Et in Arcadia ego escrita por themuggleriddle


Capítulo 10
Homo Homini Lupus


Notas iniciais do capítulo

homo homini lupus = o homem é o lobo do homem



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Tom não conseguia enxergar muita coisa, mas conseguiu ver a silhueta de Hermione erguendo a mão e apontando a varinha para o rosto de Potter, logo antes de uma luz forte brilhar, fazendo o rapaz ir parar no chão. Ele ouviu Harry gemendo enquanto a garota se aproximava dele.

“Não fale pra eles o seu nome!” ela murmurou e então a entrada da tenda foi aberta, sendo adentrada por duas pessoas.

“Levante-se, seu verme!” Um dos homens ergueu Potter do chão enquanto o outro puxava ele e Ron para fora. Havia em torno de cinco pessoas do lado de fora da tenda e eles agora estavam tentando fazer Potter e Ron parar de se debater em seus braços.

“Não! Deixe ele em paz!” Hermione gritou quando Ron se dobrou ao meio quando um dos homens socou o seu rosto.

“Seu namorado vai ficar muito pior se estiver na minha lista,” disse uma voz rouca. Tom ergueu a cabeça, sentindo a mão do homem que o segurava vasculhando os seus bolsos, e viu um homem enorme e de aparência horrível segurando Hermione no lugar. O garoto sentiu um arrepio descer pela sua espinha quando viu o sorriso doentio no rosto do homem enquanto ele pressionava a garota contra si, roçando o seu rosto barbudo no dela. “Garota deliciosa... Que doce... Eu realmente gosto da maciez dessa pele...”

“Larga ela!” gritou Ron, mas a única reação que ganhou em troca foi uma risada desdenhosa e um empurrão que o fez cair de cara no chão.

Alguns homens estavam ao redor de Potter, que estava sendo interrogado sobre o seu rosto – que, agora que Tom podia ver, estava inchado e deformado -, enquanto Ron estava estatelado no chão com outro bruxo apontando a varinha para as suas costas. O homem que segurava Hermione finalmente a soltou, jogando-a para cima de outro bruxo, mais baixo e de cabelos compridos, que a segurou.

“Qual o seu nome?”

“Dudley,” disse Harry. “Vernon Dudley.”

“Veja a lista, Scabior,” disse o homem enorme, antes de ir até Weasley. “E o seu, ruivinho?”

“Stan Shunpike.”

“O diabo que você é,” disse o homem que tinha Hermione em seus braços.

“Conhecemos Stan Shunpike, ele nos deu um trabalhão.” O homenzarrão socou Ron outra vez.

“Sou Bardy!” disse o ruivo e Tom pôde ver sangue escorrendo da boc dele. “Bardy Weadley!”

“Um Weasley? Então você é parente de traidores de sangue, mesmo não sendo um sangue-ruim.” O homem – que Riddle conseguia ver agora e percebera que parecia uma mistura de homem e lobo – se aproximou de Tom, segurando o rosto dele entre os dedos com força. “E você, bonitinho?”

“Tom,” ele respondeu, engolindo em seco para tentar evitar a onda de náusea que o invadiu ao sentir o cheiro do homem: sangue e suor.

“Olha, eu não consigo muito apenas com ‘Tom’, garoto.” O bruxo apertou mais o seu rosto, puxando-o para mais perto de si.

“Greyback, vá com calma,” disse Scabior, jogando um pequeno livrinho para outro homem e então se ocupando em brincar com o cabelo de Hermione.

“Não se preocupe, não vou morder ainda. Eu só fiz uma perguntinha simples, garoto.”

“Mazarovsky,” o rapaz falou o primeiro nome que lhe veio em mente. “Tom Mazarovsky.”

“Status do sangue?”

“Mestiço.”

“Cheque isso,” Scabior ordenou. “Todos parecem ter idade de estarem em ‘Ogwarts...”

“Nós saíbos,” disse Ron com uma voz anasalada e Tom implorou mentalmente para ele ficar quieto.

“Saíram, ruivinho?” perguntou Scabior. “E decidiram vir acampar? E acharam que podiam se divertir usando o nome do Lorde das Trevas?”

“Não se dibertir! Acidente!”

“Sabe quem gosta de usar o nome do Lorde das Trevas em vão? A Ordem da Fênix,” disse o homem grande, Greyback, finalmente soltando o rosto de Tom e indo até Hermione. “Sabe alguma coisa disso, menina?”

“Não,” a garota murmurou, abaixando a cabeça enquanto o homem acariciava-lhe a bochecha.

“E qual o seu nome, menina?”

“Penelope Clearwater. Mestiça.”

“Cheque essa também!”

Os bruxos os empurraram até estarem perto de outras pessoas que estavam ajoelhadas no chão. Tom foi forçado a se abaixar, logo antes de ser amarrado de costas contra os outros.

“Alguém ainda tem varinha?” perguntou Harry assim que o último homem se afastou.

“Não.” Até agora, Riddle não havia notado o quão fraco e exposto ele se sentia sem uma varinha, que havia sido tirada de si assim que eles saíram da barraca.

“A culpa foi minha...”

“Oh, por favor, nos poupe do seu-“ Tom começou a falar, apenas para ser interrompido por outro garoto que estava de costas para Harry.

“Harry?”

“Dean?”

“É você! Se eles souberem quem pegaram-! São sequestradores, eles estão procurando traidores e desertores para trocar por recompensas...”

“Essa noite não foi nada mal.” Greyback caminhava pelo acampamento deles enquanto os outros vasculhavam a tenda. “Um sangue-ruim, um goblin fugitivo e quatro desertores. Verificou os nomes?”

“Sim! Nenhum Vernon Dudley, Penelope Clearwater ou Tom Mazarovsky por aqui.”

“Interessante,” murmurou Greyback, agachando-se na frente deles. O cheiro do homem fez o estômago de Riddle revirar outra vez. “Então vocês não estão sendo procurados, hm? Nenhum de vocês... Bom, Vernon e Tom, podem me dizer de que casa vocês eram em Hogwarts?”

“Slytherin, nós dois.”

“Todos acham que é isso que queremos ouvir,” ele bufou. “Mas nunca sabem como achar a sala comunal.”

“Nas masmorras. Fica debaixo do lago, é toda verde,” disse Harry.

“Você entra pela parede de pedras,” Tom completou, não sabendo exatamente da onde viera aquela informação.

“Bom, pelo jeito pegamos dois sonserinos de verdade!” Foi Scabior quem falou, rindo. “Bom para vocês, garotos. Não tem muitos sangues-ruins na Sonserina, como sabem... Quem é o seu pai, Vernon? E o seu, Tom?”

“Ele trabalha no Ministério. Departamento de Acidentes e Catástrofes Mágicas,” disse Harry, rapidamente. “E o de Tom...”

“St. Mungus,” disse Riddle, abaixando o rosto para evitar os olhos de Greyback. Ele havia lido sobre o hospital mágico em um dos livros de Hermione e, na sua opinião, era mais fácil fingir ser o filho de algum curandeiro qualquer do que de algum funcionário do Ministério.

“Sabe de uma coisa? Eu acho que tem sim um Dudley nesse departamento. Agora, não conheço nenhum Mazarovsky no St. Mungus...”

“Diabos, se a minha memória não me falha,” rosnou Greyback, agarrando o queixo de Tom e erguendo o rosto dele de novo. “Seu nome me lembra alguém... Vocês lembram daquele desgraçado de algumas semanas atrás? O mestiço de merda que fugiu antes que pudéssemos alcançá-lo?”

“Agora que você falou, eu acho que o nome dele era Mazarovsky,” murmurou Scabior.

“Você pode não ser um sangue-ruim, bonitinho,” Fenrir chiou, aproximando-se do rapaz. “Mas se for parente daquele Mazarovsky, está enrascado. Nós não gostamos de covardes.”

Riddle encarou o outro por um momento, sentindo seu estômago revirar quando um pensamento invadiu a sua mente. Ele conseguia ouvir a respiração acelerada de Hermione ao seu lado, assim como ouvia o seu coração batendo com força contra as suas costelas. Aqueles homens não eram Comensais da Morte, mas sim sequestradores... Eles não obedeciam ordens diretas do Lorde das Trevas como os Comensais e aquilo lhes dava uma liberdade perigosa. Ele não queria pensar no que aconteceria quando descobrissem quem eles realmente eram.

Engolindo o medo, Tom deixou um sorriso repuxar os cantos dos seus lábios. Greyback franziu o cenho e seus dedos no queixo do garoto ficaram mais fortes.

“E do que é que você gosta?” Riddle se surpreendeu com o tom de voz que conseguiu usar para falar aquilo. Sua voz estava mais baixa, sua respiração parecia ter se acalmado e era como se ele estivesse apenas atuando ali, repetindo falar e fazendo algo que já fizera alguma outra vez.

“Melhor você parar de brincar, Chapeuzinho Vermelho,” Greyback rosnou e Tom teve mais trabalho de permanecer calmo quando o homem puxou o seu rosto para mais perto.

Riddle olhou para baixo, rindo fraco quando percebeu que o casaco que emprestara de Harry era vermelho. Ele jogou a cabeça um pouco para o lado, o máximo que os dedos do bruxo permitiam, com o sorriso ainda no rosto, antes de erguer os olhos para o outro.

“O que você está fazendo?” Ele ouviu Hermione sussurrar.

“Não estou brincando...” Tom viu os olhos de Greyback o observarem dos pés a cabeça.

“E o que é que você quer, bonitinho?”

“Uma troca de favores,” ele respondeu e os olhos amarelos de Fenrir pareceram brilhar com curiosidade e, antes que pudesse falar outra coisa, o homem o agarrou pela camisa e o puxou para ficar de pé.

“Scabior, cuida desse pessoal ai,” disse Greyback, puxando Riddle para longe do grupo pelo braço. O garoto olhou para o trio, que o encarava de olhos arregalados, antes de voltar a olhar para a frente Ele podia ouvir Scabior xingar e falar alguma coisa sobre ‘estamos trabalhando aqui, pelo amor de Merlin!’.

Fenrir só parou quando eles já estavam a uma boa distância dos outros. Assim que pararam de andar, o homem empurrou Tom contra uma árvore e segurou o seu rosto com uma mão outra vez, virando-o de um lado para o outro enquanto a sua outra mão descia pelo pescoçø do rapaz.

“E o que um rapaz como você pode me oferecer em troca de um favor?” murmurou Greyback.

“Acho que sabe a resposta.”

“E você quer que eu te deixe ir depois.”

“Meus amigos também.”

“Oh não, bonitinho.” Fenrir riu. “Está pedindo demais. Você realmente é uma criatura deliciosa, mas acho que não posso deixar mais deum dos seus amiguinhos ir.”

“A garota, então,” disse Riddle, tentando fazer com que a sua voz não saísse tremida.

“Fechado.” Greyback pressionou o corpo contra o de Tom, abaixando a cabeça para farejar a pele na junção do pescoço com o ombro. “Quando vi o seu grupinho, pensei que a garota era a melhor, a mais deliciosa... oh, você não faz ideia das coisas que encontramos enquanto trabalhamos como sequestradores.” O rapaz sentiu a mão de Fenrir soltar o seu queixo e se arrastar através do seu peito e abdômen, as unhas afiadas quase cortando a camiseta. “Mas agora acho que você é o melhor. Não só bonito, mas inteligente e... interessado...”

“Sou sonserino, não sou?” Riddle murmurou, arrepiando-se ao sentir a barba de Greyback roçar contra a sua pele. ‘O que você está fazendo? O que você está fazendo!?’ ele pensou, fechando os olhos quando sentiu a mão do outro na curva das suas costas, puxando-o para mais perto.

“Sim, sim, um bom sonserino.” O rapaz sentiu seu coração acelerar quando a mão de Fenrir encontrou o seu cinto e começou a desfazê-lo. Ele respirou fundo, dizendo a si mesmo que aquela era a melhor opção que tinha. Era melhor do que ficar à mercê dos outros sequestradores, correndo o risco de serem descobertos. Assim que aquilo acabasse, ele e Hermione poderiam fugir. “Faz um bom tempo desde que vi um verdadeiro sonserino como você...”

A mão que estava em suas costas deslizou para baixo até alcançar a sua coxa. O tempo inteiro, Greyback se ocupava em roçar o rosto contra o pescoço do garoto, arranhando a pele deste com a barba. Quando o homem ergueu a cabeça e pressionou a boca contra o canto dos lábios de Riddle, Tom teve que parar de respirar e resistir ao instinto de jogar a cabeça para trás. O bruxo como um todo cheirava a sangue e suor, mas a boca dele, em particular, era intragável. Ele ainda não sabia de onde surgira aquela ideia e como ele estava aguentando aquilo.

“Um rosto tão bonito,” o homem sussurrou e Tom sentiu-se nauseado. “Pele tão pálida e macia.” Um rosnado baixo e contente ecapou de Greyback que, depois de conseguir se librar do cinto do rapaz, enfiou a mão por debaixo da camisa deste, arrastando as unhas pela pele até alcançar o cós da calça dele. “Vermelho fica lindo contra uma pele como a sua...”

“Greyback!” Riddle não conseguiu não suspirar aliviado quando o bruxo mais velho ergueu a cabeça, deixando um espaço pequeno entre os seus rostos. Fenrir virou o rosto, olhando para seja lá quem o havia chamado. “Você precisa ver o que achamos!”

Fenrir olhou Tom por um momento, antes de o agarrar pelo braço e o puxar para onde o grupo de sequestradores estava. Riddle olhou em volta. O trio continuava no chão e Hermione o olhava com uma expressão preocupada, enquanto Ron murmurava algo para ela.

“Que merda vocês querem?” esbravejou Greyback, seus dedos firmes no braço do mais novo. “Eu estava ocupado, seus desgraçados, e vocês sabem que eu não gosto de ser interrompido-!”

“Você pode foder o garoto mais tarde, Greyback,” disse Scabior, sorrindo. “Mas olhe isso.”

O sequestrador ergueu as mãos e Tom segurou a respiração ao ver Scabior segurando a espada de Gryffindor.

Mui-i-i-i-ito interessante!” disse Fenrir, finalmente soltando Riddle para conseguir pegar a espada nas mãos. Assim que foi solto, o garoto sentiu mais um par de mãos o segurando no lugar. “Muito interessante mesmo. Parece feita por goblins. Onde conseguiram isso?”

“É do meu pai!” gritou Harry. “Pegamos emprestado para cortar lenha!”

Tom se perguntou se o bruxo iria acreditar que eles estavam usando uma espada feita por goblins para cortar lenha, mas antes de chegar a alguma conclusão, Scabior, que estava vasculhando outros objetos encontrados na tenda, mostrou-lhes um jornal. O sequestrador começou a ler uma matéria, apontando para uma fotografia na primeira página e Riddle se encolheu ao notar que era uma foto de Hermione.

“Sabe de uma coisa, menina?” perguntou Greyback, se aproximando dela. “Essa foto parece muito com você.”

“Não sou eu! Não sou eu!”

“ ‘Suspeita de estar viajando com Harry Potter’,” murmurou Greyback, repetindo as palavras do jornal. “Bom, isso muda tudo, não? O que é isso na sua cabeça, Vernon?”

Tom olhou para Harry, que estava fazendo uma careta de dor. Em sua testa, a forma meio apagada e distorcida da cicatriz em forma de raio estava voltando a aparecer.

“Não me toque!”

“Pensei que usasse óculos, Potter.”

“Achei uns óculos!” gritou outro sequestrador e, em alguns segundos, eles já haviam enfiado os óculos no rosto de Potter.

“É isso! Pegamos Harry Potter!” Fenrir comemorou, rindo alto.

Enquanto os sequestradores decidiam o que fazer, Tom olhou o trio. Harry ainda parecia estar com dor, Ron olhava o amigo, preocupado, enquanto Hermione tremia enquanto observava os outros bruxos.

“E o resto?”

“Vamos leva-los junto. Temos dois sangues-ruins, isso já vale alguns galeões. E o traidor Weasley. Me dê a espada também. Se isso são rubis, temos mais uma pequena fortuna em mãos. Segure-os bem! Eu levo Potter e o bonitinho.”

Fenrir agarrou o braço de Tom outra vez, puxando-o na direção de Harry e agarrando os cabelos negros do menino. Enquanto isso, os outros sequestradores estavam começando a desaparatar com os outros reféns.

“Olha, garoto, devido às circunstâncias, não posso aceitar a sua proposta,” rosnou Greyback, passando um braço ao redor do pescoço de Tom e o puxando para muito perto de si. “Mas tenho certeza de que o Lorde das Trevas vai me deixar ficar com você para terminar o que começamos. Vou entregar Harry Potter e ele vai me deixar ficar com um lindo mestiço com o qual ninguém se importa.”

E, dizendo isso, o bruxo girou no lugar e a floresta desapareceu ao redor deles.

***

Bellatrix Lestrange era louca, Tom havia decidido no momento em que a viu pela primeira vez. Apesar da bruxa agir de forma esquisita, andando de um lado para o outro com movimentos extravagantes e falando com uma voz aguda, às vezes deixando escapar uma risada enlouquecida, foram os olhos dela que entregaram a loucura dela. Havia algo naqueles olhos que gritava insanidade, ele percebeu quando ela se aproximou e o observou com atenção por alguns minutos, depois de Scabior lhe falar da sua suspeita em relação ao seu ‘pai’.

“Nunca ouvi falar desse homem. Parece estranho, da onde vem o seu nome, sangue-ruim?” Bellatrix não gostava de mestiços, Tom também percebeu isso. E, em resposta, ele disse que era um sobrenome russo. Não era uma mentira, afinal, e aquilo iria ajuda-lo, certo? As chances dela conhecer uma família britânica eram muito maiores do que conhecer uma russa. Bom, foi isso que ele pensou, até a mulher se virar para um adolescente assustado que estava assistindo tudo em um canto da grande sala de visitas: “Draco, vá procurar Dolohov e traga-o aqui. Diga que temos um dos dele.”

E agora ele estava esperando esse tal Dolohv chegar. Nas masmorras. Ouvindo a louca torturar Hermione. Ele estava tentando se manter calmo, de verdade, mas como ele podia não ficar nervoso e assustado quando ouvia os gritos – tanto de Hermione quanto de Bellatrix – que ecoavam nos pisos superiores? Ou enquanto ouvia Ron gritar e  amaldiçoar, tentando escapar da masmorra? Harry estava mais calmo que os dois e Riddle não conseguia acreditar nisso. Potter estava ocupado, falando com duas outras pessoas que já estavam naquela cela antes de eles chegarem, velho e uma garota. Os gritos eram quase reconfortantes, pois ele não sabia o que devia imaginar uma vez que Hermione parasse de gritar.

“Ai está você.” Tom ergueu a cabeça ao ouvir a voz conhecida. Fenrir Greyback estava parado na porta da cela, sorrindo feito um louco. Atrás dele, havia um homem mais baixo e atarracado com olhos escuros. O maior abriu a porta e empurrou Weasley para longe quando este tentou pular em cima dele. “Você vem comigo, bonitinho.”

Fnerir empurrou Tom para fora da cela, guiando-o para cima, até os corredores da mansão. O lugar era enorme e com uma decoração bela e, muito provavelmente, cara, mas parecia que já havia passado um bom tempo desde que alguém realmente tivesse tomado conta de tudo ali.

“Dolohov é um babaca que acha que não pode colocar seus preciosos pés dentro de uma masmorra,” disse Greyback quando eles finalmente chegaram no que parecia ser um escritório. O cômodo era grande, com uma lareira e janelas enormes cujas cortinas estavam fechadas e várias prateleiras cheias de livros. Havia algumas pinturas nas paredes também. A maior, acima da lareira, estava vazia no momento e as outras pareciam ser pinturas trouxas, pois não se mexiam e mostravam imagens de praias e navios. “E ele não quer interrogá-lo na frente da Madame Lestrange... Não posso culpá-lo por isso, ela iria ficar interrompendo o tempo todo. Vamos esperar que não demore muito, sim? Afinal, Madame Lestrange permitiu que eu ficasse com você depois que Dolohov acabar.” Riddle se arrepiou quando a mão de Greyback apoiou-se em sua nuca. “Você podia estar viajando com a sangue-ruim do Potter e, talvez, até com o próprio, mas você não é ninguém. Não vai importar se o seu pai é um traidor ou não, você vai ser punido de qualquer forma.” Fenrir riu baixo, erguendo a outra mão para acariciar a bochecha de Tom. O garoto travou a mandíbula e continuou encarando o outro nos olhos. “Mas não se preocupe... Se você não for parente do desertor, serei gentil com você.”

 

“Fora.”

Tom deixou o ar escapar, aliviado, quando Fenrir deu um passo para trás e virou-se para olhar o recém-chegado. Greyback curvou a cabeça em uma rápida reverência e logo saiu.

“Além de ser capturado por sequestradores, você conseguiu que Fenrir Greyback se interessasse por você. Quanta sorte você tem, garoto.” O homem riu em silêncio, aproximando-se do fogo na lareira. Assim que a luz iluminou as feições dele, Riddle franziu o cenho. Ele conhecia aquele homem; aquele rosto não lhe era estranho. Ele já vira aquele rosto sério e, agora que parava para pensar, também conhecia aquela voz e o sotaque forte que ela carregava. “Disseram que você é um Mazarovsky... Estamos procurando uma família com esse nome, sabia? O curandeiro Fyodor Mazarovsky desapareceu há alguns meses com a mulher e os filhos.” O homem, Dolohov, virou para olhar o fogo. “E se me lembro meu, as crianças se chamavam Alexei e Thomas.”

Tom engoliu em seco. De todos os sobrenomes falsos, ele escolhera exatamente aquele cujo membro tinha o mesmo nome que o seu. Dolohov tinha razão, como ele tinha sorte.

“Thomas Fyodorovich Mazarovsky.” O comensal o olhou outra vez. Seu rosto agora tinha um sorriso maníaco. “Será que pode vir até a luz para eu dar uma olhada em você? Davay, mal’chik, davay.”

Riddle se aproximou do outro, já tentando inventar alguma mentira. Dolohov realmente achava que ele era um Mazarovsky... Mas não importava, não é? Assim que o comensal terminasse o interrogatório, ele seria entregue à Fenrir e só Deus saberia o que iria acontecer com ele.

O garoto esperou o outro bruxo falar algo, olhando para os próprios pés, mas depois de alguns minutos de silêncio completo, Tom franziu as sobrancelhas e ergueu o rosto, vendo Dolohov o olhando com uma expressão perplexa no rosto. Das vezes que tentara invadir a mente de Ron, ele percebera que a Legilimência funcionava melhor quando as pessoas estavam distraídas... E agora, vendo Dolohov, Tom sabia que seria fácil alcançar os pensamentos dele. Ele não tinha ideia do que procurar na mente do homem, mas ele estava desesperado e talvez conseguisse achar algum tipo de fuga por ali.

A primeira coisa que viu, assim que passou pela fina barreira da mente de Dolohov, foi uma versão mais nova do homem. Ele estava dentro do que parecia ser um pequeno apartamento, sentado em um divã e com um copo cheio de um líquido transparente. Na frente dele, havia outra pessoa, um homem usando roupas pesadas de inverno e um chapéu. Demorou um tempo até Tom reconhecer o outro homem. Era ele. Um pouco mais velho e parecendo estar congelando ali, mas sim, era ele. Dolohov o conhecia desde antes de Voldemort, por isso Tom o reconhecera... Ou não. O Riddle da memória parecia mais velho. O Tom Riddle de vinte anos que ele era não teria conhecido o outro bruxo ainda. Então como ele conhecia aquele rosto tão bem?

Ele não teve muito tempo para ponderar sobre assunto, pois logo sentiu a magia do outro o empurrando e, quando sua visão clareou outra vez, Tom viu o rosto de Dolohov outra vez. O Dolohov mais velho, o comensal da morte, não o homem no apartamento com o copo de vodka. O bruxo o encarava com os olhos arregalados, antes de cair de joelhos em um tipo exagerado de reverência.

Milorde,” ele murmurou e tudo o que Riddle pôde fazer foi encará-lo. “Se me permite perguntar... como...?”

“Eu não...” o garoto começou a falar, mas, ao invés de continuar, parou por um momento e manteve o rosto sério. “Eu não acho que isso é pertinente à você, Dolohov.”

“Claro que não, milorde, perdoe-me.” Um pequeno sorriso apareceu nos lábios de Tom ao notar o quão conveniente era ter alguém agindo dessa forma para com ele. Ele podia pedir qualquer coisa à Dolohov e ele faria sem hesitar.

“Levante-se.” O homem fez como foi ordenado.

“Milorde, o senhor não... O senhor não é a mesma pessoa-“

“Não sou,” sussurrou Riddle, tentando manter a sua voz calma, parecido com como ele havia falado com Greyback na floresta. “E, ao mesmo tempo, sou. A diferença é que o homem que você agora chama de ‘mestre’ é uma versão decaída da minha pessoa. Ele está velho, Dolohov, seu cérebro está apodrecendo e ele está sendo guiado apenas pelo impulso. Você se lembra de me ver agindo assim antes? Quando nos conhecemos?”

“Não, milorde. Posso dizer que nunca conheci uma pessoa mais lógica que o senhor até vê-lo em Moscou...”

“E ele é lógico?” Tom viu o homem se encolher. “Ou ele é impulsivo? Aposto que essa impulsividade atrapalha.” O jovem ergueu a mão, apoiando-a no ombro do comensal.

“Ele irá gostar de vê-lo. A sua inteligência... sua clareza é necessária, milorde.”

“Oh, não, ele não vai gostar nem um pouquinho.” Riddle sacudiu a cabeça, sorrindo para o homem ao mesmo tempo que percebia um movimento na pintura acima da lareira. O bruxo pintado nela havia voltado, ele precisava ser cuidadoso. “Ele está louco. Vai achar que eu sou uma ameaça, meu amigo. É por isso que preciso da sua ajuda. Preciso que me mostre uma forma de sair desse lugar.”

“Eu... Eu não posso,” Dolohov sussurrou, abaixando os olhos. “Perdoe-me, milorde, mas se ele descobrir, vai me matar.” O bruxo se levantou e deu um passo para trás, puxando a varinha do bolso e a apontando para Tom. “Estamos todos afundados na loucura dele... Na sua loucura. Não podemos escapar.” O homem foi se afastando dele, indo na direção da porta. “O Lorde das Trevas não tem misericórdia.”

“E o que vai fazer agora? Me entregar para o seu mestre que logo vai me matar? Ou para Greyback, que tem os seus próprios planos para mim?” perguntou Tom, sentindo seu coração se apertar. Ele estava começando a relaxar, vendo como o outro homem estava tão devoto à ele, mas agora todo o medo havia voltado à sua mente. “Você jurou lealdade à mim!”

“Minha lealdade pertence ao Lorde das Trevas!”

Eu sou o Lorde das Trevas!” Riddle gritou e, assim que a frase terminou de sair de sua boca, sentiu-se desconfortável ao ouvi-la. “Eu sou a razão para ele existir! Fui eu quem o criou!”

“Você não é ele,” Dolohov murmurou, respirando com dificuldade, sua mão já na maçaneta. “Você é Tom. Eu me lembro. Me lembro de nossas conversas e sei que o Lorde das Trevas nunca agiria daquela forma com alguém. Ele pode ter sido você uma vez, mas você, é agora, não é ele. Eu não sei o que aconteceu para ele se tornar o que é hoje, mas... Você não é o bruxo à quem minha lealdade pertence.”

Tom observou o bruxo o olhar uma última vez, antes de virar para a porta de novo. Foi então que algo brilhou em sua mente. Algum tipo de memória que vinha d mesmo local que a lembrança do rosto do comensal.

“O que Tatiana diria se o visse dar as costas para alguém à quem você jurou lealdade?” Dolohov parou imediatamente, como se algo o tivesse atingido em cheio. Tom tinha uma vaga memória de quem essa ‘Tatiana’ era... Uma parente, uma irmã, alguém que ele amava muito. “Você disse que seria leal à ela, mesmo depois que ela morreu. Ela acreditava na sua lealdade... Depois disse que seria leal à mim, do mesmo jeito que prometeu à ela, e agora você está dizendo que vai me entregar para alguém que irá me matar ou me machucar?”

A primeira coisa que notou foi o soco que o atingiu no lado do rosto. A dor era intensa e Tom tinha certeza de que iria perder mais um dente e a consciência quando caiu no chão. Então viu Dolohov, pairando sobre si e chorando. De início, o rapaz achou que era algum truque de luz, uma ilusão, mas então percebeu que era real, havia pequenos traços de lágrimas no rosto distorcido por irritação e dor do outro bruxo.

“Eu não me importo com quem você seja,” o homem grunhiu, apontando a varinha para o rosto do garoto. “Você não fala da Tanya.” Dolohov solução, antes de deixar uma risada sem humor escapar. “Infelizmente, você está certo... Tanya acreditava nisso.” O bruxo se abaixou e agarrou a frente da camisa do outro, puxando-o até ele estar de pé outra vez. “O que você precisa, milorde?”


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Notas finais do capítulo

Uma das coisas que mais me chocou quando comecei a entender melhor alguns assuntos que não são tão explicitos em Harry Potter (por ex, o fato de que o relacionamento de Merope Gaunt e Tom Riddle Sr ser basicamente uma sequência de estupros até ele parar de tomar a poção do amor) foi em HBP, quando mostra a memória do Tommy com a Hepzibah Smith, tentando pegar a taça de Hufflepuff. O que dá a entender é que ele seduziu Hepzibah e talvez até tivesse tido um caso com ela, tudo para conseguir o que queria. Quis tentar passar esse Tom nesse capítulo, um Tom que não mede esforços para conseguir o que quer.

Pra quem lê a minha fic Kolybel'naya, vai lembrar que o médico que trabalhava no orfanato do Tom se chamava Alexei Mazarovsky. O tal Fyodor Mazarovsky citado aqui é o neto daquele médico.

Assim como fiz em Koly, vou fazer um momento jabá aqui, desculpe, mas, quem tiver interesse em fanfics sobre o mundo bruxo, explorando mais essa parte da comunidade bruxa e como os bruxos lidam com assuntos trouxas, eu comecei a postar uma fic chamada 'TRÊS DE BASTÕES', a qual eu me diverti muito escrevendo e se puderem dar uma olhada, ficaria muito, muito feliz de saber o que acham dela. Sei lá, eu gosto dela... Tem um jardineiro rabugento, um médico que fala com mortos, uma bruxa russa, bares bruxos underground, explora o assassinato dos Riddle e a investigação desse caso. Coisas legais (((:

Espero que tenham gostado desse capítulo e muito obrigado quem deixou review no último ((;