Point of View - Clove

Eu não me lembrava dele ser tão alto assim. Ou tão intimidador.

─ Você não pode estar falando sério. – sussurrei. Já havia algumas pessoas intrometidas que começaram a parar e nos olhar. Péssimo lugar, péssima hora para isso, Seneca.

A saída da escola dava direto para uma das avenidas principais – o que, a princípio, sempre irritava e incomodava os alunos e professores devido o movimento e barulho dos carros ─. Meu namorado estava diante de mim, sua mochila da faculdade jogada em um ombro. Havia me pego de surpresa.

─ Eu tô te falando, Clove. Que saco. Acabou, menina. – riu, mas estava bravo.

Minhas mãos começaram a suar, mas me recusei a secá-las em sua frente. Eu estava sentindo todo aquele calor subindo por meu pescoço, se espalhando pelas minhas bochechas. Caramba, que vergonha. Tinha que ser na frente de todo mundo?

E o que eu havia feito de errado? Por que raios ele quer terminar comigo?

─ Por quê? – perguntei, pateticamente, querendo pelo menos entender tudo aquilo. Meus olhos estavam lacrimejando quando percebi a multidão de alunos saindo da escola nos olhando com curiosidade. Katniss e Annie me encaravam, com preocupação.

Voltei meu olhar para ele, que tinha um sorriso de deboche no rosto, como se achasse aquilo tudo muito engraçado. Não que fosse o meu primeiro término e coisa do tipo, mas... doía do mesmo modo.

─ Você é uma vadia, Clove. Acho que todo mundo sabe disso.

Ah.

Foi um pouco rápido demais. Eu o vi ali atrás, com uma expressão de puro ódio. Finnick aproveitou que Seneca estava totalmente relaxado e agarrou seus braços, prendendo-os em suas costas.

Eu nem conseguia pensar em mais nada.

Você é uma vadia, Clove.

Finnick sabe que eu sou uma. Finnick... Finnick Odair. Finn. Que ama a Annie. Finnick, o cara que eu dormi depois de uma balada, algum mês atrás. Traí minha melhor amiga. Caramba.

E mesmo assim estava me defendendo.

Mesmo Seneca sendo mais velho, sua altura era quase compatível com a de Cato. Eu percebi isso quando o loiro se posicionou na frente do universitário, que agora parecia assustado com o repentino ataque.

Você é uma vadia, Clove.

─ Clo... – senti um par de mãos me puxarem para trás, mas eu não sei se me movi. Acho que Katniss estava me abraçando, junto com Annie, que repetia palavras doces em meu ouvido.

No primeiro soco eu vi sangue escorrendo da boca do meu ex-namorado. Ele se mexeu, tentando se soltar, porque também era forte. Mas anos de natação dura renderam a Finn braços extremamente musculosos.

─ Mas o que diabos...?

─ Ah, cala a boca.

Cato.

Gritos. Briga, briga, briga! Gritos. Acho que também gritei, não tenho certeza. Estou chorando? Não havia percebido até agora. Cato.

─ Clove!

Olhei para as costas de Cato, seus músculos tensionados. Seneca já não tinha nem forças para sequer tentar sair do aperto de Finnick.

De repente, me puxaram para trás.

─ Clove! – Katniss gritou, segurando meu pulso. ─ Vamos sair daqui, agora!

Ao longe, ouvi uma voz grave, ecoando os nomes de Cato e Finnick. O diretor.

[...]

Quando finalmente paramos de correr, nos encontrávamos atrás de uma loja de doces, arfantes. Abracei Katniss e Annie com toda força que ainda me restava e comecei a chorar. Não exatamente pelo término, já que, como visto, Seneca era bem mais que um idiota. Por toda essa humilhação, pelas pessoas da minha sala e de outros anos terem visto esse showzinho. Por Finnick ter ido me defender, por Cato ter me defendido.

Chorei por todas essas merdas.

Você é uma vadia, Clove.

É, eu já sabia disso.

[...]

Brutus não parecia feliz. Nem um pouco.

─ Olha, eu sei o que te disse, mas esquece!

─ Fizemos um acordo, Clove. Não se quebra acordos, não comigo.

─ Meu Deus! – me desesperei, puxando os fios de meu cabelo entre meus dedos já brancos pela força. Não me importei com a dor aguda de quando os soltei. ─ Mas ela não tem nada a ver com isso! Eu estava bê-ba-da! C-h-a-p-a-d-a! Drogada!

─ O problema é todo seu, guria. – o irmão do meu ex tragou um de seus baseados e soltou a fumaça em meu rosto, irritado. Tossi com o cheiro forte.

─ Bruuuutus! – reclamei, quando o vi virando as costas para mim. Tentei segurar seu braço, mas ele o puxou, fazendo com que eu tropeçasse com meus pés e quase caísse. ─ Brutus, pare agora!

O moreno se virou, quase borbulhando de raiva. Com meu coração batendo rápido, dei um passo para trás, tentando manter distância. Eu e ele estávamos de boa, até o término do namoro com Seneca, hoje após a escola. Agora parecia que ele queria vender meus órgãos.

─ Cale a maldita boca! – berrou. ─ Alguém vai ter que me pagar.

Dessa vez, meus joelhos cederam. Eu mal conseguia falar devido o choro que tomou meu corpo, as lágrimas embaçando minha visão.

─ Eu vou, eu vou!

Brutus riu. Como ele podia rir diante de algo assim? Eu estava acabada.

─ Então é melhor andar logo, Clovinha.

Fui deixada sozinha, chorando de joelhos no chão de concreto. Por que eu fui fazer isso? Como eu pude envolvê-la desse modo?

Como eu pude envolver Katniss no meio das minhas dívidas? Se não fosse por Peeta, naquele dia em sua festa, para ajudá-la, minha melhor amiga poderia estar morta. Morta.

Por minha causa. Por prometê-la a pagar o que devia para a porra do meu fornecedor.

Transei com Finnick. Coloquei a vida da Katniss em perigo.

Que grande amiga eu sou.

Point of View – Katniss

Fui caminhando preguiçosamente em direção a minha casa após sair do metrô, pensando se minha amiga estaria bem agora. Estava nublado, e agradeci por isso – o sol forte queimava minhas costas enquanto andava, normalmente -.

─ Katniss!

Me virei, assustada. Eu já estava com os pés preparados para alguma corrida quando encontro Gale, vindo em minha direção. Ele estava com os lábios manchados de batom rosa da Madge e parecia bem alegre.

─ Catnip, caramba. Faz um bom tempo que a gente não se fala... – ele disse, meio constrangido de repente. Dei um sorriso amarelo, aliviada por ser apenas ele. E feliz por ser ele.

─ É, por que será? – falei irônica, rindo.

─ Me perdoa, sério. Prometo te compensar todo esse tempo. Sinuca amanhã? – convidou. Estávamos chegando na rua da minha casa.

O abracei apertado, com muita saudade de repente. Senti seu peito tremer com sua risada enquanto envolvia minhas costas. Ele sentia o mesmo, eu pude perceber.

─ Beleza. – sussurrei. Finalmente eu teria um descanso dos meus problemas. ─ Já estou contando as horas.