Et in Arcadia ego escrita por themuggleriddle


Capítulo 12
Dum Vivimus, Vivamus




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Harry se sentia anestesiado. Era como se a morte de Dobby fosse um soco do qual ele não sabia como se recuperar. Dobby não era ruim, ele não estava nem lutando do lado de alguém naquela guerra! Ainda assim, agora ele estava enterrado debaixo daquela areia fria, com aquela lápide ridícula que Harry fizera para ele. Morto. Dobby, o elfo livre, estava morto.

Foi com essa sensação de estar cansado demais tomando conta de seu corpo que Potter viu uma figura estranha se aproximando. Estreitando os olhos para conseguir focar o estranho, Harry viu que não se tratava de um desconhecido, mas sim de Tom Riddle. Um Tom Riddle muito diferente daquele que ele havia encontrado na Câmara Secreta, anos antes. Aquele Riddle era elegante e bem arrumado, tudo em si gritando ‘perfeição’, enquanto o Riddle que se aproximava, cambaleando pela areia, parecia mais um refugiado: bagunçado, sujo e cansado. Não muito diferente do próprio Harry.

“O que você ta fazendo aqui?” Mas não importava se ele estava sujo ou elegante, aquele era Tom Riddle e a morte de Dobby serviu-lhe para mostrar quem aquele rapaz realmente era. “Decidiu servir de espião para os seus próprios comensais?”

“Cale a boca, Potter,” murmurou Tom, observando a lápide improvisada.

“Você matou ele.” Harry apontou para a pedra, sentindo o cansaço desaparecer.

“Onde está Hermione?”

“Você e seus malditos comensais da morte.”

“Onde está Hermione, Potter!?”

“Por quê? Quer levar ela até a Bellatrix para que a sua serva mais leal possa terminar a sessão de tortura?” Harry cuspiu as palavras e não tardou a ver um movimento rápido do braço de Riddle, antes de ser atirado para trás por magia, caindo de costas no chão e sentindo como se tivesse levado um soco no estômago.

“É melhor calar a boca sobre o que você não sab-“

“O que está acontecendo?!” Harry virou-se para ver Fleur correndo até eles, a varinha em mão e os cabelos platinados esvoaçando. “Você está bem, ‘Arry? Quem é você?”

“Eu estava viajando com Harry e os outros, antes de sermos capturados pelos sequestradores,” Riddle respondeu rapidamente, não dando tempo para o outro falar alguma coisa e fazendo a melhor expressão de vítima que ele conseguia. “Fui deixado para trás, mas consegui escapar pouco depois deles.”

“Você não disse que tinha mais gente com vocês,” disse Fleur, franzindo o cenho e abaixando a varinha. “Ah, ‘Ermione está melhor agora. Está dormindo. Bill está cuidando do Monsieur Ollivander. Sua outra amiga, Luna, está bem, assim como o garoto, Dean,” ela falou e depois virou para Tom, que havia se aproximado dela. “Pelas barbas de Merlin, você está horrível!”

Harry Potter observou enquanto a mulher colocava um braço ao redor dos ombros de Riddle, de uma forma que o lembrou muito a Sra. Weasley, e o guiava até a casinha na praia.

***

“Mas, Harry, durante todo esse tempo, Tom não-“

“Riddle nos atacou quando vocês duelaram, lembra?” Hermione suspirou. Sim, ela se lembrava muito bem disso, apesar de não querer ter aquela lembrança dos olhos faiscando de raiva do rapaz. “Só estou dizendo que a gente devia se livrar dele.”

“Você quer dizer... matar?” perguntou Ron, franzindo o cenho enquanto observava o amigo.

“Nós não vamos matar ele, Harry,” disse Hermione. “Matar Tom seria nos rebaixar ao nível de Você-Sabe-Quem.”

“A gente podia só abandonar ele em algum lugar. Ele não está mais vulnerável, mas ainda não iria poder aparatar,” disse Potter. “Você poderia apagar a memória dele e ficaria tudo okay.”

“Harry, não.” A garota fez uma careta, apesar de saber que a ideia de Harry não era completamente sem sentido. “Nós somos tudo o que ele conhece. Apagar a memória dele e abandoná-lo no meio do nada seria a mesma coisa que não tê-lo ajudado quando ele apareceu pela primeira vez.”

“Hermione, o que é que você tem? Aquele cara é Você-Sabe-Quem!” disse Ron.

‘Não é!’ era o que Hermione queria dizer, mas não sabia se podia. Havia momentos nos quais ela conseguia ver o Lorde das Trevas ou o rapaz que Harry lhe descrevera quando falara de Riddle na época de Hogwarts, como quando ele a atacou ou tentou seduzir Greyback – apenas se lembrar disso lhe dava arrepios -, mas, ao mesmo tempo, ela vira Tom na casa do pai, em Little Hangleton, e aquilo fora o suficiente para que ela duvidasse que aquele Tom Riddle que saíra do medalhão era o mesmo que tentava destruir o mundo bruxo.

“Porque ele é inocente, Ron. Lembra do que ele falou? O feitiço que usei serve para separar o lado bom e ruim de uma alma escondida em uma horcrux. Quanto mais maldade, mais forte a horcrux é,” ela explicou. “O que eu tirei da horcrux foi uma parte da alma que ainda era inocente, como uma criança. Essa alma, daquele momento em diante, era algo completamente a parte de Você-Sabe-Quem.”

“Como você sabe disso?”

“Porque, Harry, o objetivo do feitiço era esse: desconectar a parte fraca da alma daquela que está na horcrux e da original. Dessa forma, aquele que fez a horcrux pode se livrar dessa... parte indesejada.”

“Você quer dizer que o bruxo que cria a horcrux,” murmurou Weasley. “Não só divide a alma e esconde parte dela dentro de alguma coisa, mas também divide esse fragmento, cria uma nova pessoa e-“

“Mata ela,” Harry completou. “Eles tiram a parte fraca da horcrux e a matam.”

“Exato. Não é como se essa nova alma fosse interferir com a alma original ou a horcrux, mas acho que bruxos das trevas não gostam de ter seu lado fraco correndo por ai, correndo o risco de ganharem poder,” disse Hermione.

“Mas se eles são fracos...”

“Fraco no sentido de não ser ruim, Ron,” ela explicou. “Mas a magia deles é tão poderosa quanto a do bruxo original. Sem contar que essa falta de maldade é algo que acontece no início, mas que pode ser corrompida, como-“

“Uma criança,” os dois garotos falaram em uníssono.

“É por isso que não o vejo como Você-Sabe-Quem, Ron. E é por isso que não podemos largar Tom em qualquer lugar... Se ficarmos perto dele, podemos ficar de olho no desenvolvimento desse lago ruim de Você-Sabe-Quem ou tentar diminuir isso,” a garota falou, suspirando.

“Hermione,” Harry chamou. “Você acha que Você-Sabe-Quem tentaria matá-lo se descobrisse que Riddle está aqui?”

“Não tenho ideia. Se Voldemort não fez esse toque final nas horcruxes, é possível que ele nem saiba dessa parte do feitiço. Dessa forma, ele pode ficar com medo de matar Tom, temendo que vá matar parte de si mesmo, destruindo uma horcrux. Sem contar que ele pode tentar convencer Tom de se juntar a ele. Riddle é poderoso e Você-Sabe-Quem pode usar tal poder, não é?”

“E agora a gente precisa ficar de olho em um Lorde das Trevas mirim para evitar que o Lorde das Trevas velhaco tente corromper a inocência dele,” murmurou Ron, rindo fraquinho. “Seria engraçado se não fosse sério.”

“Onde ele está, Harry?”

“Riddle? Lá embaixo com Fleur e Luna,” o garoto respondeu. “Luna parece ter gostado dele, ela já estava contando sobre os Bufadores de Chifre Enrugado quando eu subi.”

***

Por alguma razão, Tom acreditava que Luna Lovegood seria uma boa amiga para Abraxas Malfoy. Havia, é claro, a chance de Malfoy se enfiar dentro de alguma floresta para procurar as bestas fantásticas das quais Luna falava, arriscando a própria pele para encontrar um maldito Bufador de Chifre Enrugado, mas ainda assim seria interessante vê-los interagir.

A garota finalmente havia parado de falar sobre animais mágicos quando ela se levantou do sofá e foi até uma das janelas da sala, observando lá fora. Enquanto isso, Fleur, a bruxa mais velha, cuidava dos seus ferimentos, fazendo-o se deitar no sofá e tirar a camisa para ver o que podia fazer. Graças a Deus ela não perguntou como diabos ele havia conseguido aqueles longos arranhões no abdômen ou os hematomas nos braços e mandíbula. O rapaz não estava com muita vontade de contar que Fenrir Greyback quase o usara como seu novo brinquedinho.

“Vai ficar cicariz,” disse Fleur, apontando para alguns arranhões e cortes mais profundos deixados pelas unhas de Greyback.

“São só arranhões.”

“Arranhões feitos por Fenrir Greyback.” A mulher sorriu de forma triste e ele engolhiu em seco. “Mas não se preocupe, não vai ficar horrível.”

“Aqui.” Tom ouviu uma voz mais grossa vindo de trás de si, antes de uma camisa quadriculada ser jogada para Fleur, que a apanhou e entregou para o garoto. “Então esse é o cara que estava viajando com Harry. Eles querem falar com você.”

Quando o homem que falava finalmente apareceu na sua frente, Tom entendeu o por que de Fleur saber sobre a cicatrizações de feridas causadas por Greyback. O homem ruivo tinha o rosto coberto por cicatrizes parecidas com os cortes que ele mesmo tinha agora.

“Certo,” murmurou Riddle, levantando-se e colocando a camisa, antes de seguir o bruxo para o segundo andar. Era quase impossível não olhar as cicatrizes dele e se perguntar o que Fenrir havia feito ali.

“Greyback,” o ruivo falou, apontando para o próprio rosto. “Mas você já sabe disso. Sou Bill, aliás.”

“Tom.”

“É um prazer, Tom.” O homem sorriu e parou na frente de uma porta, batendo e então a abrindo. “Aqui está ele.”

Riddle entrou no quarto e encontrou Harry, Ron e Hermione sentados perto da janela, encarando-o. Bill fechou a porta e, assim que o fez, Ron começou a falar:

“Como você escapou da Mansão Malfoy?”

“Achei uma saída,” ele murmurou, sentando-se na cama no meio do quarto.

“Não diga, Sherlock.” Harry revirou os olhos. “Como?”

“Antonin Dolohov achou uma saída para mim,” ele respondeu, suspirando. “Um comensal da morte me ajudou. Feliz?”

“Harry, por favor.” Hermione apoiou uma mão no ombro do amigo, tentando acalmá-lo. “Sério, Tom, como você conseguiu escapar?”

“Já disse: Dolohov. E antes que vocês digam que eu mostrei onde vocês estão, eu apaguei a memória dele antes de mandá-lo de volta.”

“E por que Dolohov o ajudaria?” o ruivo perguntou, olhando rapidamente para a garota.

“Porque ele me conhece.”

“Claro que te conhece, ele é um dos comensais de Você-Sabe-Quem!”

“Ele me conhece, Potter,” disse Riddle, apontando para si mesmo. “Ele conhece esse eu. E, para a minha sorte, ele se lembrava de ter se juntado à Você-Sabe-Quem por minha causa.”

“Isso não faz sentido.”

“Talvez não para você, Weasley, mas Dolohov enteneu muito bem.” Tom olhou para Hermione. A menina estava horrível. Além de parecer cansada, havia um pequeno corte em sua garganta e seu antebraço esquerdo estava enrolado em bandagens. “Você está bem?”

“Sim. Você nos deu um susto quando não apareceu a tempo de escapar.”

“Na verdade, você nos assustou quando fez aquele showzinho com Greyback na floresta,” disse Ron, franzindo as sobrancelhas. “O que foi aquilo?”

“Aquilo fui eu tentando nos tirar daquela enrascada,” Riddle respondeu. Eles não precisavam saber que o seu plano era trocar apenas a liberdade de Hermione por um favor ao bruxo. “Greyback os deixaria ir embora se ele, sabe, ganhasse o que queria.”

Os garotos o olharam por um momento, confusos, e foi só quando Hermione puxou o ar e escondeu a boca atrás das mãos que eles pareceram entender o que ele queria dizer.

“Você não fez isso!” ela quase gritou e Tom se sentiu confuso ao ver os olhos dela brilharem com lágrimas. “Você não fez isso, Tom Riddle!”

“Não fiz, porque alguém fez o favor de deixar a espada jogada no meio da barraca e os sequestradores a encontraram. Caso contrário, nosso... acordo estaria de pé, eu acho.”

“Como você pode falar disso desse jeito? Fenrir Greyback!” ela gritou. “Você sabe o que ele faz? Sabe o que os rumores falam dele? Sabe como ele trata as suas vítimas, Riddle?”

“Deu pra advinhar pelo jeito que ele estava todo em cima de ti quando eles chegaram!” Ele olhou para Harry e Ron, que pareciam surpresos. “E não finjam que vocês preferiam que Greyback pegasse o Tom Riddle malvado ao invés dela.”

“Não falamos nada!” disse Ron, erguendo as mãos em defesa, mas logo as abaixou quando viu que o olhar de Tom dizia claramente ‘Vocês não precisavam ter falado nada’.

“Chega,” disse Hermione, olhando para todos eles com cara feia. “Temos coisas mais importantes para discutir. Você perdeu a varinha, Riddle. Precisamos achar outra-“

“Bom, na verdade,” Tom murmurou, puxando a sua varinha – a sua varinha de verdade— do bolso. Os olhos da garota se arregalaram e ela soltou um barulho esganiçado quando viu a varinha de teixo em sua mão.

“Como...?”

“Aparentemente, o meu eu mais velho não a quer mais depois que descobriu que ela não serve de nada em uma luta contra a sua varinha, Potter,” ele explicou. “Mas acho que ele não sabe que a sua quebrou. Ele a mantinha escondida na casa dos Malfoy-“

“E como foi que a encontrou?” perguntou Hermione, estreitando os olhos e tirando a varinha das mãos dele. Tom sentiu o impulso de se levantar e pegar o objeto de volta a força. Era a varinha dele, ela não tinha o direito de arrancá-la de si daquela forma. “E não venha me dizer que esbarrou nela sem querer.”

“Um retrato me ajudou.”

“O que?”

“Um retrato, Weasley. Sabem, telas pintadas e colocadas nas paredes, no mundo bruxo eles se mexem e falam? Um desses me disse onde estava a varinha.”

“Eu sei o que é um retrato,” disse Ron, fazendo careta. “Só não sei por que um deles o teria ajudado.”

“Porque ele era um velho amigo,” disse Riddle, pegando a varinha com cuidado quando Hermione a devolveu. “Abraxas Malfoy. Oh, ele parece bem interessado em você, Hermione. Você e Potter são assuntos recorrentes na casa dos Malfoy.” Os dois amigos o olharam de forma confusa, ambos corando levemente. “E vocês? Têm alguma varinha?”

“Eu tenho a de Bellatrix,” Hermione respondeu. “Ron tem a de Pettigrew e Harry, a do Draco.”

“Não gosto de pensar que você tem a varinha de Você-Sabe-Quem,” murmurou Potter e Tom podia jurar que agora ele parecia uma criança de seis anos.

“Antes de pertencer à ele, ela era minha,” disse Tom, empinando o nariz. “Ela me escolheu.”

“Como se você se lembrasse disso...”

“Ninguém aqui gosta muito dessa varinha, Tom,” a bruxa explicou. “Todos sabemos as coisas horríveis que ela fez, mas, como eu disse quando você pegou a varinha da Bathilda: é melhor que você esteja armado. Ainda mais se conseguirmos fazer o que estamos planejando.”

“Oh, ótimo, vocês têm um plano. Posso perguntar qual é ou vocês vão me arrastar nisso sem me deixar saber se corro o risco de ter a cabeça arrancada por uma cobra gigante outra vez?”

“Sim, temos um plano, e sim, você vai saber do que se trata,” disse a bruxa, olhando para os amigos por um momento. “Nós vamos roubar o Gringotts.”

***

Tom não conseguia se lembrar de muita coisa, suas memórias continuavam confusas e fora de lugar, mas, de vez em quando, ele conseguia se prender a uma lembrança por mais tempo. Aquilo estava acontecendo com mais frequência desde que encontrara o quadro de Abraxas e, apesar da maioria das lembranças ser sobre seu antigo amigo, era bom saber que aquelas memórias continuavam em sua cabeça e só precisavam de algum gatilho para serem reavivadas... E quando Hermione falou ‘nós vamos roubar o Gringotts’, não demorou muito para que ele se lembrasse da entrada do banco. Ele nunca havia entrado lá – ele não tinha dinheiro guardado e o Professor Slughorn era o responsável por trocar o pouco dinheiro trouxa que Riddle tinha por moedas bruxas quando ele precisava comprar o material escolar -, mas se lembrava do aviso que havia na porta.

Mas, apesar de repetir a linha final do poema que servia de aviso para aqueles que entravam no banco, o trio não pareceu desistir do plano, ainda mais depois de conseguirem o apoio do goblin que escapara com eles da Mansão Malfoy. A criatura os guiaria dentro do banco, levando-os até o cofre dos Lestrange, onde eles acreditavam que Voldemort havia escondido uma de suas horcruxes. Eles estavam caçando parte de sua alma, mas o que realmente o perturbava era o fato deles estarem indo roubar um banco. A ideia de serem pegos e descobrirem sobre ele – porque a mentira sobre Thomas Mazarovsky só iria iludir as pessoas até certo ponto – o aterrorizava. Ah, e também o fato de, no momento, estar isolado, longe de todos os outros.

Tom ainda não entendia por que Harry havia pedido para ele ficar no quarto de Bill e Fleur quando alguém bateu na porta da casa e anunciou: ‘Sou eu, Remus John Lupin’. Não... Claro que sabia. Era porque ele era Tom Riddle e aquele tal de Lupin era um dos bruxos lutando contra Voldemort. Ele se lembrava da voz dele no programa de rádio que Ron lhes mostrara na barraca. Potter não queria que ninguém mais soubesse que eles estavam carregando uma versão mais nova de Você-Sabe-Quem a tiracolo.

Riddle conseguia ouvir risadas e vozes animadas no andar debaixo. Eles estavam falando sobre um bebê, o filho de Lupin, que havia acabado de nascer. Foi só quando as vozes foram ficando mais baixas que a porta do quarto se abriu e Hermione entrou. O rosto dela estava, pela primeira vez, genuinamente feliz.

“Oi,” ela murmurou, aproximando-se dele. Tom arqueou uma sobrancelha ao ver que ela trazia consigo uma garrafa de vidro meio vazia e uma taça. “Achei que talvez fosse querer um pouco. Todo mundo lá embaixo tomou.”

“É muita consideração sua,” ele falou, observando-a se sentar ao seu lado no chão, encostando-se contra a cama. “Por que estão todos comemorando com vinho hoje?”

“Um amigo nosso virou pai.” Ela sorriu e serviu um pouco de vinho, entregando-lhe a taça.

“Oh, parabéns para ele.” O bruxo sorriu sem tentar esconder a sua falta de entusiasmo enquanto pegava a taça e tomava um gole.

“Ele é um cara legal, o Remus,” Hermione murmurou. “Ficou apavorado quando descobriu que a esposa estava grávida...”

“Ter um filho no meio de uma guerra não é a melhor coisa que existe. O orfanato era uma prova disso.” O garoto viu a bruxa fazer uma careta.

“Na verdade, ele estava preocupado por ser um lobisomem.”

“Como é?”

“Lupin é um lobisomem,” ela explicou, brincando com um cacho castanho. “Ele foi mordido por Greyback quando era pequeno.”

“Greyback é um...?” perguntou Tom, sentindo um calafrio descer pela sua coluna.

“Agora entende por que foi super perigoso tentar seduzir ele?” Hermione deu uma risadinha. “Claro, não era lua cheia quando ele nos encontrou, mas a mordida de Greyback pode mudar o comportamento da pessoa mesmo quando ele não está completamente transformado.”

“Bill foi mordido por ele?”

“Sim, mas não na lua cheia. Fleur disse que ele ama carne bem mal passada agora.” Hermione deu de ombros. “Ele não o mordeu, né?”

“Não.” O rapaz riu pelo nariz e bebeu mais vinho, antes de olhá-la outra vez. “Não precisa se preocupar. Você-Sabe-Quem ainda não é um lobisomem.”

“Não estou preocupada com Você-Sabe-Quem ser um lobisomem,” ela murmurou. “Estou preocupada com você virar um. Já vi Lupin durante uma transformação e é horrível. Não desejaria isso para ninguém, nem para o meu pior inimigo.”

“Então estou seguro.”

“Oh, cale a boca.” A garota riu e deu um tapa no braço dele. “Você não é ele.” Ela deu um risinho e virou-se para olhá-lo por um momento, erguendo a mão e tocando o nariz dele com a ponta do dedo. “Você tem um nariz e ele não.” Tom franziu a testa quando ela deslizou o dedo do seu nariz para a sua sobrancelha. “E sobrancelhas.”

“Quanto vinho você tomou?” ele perguntou, rindo fraco.

“Duas taças,” ela respondeu prontamente. “Não estou bêbada, se é isso que quer saber.”

“O que mais me diferencia dele?” perguntou Riddle, percebendo o que havia falado só depois das palavras escaparem de sua boca. Ele culpava a sua distração ao fato de Hermione estar muito próxima.

“Você é inteligente.”

“Ele também.”

“Ele é louco.”

“Não somos todos?”

“A loucura não é o tipo normal de loucura. E você tentou seduzir Greyback para tentar nos ajudar,” ela falou.

“Eu não tentei seduzir ele.” Tom revirou os olhos e a menina franziu o cenho. “Eu consegui fazer isso.”

“Você é um idiota convencido, não é?” Ela deu um sorriso de lado. “Você chora.”

“O que?”

“Você chora e sente mais do que só raiva,” a bruxa explicou, deixando a mão apoiar-se nas próprias pernas. “Nossa visita à Little Hangleton é uma prova disso.” Ela estreitou os olhos. “A não ser que você seja um ator muito, muito bom para conseguir chorar aquelas lágrimas de crocodilo. Harry disse que você é bom em fingir-“

Hermione tinha lábios macios. Esse era o tipo de pensamento que Tom tentava manter afastado de sua mente durante a maior parte do tempo, mas agora, enquanto ele pressionava os próprios lábios contra os dela de forma um tanto desajeitada, o rapaz permitiu-se pensar no que quisesse sobre a garota. Riddle sentiu os cantos dos seus lábios serem repuxados por um sorriso insistente quando sentiu a bruxa eventualmente responder à sua ação, logo antes da mão dela alcançar o seu rosto e seus dedos o acariciarem por um momento, antes de irem até os seus cabelos.

“Você realmente é um ótimo ator,” murmurou Hermione, depois de se afastar, mas não se afastar dele, sua mão ainda nos cabelos do garoto e o rosto corado. “Não tenho ideia de se isso foi falso ou não.”

“Acho que cabe a você decidir.”

“Acho que sim,” ela sussurrou, enroscando os dedos nos cabelos escuros dele. “Oh, e você tem cabelo.”

“Você-Sabe-Quem é careca?” Ele riu fraco.

“Sem nariz, sem sobrancelhas, sem cabelo e sem coração.”

“Deve ser uma visão horrível,” disse Tom. “Espero não acabar-“

“Você não vai,” Hermione o interrompeu. “Você tem um nariz, tem sobrancelhas, tem cabelo.” A bruxa apoiou uma mão no peito dele e Riddle sentiu seu rosto esquentar. Ele culpava o vinho por isso, apesar de sentir seu coração bater mais forte contra o seu peito. “E você tem coração.”

“Você-Sabe-Quem não estaria andando por ai se não tivesse um coração para bombear sangue para o resto do corpo.”

“Você-Sabe-Quem tem um órgão bombeador de sangue,” Hermione murmurou. “Você tem um coração.”

“O coração é um órgão bombeador de sangue, Hermione-“ Dessa vez, foi a bruxa quem o beijou nos lábios, leve e rapidamente.

“Pare de arruinar tudo o que eu falo!” O rapaz riu. “Você entendeu o que quis dizer.”

“Entendi, mas quando se trata de... amor, o único trabalho do coração é de bater mais rápido porque o cérebro diz para ele fazer isso.”

“Então, deixe-me corrigir minha frase: você tem um coração que é capaz de acelerar por conta de uma emoção chamada amor e não apenas por ódio.”

Riddle olhou Hermione por um momento, antes de segurar a mão dela que estava em seu peito, acariciando-a com o polegar. Ele se perguntava a razão da garota estar agindo assim com ele – o vinho ainda era a melhor resposta. Ela podia não estar bêbada, mas ela com certeza estava tomada pela leveza e alegria que o álcool trazia -, mas logo desistiu de tentar encontrar uma resposta. Não parecia fazer sentido algum.

“Obrigado,” ele falou, soltando a mão dela.

“Pelo que, exatamente?”

Por trazê-lo para fora do medalhão, por ser gentil, pelo beijo... Ele queria agradecê-la por todas essas coisas.

“Pelo vinho. Estava muito bom,” Riddle sussurrou, inclinando-se na direção dela e beijando-lhe o topo da cabeça, antes de se levantar. “Boa noite, Hermione.”


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Notas finais do capítulo

dum vivimus, vivamus = enquanto estivermos vivos, vamos viver