POV Hermione

Estava em um bosque. Aquele bosque, em que tive meu primeiro sonho com Vitor Krum. Mas não era o mesmo que me trazia uma paz inexplicável. Ele estava sombrio, como se não recebesse os raios solares que teimavam em atravessar pequenas frestas entre as copas das árvores. Olhei para o lado e ali vi o que não queria ver: Vitor estava agachado, uma poça de sangue ao seu redor. Ele levantou o rosto e sussurrou:

–Me ajude, Hermione.

Eu tentei correr ao seu encontro, mas meus pés pareciam feitos de chumbo. Depois de um tempo bastante considerável, consegui me aproximar. Agachei-me junto ao seu corpo e coloquei meu braço sobre seus ombros. Senti algo molhado em minha mão e percebi que ali havia uma adaga atravessada pelo canto esquerdo do seu tórax.

Olho ao meu redor em busca de ajuda, ou simplesmente algo para me livrar da agonia do momento, e meus olhos encontraram outro adolescente, do outro lado do bosque, também agachado. Seus longos cabelos ruivos, denunciaram sua identidade.

Corri ao seu encontro, dessa vez bem mais eficiente. Ele também tinha uma adaga atravessada pelo canto esquerdo do tórax. Tentei levantá-lo, mas era como se estivesse colado ao chão. De repente seu rosto, pela primeira vez, se ergue e seus olhos me encontram.

–Por que fez isso, Hermione?

Eu tentei falar. Tentei lhe explicar que eu não tinha feito nada, mas minha voz não saía. Foi aí que eu percebi que realmente era a culpada de tudo aquilo.

Andei até o centro do bosque e fiquei olhando os dois garotos se contorcerem de dor, em lados opostos. Krum se manifestou novamente, sussurrando:

–Por que fez isso, Hermione?

Fred repetiu a frase.

–Por que fez isso, Hermione?

E então os dois começaram a entoar juntos.

–Por que fez isso, Hermione?

–Por que fez isso, Hermione?

–Por que fez isso, Hermione?

–Por que fez isso, Hermione?

Acordei sobressaltada, com suor escorrendo pela testa. Ainda era dia. Olhei para o chão e percebi a poça de vômito que começava a feder no quarto.

Antes que pudesse pensar em outra coisa, a pressão, tão familiar, no estômago, fez com que eu fizesse outra daquela poça nojenta.

POV Fred

–FRED WEASLEY!

Ao ouvir aquela voz estridente, meu corpo se retraiu. Me virei lentamente para encarar a minha doce e delicada irmã.

–Bom dia Ginny. Você está encantadora hoje.

–Não me venha com gracinhas. O que foi que você fez com a Hermione?

–Hermione? Nada.

–Então pode me explicar o motivo de ela estar apagada lá em cima, com uma poça de vômito ao lado da cama?

–Talvez ela tenha passado mal. Por que sempre vem com essa de que eu sei tudo sobre sua amiga?

Ela revirou os olhos.

–Ela vomita sempre que fica extremamente abalada com alguma coisa. Escute aqui, se eu descobrir que tem dedo seu nessa história, eu vou fazer da sua vida um inferno. Espero que realmente me conte antes que eu descubra por mim mesma.

Ela ia se virando para ir embora, mas a minha sanidade me fez segurar seu braço antes que o fizesse.

–Olhe, eu não sei se foi por isso, mas eu briguei com ela mais cedo.

–Eu sabia. Olha, a Mione é uma pessoa muito sensível. Por favor, não me diga que a briga foi feia.

Dei de ombros e ela suspirou, derrotada.

–Pois então, me conte o motivo.

–Bom, ela veio me perguntar o porquê de eu ter a apoiado tanto nos últimos dias sendo que eu realmente achava que ela era tudo aquilo. Eu disse que devia ter sido verdadeiro desde o princípio e ela meteu na cabeça que eu estava mentindo. Depois fui atrás dela pra lhe contar a suposta verdade e disse que eu era apaixonado por ela.

Ginny me olhava com raiva. Sabe aquela expressão “olhos fumegantes” dos livros do Stephen King? Nunca achei que realmente fosse ver um par de olhos daqueles. Porém, é exatamente esse olhar com que ela me encarava.

Suspirei tomando coragem para continuar.

–Então ela descobriu o verdadeiro motivo de eu ter dito isso: Ainda acho que Krum é um péssimo partido e queria separar os dois. Eu ia seduzi-la para que ela desistisse dele, e depois era só dar um pé na bunda. Aí ela me chamou de pobretão idiota.

Não era a verdade, mas também não era de todo, mentira.

–Você ia dar um p... Espera, ela realmente te chamou de pobretão idiota?

–Chamou.

Agora eu sentia que sua expressão de raiva não era mais comigo, e sim com Hermione.

–E você não falou nada para se defender?

–É, então... Quanto a isso, eu a chamei de sangue ruim.

Eu praticamente sussurrei aquela frase. Ginny podia ser bem agressiva quando queria. Mas a reação dela não foi exatamente a que eu esperava. Quer dizer, eu imaginava que ia me socar até eu ficar mole, mas ao invés disso, ela começou a rir. Ria com vontade.

–Qual é o problema?

–Bem feito para aquela idiota. Se xinga a minha família, tem que levar na mesma moeda.

Eu fiquei estupefato.

–Você não vai... Brigar comigo nem nada do gênero?

–Não! Eu acho que a sua atitude foi extremamente correta. Aquela vadia! Nós a acolhemos como se fosse da família, depois sai por aí nos difamando. Bom, eu tenho que ir, combinei de estudar com a Luna. Depois a gente se fala, maninho.

E ficou na ponta dos pés para me dar um beijo na bochecha. Depois saiu saltitando pelo corredor, os cabelos ruivos balançando atrás dela, me deixando pra trás um tanto confuso.

POV Hermione

Passei o resto do dia estudando no quarto, sozinha. Eu não tive coragem o suficiente para sair do meu refúgio e correr o risco de encontrar com Fred ou Vitor. Quando me lembrava dos detalhes, vomitava, então tentei ocupar minha mente com Aritmancia, que realmente fez efeito. Começava a escurecer quando alguém entrou no quarto, fechando a porta com força.

Levantei os olhos e vi uma garota dona de uma cabeleira ruiva e extremamente lisa.

–Oi Ginny.

Ela me ignorou completamente.

Me levantei e fiquei ao seu lado.

–O que aconteceu?

Ela me olhou com a expressão vazia e fria. Nunca a tinha visto daquele jeito.

–Você aconteceu, Hermione. Sua ingrata! Depois de tudo o que a minha família fez por você, e ainda nos ofende desse jeito?

–Eu não ofendi ning...

Fui interrompida por um soco. Senti uma ardência em meu lábio inferior.

–Você ainda tem coragem de mentir pra mim, Granger?

–Olha, me desculpe. Não era minha intenção. É que no calor do momento eu falei sem pensar.

–Chega de desculpinhas idiotas. Tenho certeza de que você não dura muito com aquele búlgaro. Logo, logo ele descobrirá o nojo que você é.

Ela cuspiu em mim antes de sair, me deixando com um sentimento terrível que só crescia em meu peito.