando das defesas do castelo. Mamãe e Tonks estão levando os alunos para o Grande Salão. McGonagall irá mandar os mais novos para o Cabeça de Javali e... Precisa de ajuda em algo, Harry?”

“Melhor você ficar com a Ordem ou ir junto com os alunos que estão sendo evacuados,” o garoto falou. Tom pôde jurar que Weasley estava pronta para xingá-lo e ignorar qualquer ordem vinda dele. “Nós damos um jeito.” Ele indicou Riddle com a cabeça. “Se Ron e Hermione aparecerem, diga que o diadema de Ravenclaw está na Sala Precisa e estamos atrás dele.”

“Certo.” A ruiva assentiu e deu as costas para eles. Antes de se afastar, no entanto, virou-se para olhar Harry uma última vez, os lábios pressionados em uma linha fina e os olhos castanhos brilhando mais do que o normal. “Vê se não morre.”

“Pode deixa-“

Antes que pudesse terminar de falar, um grunhido baixo escapou da boca de Potter e ele levou uma mão até a testa. Ginny arregalou os olhos e já estava se aproximando quando parou, estática, ao mesmo tempo que uma voz aguda encheu os corredores, clara e gélida, fazendo os pelos na nuca de Riddle se eriçarem:

“Sei que estão se preparando para lutar.” Ao longe, eles ouviram os gritos de alunos que ainda não haviam chegado no Grande Salão. “Seus esforços são inúteis. Vocês não podem me vencer. Não quero matá-los. Tenho grande respeito pelos professores de Hogwarts e não quero derramar sangue mágico.”

Por alguns segundos, o silêncio reinou pelos corredores. Harry continuava com a mão sobre a testa, as articulações brancas pela força que fazia. Ginny Weasley havia deixado de lado toda e qualquer postura impetuosa e agora estava agachada contra a parede, as mãos sobre as orelhas e o rosto escondido entre os cabelos vermelhos. Tom sentia o coração bater com uma velocidade assustadora e as pontas dos dedos formigarem com a magia que se atiçava dentro de si.

“Me entreguem Harry Potter,” disse a voz de Voldemort e a garota ruiva soluçou alto. “E ninguém será ferido. Me entreguem Harry Potter e deixarei a escola em paz. Me entreguem Harry Potter e vocês serão recompensados.”

“Vocês têm até a meia noite.”

O silêncio, mais uma vez, tomou conta de tudo, pesado demais para qualquer um ter coragem de quebra-lo. Ginny foi a primeira a se mover, erguendo a cabeça e olhando para os rapazes com os olhos marejados.

“N-Não ouse,” ela murmurou, o olhar fixado em Harry. “Não ouse se entregar.” Segundos depois, o rosto vermelho dela se virou na direção de Riddle, agora contorcido em uma expressão raivosa. “E você... Não ouse tentar nenhuma gracinha. Se eu descobrir que você fez algo, te encontro e dou um jeito de te enfiar dentro de um vaso sanitário e puxar a descarga, como fiz com o seu maldito diário.”

Tom apenas assentiu, abrindo e fechando os dedos da mão para dispersar a magia que se acumulava ali. A voz de Voldemort, a onipresença dele pelos poucos minutos de seu pronunciamento, pareceu despertar algo em si, como se a magia estivesse respondendo ao som daquela voz tenebrosa.

“Ginny, por favor,” Potter pediu, com a voz fraca. “Vai pro Grande Salão.”

Ainda chorando, apesar de em silêncio, a garota respirou fundo, levantou-se e arrumou a postura, antes de correr até sumir na esquina do corredor. Harry, ainda pálido e tremendo, virou-se de frente para a parede oposta à tapeçaria que mostrava um bruxo e vários trolls dançarinos.

‘Um lugar para esconder algo,’ pensou Riddle, imaginando como o outro garoto iria formular aquele mesmo pedido para a sala.

Em alguns segundos, as pedras da parede começaram a se mover. Pouco a pouco, elas se afastaram, dando espaço para uma porta dupla de madeira. Tom sentiu a sua respiração falhar por um momento. Estava prestes a encontrar outra parte de sua alma, prestes a ver outra parte de si ser destruída, e ainda se lembrava da dor e do pânico que sentiu quando o medalhão fora esfaqueado pela espada de Godric Gryffindor.

“Riddle?” A voz de Potter o tirou de seus pensamentos.

“Vamos logo,” o rapaz murmurou, empurrando a porta e entrando.

O teto ali dentro era tão alto quanto o do grande salão e era impossível ver o fim da sala. Objetos e mais objetos estavam empilhados ao longo do cômodo, desde coisas pequenas como livros, até armários e estátuas enormes. Havia magia por todos os lados, magia de diversas pessoas e inúmeras épocas, o que tornava difícil tentar se concentrar no poder sombrio e familiar que devia emanar da sua própria alma.

“Estamos fodidos,” Tom sussurrou, erguendo o rosto para olhar uma estátua de bronze de um bruxo sério com uma barba pontuda e o braço esticado.

“Tem que estar aqui.”

“Não duvido que esteja, mas como vamos achar no meio de toda essa tralha?” o rapaz perguntou, apanhando a ponta do que parecia ser uma tapeçaria e a erguendo, vendo o desenho de um casal medieval de mãos dadas. Resmungando, ele jogou a tapeçaria no chão outra vez, assustando-se quando esta esbarrou contra uma velha harpa de madeira, a qual emitiu um som desafinado.

“Vamos nos separar. Dê um grito se encontrar algo.”

Tom inclinou a cabeça para o lado enquanto observava o outro se afastar e, logo, sumir atrás de uma das pilhas de objetos. Harry Potter havia confiado nele o suficiente para deixa-lo sozinho no meio de tudo aquilo? Ou o garoto estava realmente muito abalado, ou... Não, com certeza ele estava abalado demais e tomando decisões ruins. Encolhendo os ombros e apanhando a varinha, Riddle tomou outro caminho por entre as quinquilharias da Sala Precisa.

Ele não soube por quanto tempo andou ou quantas coisas esquisitas viu ali dentro. Também não sabia o que procurava... Claro, estava atrás do diadema perdido de Rowena Ravenclaw, mas onde o estava procurando? Estava atrás de uma caixa? De um saco? Do pobre diadema jogado em cima de qualquer coisa?

A certa altura, com os pés já doendo de andar (só então percebeu que fazia muitas e muitas horas que não descansava de verdade) e os nervos a flor da pele por conta de todos aqueles minutos gastos, Tom se permitiu sentar em um divã velho e empoeirado. Suspirando, o jovem escondeu o rosto nas mãos. Estava cansado e, por mais que não quisesse admitir, assustado. Ouvir a voz de Voldemort fora de seus delírios fez tudo aquilo parecer mais real. Ele conseguia, se fizesse algum esforço, ouvir a própria voz por debaixo daquele tom agudo e horripilante que ouvira. Aquilo o apavorava.

“Essa varinha é minha, Potter.”

Riddle ergueu a cabeça rapidamente ao ouvir uma voz diferente ecoar pela sala. Seus olhos correram pelos caminhos malfeitos entre as pilhas de objetos, mas não viu ninguém por perto.

“Não mais,” disse Harry em alto e bom tom. “Achado não é roubado. Quem te emprestou essa?”

O rapaz se lembrou, então, que Potter agora usava a varinha que ele havia afanado na Mansão Malfoy. Aquele garoto, então, devia ser um Malfoy... o neto de Abraxas, muito provavelmente. Uma pequena parte de si teve o impulso de ir atrás das vozes, apenas para ver se aquele bruxo era parecido em algo com o quadro que ele havia visto na mansão ou com o colega cujas lembranças aos poucos voltavam à sua mente.

“Minha mãe.”

Uma risada debochada ecoou pelo lugar. Tom olhou em volta, o senso de urgência fazendo a respiração começar a ficar travada. Foi então que, por algum milagre ou truque de sorte, ele o viu.

Perto de um grande armário negro, empilhado em cima de vários objetos e quase caindo, havia o busto de um bruxo. Alguém, em algum momento da história, decidira colocar uma peruca ridícula na cabeça do pobre coitado e ele, Tom Riddle, havia decidido que ali seria um bom lugar para colocar o diadema de Rowena Ravenclaw.

De onde estava, não parecia algo fora do ordinário, apenas uma tiara na cabeça de um busto, quase escondida pelos cabelos bagunçados da peruca, mas algo dentro de si dizia que aquilo era o que procurava. Seus dedos voltaram a formigar e, quase sem perceber, seus pés o levaram até lá. Ele escalou os objetos como pôde, ignorando completamente a conversa entre Harry e Malfoy ao fundo. Foi apenas quando seus dedos se fecharam ao redor do metal do diadema que Tom Riddle percebeu que estava prendendo a respiração.

Ele era lindo. O metal se retorcia em curvas delicadas e emanava uma magia forte que se grudava em suas mãos. A cabeça de uma águia formava o centro do objeto e as suas asas eram as hastes que se juntavam e formavam o círculo do diadema. Letras delicadas formavam as palavras marcadas na joia – “A mente sem limites é o maior tesouro do homem” – e uma pedra azul e brilhante estava incrustrada onde seria o corpo a águia, além de pequenos fios de pedrinhas pequeninas e azuis, opacas, que se penduravam ao longo das hastes. Aquilo era uma obra de arte e ele a havia corrompido com magia negra.

“AVADA KEDAVRA!”

Uma voz diferente e o grito da maldição distraiu Tom de seu fascínio pelo diadema. O som de objetos caindo o fez agarrar a relíquia com mais força, logo antes de escondê-la, como pôde, dentro de um dos bolsos do robe do colégio que agora estava usando.

De onde estava, Riddle conseguiu ver o que parecia ser uma língua de chamas se erguer por entre os objetos empilhados na sala. O fogo envolvia tudo com ferocidade, lambendo as estátuas e armários e livros sem piedade. Os gritos dos rapazes deixaram de ser raivosos e se tornaram apavorados. Ele precisava sair dali.

Descer da pilha onde havia encontrado o busto com o diadema foi muito pior do que subir. Em um segundo, Tom estava no chão, depois de ter rolado pelos objetos, o que resultou em arranhões e vergões em todo o corpo. O som das chamas agora preenchia os seus ouvidos, junto com os gritos. Apalpando o robe pare sentir o diadema ali e apanhando a varinha outra vez, o rapaz se levantou e correu.

Viver em Londres tinha as suas vantagens e uma delas era o senso de direção que a cidade forçava em seus habitantes. Era muito fácil se perder entre os becos e ruelas, mas não era nada interessante virar na esquina errada e ir parar no covil de algum criminoso. Alguma parte de Tom, aparentemente, havia retido aquela facilidade para se localizar, pois no fim de cada corredor havia algo que o lembrava onde ele devia virar para alcançar a saída.

A sala havia se tornado um inferno. O calor estava insuportável e as chamas estavam apenas alguns metros atrás dele. Quando finalmente viu, ao longe, uma parede, a sensação de felicidade foi incomparável e Tom apenas correu.

As chamas estavam perto e alguém gritava. Algo passou por cima de Riddle, quase batendo em sua cabeça, mas ele apenas ignorou. A porta estava aberta. Ele correu mais. O ar quente lhe queimava o caminho até os pulmões e suas vestes se grudavam ao corpo.

Tom não viu quando saiu da sala, apenas sentiu o ar ficar incrivelmente mais fresco e ouviu um estrondo atrás de si. Quando se deu por conta, estava jogado no chão, a sensação da pedra fria contra o seu rosto parecendo uma benção. Ao seu lado, estava Harry, segurando uma vassoura e tentando se livrar de um garoto loiro que se agarrava a ele. No chão, havia outro rapaz, desacordado.

“Malfoy!” Potter empurrou o loiro para longe, que os encarou com os olhos arregalados e se levantou em um pulo, antes de sair correndo. “Covarde.”

“Fogomaldito,” Riddle murmurou, batendo com a mão no chão. “Os idiotas usaram fogomaldito em um lugar fechado!”

“Harry!”

Os dois rapazes olharam para o final do corredor. Ron e Hermione se aproximavam, correndo, com os braços cheios de coisas brancas e esquisitas. A garota olhou, boquiaberta, para onde havia estado a porta da Sala Precisa e onde, agora, havia apenas pedras chamuscadas. O ruivo se apressou para ajudar Harry a se levantar.

“O que houve?!”

“Malfoy, Crabbe e Goyle,” Potter explicou. “Eles usaram... fogomaldito...”

“Merlin!” Hermione murmurou, abaixando-se para verificar a pulsação no pescoço do garoto desacordado. “O que vocês estavam fazendo ai dentro!?”

“O diadema,” Harry falou.

“Vocês encontraram?” perguntou Ron.

“Não...”

Tom engoliu em seco, finalmente se sentando. O peso da joia em seu bolso pareceu aumentar, mas sua boca ficou fechada.

“Mas se ainda tem fogomaldito ardendo lá dentro,” disse Granger, mordendo o lábio inferior. “Então a horcrux vai ser destruída. É um dos poucos feitiços que pode acabar com elas!”

Os três amigos suspiraram, aliviados. Riddle se ergueu do chão e sentiu o mundo girar por um momento. Quando voltou a se equilibrar, olhou para os braços de Weasley.

“O que é isso?”

“Presas de basilísco!” Foi Hermione quem respondeu com um sorriso enorme no rosto. “Foi ideia do Ron! Brilhante, não? O veneno do basilísco destrói horcruxes e nós temos um esqueleto inteiro de um deles logo abaixo dos nossos pés!” Ela pisou com força no chão, quase parecendo dançar por um momento. “Ron conseguiu abrir a passagem para a Câmara-“

“Espera, espera, espera!” Harry abanou as mãos. “Como!?”

“Eu só imitei o que você falou pra abrir o negócio no nosso segundo ano,” disse Weasley, antes de enfiar a língua por entre os dentes e emitir um chiado esquisito. Tom franziu o cenho.

“Isso é a pior imitação de ofidioglossia que eu já vi,” Riddle murmurou.

“Bom, tenta fazer melhor.” O ruivo deu de ombros.

“Aposssto que consssigo,”o rapaz falou, ouvindo a própria voz sair diferente e sorrindo ao ver o outro arregalar os olhos e encolher os ombros, como se estivesse arrepiado. “De qualquer forma... Quantas faltam?”

“Falta apenas a cobra,” disse Hermione.

“Mione destruiu a taça lá na Câmar-“

O ruivo se interrompeu quando gritos e os característicos sons de um duelo preencheram o corredor. Dois jovens ruivos acabavam de virar na esquina do corredor, varinhas em mãos e feitiços voando por todos os lados. Pouco depois, dois homens encapuzados e mascarados apareceram. Tom sentiu o medo voltar a subir pela sua garganta, mas notou que os outros já haviam corrido na direção dos ruivos, ajudando-os a combater os Comensais. O mais velho dos jovens estava duelando contra o Comensal cujo capuz escorregou quando este se esquivou de um feitiço.

“Olá, Ministro!” o rapaz gritou, acertando o homem com um feitiço e o fazendo largar a varinha. “Já disse que estou me demitindo?”

“Você está fazendo piada, Perce!” o outro ruivo gritou, assim que o Comensal com quem duelava caiu após ser atingido por três feitiços estuporantes. “Você realmente está fazendo piada, Perce! Acho que não te vejo fazendo isso desde-“

Um estrondo preencheu o corredor ao mesmo tempo que a parede atrás deles explodiu. De onde estava, Riddle viu apenas a nuvem de fumaça tomar conta de tudo, escondendo os bruxos por alguns longos minutos. O barulho de feitiços cessou e Tom ouvia apenas a própria tosse, causada pela poeira que agora se assentava. Gritos voltaram a surgir, Hermione chamando pelos outros e Ron respondendo.

As silhuetas dos jovens começou a se fazer visível e, finalmente, Riddle sentiu as suas pernas decidirem se mover. Ele correu até os escombros e encontrou Harry lutando para sair do meio das pedras. Com um pouco de dificuldade, ele o ajudou, puxando-o e o ajudando a ficar em pé. O rapaz sentiu uma mão em seu ombro e, ao se virar, encontrou Hermione o encarando com os olhos arregalados e o rosto coberto por poeira.

“Está tudo bem,” ele murmurou e se forçou a sorrir.

“Não – não – não!” Alguém estava gritando, a voz estridente cortando por entre a fumaça e os escombros. “Não! Fred! Não!”

Hermione e Harry já não estavam mais ao seu lado. Aos tropeços, eles atravessaram as pedras e pedaços de armaduras que agora enchiam o corredor, até pararem abruptamente.

Um dos garotos ruivos estava parcialmente soterrado pelos escombros, pálido e com os olhos claros abertos, encarando o nada. Percy gritava e sacudia o irmão. Ron se restringia ao silêncio, ajoelhado ao lado do corpo enquanto a poeira baixava.


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Notas finais do capítulo

alea iacta est = frase que denota o fato de que foi passado do ponto sem volta ("the die is cast")