Gotas de Vinho – Reescrita escrita por Babs Toffolli


Capítulo 16
Vida Ainda Mais Nova – Novo


Notas iniciais do capítulo

Bom, gente, aqui está mais um novo capítulo.
Tive alguns problemas nos últimos dias, por isso não pude postar antes, mas aqui está. Aproveitem.



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Segui minha vida o mais normalmente possível. Não era fácil. Todas as vezes que Charlie chegava em casa ou se aproximava de mim, era como se uma lâmina em brasa atravessasse minha garganta.

E todas as vezes que eu ouvia o motor da viatura se aproximando de nossa rua, era uma correria e sempre na mesma rotina: Colocar lentes de contato – que estavam quase completamente estragadas por causa de meus olhos venenosos –, e tentar agir como humana. Essa parte era a mais difícil, pois os humanos têm certas atitudes que geralmente nem se dão conta de que estão fazendo, como piscar, mexer nos cabelos, trocar de posição. E era nesses pequenos detalhes que eu devia me concentrar e tentar fazer o mesmo.

Mas eu tentava agir com naturalidade, para que ele não percebesse. E não dava muito certo.

Charlie sempre foi do tipo que desconfia, mas prefere guardar suas suspeitas para si mesmo. E ele tentava ignorar ao máximo quando eu lhe dava uma resposta sobre algo que geralmente ele sabia que seria diferente.

Como em minha primeira noite de volta em casa como vampira. Meu pai havia se voluntariado para fazer o jantar em homenagem à minha volta. Mas eu sei que meu pai não é nenhum chefe de cozinha, então disse para que ele deixasse que eu fosse a cozinheira.

– Tudo bem, então. – Concordou ele – Que tal uma macarronada?

Pensei na ideia por um instante e sorri, mas lembrei de que eu não havia feito compras, e disse que não tínhamos o molho de tomate pronto. Charlie disse que havia alguns tomates na geladeira, e sugeriu que pudéssemos fazer um molho caseiro. Concordei e peguei tudo de que precisava para começar.

Comecei a cortar e picar os tomates, mas eles tinham um cheiro nada agradável. Senti meu nariz franzindo, mas continuei meu trabalho. Charlie viu.

– Acha que esses tomates não estão bons? – Perguntou ele. Analisei os pedaços já cortados na tábua e olhei para ele.

– Não, eles estão bons. – Falei com segurança.

Charlie não disse mais nada, nem sequer deu alguma opinião. Apenas me fitou por alguns segundos e dirigiu-se para a sala.

Fiz o jantar, pus a mesa e chamei meu pai para a cozinha comer. Ele preparou seu prato e eu sentei em uma cadeira de frente para ele, pondo meus pés para cima. Charlie pigarreou e eu o encarei.

– Você não vai comer nada, filha? – Seus olhos que um dia foram meus me encaravam com suavidade.

Meu novo cérebro começou a girar à procura de alguma resposta convincente para dar a ele, mas nada veio à mim.

– Hum, não estou com fome – Foi minha resposta brilhante. Ele não voltou a falar, mas me fitou novamente, de uma maneira um tanto constrangedora.

Quando o jantar acabou, limpei a mesa e lavei a louça. Charlie voltou para a sala e eu subi as escadas em direção ao meu quarto. Não havia nada que eu podia fazer. Eu estava entediada. Talvez seja isso que a eternidade podia fazer e acabar nos deixando loucos a ponto de sair torturando e transformando pessoas inocentes por aí.

Fiquei atenta para quando meu pai entrasse em seu sono mais profundo, e quando ele o fez, entrei em seu quarto e pulei a janela que dá para o quintal dos fundos. Além de uma pequena floresta atrás da casa, por onde entrei e saí correndo, aproveitando aquela minha nova e poderosa força física. Fazendo viagens que humanos em corridas normais levariam dias para irem e voltarem. Era incrível correr.

...

Não visitei a casa dos Cullen como Alice havia me dito para fazer. Eu não havia esquecido como o modo em que ela disse havia soado um tanto falso pra mim.

Mas isso não queria dizer que os Cullen não me visitavam. Ou, bem, mais especificamente: Alice.

Certa manhã, uma semana depois de minha volta para casa, logo após meu pai sair para trabalhar, recebi Alice Cullen na minha porta, convidando-me para uma caçada de mulheres.

Ela explicou que seus irmãos já tinham ido na semana anterior, mas ela não estava com sede, então havia deixado a caça para depois. No caso, hoje.

– E então? – Perguntou ela, os olhinhos brilhantes.

Pensei por um minuto e achei que seria bom caçar novamente, pois não queria arriscar por Charlie em risco.

– Tudo bem. – Concordei.

Entramos no Porsh e saímos sempre em alta velocidade em direção as estradas mais afastadas de Forks. Não conversamos muito, apenas contei como estava sendo minha nova vida como vampira e morando com meu pai.

– Vou admitir – Comecei – Não está sendo fácil. Mas com o tempo vou me acostumando com o cheiro e penso em outras coisas para ocupar minha mente. Felizmente está ajudando até então.

– Ótimo! – Explodiu ela.

Seguimos por mais algum tempo para algum lugar que eu não conhecia, e a um sinal que não vi, Alice encostou o carro perto de um caminho que parecia uma trilha escondida no meio das árvores.

– Que lugar é esse? – Perguntei para ela.

– Um lugar que gosto de visitar quando a caça se trata de mamíferos maiores que um alce.

– Ursos?! – Espantei-me. Eu não sabia se já estava preparada para me alimentar de ursos.

– Provavelmente. – Disse rápido.

Paramos de conversar quando ela começou a correr sem avisar. Aproveitei minha força superior e a segui com facilidade. E fomos correndo por uns bons vinte quilômetros para longe da trilha e qualquer lugar que um humano sensato não passaria.

Ela parou no que me parecia o pé de uma montanha. Levei um certo tempo para reconhecer uma das montanhas Olimpic, que sempre fui acostumada a ver apenas de longe.

– E agora? – Perguntei.

– Os ursos estão lá em cima. – Apontou ela para um ponto distante que só um vampiro e uma águia poderiam ver com clareza.

– Mas, tão alto? – Dei um paço para trás.

– Ah, que isso, Bella? – Ela pôs as mãos na cintura e me encarou carrancuda – Não sente a força sobre-humana praticamente exalando de seus músculos, pronta para explodir de dentro de você? Não sente que poderia derrubar ou até mesmo arrastar qualquer uma dessas montanhas do lugar se quisesse? – Franziu a testa.

Não respondi, não porque não quis, mas porque Alice não me deu tempo para formular alguma resposta. Antes que eu pudesse abrir a boca, ela já estava enterrando seus dedinhos na rocha e impulsionando seu peso para cima. E a cada vez que eu percebia, ela estava ainda mais alto, e não demorou muito tempo para conseguir chegar no ponto em que me apontara.

Continuei paralisada no chão, olhando para cima, quando Alice se pôs de pé em cima da montanha e gritou de lá:

– Venha, Bella! – Disse agitando os braços para eu a seguir.

Encarei as marcas que seus dedos fizeram na pedra, e tentei fazer o mesmo. Enfinquei meus dedos como Alice havia feito e joguei o meu peso para cima. Não senti como se fosse cair a qualquer momento. Na verdade, fiquei ainda mais forte, e troquei os braços, um de cada vez, indo cada vez mais alto, e sentindo minha força crescer cada vez mais.

Quando cheguei ao ponto em que Alice estava, entendi quando ela disse que eu poderia até arrastar a montanha do lugar se quisesse. Eu era muito forte!

– E então? – Perguntei.

– Foi bom – Disse ela, com um sorriso brincando em seus lábios.

Ela disse que havia cavernas na montanha com vários ursos adormecidos. Nós iriamos acorda-los e chama-los para uma briga antes de nos alimentar. Sugeri que Alice fosse primeiro.

– Tudo bem. – Concordou ela.

Sentei-me em uma pedra e observei Alice invadir uma das cavernas e saindo de lá aos saltos, seguida por um urso enorme e terrivelmente furioso. Ela o provocava, fazendo com que ele ficasse ainda mais irritado, e tentasse agredi-la, e quando o fazia, ela já estava há um metro de distância. Seu dom de ver o futuro era realmente útil.

– Sua mãe nunca lhe disse para não brincar com a comida? – Gritei para ela.

– É porque você nunca viu como é divertido! – Gritou ela de volta, sem desviar sua atenção do enorme urso na sua frente.

Após algum tempo enrolando com o urso, Alice o levou para trás de um matagal, onde os perdi de vista, mas pude usar minha audição para continuar acompanhando a briga.

Ouvi os urros do urso e a respiração regular de Alice. Ouvi patas pesadas pisando no chão, e paços mais leves e menores andando precisamente de um ledo para o outro. Mas depois ouvi um urro ainda mais alto do urso, seguido por um barulho de tecido se rasgando. E então, ouvi Alice rosnar, o som de osso se quebrando e um cheiro de sangue no ar. Depois disso, silêncio.

Eu fiquei ali sentada por algum tempo, esperando que Alice retornasse, ou que eu ainda ouvisse algum vestígio de vida, tanto do urso, quando de Alice. Mas nada aconteceu. Comecei a ficar preocupada e corri para o muro de galhos e folhas, atravessando com facilidade, e encontrando uma Alice que nunca pensei que pudesse ver.

Ela estava completamente parada, os bracinhos magros estavam ao redor do dorso do imenso urso, já sem vida por conta do pescoço que me parecia quebrado. Os lábios de Alice estavam na jugular do animal, os olhos fechados, concentrada unicamente em sua presa. Seu casaco no ombro esquerdo estava em estado precário, e aos seus pés tiras de tecido, caídas de qualquer jeito no chão.

Fiquei hipnotizada com a cena. E quando Alice acabou, puxou de seu bolso um lencinho e um pequeno espelho, analisando seu estado e limpando os cantos da boca. O urso já estava caído aos seus pés, como um monte de pelos no chão.

– Ele arruinou meu melhor casaco de caça! – Encarou-me ela com os olhos inocentes – Não merecia viver nem mais um minuto!

Continuei encarando-a sem acreditar na cena que presenciara.

– E você? – Perguntou ela – Não vai caçar?

Pensei por um momento e percebi que eu estava com sede. O cheiro do sangue do urso havia despertado um vulcão em minha garganta e eu também estava muito curiosa para experimentar uma presa diferente de herbívoros.

Voltamos para o ponto em que estávamos e fui em direção à uma das cavernas. Lá, vi uma fêmea de porte médio, mas ela estava cuidando de filhotes, então achei melhor deixa-los em paz.

Dirigi-me em direção à outra caverna e vi um urso um pouco menor do que Alice havia pegado. Ele dormia. Aproveitei para um ataque surpresa e joguei-me em cima dele.

O urso acordou um pouco desnorteado, mas logo depois notou minha presença e vi que sua fúria havia sido despertada junto com ele. O animal ficou de pé nas duas patas traseiras e veio em minha direção. Saltei para fora da caverna e ele veio atrás de mim, fazendo muito barulho, rosnando e grunhindo. Vi Alice de relance, sentada na mesma pedra em que eu sentara para ver seu show. Agora o show ali era eu.

O urso estava ficando cada vez mais nervoso e se aproximou de mim, jogando as patas dianteiras em direção ao meu rosto. Na primeira tentativa, ele errou, pois fui muito rápida e desviei. Mas na segunda, sua mira foi mais precisa, e acertou em cheio minha bochecha direita. Nada aconteceu. Suas garras mais podiam ser dedos macios e o peso de sua pata podia parecer plumas sendo sopradas em minha face.

O vendo mudou, e minha sede gritou em resposta. Não aguentei mais e agarrei o tronco do animal, esmagando algumas costelas. O bicho caiu no chão, urrando de dor, e eu agarrei sua enorme cabeça e levei meus lábios em direção ao seu pescoço, enterrando meus dentes em sua jugular.

Eu já havia me acostumado com a temperatura quente do sangue passando pela minha língua, mas o sabor não era como o sangue de um alce ou um cervo. Era mais doce, de um jeito parecido com o que eu imaginava que seria o sangue humano.

O urso acabou e caiu sem vida aos meus pés. Dei uma rápida conferida em minhas roupas, e vi que nada fora danificado.

Olhei para Alice que sorria distraidamente para mim. Ela se levantou da pedra e andou em minha direção, me oferecendo um de seus lencinhos. Pelo visto, meu rosto não estava tão intacto quanto minhas roupas.

– Obrigada – Agradeci.

– Disponha – Disse ela – E então? Como foi?

– Gostei. – Na verdade, eu havia achado minha nova presa preferida.

– Bom, então agora podemos voltar e te levar para casa. – Sugeriu ela e eu concordei.

Fomos para a beira da montanha e eu olhei para Alice, com uma pergunta ficando praticamente estampada na minha testa. Como desceríamos agora?

Alice não respondeu como achei que responderia. Apenas virou de costas para o precipício e deu um paço para trás, jogando-se de lá.Virei uma estátua no chão de pedra e a observei caindo cada vez mais rápido. Esperei vê-la bater com as costas no gramado, mas antes que chegasse ao solo, ela deu uma cambalhota e caiu de pé. Depois olhou para cima e fez um gesto com a mão para que eu fizesse o mesmo.

Tentei não ser tão teatral como ela, apenas dando um paço para frente, caindo com o tronco reto e as pernas esticadas. Por um momento, pude sentir a deliciosa sensação de voar. Mas essa sensação não durou muito tempo, pois meus pés aterrissaram no solo.

Sorri para Alice, mostrando como eu realmente havia entendido que eu poderia fazer qualquer coisa. Eu estava começando a gostar de verdade de ser vampira.

Corremos novamente pela floresta, voltando para o carro, e quando estávamos quase chegando, achei que deveríamos diminuir a velocidade, para o caso de pessoas desavisadas estiverem passando, mas Alice não deu sinal de que sairia de sua velocidade, o que pareceu que ela saberia se alguém estivesse se aproximando.

Chegamos no carro e partimos de volta a Forks. Falei para Alice o quanto havia gostado de brigar com um urso e que queria fazer mais vezes. Ela riu e disse que seria nosso novo programa entre amigas.

Chegamos a minha casa um pouco depois das três da tarde, e Alice disse que ficaria me fazendo companhia até a hora de meu pai voltar para casa.

– Viu, Bella? – Disse ela – Esse é sua nova vida. Não é tão ruim quanto parecia, não é?

– Acho que não. – E pelo o que pude perceber, não era mesmo.

– E se continuar na dieta vegetariana, sua vida será assim pelo resto da eternidade. – Seu entusiasmo por ter a eternidade era contagiante. Era incrível ter o para sempre sem envelhecer! – Seus olhos ficarão dourados logo, logo.

Ficamos conversando por um tempo e quando faltava uma hora para Charlie chegar, Alice se levantou dizendo que precisava ir para casa. Acompanhei-a até a porta, e ela abriu a mala do carro, tirando de lá uma caixa de papelão grande e entregando-a a mim.

– Mais algumas lentes de contato – Explicou ela – Aquelas já devem estar horríveis.

– Ah, obrigada, Alice! – Pulei em seu pescoço e a abracei. Ela retribuiu o abraço e depois entrou no Porsh.

Voltei para dentro e olhei o relógio. Charlie chegaria faminto, então decidi começar a preparar seu jantar. Mas antes levei e enorme caixa com lentes de contato para o meu quarto e a escondi no fundo do meu closet pegando um dos pares para usar quando meu pai chegasse. Charlie nunca encontraria a caixa ali.

...

Meu pai chegou exatamente na hora em que Alice previra, e seu jantar já estava pronto em cima da mesa.

Ele olhou-me novamente quando viu que eu não comeria com ele, mas dei a desculpa de que já havia comido antes de ele chegar, pois estava com muita fome. Eu teria que inventar mais desculpas para cada dia.

Quando Charlie acabou, limpei a mesa e ele se ofereceu para lavar a louça. Subi para o meu quarto e deitei em minha cama, que agora não passava de um acessório de disfarce, afinal, eu não precisava mais dela.

Esperei novamente que Charlie entrasse em seu sono pesado, e quando pude ouvir seus roncos, saí de meu quarto com um livro na mão e fui para o dele, abrindo a janela e pulando por ela.

Fui correndo pela floresta como sempre fazia todas as noites, mas parei num ponto que fosse bastante distante da vida urbana, mas não tão longe. Subi em um grande abeto e me sentei em um dos galhos mais altos que podiam suportar meu peso, e passei a noite lendo e refletindo sobre minha vida eterna.


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Notas finais do capítulo

Ahh, demorei, mas postei! hahahaha
Mandem suas reviews, digam se estão gostando da história. Vou postar mais capítulos o mais rápido possível! Um beijo :*



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